Mostrar mensagens com a etiqueta Ação Católica. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Ação Católica. Mostrar todas as mensagens

domingo, 8 de abril de 2018

EVANGELHO SEGUNDO O PAPA FRANCISCO

Frei Bento Domingues 

Bento Domingues


1. Um dos fenómenos mais característicos do catolicismo do século XX foram os movimentos da Acção Católica. Paulo Fontes estudou o seu papel na criação de verdadeiras elites, em Portugal [1]. Para a hierarquia eram o seu braço estendido. Chegavam onde ela não conseguia entrar. Os jovens eram desejados, encorajados, mas a sua criatividade estava limitada pelo mandato que os dirigentes recebiam dos bispos. Eram um laicado super controlado. Daí, os mil conflitos que os assistentes eclesiásticos, correias de transmissão, tinham de saber gerir até onde fosse possível. Que Deus sabe escrever direito por linhas tortas é um aforismo português. Teve muito que fazer. Se a hierarquia perdeu os jovens, e muitos se afastaram da prática religiosa oficial, o Papa Francisco não se resignou a essa debandada, aos vencidos do catolicismo.
Na abertura da reunião pré-sinodal dos jovens [2] (19.03.18), o Papa não repetiu as asneiras controladoras do passado. Nem cedeu à ideologia aduladora da juventude, de palmadinhas nas costas. Para ele, a juventude não existe. É uma abstracção. Existem os jovens, histórias, rostos, olhares, ilusões. Dizer que importa escutá-los e dialogar, já se sabe. O Papa não tem jeito para conversa fiada. Resolveu, com o seu comportamento e o seu discurso, alterar, radicalmente, o relacionamento da Igreja com os jovens. Dados os limites desta crónica, terei de me contentar com algumas passagens e um convite à leitura integral do seu atrevimento.

2. Bergoglio conhece o terreno que pisa: "Há quem pense que seria mais fácil manter-vos à distância para não se sentirem provocados por vocês. [...] Os jovens devem ser levados a sério! Parece-me que estamos rodeados por uma cultura que, se por um lado, idolatra a juventude, por outro, impede que os jovens sejam protagonistas. É a filosofia da maquilhagem. As pessoas procuram pintar-se para parecerem mais jovens, mas não deixam crescer os jovens. Isto é muito comum. Porquê? Porque não querem ser interpelados.

terça-feira, 20 de fevereiro de 2018

JUSTIÇA SOCIAL - UMA LUTA DE TODOS OS DIAS



Celebra-se hoje, 20 de fevereiro, o Dia Mundial da Justiça Social, criado precisamente há 11 anos pela Assembleia Geral das Nações Unidas. Foi celebrada pela primeira vez em 2009 e precisa de todos nós, no sentido de despertar a consciência de toda a gente para as realidades concretas de injustiças ofensivas da dignidade humana.
Desde jovem, sempre me senti acordado para esta premência de lutar, no dia a dia, pela justiça social, graças ao meu envolvimento concreto na Ação Católica, nomeadamente na JOC (Juventude Operária Católica). Foi aí que tomei consciência das injustiças no mundo do trabalho e na sociedade em geral, ao ouvir, semana a semana, os relatos dos jovens trabalhadores, apesar de eu ser estudante. O método criado por Joseph Cardjin, um padre belga, filho de operários, apoia-se no Ver, Julgar e Agir, e ainda se mantém atual. 
Os jovens trabalhadores relatavam, com riqueza de pormenores, as injustiças de que eram alvos nas oficinas, fábricas, empresas de construção civil e outras, o que nos levava a refletir e a delinear estratégias de atuação, no sentido de repor a justiça de quem ganhava o pão com o suor do seu rosto. E se havia patrões compreensivos e justos, não faltavam os exploradores dos operários, quantos deles ainda na adolescência. Conheci humilhações que me marcaram para a vida. 
Presentemente, o Dia Mundial da Justiça Social, que deve ser vivido todos os dias do ano e de todos os anos, leva-nos a olhar para a pobreza que nos cerca, para o desemprego e exclusão, para os aposentados com reformas de miséria, para trabalhadores com o salário mínimo para sustentar a família, para a discriminação com base no sexo e na idade, para a xenofobia e marginalização dos migrantes e refugiados, no espírito de contribuirmos para que o mundo se torne verdadeiramente mais fraterno. 
Se é verdade que muitos já fazem muito pelos mais desprotegidos, importa continuar a lutar sem descanso pelos Direitos Humanos em todas as frentes. 

