sábado, 18 de agosto de 2007

Um artigo de Anselmo Borges, no DN


ATEÍSMO
E SENTIDO DO MUNDO


Percorrendo a história do Ocidente, mostra-se que, com amplidão e intensidade diferentes, o ateísmo é co-extensivo à história do pensamento. Na Antiguidade e na Idade Média, embora Jean Delumeau tenha demonstrado a parte de lenda na expressão "Idade Média cristã", é ainda sobretudo questão de minorias. Depois, o século XVI será o século da dúvida. O século XVIII é já o século dos incrédulos e dos cépticos, mas de forma ainda quase clandestina. O século XIX apresenta um ateísmo sistemático e proclamará a morte de Deus. Hoje, as fronteiras entre os crentes e os descrentes são fluidas.
No limite, o autêntico ateísmo coerente seria "o ateísmo silencioso", como escreve Georges Minois, aquele que não pusesse sequer a questão de Deus. Pergunta-se, porém, se precisamente a questão de Deus enquanto questão, independentemente da resposta positiva ou negativa que se lhe dê, e a questão do Sentido último não são constitutivas do ser humano.
Citando Georges Gusdorf, G. Minois conclui a sua História do Ateísmo com "um quadro implacável e lúcido" da Humanidade do ano 2000: "Vive no Grande Interregno dos valores, condenada a uma travessia do deserto axiológico de que ninguém pode prever o fim." Durante muito tempo perseguido, o ateu obteve o direito de cidadania no século XIX e acreditou mesmo poder proclamar a morte de Deus. Mas já no fim do século XX houve a tomada de consciência de que, "ao eclipsar-se, Deus levou consigo o sentido do mundo". E continua: o futuro é imprevisível, porque o ateísmo e a fé enquanto compreensão global do mundo andaram sempre juntos. A ideia de Deus era um modo de apreender o universo na sua totalidade e dar-lhe, de forma teísta ou ateia, um sentido. Assim, a divisão hoje já não está tanto entre crentes e descrentes como entre "aqueles que afirmam a possibilidade de pensar globalmente o mundo, de modo divino ou ateu, e os que se limitam a uma visão fragmentária em que predomina o aqui e agora, o imediato localizado. Se esta segunda atitude prevalecer, isso significa que a Humanidade abdica da sua procura de sentido".
Se entendi bem, foi isto que Eduardo Lourenço foi dizer na abertura do Encontro Internacional de Lisboa, organizado pelo Grande Oriente Lusitano e subordinado ao tema Religiões, Violência e Razão.
A crise contemporânea é estranha. Enquanto o Ocidente se encontra desertificado de Deus, noutras culturas não só não há morte de Deus como, em vez da laicização, continuam na sua Idade Média, acreditando que o seu Deus é o verdadeiro e o Ocidente está em vias de perdição.
De facto, o Ocidente teve um dinamismo incomparável, e a razão disso é que o seu debate foi sempre à volta de Deus. Noutras culturas, Deus é um dado e está no centro de tudo; no Ocidente, Deus tem sido uma interpelação infinita. Deus não é uma evidência, porque não é um objecto. Deus é o nome, precisamente enquanto antinome, da nossa incapacidade de captar o Absoluto, o modo de designarmos a nossa incapacidade de ocuparmos o seu lugar. O Ocidente é a procura e o debate à volta desta questão. É-se contra a objectivação de Deus, porque Deus-pessoa não é objectivável. Deste modo, o Ocidente afirma-se como procura da liberdade. Quando, noutras culturas, se dá a pretensão de apoderar-se de Deus, temos fanatismo.
Eduardo Lourenço continuou, dizendo que, quando se dogmatiza, é para dominar. A perspectiva cristã caminha sobre outro chão. Aqui, Deus aparece como não violência, como puro amor, como espaço de liberdade absoluta. Sem Ele, as nossas liberdades não têm lugar. Ao revelar-se como amor, Deus mostra que, se a violência é o estado natural, a não violência é que é o mistério, e o que liberta é o não poder.
Deste modo, concluo eu, a crise actual não é o ateísmo. Precisamente o debate à volta de Deus enquanto debate infinito, mesmo para negá-lo, funda a liberdade e a dignidade
A raiz da crise é a indiferença e a consequente impossibilidade de pensar o sentido da totalidade, já que tudo se escoa na imediatidade e no fragmentário.

