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domingo, 6 de maio de 2018

Para o Dia da Mãe



Mãe!

Vem ouvir a minha cabeça a contar histórias ricas 
que ainda não viajei!
Traze tinta encarnada para escrever estas coisas!
Tinta cor de sangue, sangue verdadeiro, encarnado!

Mãe! passa a tua mão pela minha cabeça!

Eu ainda não fiz viagens e a minha cabeça 
não se lembra senão de viagens!
Eu vou viajar. Tenho sede! Eu prometo saber viajar.

Quando voltar é para subir os degraus da tua casa, um por um.
Eu vou aprender de cor os degraus da nossa casa. 
Depois venho sentar-me ao teu lado.
Tu a coseres e eu a contar-te as minhas viagens, aquelas que eu viajei,
tão parecidas com as que não viajei, 
escritas ambas com as mesmas palavras.

Mãe! ata as tuas mãos às minhas e dá um nó-cego muito apertado!
Eu quero ser qualquer coisa da nossa casa. Como a mesa.
Eu também quero ter um feitio que sirva exactamente 
para a nossa casa, como a mesa.

Mãe! passa a tua mão pela minha cabeça!

Quando passas a tua mão na minha cabeça é tudo tão verdade!

José de Almada Negreiros


Nota: Sugerido pela Livraria Bertrand

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Para começar o dia, um texto de Almada Negreiros




O pensamento humano e a humanidade não são uma e a mesma coisa. O pensamento humano leva sempre uma incomensurável dianteira à marcha geral da humanidade. O que o pensamento humano quer imediatamente são exemplos pessoais. A humanidade é apenas um elemento, como a terra, a água, o ar e o fogo.
Há de facto diferença entre aqueles que têm capacidade para suportar sozinhos o peso da atmosfera e aqueles que têm capacidade para suportar sozinhos o peso da atmosfera e aqueles que apenas ombro a ombro resistiriam ao quotidiano. O pensamento humano sabe que tem o poder de restituir a alma aos apavorados.

Almada Negreiros
In NOME DE GUERRA