Reflexão de Georgino Rocha
para a Festa do Baptismo do Senhor
«Após o baptismo, Jesus sai das águas, abrem-se os céus, desce o Espírito de Deus e ouve-se uma voz celeste que faz a apresentação solene do “estatuto” de Jesus. Tudo tão simples!»
Chegado da Galileia, Jesus põe-se na fila dos pecadores que, no Jordão, aguardam a sua vez para serem baptizados por João. Este gesto tem um sentido profundo e dá origem à mais bela manifestação de Jesus. Com efeito, realça a solidariedade humana assumida, ao nascer, como um de nós e provoca a declaração solene da Voz celeste: “Este é o Meu Filho muito amado”. Condensa e desvenda a identidade original de Jesus. Mt 3, 13-17
O baptismo é a festa desta maravilha surgida nas águas do Jordão e agora anunciada e celebrada no baptistério de todas as comunidades cristãs. Os intervenientes e as circunstâncias são especiais, mas comungam da mesma humanidade que nós. No entanto, o baptismo cristão tem originalidade própria que advém de ser feito em nome de Deus: Pai, Filho e Espírito Santo, Deus que Jesus ressuscitado manifesta de modo singular. E não podemos deixar que se perca ou desfigure esta originalidade.
“Deixa que a graça do teu batismo frutifique num caminho de santidade. Deixa que tudo esteja aberto a Deus e, para isso, opta por Ele, escolhe Deus sem cessar. Não desanimes, porque tens a força do Espírito Santo para tornar possível a santidade e, no fundo, esta é o fruto do Espírito Santo na tua vida”, exorta o Papa Francisco em «Alegrai-vos e Exultai» 15, citado por D. António Moiteiro, na Carta Pastoral para o triénio 2018-2021.
Mateus, o autor da narração faz um belo texto com sabores catequéticos. O diálogo havido entre João e Jesus é clarificador: Quem precisa de ajuda é João e, por isso, questiona: “E Tu vens ter comigo?” Jesus não contradiz, mas explica: “Convém que assim cumpramos toda a justiça”, ou seja, que nos ponhamos em sintonia com o projecto de salvação e o realizemos na fase histórica que vivemos. Sabem que são protagonistas desta fase nova.
A interrogação de João desvenda o proceder de Deus que vem sempre ao encontro do homem/mulher e se faz solidário com ele/ela. Desvenda também o ser humano, na sua matriz mais genuína: ser capaz de reconhecer as suas necessidades mais profundas e de lhes dar voz, de fazer perguntas a Deus e de aceitar explicações, de obedecer docilmente e colaborar generosamente. Deus solidariza-se connosco: Para satisfazermos os anseios mais genuínos do coração, para encontrarmos as respostas mais pertinentes da nossa inteligência, para “soltar as asas” da nossa liberdade em busca da verdade sempre crescente. Para sermos seus filhos muito amados nos quais Ele se revê e compraz.
Que grande dignidade! Não podemos deixar que seja abafada em festas sociais, em “feiras” de vaidades ou requinte de modas. A comunidade cristã é a fiel depositária desta vigilância solícita e pedagógica. A propósito, sei a data do meu baptismo? Renovo nesse dia a minha fé cristã e revigoro a minha adesão amorosa à missão que a Igreja me confia?
O Papa Francisco, numa das suas catequeses, afirma: “Ninguém se pode baptizar a si mesmo”. O baptismo requer sempre uma terceira pessoa que o dê. “É uma cadeia de graça, um acto de fraternidade”. É bom recordar os nossos padrinhos e o sacerdote que nos baptizou. E, se já morreram, rezar por eles; se vivem, agradecer-lhe”. E o Papa dá a conhecer o seu hábito de telefonar ao sacerdote que o baptizou no dia aniversário do baptismo.
Após o baptismo, Jesus sai das águas, abrem-se os céus, desce o Espírito de Deus e ouve-se uma voz celeste que faz a apresentação solene do “estatuto” de Jesus. Tudo tão simples! Tudo tão denso e maravilhoso! A comunhão é o sinal mais pujante desta nova etapa e o dinamismo missionário a sua realização mais qualificada: pés a caminho, mãos solidárias, olhos abertos para ver a novidade do diálogo entre o céu e a terra. Que saibamos apreciar esta novidade e anunciá-la com entusiasmo! E que a celebração dos baptismos seja uma festa digna nas famílias e nas comunidades cristãs.
Pe. Georgino Rocha