sexta-feira, 17 de agosto de 2007

FÁTIMA

Inauguração no próximo mês de Outubro

Artistas de todo o mundo
na nova igreja
da Santíssima Trindade





Vários artistas de renome internacional e de vários países estão responsáveis pela concretização das principais peças iconográficas da igreja da Santíssima Trindade, em Fátima. Exemplo disso será o Crucifixo do altar da igreja da Santíssima Trindade, da autoria da irlandesa Catherine Green.
Os responsáveis pela obra lembram que, "sendo o Santuário de Fátima um local de carácter internacional, por onde passam anualmente peregrinos de várias dezenas de nacionalidades, o novo espaço pastoral procurará que, também através das obras de iconografia, possa transparecer esta mesma universalidade".
O Santuário consultou os directores dos principais museus de vários países para que indicassem nomes de artistas, que foram depois convidados a apresentar as suas propostas.
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Ver mais em Ecclesia

PÚBLICO: Memórias de uma praia da Barra

Praia da Barra antes da edificação urbana
Alberto Marçal Brandão, Charrete junto ao Farol da Barra, Aveiro, s/d. Negativo em vidro, gelatina e sais de prata (original estereoscópico), DGARQ/CPF, Amb 0575. Imagem cedida pelo Centro Português de Fotografia e pela Direcção-Geral de Arquivos.

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Verão: Agosto na cidade
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Com escrito da jornalista aveirense Maria José Santana, o jornal PÚBLICO de ontem ofereceu, aos que gostam de ver ou rever o passado da região, uma expressiva fotografia tirada junto ao Farol da Barra, com sinais evidentes doutros tempos.
Claro que a Praia da Barra de hoje é completamente diferente e o movimento também é outro, com mais gente, outros trajos, outros cavalos a roncarem, outras ruas. Mas o Farol, o nosso Farol, construído, como bem recorda Maria José Santana, entre 1885 e 1893, esse é o mesmo, para nosso regalo.

quinta-feira, 16 de agosto de 2007

ÍLHAVO: Trilho das Padeiras


AO ENCONTRO DA NATUREZA
E DAS PADEIRAS DE VALE DE ÍLHAVO
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No sábado, 18, será inaugurado o Trilho das Padeiras, as célebres fabricantes das afamadas padas de Vale de Ílhavo. Será um trilho que permitirá, a quem gosta e pode caminhar, descobrir a natureza e encontrar-se com as Padeiras, que fazem parte integrante da cultura ilhavense.
Diz a HERA-Associação para a Valorização e Promoção do Património que este Trilho se insere no projecto de criação de uma Rede de Percursos Pedestres no Concelho de Ílhavo, apostando pela valorização turística do património local. É iniciativa da CMI, em parceria com a HERA e com o GEMA.
A inauguração começará pelas 15 horas, no Largo das Padeiras (Vale de Ílhavo). Após o passeio de seis quilómetros, acompanhado por técnicos do património da associação HERA, está prevista a degustação de produtos típicos.
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NOTA: Foto e informações da HERA

Um Verão em cada dez...






