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quinta-feira, 18 de outubro de 2018

"Ao Pé das Palavras" - Poesia de Helder Ramos


Helder Ramos

Conheci há muito tempo a poesia do Helder Ramos. Numa conversa informal, alguém me segredou que o Helder era poeta. Tinha ele 19 anos e os poemas “O Vouga de ontem e de hoje” e “Só!" denunciaram o seu estilo. Foram publicados no Boletim Cultural, n.º 2, 1986, editado pela Cooperativa Cultural da Gafanha da Nazaré, que teve duração efémera. 
Embora quase vizinhos, nem sempre foi fácil, por razões profissionais e outras, trocar impressões com o Helder Ramos sobre as suas tendências ou gostos artísticos. Só um dia destes tive a oportunidade de ler e reler os seus poemas que integram o seu primeiro livro, “Ao Pé das Palavras”, editado em junho de 2007 pela Papiro Editora. Onze anos depois, saboreei-o com prazer e recomendo-o aos meus e seus amigos. Um novo livro, porém, já está a ser ultimado, sendo minha intenção anunciá-lo, até porque todos devemos assumir a missão de apoiar e estimular os nossos poetas. A Gafanha também tem o direito de se rever nos seus poetas. Direi melhor: nos seus artistas. 
“Este livro — sublinha o autor — é a primeira amostra do trabalho de vários anos de labor poético, conquistado às horas das exigências profissionais e às asperezas do cumprimento de tarefas, que muito raramente propiciam a entrega devotada à faina das palavras de sentidos singulares.” Concordo com este pensar do meu amigo Helder Ramos, mas nem assim deixarei de admitir, contudo, que nessas situações se abrem, imensas vezes, as portas à harmonia das palavras com sentido e ritmo. 
No Prefácio, João Alberto Roque, também poeta, afirma que a escrita do Helder “é uma extensão da sua vida profissional — a exigente profissão docente — que desenvolve com uma dedicação e uma sensibilidade de excepção”. E recomenda aos seus leitores que não esperem "encontrar nesta obra ‘apenas’ o professor de Português", salientando que “A escrita é também um espaço de liberdade onde o poeta se reinventa, uma vida paralela, recatada, como tão bem o diz Miguel Torga na sua biografia: 

Sonho, mas não parece. 
Nem quero que pareça. 
É por dentro que eu gosto que aconteça 
A minha vida. 
Íntima, funda, como um sentimento 
De que se tem pudor.” 

João Alberto Roque adianta,  ainda,  que na família do autor “quase todos têm um reconhecido jeito para a música. A ele coube-lhe um talento especial para a poesia — a música das palavras”.


Um poema do Helder Ramos 

RELEMBRO A TUA PAZ

Relembro a tua paz 
Quando as flores adormecidas despontam 

Não penso nos frutos 
                       Cedo 
Mas avalio na beleza das pétalas 
Os teus lábios de música 
Que trazem soltos hinos primaveris 
Em grata ansiedade repetida 
De novos dias de claridades gentis 

Fernando Martins