sábado, 8 de julho de 2017

Georgino Rocha — Facto Marcante, Hora de Esperança


A Cúria diocesana vive uma hora marcante na sua missão pastoral. A nomeação do novo Vigário Geral, P. Manuel Joaquim Estêvão da Rocha, pelo nosso Bispo, Dom António Moiteiro, constitui o seu rosto mais visível e, ao mesmo tempo, o pulsar do seu novo ritmo. Tudo acontece num instante: leitura do decreto de nomeação, profissão de fé, assinatura. E o selo do abraço a confirmar o assumir das novas funções.
Para este instante se encaminha o processo de auscultação ao presbitério que o Senhor Bispo decidiu tornar indicativa. Para este instante se polariza a oração de tantos amigos da Igreja diocesana, uma vez aberto o caminho de escolha pelo pedido de cessação de funções do senhor Vigário Geral, Monsenhor João Gaspar e do Pró-Vigário Geral, P. Georgino Rocha.
Este facto marcante faz-me revisitar o tempo em que exerci esta e outras funções como cooperador próximo dos Bispos da Diocese. Pude reencontrar a memória agradecida de rostos amigos em tantas paróquias e comunidades religiosas, movimentos e secretariados, instâncias diocesanas e nacionais. Pude rever gestos de atenção solícita de Dom Manuel de Almeida Trindade, de Dom António Marcelino, de Dom António Francisco e de Dom António Moiteiro. Pude sentir, mais uma vez, o sorriso brilhante de tantos colegas que, do seio de Deus, me acenam e iluminam. Pude acolher de novo, como em súplica insistente, a voz de quem sofre e não vê saída airosa para a sua situação, de quem quer caminhar na vida, mas anda à procura de sentido que valha a pena, de quem não pactua com uma sociedade “líquida” e não dispõe de um ponto firme nem de apoio inabalável para a sua fé, as suas lutas e canseiras, de quem sonha com uma família estável, mas a realidade “fala” mais alto e não cessa de surpreender.
A nomeação do novo Vigário Geral ocorre ainda no ano pastoral dedicado à esperança, integrado no triénio da misericórdia que nos propusemos viver com alegria. É o momento de reganhar a esperança que nos é proposta, tendo já como horizonte próximo a caridade operativa. Esta feliz coincidência não será certamente fortuita, mas providencial, pois como reza o lema original da nossa Diocese: “Amar a Deus é servir”. E servir por amor é certamente a melhor expressão do culto a Deus, da liturgia do Senhor e da acção do Espírito Santo que, por meio da Igreja, incessantemente nos renova e cuida da casa comum da nossa humanidade.
Que Maria, a Senhora da Misericórdia, e Santa Joana, a amiga dos pobres e a defensora da liberdade de consciência, velem com solicitude pela nossa Igreja diocesana em saída missionária e alcancem de Deus uma especial bênção para o novo Vigário Geral no desempenho das suas funções.


Maria Donzília Almeida — Dia do Amigo


Mal nos conhecemos
Inaugurámos a palavra «amigo».
«Amigo»
é um sorriso
De boca em boca,
Um olhar bem limpo,
Uma casa, mesmo modesta, que se oferece,
Um coração pronto a pulsar
Na nossa mão!

Alexandre O'Neill

“Possuir um amigo é ser dono de um tesouro! “ Esta parece ser, para o senso comum, quase uma verdade do Sr lapalisse, dada a evidência do significante. Na realidade, este conceito reveste-se de tal importância e significado, que a língua portuguesa dispõe de várias expressões para o designar. Assim, temos:

amigo do peito,
amigo do coração, 
amigo de Peniche,
amigo da onça,
amigo presente,
amigo ausente...