Um Verão em cada dez é frio, ventoso e chuvoso. Isto mesmo disse ontem, na televisão, um meteorologista, numa tentativa de explicar o que está a acontecer com o Verão de 2007. Acrescentou ele que esta verdade, estatística, não tem explicação científica, mas que é mesmo assim.
Hoje andei, de manhã, pela Praia da Barra e constatei que era muito incómodo cirandar ou estar por ali, com o ventinho cortante a aconselhar-me a regressar a casa. Foi o que fiz. No entanto, andava pelo areal muita gente ávida de sol e de maresia, com capacidade para enfrentar, corajosamente, o triste Verão que tem estado por estas bandas. Para o ano que vem, uma vez que já suportámos o tal Verão fraquinho que se verifica em cada dez, teremos, então, o calorzinho por que tanto esperamos.

quarta-feira, 15 de agosto de 2007

Tabaco faz mal à saúde

LEI DO TABACO FOI PUBLICADA
NO DIÁRIO DA REPÚBLICA
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A Lei do Tabaco já foi publicada no Diário da República, mas somente em 2008 se farão sentir os seus efeitos. Assim, o fumo passa a estar proibido em todos os espaços públicos, bem como nos restaurantes e zonas de diversão com mais de 100 metros quadrados, a não ser em lugares próprios.
Penso que a partir de agora os não fumadores ficarão protegidos pela lei, sendo certo que os fumadores não poderão deixar de respeitar quem não gosta do fumo. Resta saber se os proprietários dos restaurantes serão capazes de fazer cumprir o que está legislado ou se vão descobrir alguma maneira de lhe escapar. Claro que haverá possibilidades de criar espaços próprios para os fumadores, onde só entra quem quiser. Cá por mim, evito sempre salas e pessoas que me incomodam.

Centenário de Miguel Torga

GOVERNO AUSENTE
NA HOMENAGEM AO ESCRITOR
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É público que o Governo não se fez representar nas cerimónias comemorativas do centenário do escritor multifacetado que foi Miguel Torga. Lá terá as suas razões, mas confesso que tenho dificuldades em entender este alheamento do Executivo. Vejo por aí homenagens e mais homenagens, muitas delas sem qualquer sentido. Mas a que foi programada para honrar a memória de um dos nossos maiores artistas das letras pátrias, tantas vezes apontado como um dos escritores portugueses mais dignos do Prémio Nobel da Literatura, merecia a participação pelo menos do Ministério da Cultura.
A minha perplexidade é tanto maior quanto é certo que Miguel Torga, não sendo um político alinhado com qualquer partido, sempre mostrou, no pós-25 de Abril, simpatia e cumplicidade com o PS. É verdade, contudo, que criticava tudo e todos, com aquela franqueza e alguma agressividade próprias de quem respirou os ares das penedias agrestes do Marão, mas até por isso devia o Governo estar presente, fundamentalmente por respeito a uma frontalidade que começa a ser rara entre nós.
Pode ser que, envergonhados mas reconhecendo que erraram, os nossos governantes acabem por avançar com qualquer iniciativa que possa apagar a asneira que fizeram.

Igreja celebra Solenidade da Assunção

Dogma da Fé católica, celebrado por todo o país, foi definido pelo Papa Pio XII a 1 de Novembro de 1950
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Assunção de Nossa Senhora.
André Gonçalves (1686-1762),
Palácio Nacional de Mafra




