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terça-feira, 10 de outubro de 2023

Um poema de Daniel Faria


ZAQUEU

A árvore foi a forma de te ver
E desci para abrir a casa.
De me teres visitado e avistado
Entre os ramos
Fizeste-me passagem
Da folha ao voo do pássaro
Do sol à doçura do fruto.
Para me encontrares me deste
A pequenez.

Daniel Faria
(1971-1999)

Do livro VERBO
Selecção e prefácio 

José Tolentino Mendonça 
Pedro Mexia 

sexta-feira, 4 de novembro de 2022

"AS MANHÃS" de Daniel Faria

Das manhãs

Apenas levarei a tua voz

Despovoada

Sem promessas
sem barcos
E sem casas

Não levarei o orvalho das ameias
Não levarei o pulso das ramadas

Da tua voz

Levarei os sítios das mimosas
Apenas os sítios das mimosas

As pedras
As nuvens
O teu canto

Levarei manhãs  

E madrugadas

Daniel Faria

Do livro "POESIA" de Daniel Faria

Das manhãs

Apenas levarei a tua voz

Despovoada

Sem promessas
sem barcos
E sem casas

Não levarei o orvalho das ameias
Não levarei o pulso das ramadas

Da tua voz

Levarei os sítios das mimosas
Apenas os sítios das mimosas

As pedras
As nuvens
O teu canto

Levarei manhãs
E madrugadas


(Poesia - Edição de Vera Vouga edições quasi)

Leia mais: https://www.luso-poemas.net/modules/news03/article.php?storyid=1364 © Luso-Poemas
Das manhãs

Apenas levarei a tua voz

Despovoada

Sem promessas
sem barcos
E sem casas

Não levarei o orvalho das ameias
Não levarei o pulso das ramadas

Da tua voz

Levarei os sítios das mimosas
Apenas os sítios das mimosas

As pedras
As nuvens
O teu canto

Levarei manhãs
E madrugadas


(Poesia - Edição de Vera Vouga edições quasi)

Leia mais: https://www.luso-poemas.net/modules/news03/article.php?storyid=1364 © Luso-Poema

segunda-feira, 17 de outubro de 2022

LUZ NAS MÃOS

(Foto Google)


Amo-te nesta ideia noturna da luz nas mãos
E quero cair em desuso
Fundir-me completamente.
Esperar o clarão da tua vinda, a estrela, o teu anjo
Os focos celestes que a candeia humana não iguala
Que os olhos da pessoa amada não fazem esquecer.
Amo tão grandemente a ideia do teu rosto que penso ver-te
Voltado para mim
Inclinado como a criança que quer voltar ao chão.

Daniel Faria

In Dos Líquidos

sábado, 17 de setembro de 2022

Daniel Faria — Um poema para este sábado


Amo-te nesta ideia nocturna da luz nas mãos
E quero cair em desuso
Fundir-me completamente.
Esperar o clarão da tua vinda, a estrela, o teu anjo
Os focos celestes que a candeia humana não iguala
Que os olhos da pessoa amada não fazem esquecer.
Amo tão grandemente a ideia do teu rosto que penso ver-te
Voltado para mim
Inclinado como a criança que quer voltar ao chão.


Daniel Faria
Em  "Dos Líquidos"

quarta-feira, 8 de setembro de 2021

Daniel Faria - Um rosto que há de vir

"Quando lhe pediram um autorretrato, Daniel Faria escreveu que era "um rosto que há de vir". E assim será, para o leitor dos poemas. Acreditamos que na poesia portuguesa dos últimos 20 anos poucos tenham vindo à luz assim, com um impacto de pedra». Nesse testemunho recolhido no jornal Público. Um colega recorda: "O Daniel tinha sempre projetos fantásticos, queria ler as obras completas de Shakespeare... O Rilke, na tradução do Paulo Quintela, era fundamental para ele, como o Herberto. E depois Luiza Neto Jorge, Eugénio, Ramos Rosa, Sophia, Ruy Belo, Lorca. Foi com ele que conhecemos Drummond, Guimarães Rosa..." O poeta empenhou-se na ida de Eugénio de Andrade ao seminário. Foi um risco, mas o resultado foi muito bom: Daniel Faria "ficou exausto, havia oposições dentro do seminário, isso angustiou-o imenso. Depois correu muito bem, o Eugénio só não entrou na capela, lembro-me que se admirou por jogarmos futebol sem batina..." E Eugénio de Andrade resumiu essa inédita aventura como "uma tarde divertidíssima". (cf. Público, 14.6.2001). A memória de Daniel Faria foi-se consolidando com o andar do tempo. Mas o seu prematuro desaparecimento teve dois efeitos contraditórios: por um lado, atrasou o reconhecimento da importância da sua obra; e, por outro, permitiu que, finalmente, possamos encontrar a sua voz, como uma das mais significativas da contemporaneidade."

sábado, 10 de abril de 2021

Daniel Faria celebraria hoje 50 anos

Se fosse vivo, Daniel Faria celebraria hoje 50 anos. Um acidente tirou-lhe a vida, há 20 anos, no mosteiro de Singeverga, onde morava. José Tolentino Mendonça, cardeal e escritor multifacetado, considerou Daniel Faria “um dos mais importantes poetas portugueses nascidos no século XX”, cabendo “ao século XXI a tarefa de descobri-lo”.
Os poemas de Daniel Faria, que exigem leitura atenta, são para mim razões de reflexão serena. Por isso os procuro com frequência no meu dia a dia.
Deixou-nos muito cedo, legando-nos, em jeito de testamento, a sua imperecível poesia.