Há também os amigos do alheio, que proliferam, na era moderna, como ratazanas em tubos de esgoto, et cetera!
Como “A língua é um processo dinâmico que acompanha o evoluir do homem...!” Cf “Língua e Costumes da Nossa gente”, vai-se adaptando à evolução social e incorpora, no seu léxico, novos termos que traduzem essas mesmas alterações. A semântica também acompanhou a mudança e, a palavra amigo adquiriu outras nuances, outras tonalidades – amigo colorido! Este veste-se de qualquer roupagem e satisfaz o desejo de requinte de qualquer freguês(a)! Tal como o Ambrósio, do ferrero rocher!
É uma invenção desta era e já remonta aos finais do século XX, sem data precisa da sua “inauguração”! A estrutura social evoluiu e assim, a amizade se revestiu de novas nuances, para se manter, sempre, up-to-date!
É uma espécie de amigo polivalente, um pau para toda a colher. Está sempre ali, disponível para o que der e vier, mas sem compromisso algum, para além da amizade, claro! Que é já, um grande vínculo!
Foi esta a explicação que me foi dada, mas não sei se percebi muito bem! Aqui, sou como os alunos, que, às vezes, têm dificuldade em perceber a matéria nova! Nem sei por que razão me exaspero com eles, se, em situação idêntica, também revelo dificuldades de compreensão! Precisarei de APA? Terei de ser submetida a um Plano de Recuperação, para  vencer as dificuldades de aprendizagem? Ou será um Plano de Acompanhamento, agora no final do ano? Ou ainda...um Plano de Tutoria? Aqui, os meios determinam o fim, ou seja, a transição de ano, que é o cumular do sucesso educativo! Aquilo que é mais grato para a tutela!
Bem, é melhor deixar o assunto para o próximo ano letivo, já que os professores têm direito às suas merecidas férias! Deixemo-los desanuviar, que bem merecem!
Acho que, se compreendi...e dada a dificuldade em encontrar mão-de-obra (!?)
especializada...toda a gente deveria gostar de ter um Amigo Colorido!?
Passo a refletir sobre a verdadeira amizade:
Muitos são os amigos que fazemos ao longo da vida, mas só ficam os verdadeiros. Os outros são colegas, de profissão, de trabalho, de equipa.

Ser um amigo:

• É mais que abraçar. É passar num abraço todo o amor e carinho.
• Não é estar presente em todos os momentos, mas fazer-se presente quando
necessário.
• Mais do que ser otimista, é ser convincente.
• É chorar quando eu choro e rir quando eu rio, não o contrário.
• Não é perdoar tudo. É saber relevar e compreender, quando possível, as falhas dos outros.
• É mais que olhar juntos na mesma direção. É olhar um para o outro e aceitar-se mutuamente, com defeitos e virtudes.
• É preocupar-se com o outro e não se importar de ouvir, quando está pronto para sair, um telefonema a pedir ajuda. E ir mesmo com vontade de ficar, sem se arrepender.
• Ser amigo é ser a esperança de alguém, ser a luz, ser o guia, o protetor.
• Ser amigo é esquecer-se de si e doar-se ao outro, por inteiro.

Termino com as sábias palavras do grande poeta, António Aleixo:

Contigo em contradição,
Pode estar um grande Amigo.
Duvida mais dos que estão
Sempre de acordo contigo!

 08.07.2017

 Mª Donzília Almeida

“Itinerários de A a Z” — Um livro de Manuel Olívio Rocha


“Itinerários de A a Z” é o mais recente livro do nosso conterrâneo e amigo, Manuel Olívio da Rocha, radicado no Porto desde há décadas com a família, O livro, de edição familiar, apresenta-se com inúmeras fotos a preto e branco sobre todos os temas abordados, completando assim uma ronda exaustiva por nações, terras e lugares relacionados com todos os membros dos agregados familiares que tiveram por base a Virgínia Costeia e o Manuel Olívio, ela da Murtosa e ele da Gafanha da Nazaré.
O título diz claramente que a caminhada da Família Costeia da Rocha oferece aos leitores, circunscritos aos avós, filhos, netos e amigos, uma multifacetada e riquíssima mostra ao nível de dados pessoais e referências históricas abrangentes, dignas de nota. Lê-se, pois, com muito agrado e até com curiosidade, por todos  e especialmente por quem, como nós, conhece desde sempre a família, que faz parte do nosso ADN, por banda dos Rochas. 
Este seu trabalho, que vem na senda de outros, anualmente editados, traduz, de forma concreta, a capacidade de trabalho e a rica imaginação do autor, que ano a ano nos surpreende com assuntos interessantíssimos, merecedores, em minha opinião, de divulgação mais ampla, numa perspetiva de estimular obras semelhantes, que a vida de gerações passa, indubitavelmente,  por livros deste tipo. 
A abrir, na rubrica que tem por título PRONTOS?!..., o autor deixa como aperitivo algumas ideias, ao jeito de informação preliminar, para aguçar o apetite. Assim:

À guisa de Escuteiro: SEMPRE PRONTO!
Percorrer “Seca e Meca” 
onde nos levará?
Alguns pontos ficaram perdidos…
Cada um lá voltará.
Todo o material que se expõe 
vem do baú da memória 
e algum encontrado no rabusco.
Que a todos traga boa diversão 
e avive recordações!