ASSUNÇÃO DA VIRGEM MARIA AO CÉU

A Igreja Católica celebra hoje, dia 15, a Solenidade Litúrgica da Assunção da Virgem Maria ao Céu.
A Assunção é um dogma da Fé católica, definido por Pio XII a 1 de Novembro de 1950, mediante a Constituição apos-tólica “Magnificentissimus Deus”.
Neste documento, o Papa refere as relações entre a Imaculada Conceição e a Assunção, as petições recebidas para a definição dogmática, a consulta feita ao Episcopado, a doutrina concorde com o Magistério da Igreja. Resume os testemunhos da crença na Assunção, a devoção dos fiéis e o testemunho dos Santos Padres, dos teólogos escolásticos desde os primórdios, passando depois pelo período áureo e atingindo a escolástica posterior e os tempos modernos.
Pondera o fundamento escriturístico e a oportunidade da mesma, e logo pronuncia, declara e define ser dogma divinamente revelado que “a Imaculada Mãe de Deus, a sempre Virgem Maria, terminado o curso da vida terrestre foi assunta em corpo e alma à glória celestial”.
Este foi o culminar dum processo de séculos, durante os quais toda a Igreja e todos os cristãos dedicaram à Virgem Maria uma especial devoção e uma crença nos seus privilégios, em ordem a ser a Mãe de Deus.
O Catecismo da Igreja Católica explica que "a Assunção da Santíssima Virgem constitui uma participação singular na Ressurreição do seu Filho e uma antecipação da Ressurreição dos demais cristãos” (966).
A Assunção de Maria ocorre imediatamente depois de terminar a sua vida mortal e não pode ser situada no fim dos tempos, como sucederá com todos os homens, mas tem de considerar-se como um evento que já ocorreu.
A glorificação celeste do corpo de Maria é o elemento essencial do dogma da Assunção. Ensina que a Virgem, ao terminar a sua vida neste mundo, foi elevada ao céu em corpo e alma, com todas as qualidades e dons próprios da alma dos bem-aventurados e com todas as qualidades e dotes próprios dos corpos gloriosos. Trata-se, pois, da glorificação de Maria, na sua alma e no seu corpo, quer a incorruptibilidade e a imortalidade lhe tenham sido concedidas sem morte prévia, quer depois da morte, mediante a ressurreição.
A importância desta solenidade litúrgica em Portugal, com festas populares um pouco por todo o país, é tal que ainda hoje a República Portuguesa a reconhece como dia feriado.
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Fonte: Ecclesia

Mais ricos e mais pobres

OS PORTUGUESES RICOS
ESTÃO MAIS RICOS...
E OS POBRES MAIS POBRES
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A comunicação social divulgou ontem que os portugueses mais ricos estão a ficar ainda mais ricos. A lista que revela essa realidade mostra que as suas riquezas subiram, este ano, 35 por cento, em relação a 2006. É obra.
Nada tenho nada contra os ricos nem contra as suas fabulosas riquezas, desde que sejam legítimas e tenham como preocupação o respeito pela justiça de quem dá o seu suor e saber para que essas fortunas possam crescer. O mal está na realidade concreta. Segundo ouvi, enquanto os ricos portugueses vêem crescer os seus lucros, os pobres estão cada vez mais pobres. O problema está aqui. Mas como fazer para que haja mais justiça social? Confesso que não sei qual é o melhor caminho. Só sei que os nossos políticos, economistas, sociólogos e empresários não conseguem indicar pistas credíveis e indiscutíveis que estabeleçam princípios de mais justiça.
Diz o estudo que os 100 mais ricos valem 22,1 por cento do PIB (Produto Interno Bruto). Isto significa que uma centena de portugueses tem riqueza tão grande que nem podemos imaginar.
O Vaticano anunciou que o Papa se vai pronunciar sobre a ética neste mundo da globalização, através de uma encíclica. Será que os responsáveis pelas (in)justiças sociais o vão ouvir e seguir?

NOVA ENCÍCLICA DO PAPA

A justiça social e a ética na época da globalização deverão ser os temas fortes da segunda encíclica de Bento XVI
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BENTO XVI PREPARA ENCÍCLICA
SOBRE GLOBALIZAÇÃO

Durante as sua férias, Bento XVI preparou uma encíclica que deverá enumerar "importantes critérios éticos" para os responsáveis das economias, anunciaram ontem várias meios de comunicação citando fontes do Vaticano.
No documento, o segundo do género de Bento XVI, são esperadas críticas, por exemplo, aos paraísos fiscais, encarados como socialmente injustos, acrescenta Ignazio Ingrao, da revista Panorama.
Outros observadores no Vaticano adiantam que o Papa irá defender uma regulação do comércio mundial e da economia a um nível que impeça maiores injustiças.
O documento servirá ainda para comemorar os 40 anos da Populorum Progressio (O Desenvolvimento dos Povos), a encíclica em que Paulo VI defendeu a melhoria das condições de vidas nos países pobres através da acção directa dos estados mais ricos.
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Fonte: EXPRESSO

