Não se sabe, com rigor, quais são as raízes dos ílhavos, mas sabe-se que possuem características próprias que os distinguem, no porte, no linguajar e no viver, dos povos circundantes. Gregos, fenícios, romanos e árabes terão andado por aqui, como o atestam vestígios arqueológicos e outros achados na sua área geográfica. Muito depois, fixemo-nos em documentos que remontam ao século XI, antes, portanto, da fundação da nacionalidade, os quais dão mote às mais diversas conjeturas sobre o vocábulo Ílhavo e suas origens.
Posteriormente, em 1296, o rei Lavrador, D. Dinis, concede à povoação o seu primeiro foral, dando-lhe o título de vila. Certo também é a ligação ancestral ao mar, mantendo-se nos nossos dias, sem descurar a agricultura e outras atividades com ramos diversíssimos
Saltemos agora uns séculos, até D. Manuel I, que lhe outorgou o segundo foral, em 1514, sinal indesmentível do progresso em vários setores, atraindo pessoas, comércio e indústrias, com reflexo na economia regional e nacional, de que se destaca, desde 1824, a Fábrica de Porcelanas da Vista Alegre, cujo prestígio das suas porcelanas se espalhou pelo mundo, marcando presença em mesas faustosas, pela beleza e qualidade da sua louça e peças decorativas.
Em 1835, dá-se a transferência religiosa da região das Gafanhas de Vagos para São Salvador, mas a desanexação civil só aconteceu, oficialmente, em 31 de dezembro de 1853, embora, na prática, somente se tivesse concretizado em outubro de 1855.
O concelho vem em 1836, em resposta ao seu crescente desenvolvimento económico e social, enriquecido pela construção naval, comércio, pescas e indústrias correlativas. O turismo surgiu naturalmente, acompanhando o país litoral, área geográfica na qual Ílhavo se insere. E o título de cidade surgiu em 13 de julho de 1990.
A igreja matriz foi benzida em 1785, tendo sido considerada, na altura da sua inauguração, como a melhor do bispado de Aveiro.
Da rica e longa história de São Salvador, será justo sublinhar a inquietude dos ílhavos, desafiados ou obrigados a embarcar nas diásporas para governarem a vida no mar e não só. Tejo e Douro, mais litoral, com artes de pesca, embarcações e saberes, o povo de Ílhavo deixou marcas indeléveis por onde passou ou onde se estabeleceu, que os estudiosos não se cansam de registar.
Entretanto, na saga dos bacalhaus foram mestres, comandantes e pilotos renomados, mas ainda descobridores de novos bancos de pesca, nomeadamente a Groenlândia, e construtores navais.
Na área geográfica da freguesia, é pertinente referir, muito sucintamente, o Museu Marítimo de Ílhavo com um acerbo precioso que faz dele um dos mais completos museus ligados ao mar e ria, com exposições permanentes de expressivo valor artístico e cultural.
Mas a Fábrica da Vista Alegre, com o seu renovado museu e igreja dedicada a Nossa Senhora de Penha de França, com vestígios ainda de um bairro social para os seus trabalhadores, um avanço significativo na altura da sua construção, também não pode ficar ignorada.
Associações e instituições de solidariedade social, cultural, desportiva, recreativa e artística, entre outras, atestam o dinamismo dos ílhavos, sempre orgulhosos do seu passado e crentes num futuro de prosperidade.
Fernando Martins
Notas elaboradas para publicação no jornal "VOZ sénior" da Universidade Sénior do Centro Social Paroquial Nossa Senhora da Nazaré.