E agora é preciso ler e reler, como fizemos, de A a Z, com a garantia de que, em cada letra do alfabeto, há inúmeras curiosidades e informações, algumas das quais tivemos o grato prazer de partilhar, que nos enriquecem, fazendo-nos recuar no tempo e reviver um passado que está em nós como tesouro imorredoiro.
Este é o 28.º caderno de Família. Capa de Domingas Vasconcelos. São 353 páginas A5 com muito para ler. 
Os meus parabéns ao autor e família.

Fernando Martins

sexta-feira, 7 de julho de 2017

Anselmo Borges — António Nobre e Francisco


António Nobre escreveu um poema. Dedicado ao Papa Leão XIII. É comovente e foi seleccionado por Eugénio de Andrade para a sua Antologia Pessoal da Poesia Portuguesa. Diz assim:

"Ó Padre Santo! Meu Irmão! Ó meu amigo/Do velho mundo antigo/- Dá-me consolação, e prova-me que há Deus;/Resolve-me a equação estrelada dos céus;/Admite-me ao Conselho amigo dos Cardeais;/Deixa-me ler, também, na letra dos missais!/Muito que te contar! Não conheces o mundo?/Nunca desceste, Padre!, a esse poço profundo?/Metido nessa cela ideal do Vaticano,/Há quanto tempo tu não vês o Oceano?/Nunca viste um bordel! Sabes o que é a desgraça?/Ouviste acaso o "pschut"! delas, a quem passa?/Sabes que existem, dize, as casas de penhores?/No teu palácio, há, porventura, amores?/Viste passar, acaso, um bêbado na rua?/Já viste o efeito que na lama imprime a lua?/Ouve: tiveste já torturas de dinheiro?/Já viste um brigue no mar? Já viste um marinheiro?/Que ideia fazes das crenças dos rapazes?/Já viste alguém novo, Padre? Que ideia fazes,/Santo Leão, do Boulevard dos Italianos?/Recordas com saudade os teus vinte e três anos?/Ó Leão XIII! Ó Poeta, essa é a minha idade!,/Como tu vês, estou na flor da mocidade!,/Ainda não contei metade de cinquenta./Começa-me a nascer a barba, o mundo tenta/A minha alma: ah, como é lindo esse Demónio!/Nasci em Portugal, chamo-me António;/(...) Em pequenino, Padre, ajoelhado na cama,/A erguer as mãos a Deus, ensinou-me a minha ama:/Sabia de cor mil e trezentas orações,/Mas tudo esqueci no mundo aos trambolhões.../Nossa Senhora te dirá se isto é assim!/ - O que há-de ser de mim?"

Se fosse agora, com o Papa Francisco, António Nobre não se queixaria tanto. Porque Francisco não é o Papa da distância, mas da proximidade. Ele não é prisioneiro dentro do Vaticano: ele vai à rua, fala com os sem-abrigo, abraça os doentes e que "se não deve ter medo da ternura", ele sabe de bordéis e ainda recentemente visitou uma casa de antigas prostitutas, já viu bêbados e amparou-os, tem experiência do que é ter torturas de dinheiro e, por isso, ergue-se contra o cancro da corrupção e prega contra a injustiça e o ídolo do dinheiro, sabe das crenças dos rapazes e das raparigas e das suas lutas e demónios e tem e pede aos padres e bispos compreensão para eles e que a confissão não seja "uma câmara de tortura", vê oceanos nas suas viagens pelo mundo em busca do diálogo e da paz entre os povos...

