sábado, 23 de fevereiro de 2019

Georgino Rocha: Amai os vossos inimigos

Georgino Rocha
"Amar o inimigo, não é antes de mais uma disposição afectiva, mas gestos e actos de amor que respondam a gestos de ódio, perseguições, calúnia, pretensões."


Jesus quer que os discípulos entendam o alcance das bem-aventuranças apresentadas na planície, após a descida da montanha. Por isso, continua o discurso, dando exemplos acessíveis da vida quotidiana e recorrendo a contraste. Por isso, usa uma linguagem simples e acessível, interpelante e radical. Linguagem em que sobressai, por um lado, o realismo das relações humanas, sobretudo nos seus dramas de violência e ódio, e por outro, o proceder misericordioso de Deus, generoso e pronto para o perdão. E Jesus adianta uma sentença com sabor a promessa a quem seguir o caminho das bem-aventuranças: “Será grande a vossa recompensa e sereis filhos do Altíssimo“. Os discípulos acolhem a novidade proclamada, exultam pelo futuro anunciado e sentem, com certeza, a exigência humana do que lhes é encomendado.

Lucas, no relato que faz, junta uma série de sentenças de grande alcance libertador. (Lc 6, 27-38). Manicardi, no seu comentário, p 106, afirma que “no nosso quotidiano, o inimigo pode ser o nosso grande mestre, porque pode tornarmos conscientes dos sentimentos tenebrosos que habitam o nosso coração e que não viriam ao de cima se tivéssemos sempre relações boas e serenas com todos. O inimigo revela a qualidade do nosso coração”. De facto, há ainda zonas da nossa mente imersas no inconsciente desconhecido, na escuridão, sujeitas a reacções primárias e descontroladas, dotadas de enorme potencial destrutivo. Com energias prontas a “disparar” sempre que são provocadas. E o discípulo está chamado a amar com todo o coração, com toda a alma, com todas as forças, e com toda a mente (cf Lc 10, 27).

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2019

Rua Padre José Lourenço


Padre José Lourenço
No limite entre a Gafanha do Carmo e a Gafanha da Encarnação, situa-se a rua que homenageia o Padre José Soares Lourenço que, durante anos, paroquiou a Gafanha do Carmo, tendo deixado o seu nome ligado à construção da nova igreja matriz. 
Nasceu no dia 14 de julho de 1923, em Valongo do Vouga. Foi ordenado sacerdote, em Vagos, no dia 13 de julho de 1947, pelo bispo D. João Evangelista de Lima Vidal. Faleceu no dia 27 de agosto de 2016, ficando sepultado na Gafanha do Carmo. 

Cardoso Ferreira, no "Correio do Vouga" 

NOTA: Há pequenas notícias que se tornam grandes pelas recordações que suscitam. É o caso da nota subscrita por Cardoso Ferreira no "Correio do Vouga", semelhante a outras do mesmo jornalista, pelas quais nos vai recordando figuras que na vida foram exemplares pelos mais variados motivos. 
O Padre José Lourenço foi para mim e para muitos outros um sacerdote que soube testemunhar a capacidade de serviço, revestida de uma humildade cativante. 
Para além de paroquiar a Gafanha do Carmo, exerceu o seu ministério por outras terras, mas quis que os seus restos mortais repousassem na sua Gafanha do Carmo.

Pedofilia em debate no Vaticano


No Vaticano, os mais altos representantes da Igreja Católica de todo o mundo vão debater o problema da pedofilia praticada por padres e bispos. A Igreja Portuguesa está representada pelo Bispo de Lisboa, Cardeal Manuel Clemente, presidente da CEP (Comissão Episcopal Portuguesa). Espera-se que, de uma vez por todas, tal “cancro” seja erradicado, com a denúncia dos membros do clero que têm abusado de crianças indefesas. Contudo, todos sabemos que, infelizmente, esses criminosos hão de mudar de estratégias para alimentar vícios hediondos. Na minha ótica, o celibato nada terá a ver com a pedofilia do clero. Não há pedófilos casados e com filhos?
Li o artigo que Laurinda Alves publicou no Observador, no qual analisa a situação dos pedófilos e das vítimas. O problema é bem mais complicado do que parece. Mas se é verdade que a pedofilia é real na Igreja e fora dela, então todos teremos de estar vigilantes para a denunciar, com prudência mas também com firmeza, não vá dar-se o caso de ferir seriamente inocentes. 

