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terça-feira, 11 de outubro de 2005

II Concílio Ecuménico do Vaticano

D. Manuel de Almeida Trindade:
“Os ventos conciliares não foram captados em toda a parte
e por todas as pessoas da mesma maneira”

 Em 1962, faz hoje precisamente 43 anos, iniciaram-se em Roma os trabalhos do II CONCÍLIO ECUMÉNICO DO VATICANO, em que tomou parte, desde a primeira sessão, D. Manuel de Almeida Trindade, então Bispo de Aveiro. Sem pretender, aqui e agora, sublinhar a importância deste concílio, que foi, sem dúvida, o maior acontecimento eclesial do século XX, ocorre-me, no entanto, recordar duas ou três passagens de “O Vaticano II no seu tempo”, um testemunho do nosso Bispo Emérito, publicado em Maio de 1984.
Diz D. Manuel, que, “Ao passar agora, não como turista mas como bispo, por entre peças de museu – lápides seculares, vasos etruscos, múmias egípcias, estátuas de mármore que há cerca de dois milénios haviam servido de elementos decorativos nos átrios das casas patrícias ou nos templos de Atenas ou de Roma – ao passar por entre aquelas testemunhas mudas e quedas do passado, tive a sensação de um certo desajuste.
Que a Igreja não queria ser objecto de museu estava hoje ali a prova evidente naquele cortejo de bispos, de arcebispos, de patriarcas e de cardeais que, em fila de quatro, desfilavam pelos corredores do museu a caminho da praça de S. Pedro e da basílica vaticana”.
Depois, D. Manuel evocou grandes liturgistas, biblistas e patrólogos “que já conhecia dos livros” e que iam participar no Concílio, nomeadamente Chenu e Congar, da Ordem dos Pregadores; Carlos Rahner, Henrique de Lubac, Daniélou, da Companhia de Jesus; Rogério Schutz [falecido há pouco] e Max Thurian, da Comunidade de Taizé; e o Professor Óscar Cullmann, “de quem havia lido não só o Pierre, apotre et martyr, mas também a Christologie du Nouveau Testament e Christ et le temps. Este livro levava-o eu na minha bagagem de Padre Conciliar.
Embora não fosse caçador de autógrafos, não me contive, um dia que me encontrei com o célebre professor de Basileia, que não lhe pedisse um autógrafo para o exemplar deste livro, que julgo ser a sua obra mais significativa”.
No final do primeiro dia, o então Bispo de Aveiro escreveu no seu caderno este apontamento: “O Papa impressionou-me pelo ar de modéstia e de piedade que ressalta da sua fisionomia. Uma nota de religiosidade nos penetra a todos. Vê-se bem que não se trata de qualquer congresso ou assembleia parlamentar. O protagonista principal de todo este acto está presente mas é invisível. Só a fé o descortina. É o Divino Espírito Santo. A Ele se dirigem o louvor e as súplicas da celebração eucarística.”
Já no final do seu testemunho, D. Manuel refere que “O Papa João XXIII, optimista por temperamento e por imperativo da fé, falava no início do Concílio de uma nova primavera na Igreja. A verdade é que não era ainda a primavera. Os ventos conciliares não foram captados em toda a parte e por todas as pessoas da mesma maneira.
Há ainda hoje muitas pessoas a propósito de quem se poderia repetir a queixa formulada por S. João Crisóstomo a propósito das Cartas de S. Paulo: nem sequer o número delas conhecem”. E porque decerto haverá muitos católicos nessa situação, aqui fica uma simples proposta: procurem ler, quantos antes, o CONCÍLIO ECUMÉNICO VATICANO II, para então não se ouvir a queixa de S. João Crisóstomo.

Fernando Martins

domingo, 4 de setembro de 2005

Fundo de Baú - Um livro de D. Manuel de Almeida Trindade

D. Manuel de Almeida Trindade, Bispo Emérito de Aveiro, acaba de nos brindar com mais um livro, “Fundo de Baú”, que nasce na sequência de “Memórias de Um Bispo”, publicado em 1993. Antes de mais, este trabalho vem ensinar-nos que, se é importante acumular experiências que guardamos religiosamente na memória, também é útil juntar documentos, escritos diversos, objetos e fotografias, para um dia, se possível, os partilharmos. Assim tem feito D. Manuel. 
Com os seus 86 anos de idade, bem vividos, o Bispo Emérito de Aveiro oferece desta feita a quem gosta de reviver pedaços da história da Igreja Aveirense, cheios de sentido e de fé, “Paisagens, factos, fotografias, cartas, escritos publicados e não publicados”, autênticas “preciosidades” recuperadas depois de um “mergulho” no fundo do baú, como se lê na contracapa. 
Depois de algumas horas de leitura, passadas com a avidez de quem deseja redescobrir e reviver acontecimentos e situações, mas também reencontrar amigos e conhecidos, não posso deixar de sublinhar que D. Manuel continua a prestar um excelente serviço à Igreja, pelos ensinamentos que nos oferece e pela sensibilidade com que nos transmite o dom da sua fé, toda ela posta ao serviço dos homens e mulheres do nosso tempo. 
Neste “Fundo de Baú”, leio cartas e entrevistas, homilias e discursos, textos teológicos e pastorais de D. Manuel. Acompanho-o em viagens e recordo, com ele, com que saudades, gente que conheci e admirei. Do seu Diário, destaco a meticulosidade e a serenidade com que regista o que sente no dia-a-dia das suas viagens e peregrinações, a riqueza dos pormenores que experimenta e as referências, cheias de ternura, com que evoca os que o acompanham. 
O autor, que tem sabido, ao longo da vida, preservar tantas vivências, consegue depois, com maestria e simplicidade, em especial quando escreve sobre pessoas da sua intimidade, fazer sobressair o melhor de cada uma. Sinto isso quando D. Manuel recorda amigos como Monsenhor Aníbal Ramos, Padre Conde, Padre António Henriques Vidal, Monsenhor Nunes Pereira, Padre Abel Condesso e Monsenhor Raul Mira, entre outros. 

Fernando Martins