Mostrar mensagens com a etiqueta Gafanhão. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Gafanhão. Mostrar todas as mensagens

segunda-feira, 22 de setembro de 2025

O avô do gafanhão

Frederico de Moura, que foi médico em Vagos, escritor, político e homem da cultura, conhecedor profundo da alma e da determinação da nossa gente, em frases realistas, quais pedras preciosas buriladas, diz assim dos gafanhões:

«O gafanhão — ou o avô do gafanhão — quando se foi às lombas para as cultivar sabia que ia investir contra vidro moído totalmente carenciado de matéria orgânica que desse qualquer quentura ao berço de uma planta. Ele bem via a mica a faiscar-lhe no lombo e bem sentia o vento a transmutar-lhe, de momento a momento, o versátil.»

«Não se foi a ela com a esperança do filho que se achega ao colo maternal e ao seio opíparo que destila o leite da humana ternura. Nada disso! Ao invés, investiu com ela como enteado que não espera da madrasta a carícia rica de promessas, nem a generosidade que dá o pão milagroso…»

quinta-feira, 14 de agosto de 2025

O gafanhão humanizou a duna


“Quem surriba chão de areia não encontra onde enterrar raízes de esperança e quem irriga duna virgem sabe que mija numa peneira! Quem lança a semente em ventre que é maninho não pode ter esperanças de fecundação. E, por isso, o Gafanhão, antes de cultivar a lomba, teve de corrigir-lhe a esterilidade servindo-se da Ria que lhe passa à ilharga, procurando nela a nata que amamentou a semente que deixou cair, amorosamente, naquele chão danado. E humanizou a duna.”

Frederico de Moura

sexta-feira, 2 de julho de 2021

O gafanhão e a areia - 7


 Na foto: O casal Acácio Nunes e Isabel do Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré 

segunda-feira, 18 de julho de 2011

GAFANHA em 1915




Na “Ilustração Portuguesa”, em 1915, 18 de outubro, António Maria Lopes escreveu um texto muito bonito e ilustrado sobre a Gafanha. Vale a pena lê-lo e apreciá-lo aqui.
Para despertar o interesse dos meus amigos, transcrevo três bocadinhos:

A Gafanha é uma «terra pacífica, meiga e alegre como um beijo de mãe, caído nos lábios d’um filho, forma como que uma pequena pátria n’nesta grande pátria nacional.»

A Gafanha «é uma povoação moderna, de tipos fortes, loiros, requeimados pelo sol, vendendo saúde.»

«o ativo e forte gafanhão não emprega o seu tempo apenas no amanho do veludo macio das suas areias, dando-lhes a consistência precisa para a cultura por meio do moliço.»

sábado, 4 de setembro de 2010

Um texto de Senos da Fonseca

A realidade «Humana» concelhia

De vez em quando faz bem rever o que dissemos num outro dia qualquer, e avaliar se o que dissemos é, ainda, o ajustado ao dia de hoje.
Vem isto a propósito das comemorações do Centenário da Gafanha da Nazaré como urbe.
Já referimos, há dias, neste Blog, ter sido editado um livro comemorativo da efeméride, da autoria do Prof. Fernando Martins registando, ordenando e comentando, as datas que, segundo o critério do autor, mais significado tiveram nos cem anos de vida comunitária do mais destacado centro gafanhão.
Não se fez - essa certamente não era a intenção do autor - uma abordagem no sentido de definir e caracterizar o perfil das gentes que estiveram no centro desses acontecimentos, os demiurgos que lhe deram rosto, alma e corpo. Isto é: descreveram-se os factos e não quem os protagonizou.
Já em tempos abordámos este assunto que reputamos fulcral para conhecermos a singularidade constituída por grupos bem diferenciados no tipo, na maneira de estar, no ser e no actuar.
Relembremos o que então dissemos.
O concelho de Ílhavo depois da divisão territorial administrativa, com a anexação das Gafanhas (1835/56), passou a ser integrado por dois tipos humanos de características tão especificas como dissemelhantes. Em todo o caso, determinantes para a sua actividade e modo de estar quando, cada um deles, procurou com mão segura no leme o rumo do seu próprio destino… Determinantes, pois...

Os «ilhavos» e os «gafanhões», pouco ou nada têm de comum.

Não importa, nem interessa para aqui, o saber-se qual o tipo mais valoroso, pois cada um a seu modo e jeito, foi-o em todas as circunstâncias e de sobremaneira influente na humanização da paisagem lagunar, onde o destino os depôs lado a lado. A laguna está cheia de suor humano, exsudado no revolver de cada leira da borda, em cada tabuleiro faiscante das salinas, em cada remada com que se impulsionou o chinchorro. Todas estas afadigadas ocupações tiveram em comum, independentemente de quem as praticou, em todas as circunstâncias, serem tarefas esfalfantes.
O «Ílhavo» e o «gafanhão», dum jeito ou de outro, intervieram no meio geográfico circundante, nele deixando marcas indeléveis dessa acção.