terça-feira, 14 de agosto de 2007

FOLCLORE NA PRAIA DA BARRA





CULTURA POPULAR
PARA SER VISTA E APOIADA

Vai realizar-se, no próximo sábado, dia 18, o X FESTIVAL NACIONAL DE FOLCLORE “PRAIA DA BARRA 2007”, com organização do Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré. Trata-se de iniciativa já com raízes no Verão da muito frequentada praia que tem como símbolo maior o mais alto Farol de Portugal, com os seus 66 metros acima do nível do mar.
À sombra dele, vai ter lugar, então, mais um festival de folclore, uma boa razão para todos os veraneantes, e não só, poderem deliciar-se com a beleza da cultura popular portuguesa, que merece ser apreciada e apoiada, para permanecer como matriz da nossa identidade nacional.
Às 17.30 horas, os grupos convidados serão recebidos na Casa Gafanhoa , uma casa-museu representativa de lavrador rico dos primórdios do século XX, havendo na altura uma cerimónia de boas-vindas e entrega de lembranças. Depois do jantar, na Escola Preparatória da Gafanha da Nazaré, haverá o desfile, pelas 21.30 horas, junto ao Molhe Sul, iniciando-se o festival pelas 22 horas.
O convite aqui fica, na certeza de que, as gentes da região, com os muitos veraneantes, saberão aplaudir as danças e cantares de diversas zonas do País.

domingo, 12 de agosto de 2007

Centenário de Miguel Torga

UM ESCRITOR SEMPRE VIVO
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Se fosse vivo, Miguel Torga faria hoje 100 anos. Na tranquilidade deste domingo, os seus admiradores podem muito bem dedicar-lhe alguns momentos, com a leitura de um ou outro texto, quiçá de um poema tão simples quanto inspirado. Mostram, assim, que o poeta permanece vivo nos que o admiram.
Homem de temperamento difícil, tão agreste como as penedias do seu Marão, tinha na alma a simplicidade de uma criança e uma ternura ímpar que reflectia em muito do que escrevia, quer em prosa quer em verso.
Não gostava de dar entrevistas nem autógrafos, não gostava de festas sociais nem de grandes convívios, mas gostava de calcorrear as serras do seu Reino Maravilhoso que tanto retratava na sua extensa e diversificada obra.
Coimbra vai abrir hoje a casa em que viveu, durante 40 anos, na cidade dos doutores, nos Olivais, revelando, com ela, algumas facetas da sua riquíssima sensibilidade.
Penso que no futuro e a partir de hoje todos teremos que meter nas nossas agendas este destino, talvez para descobrirmos um pouco mais a alma deste escritor multifacetado.
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Um poema de Miguel Torga
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UM POEMA
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Um poema, poeta!
É o que a vida te pede.
A fome diligente
Colhe
E recolhe
Os frutos e a semente
Doutros frutos.
Junta à fecundidade
Da natureza
Os frutos da beleza...
Versos grados e doces
Na festa do pomar!
Versos, como se fosses
Mais um ramo, a vergar.

Ares do Verão




COSTA NOVA SEMPRE RENOVADA
:
A Costa Nova do Prado, uma sala de visitas do concelho de Ílhavo, não perde a oportunidade de se renovar cada ano, para melhor receber os veraneantes que de todo o lado aparecem para retemperar forças e para criar ânimo para mais um longo período de trabalho, sempre desgastante. Passem por lá e digam-me se não é assim.
É certo que, para alguns, tudo está mal, mas não é verdade. Há que melhorar aqui e ali, há que criar novos motivos de interesse, mas já existem muitas razões para justificar uma visita ou uma estada nesta praia de tantas tradições.
Com o Verão incerto e enevoado como hoje, até parece que não vale a pena sair de casa. Penso que logo mais tudo se recomporá, o Sol surgirá com força e não hão-de faltar velejadores na ria, nem bancos para uma pessoa se sentar e ficar a.... meditar no bom que a vida tem.

