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segunda-feira, 19 de setembro de 2022

Protesto e acolhimento de um novo caminho

Crónica de Bento Domingues
no PÚBLICO
 
Também as comunidades cristãs devem denunciar todas as formas de corrupção, de mentira, de egoísmo, ao concentrar os bens destinados a todos, nas mãos de muito poucos.

1. A celebração da Eucaristia nunca pode estar desligada do que vai acontecendo na vida humana, de crentes e não crentes. A narrativa eucarística mais antiga que conhecemos precede as formulações dos textos evangélicos. Encontramo-la numa célebre Carta de S. Paulo aos Coríntios (1), que manifesta a indignação acerca do que está a acontecer numa comunidade ainda pouco cristã.
Eis a narrativa: “​Quando vos reunis, não é a ceia do Senhor que comeis, pois cada um se apressa a tomar a sua própria ceia; enquanto um passa fome, outro fica embriagado. Porventura não tendes casas para comer e beber? Ou desprezais a Igreja de Deus e quereis envergonhar aqueles que nada têm?

segunda-feira, 11 de julho de 2022

O Cristianismo na guerra das armas e das ideias

Durante sua histórica visita às cidades bombardeadas de Hiroshima e Nagasaki, em Novembro de 2019, o Papa condenou o uso e a posse de armas nucleares por qualquer Estado.

1. Este título pertence ao ensaio de um teólogo, em plena produção e muito conhecido, Tomáš Halik, publicado pelo 7 Margens (18/5/2022). De facto, não é um autor desconhecido do público português. As Paulinas já editaram vários dos seus livros. Nasceu na Checoslováquia, em 1948, é um convertido e estudou Teologia e foi ordenado Padre na clandestinidade, durante o regime comunista, sendo psicoterapeuta para toxicodependentes e alcoólicos. Com a simbólica queda do muro de Berlim, foi nomeado conselheiro do presidente Václav Havel e, posteriormente, secretário-geral da Conferência Episcopal Checa.
Em 2017, a convite do arcebispo de Luanda e presidente da Conferência Episcopal Católica Angolana, Mons. Filomeno Dias, o teólogo Tomáš Halík participou no congresso de teólogos africanos e europeus, em Luanda, com a conferência A Arte de Ler os Sinais do Tempo. Hermenêutica Teológica da Cultura Contemporânea. Recordo-me de terminar a sua comunicação, pedindo a todos um apoio ao Papa Francisco que, na altura, estava a ser muito contestado.

segunda-feira, 20 de junho de 2022

Os melhores do mundo

Crónica de Bento Domingues
no PÚBLICO de domingo

1. Junho é um mês muito português. No dia 10, celebramos o Dia de Portugal, de Camões, das Comunidades Portuguesas e a festa litúrgica do Anjo da Guarda de Portugal. Os dias 12 e 13 são dedicados a Santo António, o santo português mais conhecido em todo o mundo. No dia 24, celebramos S. João Baptista, no dia 29, a festa de S. Pedro. Há uma rima que sintetiza este mês: “Primeiro vem Santo António / depois, S. João / por fim, vem S. Pedro / para a reinação”.
Este ano, também no dia 10, o Presidente da República homenageou, em Londres, um grande nome da pintura portuguesa conhecida em todo o mundo, Paula Rego, falecida a 8 deste mês (1935-2022) e anunciou que será condecorada a título póstumo em Lisboa.
Foi um outro Presidente da República, Jorge Sampaio, que convidou Paula Rego para contar a história de Nossa Senhora para a capela do Palácio de Belém que aceitou de imediato: “Desde que comecei a pintar que estava à espera desse convite”. Pouco tempo depois, nascia o Ciclo da Vida da Virgem Maria.
No Museu da Presidência da República, no Palácio de Belém, está patente ao público uma exposição dedicada a Maria de Lourdes Pintasilgo (1930-2004) sobre o seu percurso de cidadã na esfera pública. Foi sempre uma católica militante.
Desde o dia 6 de Junho, no âmbito das comemorações do centenário de José Saramago (1922-2010), a Biblioteca Nacional apresenta uma mostra bibliográfica e documental que celebra o percurso de escrita do autor, com o título A Oficina de Saramago.

segunda-feira, 6 de junho de 2022

De que espírito somos?

Crónica de Bento Domingues 
no PÚBLICO

A invasão da Ucrânia recebeu o apoio do Patriarca de Moscovo, Cirilo I. Do ponto de vista cristão é inevitável a pergunta: qual é o espírito que move este Patriarca?