Fernando Martins

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Peregrinação ao túmulo do Cardeal Cardijn


Fernanda Matias e Maria  Helena 

Um apóstolo da juventude trabalhadora 

A ideia de peregrinar ao túmulo do cardeal Joseph Cardijn, fundador da JOC (Juventude Operária Católica) e, naturalmente, da JOCF (Juventude Operária Católica Feminina), na Bélgica, foi alimentada há anos pela Fernanda Matias e concretizada em 18 de novembro. 
Para os mais novos, o nome deste Cardeal não dirá muito, porém, os mais antigos, sobretudo os católicos ligados à Ação Católica, guardam, das suas iniciativas e métodos pedagógicos, lições que lhes serviram para a vida. Não se estranhe, pois, que a Fernanda Matias, uma jocista comprometida com a pastoral operária e com o testemunho cristão, tenha tornado realidade um sonho de há anos. Nesta viagem participaram, entre outras amigas, a Maria Helena Trindade, que foi dirigente diocesana da JOCF, e o Padre Tomás Marques Afonso, que foi assistente religioso da JOC.


quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Manuel Capitolino Pata: Ação Católica e Bíblia


Manuel Pata

Tudo o que sou o devo à Ação Católica 

Manuel Capitolino Pata, 79 anos, casado com Angelina Ribau, seis filhos e sete netos, é militante da Ação Católica desde praticamente a infância, por influência de seu irmão António Pata, um dos fundadores da JOC (Juventude Operária Católica) na Gafanha da Nazaré. Por volta dos dez anos, começou a ler o jornal “O Trabalhador” de que seu irmão era assinante e distribuidor nos ambientes de trabalho e não só. Defendia este jornal, onde pontificava o Padre Abel Varzim, a aplicação da Doutrina Social da Igreja no mundo do trabalho e da vida em geral. 
Desde essa altura e ainda hoje o Manuel Pata mantém-se nos quadros da Ação Católica, agora na LOC (Liga Operária Católica), neste caso depois do seu casamento. Presentemente é coordenador da secção daquele organismo na Gafanha da Nazaré e membro da equipa diocesana. Há anos, porém, a LOC ligou-se ao Movimento de Trabalhadores Cristão, ao assumir uma perspetiva mais ampla, já que os trabalhadores não se enquadram na sua generalidade no operariado. 
Quando nos falou das suas leituras de menino e jovem, sobretudo do jornal “O Trabalhador”, frisou a importância da ação do Padre Abel Varzim, formado em sociologia na Bélgica, onde se apaixonou pela defesa dos operários. Defendia os sindicatos livres e a aplicação da Doutrina Social da Igreja na vida toda, como essencial à promoção da dignidade do ser humano. 
A partir das leituras, a curiosidade instalou-se no espírito do Manuel Pata, ainda menino e jovem. Daí surgiram um sem-número de perguntas que dirigia ao irmão António, muitas delas sobre a situação dos trabalhadores que «viviam miseravelmente, sem nenhumas condições de vida, sem liberdade, sem higiene e sem direitos no trabalho». E quem olha para o presente, em que os trabalhadores têm liberdade de falar e de reivindicar os seus direitos, não faz a mínima ideia do que era antes do 25 de Abril, frisou o nosso entrevistado. 

terça-feira, 11 de novembro de 2008

A melhor juventude

É possível abordar o fenómeno da Acção Católica de um ponto de vista puramente histórico e referir como nestes 75 anos ele se tornou um observatório privilegiado para olhar o interior da própria Igreja e o impacto desta no mundo.
Três quartos de século permitem uma visão suficientemente ampla e diversa e, entre os estudiosos, restam hoje poucas dúvidas sobre a centralidade decisiva da Acção Católica e o papel charneira que essa militância representa. Ela tem espelhado e trabalhado cada tempo num esforço metódico de coincidência com o real (distante das espiritualidades autosistémicas e desencarnadas), mas concebendo o tempo como laboratório do Reino: nas suas tensões e sinais a interpretar, na sua largueza e na tarefa que nos compromete.
É possível abordar a Acção Católica em chave sociológica e maravilhar-se com esta movimentação transversal a meios e estratos sociais, onde o laicado encontrou uma espécie de escola de formação e de oportunidades, mas também onde tantos padres carismaticamente se destacaram. A “marca” Acção Católica é detectável um pouco por todo o lado: na linguagem e nas prioridades dos programas pastorais; no currículo dos bispos e no seu modo de leitura da realidade; nas vozes mais consistentes e originais do laicado, sendo de mulher muitas dessas vozes; no tecido eclesial como um todo; na vida das paróquias e na dinâmica dos movimentos que, entretanto, emergiram; no ideário e na praxis social e política.
Num mundo em acelerada recomposição, a Acção Católica tem sido a antena e o sintoma, o posto de escuta e o palco de experimentação. Mas a interpretação da Acção Católica e do seu significado ficariam irremediavelmente lacunares sem uma leitura espiritual. A Acção Católica não é apenas expressão organizativa ou a introdução de uma eficaz cultura metodológica na prática cristã. É expressão da primavera do Espírito que dá a cada baptizado a consciência dinâmica da sua condição e missão. É obra desse incessante Pentecostes que explica o mistério da própria Igreja e instaura cada cristão, face ao mundo, como sentinela da aurora.

José Tolentino Mendonça