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quarta-feira, 10 de julho de 2019

Um dia diferente com jogos antigos




Estou por aqui com 22º, mas as notícias garantem-me que os 29º vêm a caminho. Um dia de verão em cheio para quem detesta o frio. Saí de casa e instalo-me no quintal, com relva fresquinha à vista. Os cheiros que dela emanam são refrescantes. Já caminhei para saborear a almofada verde, que o meu João Paulo terá de cortar um dia destes. Para já, o neto Dinis pode cair à vontade que não se magoa. 
A passarada emoldura o meu sossego com um chilrear constante. Não há um minuto sequer sem esta companhia inebriante que nos lava o cérebro e anima a alma. 
Levantei-me cedo para receber o verão que sabia quente para este dia. Na minha idade, o frio é um tormento que eu suporto com dificuldade. E porque urge aproveitar a vida, em plenitude, deixei a cama para respirar este dia na tranquilidade de um 10 de julho auspicioso, tanto quanto posso adivinhar. 
É na serenidade dos dias que mais recordo amigos e familiares que se instalaram noutra dimensão. Os seus sorrisos, as conversas sobre tudo e sobre nada, as suas amizades francas, os seus sonhos realizados e por realizar, mas também os que nunca encontraram vias de concretização. 
O presente, contudo, marca os meus dias com a alegria de gente feliz. Ontem houve sardinhada à noite e a tarde foi animada pela Lita, que voltou aos tempos dos jogos da era que desconhecia a Net, os vídeos, os computadores e passatempos dos heróis da juventude atual. O Loto, de tempos muito antigos, e o Vaivém, da década de 70 do século passado, voltaram à mesa e ao relvado, com a Lita a comandar. O Dinis e a Beatriz alinharam, para espanto meu. E durante umas horas, Tablete e PC ficaram de lado. Milagre? Talvez. 

Fernando Martins 

sexta-feira, 5 de julho de 2019

Os nossos gatos vadios


Contemplo o relvado que o João Paulo corta regularmente por iniciativa própria. Ele sabe disso e assume a tarefa com gosto e saber. E nem precisa de ajuda; acha que as ajudas até estorvam os seus hábitos. Também apara os arbustos e retira os sobrantes para que o relvado se apresente limpo e convidativo por uns tempos. Mas o João tem tudo sob controlo e aparece sempre no momento certo.
Sentado no alpendre, rodeado por um aparato de pratos de plástico destinados aos cinco gatos vadios que a Lita adotou, sinto a vida em movimento. Os felinos, que recusam sistematicamente dar o pelo para uma gesto de carinho, sabem que nunca lhes faltará água fresca, ração adequada e restos de comida, lavada, não vá dar-se o caso de alguns condimentos lhes alterar a digestão. Fico assim a pensar quanto é difícil domesticar um animal. Nem com estes mimos dão o braço a torcer. Mas há de chegar o momento de reconhecerem quem é amigo. Será?
Longe do bulício do quotidiano de gente ativa, dou comigo a meditar na importância da ocupação como sinal de vida útil, quando as forças se tornam cada vez mais débeis. E percebo que nos tempos de hoje há muitas formas de nos sentirmos capazes de ocupações salutares, como o ato de escrever e de ler, com tanta oferta que nos desafia a viajar, a refletir e a sonhar.
Cinco gatos que nos olham desconfiados e que, diversas vezes, se aproximam de nós, coçando-se nas nossas pernas, em modo de desafio. E quando os fixamos, fogem logo espantados pela proximidade, como se os nossos olhos fossem raios fulminantes. Será que algum dia aceitarão a amizade dos humanos?
Entretanto, sobem ao cocuruto das árvores e arbustos a uma velocidade espantosa, na tentativa frustrada de caçar uma rola ou melro, e descem com a mesma velocidade e perícia. Brincam uns com os outros, tentam caçar uns passaritos mais atrevidos que se aproximam deles e logo se espantam. Um ou outro, porém, cai no azar e é apanhado. E assim passam os dias, com a Lita a medir os estilos dos felinos e a rir-se com as suas brincadeiras à distância. E quando algum se ausenta por razões que desconhecemos, que falta de comer não é, a Lita até perde o sono.

F.M.