TECENDO A VIDA UMAS COISITAS - 36

O EXPEDIENTE DO FUNDADOR

Caríssima/o:


Outro passeio teve lugar mas para Sul: Batalha? Alcobaça?
Em Peniche nos detivemos e avistámos, ao longe, as Berlengas - as maiores ilhas junto à costa portuguesa e sempre ilhas de encantamento. E de encantados nem nos apercebemos do forte que se quedava à nossa frente – creio mesmo que nem sabíamos o que se passava dentro daqueles muros...
Assim como o nosso contador de lendas: começa a falar de queijos e segue até pôr as medas a andar!

«1. Pois é, alguns dizem que não sabem onde fica Penela, mas se se lhes fala do Queijo do Rabaçal, têm uma clara ideia onde o podem ir buscar... no supermercado! Pois um queijo « de crosta lisa e coloração amarelo-palha, pasta ligeiramente untuosa, com alguns olhos e, por vezes, deformável. O seu sabor é suave, limpo e muito característico». Mas quem se lembrou de trazer para aqui a lenda deste queijo? E já tem foros disso este magnífico produto da Serra de Ansião!

2. Ah, mas o fantástico em Penela pode ser julgado por aqueles dois altos montes que se confrontam. Sabiam que eram de Penela aqueles dois manos gigantes, um chamado Melo e outro Gerumelo? Ambos ferreiros, montaram oficina cada um em seu monte. Porém, como só tinham um martelo, atiravam-no entre si, conforme precisavam. Ora um dia o Gerumelo estava de péssimo humor e, quando o irmão lhe gritou a pedir a ferramenta, mandou-a com tal força que o martelo se desencaixou no ar. E a maça de ferro caiu no sopé do monte irrompendo logo uma fonte de água férrea, hoje ao pé da antiga povoação da Ferretosa – hoje Fartosa, que as pessoas só estão bem a dar cabo das palavras!-, enquanto o cabo, que era de zambujo, caiu mais longe, enraizou-se e deu origem a um zambujal, que ao lado tem a sede da freguesia do Zambujal!

3. Jamaut, autor de uma monografia do município (1915), conta assim a lenda do castelo:

D. Afonso Henriques, querendo reaver os castelos de Sobral e Penela, de que os árabes se haviam apoderado em 1127, arranjou uma manada de bois que enfeitou com ramos de árvores, e entre eles os seus guerreiros do mesmo modo e seguiram o caminho de Penela.
Junto das ameias do castelo, a filha do governador do castelo catava-o, quando viu aproximar-se a emaranhada ramagem, e perguntou:
- Meu pai, as moitas andam?
Ao que ele respondeu:
- Tu és doida, filha! Cata! Cata!
À terceira vez que a filha lhe fez esta pergunta, de que obtinha invariavelmente a mesma resposta, replicou-lhe:
- Mas eu vejo-as andar!...
Então, o pai reparando, conheceu o ardil e o grito de Alah-Huachbar ressoou por todos os cantos, mas em vão, porque as esforçadas hostes portuguesas forçando a praça a retomaram depois de porfiada luta.
Os mouros retirando-se, deixaram a sua passagem assinalada por grande número dos seus combatentes que ficavam estropiados, e de enraivecidos destruíam tudo quanto encontravam na sua passagem: pães, vinhas, olivais, etc.» [V. M., 197]


E que, onde quer que nos encontremos, saibamos viver o encantamento da nossa vida!