Procuro o lento cimo da transformação
Um som intenso. O vento na árvore fechada
A árvore parada que não vem ao meu encontro.
Chamo-a com assobios, convoco os pássaros
E amo a lenta floração dos bandos.
Procuro o cimo de um voo, um planalto
Muito extenso. E amo tanto
A árvore que abre a flor em silêncio.

Do livro  DOS LÍQUIDOS

Ver mais aqui 

terça-feira, 6 de abril de 2021

Daniel Faria - Do livro das meditações I


No celeste orvalho e no vital refresco se mitigam os ardores
Apagam-se as chamas e cessam os trabalhos.
Reclino-me um pouco desconjuntado na estrutura do seu corpo
Como quem caminha nos amenos bosques da escritura.
Devagar
Corro notando e colhendo as saudáveis, as vigorosas ervas das sentenças.
Mastigo-as como quem lê repetindo
E torno a devorá-las na memória.
Celeste sumo do livro que é fonte
Represa aonde vou beber seguro.

Daniel Faria
Do livro POESIA

quarta-feira, 24 de junho de 2020

Árvore parada



Procuro o lento cimo da transformação
Um som intenso. O vento na árvore fechada
A árvore parada que não vem ao meu encontro.
Chamo-a com assobios, convoco os pássaros
E amo a lenta floração dos bandos.
Procuro o cimo de um voo, um planalto
Muito extenso. E amo tanto
A árvore que abre a flor em silêncio.

Daniel Faria,

no livro POESIA

sexta-feira, 12 de junho de 2020

Poesia de Daniel Faria

Para momentos de tempo livre




Os livros fazem parte natural dos meus momentos livres, em férias ou fora delas. É assim desde que me conheço como capaz de ler. É por isso que não posso dizer, com propriedade, que nada tenho que fazer. Ao lado das minhas obrigações, profissionais, familiares e outras, tenho os livros por salutares companheiros de jornada. 
Quando cheguei à Figueira da Foz para um período de algum afastamento do dia a dia na terra que me viu nascer, a minha primeira saída foi a uma livraria para apreciar as novidades. E desta vez, a novidade não seria assim tão atual, já que saiu, em primeira edição, em 2013. Trata-se de “POESIA” de Daniel Faria, com reedição de Abril de 2019, da responsabilidade da Assírio & Alvim. O cuidado da edição é de Vera Vouga que, em Confidência (Prefácio à Poesia de um poeta maior), traça um bonito perfil de Daniel Faria, utilizando frases e poemas do poeta que faleceu em 9 de junho de 1999, com apenas 28 anos, prestes a concluir o noviciado no mosteiro de Singeverga, vitimado por um acidente. 
Ter este livro, 458 páginas, à mão, para ser lido, poema a poema, sem pressas, que a poesia é alimento para saborear, é um prazer que não tem explicação. Os seus versos são preciosas vitaminas que animam o espírito, afastando dos nossos quotidianos tanta frivolidade... 
Como simples leitor, que pouco ou nada sei de crítica literária, aqui deixo uma modesta contribuição para quem gosta de ler. É uma simples opinião que vale o que vale para muitos, que não para mim. Alguns dos meus amigos saberão apreciar a poesia de Daniel Faria e talvez outros digam que isto nada lhes diz. 

Um poema de Daniel Faria 

Escolha minha para 

Lita, 
Aida 
Filipa 

MULHER 

Antes da noite 
Brunirás os montes 

Bordarás a chuva 
Tecerás o tempo 

Com as tuas lágrimas 
Lavarás o vento


Fernando Martins


terça-feira, 22 de janeiro de 2019

Daniel Faria: Um poema para este dia


Procuro o lento cimo da transformação
Um som intenso. O vento na árvore fechada
A árvore parada que não vem ao meu encontro.
Chamo-a com assobios, convoco os pássaros
E amo a lenta floração dos bandos.
Procuro o cimo de um voo, um planalto
Muito extenso. E amo tanto
A árvore que abre a flor em silêncio.

Daniel Faria

In DOS LÍQUIDOS

sábado, 10 de junho de 2017

QUERIA TER A POSIÇÃO DOS CLAUSTROS



 Queria ter a posição dos claustros
A posição do monge antigo que os varre
A posição do moribundo que pergunta as horas
A posição das árvores quando as crianças sobem
A posição dos ramos quando os ninhos nascem
A posição de alguém que já não mora. Queria
Como se tivesse
A posição da casa e alguém me visitasse

Daniel Faria,

in DOS LÍQUIDOS

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Poema para dia chuvoso

Eu Peneiro o Espírito e Crivo o Ritmo

Eu peneiro o espírito e crivo o ritmo
Do sangue no amor, o movimento para fora
O desabrigo completo. Peneiro os múltiplos
Sentidos da palavra que sopra a sua voz
Nos pulsos. Crivo a pulsação do canto
E encontro
O silêncio inigualável de quem escuta

Eis porque as minhas entranhas vibram de modo igual
Ao da cítara

Eu peneiro as entranhas e encontro a dor
De quem toca a cítara. A frágil raiz
De quem criva horas e horas a vida e encontra
A corda mais azul, a veia inesgotável
De quem ama
Encontro o silêncio nas entranhas de quem canta

Eis porque o amor vibra no espírito de quem criva

O músico incompleto peneira a ideia das formas
Eu sopro a água viva. Crivo
O sofrimento demorado do canto
Encontro o mistério
Da cítara

Daniel Faria

No livro  "Dos Líquidos"