F. M. 

Laurinda Alves
«Não consigo imaginar pior tragédia do que viver situações dramáticas, traumáticas, na mais completa solidão, temendo a insuportável repetição dos asquerosos acontecimentos, pois grande parte das vítimas sofre abusos continuados dos violadores. Sinceramente nunca serei capaz de saber o que é ser criança ou muito jovem e estar à mercê de terríveis lobos disfarçados de cordeiros. De padres perversos que antes de abusarem sexualmente, abusam da confiança e traem em toda a linha. Usam o seu estatuto, o seu poder, as suas falas mansas, supostamente bondosas e porventura encantatórias, para atrair vítimas e as massacrar.» 

domingo, 17 de fevereiro de 2019

Olegário Fernandes apresenta almanaque de luxo


Capa

Último texto

Tenho em meu poder um Almanaque especial que me foi oferecido por pessoa amiga. É uma obra de arte gráfica, que ano a ano me chega às mãos para delícia do meu olhar. Cada página é uma história que me recorda épocas de antanho, com um colorido ímpar, enriquecido por textos poéticos de encher a alma. Um bem-haja a quem se lembra de mo oferecer. 
O Almanaque, para 2019, é de Olegário Fernandes – Artes Gráficas, S.A., e na abertura é lembrado: “Em 2018, Setembro mais precisamente, cumpriram-se cinquenta anos da nossa administração, na Olegário Fernandes – Artes Gráficas.” E promete que “a Olegário Fernandes reitera a vontade e firmeza de continuar, acreditando que o que nos espera será sem dúvida melhor”.

Frei Bento Domingues - Os outros estão a mais? (1)

"Depois da morte de Deus viria, não a emancipação, mas a morte do ser humano. Já há muito tempo que desconfio de tanta promessa e de tanta ameaça."


1. Nietzsche (1844-1900), um dos primeiros filósofos que estudei, é uma figura de contrastes desmedidos. Tem tanto de visionário fascinante como de classificador irritante. Disse o pior do Sermão da Montanha, uma das peças mais belas e revolucionárias do Novo Testamento [1], proposto, hoje, como desafio às comunidades eucarísticas. Classificou-o como um atentado contra a natureza: a vida acaba quando começa o Reino de Deus e a prática da Igreja aí está para o confirmar [2]. 
Deixemos, para já, o sermão de Nietzsche, sermão da morte de Deus em nome da exaltação da vida e do Super-Homem, aproveitado pelos nazis para a glorificação do crime nacionalista, anti-semita e racista. 
No entanto, as religiões estão em maus lençóis por razões mais óbvias e imediatas. A embriaguez criada pelas revoluções agrícola, científica, industrial e cultural ainda não serenou. Tornou-se mais aguda. Entrou em delírio. O império da tecnociência em todos os domínios e, agora, as promessas do reino prometido da inteligência artificial, nas suas infindáveis aplicações, estariam a deixar Deus cada vez mais desempregado. Por outro lado, diz-se que a extensão da robótica se encarregará de dispensar aqueles que a criaram. Depois da morte de Deus viria, não a emancipação, mas a morte do ser humano. Já há muito tempo que desconfio de tanta promessa e de tanta ameaça.

Anselmo Borges — Islamofobia e Cristianofobia


«Sendo a religião uma dimensão constitutiva do ser humano e estruturante da cultura, é evidente que tem de ter lugar também no espaço público»


1. Não há dúvida de que a visita do Papa Francisco aos Emiratos Árabes Unidos de 3 a 5 deste mês constituiu uma visita para a História, como aqui procurei mostrar na semana passada. O próprio Francisco caracterizou a sua viagem como “uma nova página no diálogo entre Cristianismo e Islão”. É preciso ler e estudar o “Documento sobre a Fraternidade Humana”, então assinado por ele e pelo Grande Imã de Al-Azhar. Também foi a primeira vez que um Papa celebrou Missa para 150.000 cristãos na Península Arábica, berço do islão, num espaço público. 
Já de regresso ao Vaticano, na habitual conferência de imprensa no avião, um jornalista perguntou-lhe que “consequências terá também entre os católicos o Documento, considerando que há uma parte dos católicos que o acusam de deixar-se instrumentalizar pelos muçulmanos...” E Francisco: “E não só pelos muçulmanos... (riu-se). Acusam-me de me deixar instrumentalizar por todos, incluindo os jornalistas. É parte do trabalho, mas gostaria de dizer uma coisa. Do ponto de vista católico, o Documento não se separou nem um milímetro do Vaticano II, que até é citado várias vezes. Se alguém se sentir mal, eu compreendo-o, pois não é algo de todos os dias..., mas não é um passo atrás, é um passo para diante... É um processo e os processos amadurecem.”

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