sábado, 22 de março de 2025

ANTÓNIO FEIJÓ - O Amor e o Tempo









O Amor e o Tempo

Pela montanha alcantilada
Todos quatro em alegre companhia,
O Amor, o Tempo, a minha Amada
E eu subíamos um dia.

Da minha Amada no gentil semblante
Já se viam indícios de cansaço;
O Amor passava-nos adiante
E o Tempo acelerava o passo.

— «Amor! Amor! mais devagar!
Não corras tanto assim, que tão ligeira
Não pode com certeza caminhar
A minha doce companheira!»

Súbito, o Amor e o Tempo, combinados,
Abrem as asas trémulas ao vento...
— «Porque voais assim tão apressados?
Onde vos dirigis?» — Nesse momento,

Volta-se o Amor e diz com azedume:
— «Tende paciência, amigos meus!
Eu sempre tive este costume
De fugir com o Tempo... Adeus! Adeus!

António Feijó, 
in 'Sol de Inverno'


ANDANÇAS - Póvoa de Lanhoso

 

Encontro com Maria da Fonte, a heroína que deu lições a homens na defesa da sua terra e gentes. Em passeio de Verão, eu a Lita passámos pela Póvoa de Lanhoso para a saudar e homenagear. Não posso precisar a data.

Vencidos do catolicismo

Ruy Belo





Nós os vencidos do catolicismo
que não sabemos já donde a luz mana
haurimos o perdido misticismo
nos acordes da carmina burana

Nós que perdemos na luta da fé
não é que no fundo não creiamos
mas não lutamos já firme e a pé
nem nada impomos do que duvidamos

Já nenhum garizim nos chega agora
depois de ouvir como a samaritana
que em espírito e verdade é que se adora
deixem-me ouvir a carmina burana

Nesta vida é que nós acreditamos
e no homem que dizem que criaste
se temos o que temos o jogamos
“meu deus meu deus porque
me abandonaste?”

Ruy Belo



NOTA: Entre livros há sempre livrinhos que deixaram marcas indeléveis em certos recantos do nosso cérebro. Da capa de "Nós, os vencidos do catolicismo" transcrevi o poema que hoje partilho com os meus leitores e amigos.

Cuidado! Cuidar

Crónicas PÁRA E PENSA

Anselmo Borges

Entre as grandes obras filosóficas do século XX, figura um do filósofo alemão Martin  Heidegger: Seinund Zeit (Ser e Tempo). Nela, retoma a célebre fábula sobre o Cuidado, de Higino, um escravo culto (64 a. C.-16 d. C.). Fica aí, traduzida literalmente. “Uma vez, ao atravessar um rio, Cuidado’ viu terra argilosa. Pensativo, tomou um pedaço de barro e começou a moldá-lo.
Enquanto contemplava o que tinha feito, apareceu Júpiter. ‘Cuidado’ pediu-lhe que insuflasse espírito naquela figura, o que Júpiter fez de bom grado. Mas, quando ‘Cuidado’ quis dar o próprio nome à criatura que havia formado, Júpiter proibiu-lho, exigindo que lhe fosse dado o seu. Enquanto ‘Cuidado’ e Júpiter discutiam, surgiu também a Terra (Tellus) e também ela quis conferir o seu nome à criatura, pois fora ela a dar-lhe um pedaço do seu corpo.

sexta-feira, 21 de março de 2025

CAFANHA DO CARMO - Há 12 anos


«A minha terra tem uma "Rua de Baixo". Tem um "Café Central" e uma "loja do Ti Larico" e o Talho do Ti Mário da Fátima  No Largo da Igreja há um jardim para as crianças brincarem e nesse largo existe aos Domingos no fim da missa uns senhores a venderem fruta, ouro e lençóis. Tem várias pessoa que ainda fazem pão em casa. Flores amarelas de erva azeda em vez de ervas daninhas pelas bermas da estrada. Tem pessoas que dizem sempre "bom dia" a quem passa, mesmo que sejam desconhecidos, tem o Ti Tairoco sentado no seu banquinho, que nos chama de Cachopas
Ao meio dia toca o Sino. Tem um campo da bola. Um Grupo União Desportivo. Tem um Centro Comunitário onde tomam conta dos nossos idosos, com jovens cheios de entusiasmo, o mesmo entusiasmo que teve o seu Fundador e a sua equipa. Tem um grupo de pessoas que vestem umas capas vermelhas, elas uma blusa branca e uma saia preta e vão na procissão da festa e funerais.
Um carteiro que entrega cartas deslocando-se numa Vespa. Tem uma mercearia que toda a gente achou que ia à falência com a abertura do shopping mais próximo, mas que resiste porque vende o pão da padeira, frango churrasco ao Domingo e à Quinta, os legumes mais frescos vindos diretamente dos fornecedores locais, sempre que lhe falta um cliente idoso mais que um dia na loja, vai tentar saber junto da família e vizinhos se está tudo bem. Teve vacas e ordenhas que fizeram muitas vezes parar o trânsito, às vezes. Tem Senhoras que moram ao pé do adro da Igreja e que vão a todos os funerais e velórios, mesmo que não conheçam os mortos. Tem um sino que se ouve, altaneiro, às onze da manhã de domingo. Tem vizinhos que se cumprimentam por "vizinhos" como se fosse um parentesco. Tem muita gente que não sabe o meu nome mas sabe de quem sou nora ou Cunhada. Tem a ida aos cricos e ao moliço. Tem gente que se conhece pelo nome próprio.
Do mês de Junho ao mês de Agosto as casas enchem-se com gente: filha, prima, cunhada, netos, de muitas ti Marias e de muitos ti Manéis.
Tem um Presidente da Junta que pertence aos Escuteiros.

