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sábado, 26 de fevereiro de 2022

Palavras para mim. 1

Crónica de Anselmo Borges 

Anselmo Borges
Ao longo da minha vida muitas palavras me foram dirigidas. Mas há aquelas que me marcaram. Positivamente. Ficam aí algumas.
Do meu pai. "Só é livre quem não deve nada a ninguém. Quem não tem de andar sempre com o chapéu na mão".
Da minha mãe. "Quem é não precisa de parecer". "Olha aquela folha de trevo, aquela pereira; ah! aquela pêra. Que beleza!". "Queres saber? Andar e ler." "Neste mundo, não há alegria perfeita." Quando me escrevia, terminava assim: "Que o Divino Espírito Santo te ilumine!"
Do meu professor da escola primária. "Para a frente! Sempre para a frente, sem medo! Para trás m.ja a burra."
Da minha irmã. "Como é que a gente não enlouquece?!", disse-me, agarrada a mim, quando o caixão com o cadáver da nossa mãe desceu à terra.
De um grande amigo alemão, Anton Kaufmann. Muito jovem fora prisioneiro de guerra dos americanos e chegou a estar encostado à parede, como se fosse para ser fuzilado. Perguntei-lhe em que pensou naqueles instantes. "Pedi perdão a Deus e lembrei-me da minha mãe". Ele era uma força da natureza. Da última vez que o vi, estava num lar, alquebrado. "Adeus, Anselmo. A vida passa tão depressa...".