Manuel

Um artigo de Anselmo Borges, no DN


RELIGIOSO E SAGRADO:
DEUS NÃO É RELIGIOSO


O que, do ponto de vista biológico, une a Humanidade é a inter-fecundidade. Do ponto de vista espiritual, o que a une é a pergunta radical pela totalidade e o seu sentido. O Homem é o animal que pergunta pelo seu ser e pelo ser.
A razão humana não cria a partir do nada. Ela constrói a partir do dado e, feito todo o seu percurso, sabe que acende a sua luz na noite do Mistério. Se pergunta, é porque ela própria é perguntada pela realidade, que é ambígua. Precisamente na sua ambiguidade, provocando, por isso, espanto positivo e negativo, a realidade e a existência convocam para a pergunta radical: o que é o Ser?, o que é o Homem?
Quando, na evolução, se deu a passagem do animal ao Homem, apareceu no mundo uma forma de vida inquieta que leva consigo constitutivamente a pergunta pelo sentido de todos os sentidos, portanto, a pergunta pelo sentido último. A dinâmica religiosa deriva da experiência de contingência radical e da esperança num sentido final. A mesma experiência tem um duplo pólo: a radical problematicidade do mundo e da existência e a referência em esperança a uma resposta de sentido último, plenitude, felicidade, orientação, identidade, salvação.
Este domínio da busca de sentido aparece de modo tão central na vida humana que a História da Humanidade não se compreende sem a História da Consciência Religiosa, não sendo de esperar o fim da religião e das religiões.
Neste contexto, não é ousado afirmar que todo o ser humano é religioso, na medida em que é confrontado com a pergunta pela ultimidade. Só poderíamos falar de irreligiosidade no caso de alguém se contentar com a imediatidade empírica, recusando todo e qualquer movimento de transcendimento.
Concretizando, aprofundando e expressando este movimento de religiosidade, aparecem as diferentes religiões, sendo necessário, aqui, sublinhar que a categoria primeira, no quadro do universo religioso, não é Deus, mas o Sagrado. Numa fenomenologia da religião, deve distinguir-se entre religioso e Sagrado. O religioso é o pólo subjectivo e diz respeito à atitude do Homem, nos aspectos intelectual, moral e cultual, frente ao Sagrado. Precisamente o Sagrado ou Mistério enquanto pólo objectivo é o referente último das várias religiões.
É esta distinção que permite, no limite, perceber que, por paradoxal que pareça, possa haver e haja de facto quem seja ao mesmo tempo religioso e ateu. É religioso porque, como diz a própria etimologia da palavra (religião, de relegere, segundo Cícero - recolher, revisitar, reler - ou religare, segundo Lactâncio - ligar), vive-se vinculado ao Sagrado, àquela Ultimidade que o Homem não domina nem possui. Mas, por outro lado, ateu, porque, figurando o Sagrado ou a Ultimidade como anónimo(a) - pense-se, por exemplo, na Natureza, não enquanto Natureza naturada, mas enquanto Natureza naturante, Força e Fonte divina impessoal donde procede tudo quanto vem à luz -, não pode haver uma relação pessoal com ele ou com ela, não se lhe pode rezar nem se espera a salvação num encontro pessoal.
Isto significa, por exemplo, que as guerras religiosas estão do lado do pólo subjectivo religioso e não do lado do pólo objectivo, que é o Sagrado. Também se entende que o fundamentalismo é mesmo idolátrico. Porquê? Há fundamentalismo sempre que alguém ou alguma instituição pretendem dominar a Ultimidade. Ora, ninguém possui o Fundamento, é ele que nos tem a nós.
Percebe-se agora este mimo de estória, contada pelo escritor israelita Amos Oz, no seu livrinho Contra o Fanatismo. Alguém encontra Deus. "E tem uma pergunta a fazer-lhe, uma pergunta crucial, sem dúvida: 'Querido Deus, por favor, diz-me de uma vez por todas: Qual é a fé verdadeira? A católica romana, a protestante, talvez a judaica, acaso a muçulmana? Qual fé é a verdadeira?' E, nesta estória, Deus responde: 'para te dizer a verdade, meu filho, não sou religioso, nunca o fui, nem sequer estou interessado na religião'."
Realmente, o Homem é que é religioso. Deus já é nome pessoal do Sagrado e não põe a questão de Deus.

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