A minha terra tem vida lá dentro. E vocês conhecem esta terra ? :)

Cândida Pascoal»

NOTA: Cumprimento especial à Cândida Pascoal, esteja ela onde estiver.

quinta-feira, 20 de março de 2025

PRIMAVERA



A PRIMAVERA vai escancarar as portas às flores e à alegria, ao jeito de quem anuncia que a seguir teremos calor, sol acalentador e férias para quem as puder gozar. Casacas e sobretudos serão arrumados e a vida terá um sabor mais agradável. Assim penso eu e quem anda ao sabor das boas marés.
Eu sei, todos sabemos, que o tempo tem sofrido alterações por culpa dos homens e mulheres descuidados que ofendem a natureza sem dó nem piedade. E por isso importa pregar que está nas nossas mãos cuidar do planeta que habitamos para o deixarmos de herança às novas gerações, com mais saúde. Boa Primavera para todos.

NOTA: Flores do nosso jardim.

Compromissos para todos

"O estudo da Cáritas Portuguesa reforça a evidência de que a pobreza se transmite entre gerações, sendo a educação um fator determinante para quebrar esse ciclo. 
A impossibilidade de muitas crianças e jovens terem um espaço adequado para estudar, bem como as dificuldades económicas que condicionam o percurso escolar, são desafios que exigem um compromisso de todos.”

Um poema de Fernando Pessoa

 

Que coisa distante
está perto de mim?
Que brisa fragrante
Me vem neste instante
De ignoto jardim?

Se alguém mo dissesse,
Não quisera crer.
Mas sinto-o, e é esse
O ar bom que me tece
Visões sem as ver.

Não sei se é dormindo
Ou alheado que estou:
Sei que estou sentindo
A boca sorrindo
Aos sonhos que sou.

Fernando Pessoa 

Do Livro 1 (Poesia, Lírica, Épica)  

quarta-feira, 19 de março de 2025

Obrigado, Pai, pelo teu exemplo


Celebra-se hoje o Dia do Pai. Também a Igreja celebra S. José. Associo muito o meu pai a S. José. Ambos trabalhadores com responsabilidades familiares. Ambos humildes e dados a um certo e normal silêncio. Ambos conscientes dos seus deveres sociais e religiosos. Ambos crentes num Deus Criador. Ambos disponíveis para enfrentarem dificuldades. Ambos com grande capacidade de sacrifício. E ambos sabiam amar muito. O meu pai faleceu há bastantes anos. Foi nos idos de 75 do século passado. Inesperadamente. De forma apressada e sem hipótese de cura. Nunca o tinha visto doente. Nunca se queixava de qualquer incómodo que nos levasse a pensar num possível enfarte. Era um homem saudável e até brincava com as nossas fraquezas. Mas a primeira doença que teve foi fatal.

FM

A sociedade que temos...


“Em 2024, de acordo com as estatísticas do INE, cerca de 500 mil pessoas viviam em privação material e social severa, 266 mil não tinham capacidade financeira para terem uma alimentação adequada, 649 mil não tinham capacidade para comprar roupa nova, mais de 1 milhão não tinham meios para gastar uma pequena quantia consigo e mais de 1,6 milhões não conseguia manter a casa devidamente aquecida”

Nota: Dos jornais 

segunda-feira, 17 de março de 2025

Salve Rainha de Alçada Baptista

“Salve Rainha, mãe de Deus, olhai por nós que somos frágeis. A vós nos dirigimos do meio das dificuldades da vida com ansiedade e confiança. Lançai sobre nós os vossos olhos bondosos e, depois da nossa morte, leva-nos a Jesus com a ternura da mãe para o filho querido. Ó doce Virgem Maria, ajudai-nos e olhai para nós e ajudai-nos para podermos alcançar as promessas de Cristo.”

Nota: Republicar é uma forma de reviver leituras e autores que apreciei ao longo da minha vida.

Oceano casou com a Ria


O Oceano Atlântico, a dada altura, abraçou a Ria e ficaram amigos para toda a vida. O Farol avisa a quem passa, a mais de 30 quilómetros de distância, que estão perto de terra segura.