1. Continuamos a viver, em muitas partes do mundo, tempos de confusão política e religiosa. A guerra voltou a esta Europa cansada de paz e sem memória das vítimas de um passado não muito longínquo.
A invasão da Ucrânia, por mandato de Vladimir Putin, actual presidente da Rússia, recebeu o apoio do Patriarca de Moscovo, Cirilo I. Do ponto de vista cristão é inevitável a pergunta: qual é o espírito que move este Patriarca? O Espírito de Cristo – Espírito do Pentecostes – é um apelo universal à paz e à partilha dos bens da natureza destinados a todos os seres humanos. Não me pertence julgar as suas convicções e intenções, mas também não posso fechar os olhos e os ouvidos, embora não tenha de acreditar só no que é apresentado pelos meios de comunicação e das redes sociais.

segunda-feira, 23 de maio de 2022

Libertar-se da vontade de dominar

Crónica de Bento Domingues
no PÚBLICO

Apesar de grandes mudanças em muitos sectores da vida moderna, não se ataca o fosso entre ricos e miseráveis. Procura-se insistir na mentira de que é a meritocracia que faz os ricos e a preguiça faz os pobres, os pouco ambiciosos.

1. O encontro pacífico entre povos e culturas supõe um processo de libertação da vontade de dominar o outro. Procurar libertar-se do desejo de dominar é o bom caminho para o triunfo da fraternidade e da amizade social, em todas as situações.
Perante o fenómeno da globalização, o Papa João Paulo II, embora considerasse esse fenómeno irreversível, sublinhava que precisava de ser orientado na direcção da equidade e da solidariedade, para não se tornar um sistema de dominação e colonização.
O mito bíblico da Torre de Babel, ao contrário do que muitos dizem, representa o veemente protesto de Deus contra o extermínio da diversidade de línguas e culturas. Não suporta o totalitarismo de uma só língua, de uma só cultura [1]. A narrativa do Pentecostes, nos Actos dos Apóstolos, diz algo de extraordinário: nenhum povo precisava de negar a sua originalidade cultural, a sua própria língua, para entender a voz do Espírito. A graça divina não nega a natureza. É a sua cura e sublimação.

segunda-feira, 11 de abril de 2022

Semana Santa ou Semana da Coligação Assassina?

Crónica de Bento Domingues 


Frei Bento Domingues
Os poderes judaicos procuraram encostar Pilatos à parede e Pilatos responsabiliza-os por tudo o que aconteceu. Agora, temos na própria Europa, novas narrativas de destruições e massacres incríveis, mais precisamente na Ucrânia.

1. Com o Domingos de Ramos começa a Semana Santa e é proclamada a Paixão de Cristo, segundo S. Lucas [1]; na Quinta-feira, a leitura da Última Ceia é de S. João [2] ; é do mesmo evangelista a leitura da Paixão na Sexta-Feira [3]. Esta é uma selecção. De facto, existem quatro narrativas, tantas como os Evangelhos. São textos essenciais porque é em torno das razões da condenação de Jesus à morte, da teimosia experiencial em dizer que Ele ressuscitou, que pelo seu Espírito reúne e anima todos os que acolhem o seu projecto de abertura universal, que se afirmaram os movimentos cristãos.
Importa ter presente que a escrita dos textos do Novo Testamento recolhe várias tradições orais. É feita bastante depois dos acontecimentos. Não são escritos de reportagem. São interpretações de comunidades que viviam e celebravam a certeza de que, com Jesus, participavam no advento de um céu novo e uma nova terra [4]. Celebravam, faziam memória e viviam, no seu presente, o que depois foi passado a texto. Os exegetas, de várias gerações e com problemáticas diferentes, têm trabalhado para encontrar os traços do Jesus histórico e o Cristo da fé.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2022

Descobrir a música do Evangelho

Crónica de Bento Domingues 
no PÚBLICO

O Papa João Paulo II talvez tenha exorbitado, ao declarar que as mulheres nunca podiam prestar o serviço que os homens prestam, na Eucaristia, ao povo de Deus

1. É uma banalidade dizer que os Evangelhos provocaram grandes músicos a produzir obras imortais. Como veremos, o Papa Francisco deseja que todos descubram a música do Evangelho, em todas as manifestações da vida.
O cardeal Jorge Mario Bergoglio, jesuíta, foi eleito Papa a 13 de Março de 2013 e escolheu Francisco de Assis, como inspiração, para o seu pontificado. A razão desta escolha surpreendente não era o de reconduzir a Igreja à Idade Média. Mostrava, pelo contrário, que Francisco de Assis era a figura mais actual do que ele desejava ser e fazer: viver a alegria do Evangelho fora dos esquemas do poder clerical. Francisco não era pobre, fez-se pobre e nunca quis ser clérigo. Era pelo exemplo que queria fazer, de uma Igreja em ruínas, uma nova esperança de liberdade e alegria. O Evangelho, longe de asfixiar o poeta, abria-lhe o mundo como um hino cósmico.
O Papa Francisco não o escolheu para o imitar. As imitações são a negação da criatividade. O santo de Assis tornou-se, para ele, a referência simbólica da reforma da Igreja do século XXI, na escuta atenta a todos os mundos. Um símbolo não é uma receita. É o contrário. Dá que pensar, dá que sonhar e abre, com humor, várias possibilidades e caminhos de futuro.