Francisco também sabe das dificuldades da fé. Porque a Igreja anda, como dizia o cardeal Carlo Martini, com duzentos anos de atraso, e a teologia tem sido marginalizada, calada e perseguida. Ele conhece concretamente o que o seu companheiro jesuíta José María Castillo escreveu recentemente sobre o tema: de como as ciências e as tecnologias avançam com novos conhecimentos enquanto a teologia fica entregue ao desalento, tolhida, cada vez com menos interesse, incapaz de responder às novas perguntas, empenhada como está em manter, como intocáveis, alegadas "verdades" que não sabe como é possível continuar a defender. E dá exemplos: "Como podemos continuar a falar de Deus, com a segurança com que dizemos o que Ele pensa e quer, sabendo que Deus é o Transcendente, não estando portanto ao nosso alcance? Como é possível falar de Deus sem saber exactamente o que dizemos? Como se pode assegurar que "por um homem entrou o pecado no mundo"? Vamos continuar a apresentar como verdades centrais da nossa fé o que na realidade são mitos que têm mais de quatro mil anos? Com que argumentos se pode assegurar que o pecado de Adão e a redenção desse pecado são verdades centrais da nossa fé? Como é possível defender que a morte de Cristo foi um "sacrifício ritual" de que Deus precisou para nos perdoar as nossas faltas e salvar-nos? Como se pode dizer que o sofrimento, a desgraça, a dor e a morte são "bênçãos" que Deus nos manda? Porque continuamos a manter rituais litúrgicos que têm mais de 1500 anos e que ninguém entende nem sabe por que razão se continua a impor às pessoas? É mesmo verdade que acreditamos no que nos é dito em alguns sermões sobre a morte, o purgatório e o inferno?" E a lista de perguntas sobre doutrinas estranhas e contraditórias poderia continuar. E as igrejas esvaziam-se. E uma das razões é uma teologia paupérrima, tolhida pelo medo.

Aí está uma das razões por que Francisco tem tantos adversários e mesmo inimigos. E ele o que faz? Para abrir o caminho de uma teologia aberta, depôs o cardeal G. Müller de prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé e substituiu-o pelo jesuíta L. Ladaria. Continua a ir em frente, procurando pôr em marcha o Evangelho a favor da humanidade. E socorre-se também do bom humor, e todos os dias reza a oração do bom humor, oração de São Thomas More, o autor de A Utopia, que não se esqueceu de levar a gorjeta para o carrasco que ia decapitá-lo. Francisco recomendou-a também aos membros da Cúria Romana, sobretudo aos díscolos:

"Dá-me, Senhor, uma boa digestão e também algo para digerir./ Dá-me um corpo saudável e o bom humor necessário para mantê-lo./Dá-me uma alma simples que sabe valorizar tudo o que é bom/e que não se amedronta facilmente diante do mal,/mas, pelo contrário, encontra os meios para voltar a colocar as coisas no seu lugar./Concede-me, Senhor, uma alma/que não conhece o tédio, /os resmungos,/os suspiros/ e as lamentações,/nem o excesso de stress por causa desse estorvo chamado "Eu"./Dá-me, Senhor, o sentido do bom humor./Concede-me a graça de ser capaz de uma boa piada, uma boa piada para descobrir na vida um pouco de alegria /e poder partilhá-la com os outros./Ámen."

Anselmo Borges no Diário de Notícias de hoje 

Georgino Rocha — Jesus em oração: Eu Te bendigo, ó Pai


O texto de Mateus, hoje proclamado na liturgia, constitui um bom reflexo da sensibilidade de Jesus e dos horizontes em que se move; da sua vontade de instaurar os valores do Reino e da preferência por quem está aberto à boa nova que anuncia; da sintonia com o ritmo do coração humano nas suas aspirações mais genuínas e nos pequenos passos que vai dando. A felicidade surge como a atenção ao ser, relativizando o ter, tantas vezes expresso na saúde, dinheiro e amor. Sendo bens importantes, estes não são os primordiais. A felicidade está nos nossos genes. O Evangelho é o que melhor” encaixa” na nossa condição humana.

A reacção inicial à mensagem de Jesus manifesta várias atitudes: um povo infantil – como as crianças que se divertem na praça pública –, uns fariseus rígidos nas suas convicções e um “resto” fiel aberto à novidade de Deus e confiante na realização das promessas feitas. Perante esta diversidade, Jesus faz uma oração de bênção a Deus Pai, exclamando: “Eu Te bendigo, ó Pai…”, oração que apresenta uma leitura da situação e abre horizontes de esperança para o futuro enraizado no presente. Mt 11, 25-30.

“Eu Te bendigo, ó Pai” porque deste a conhecer o teu projecto de amor a todos e queres realizá-lo com a cooperação de cada um; confirmaste esta decisão de muitos modos ao longo da história, mas agora por meio da missão que me confiaste e, a partir de mim, por aqueles que escolhi – os meus discípulos e seus sucessores; abençoaste a minha preferência pelos pequeninos do reino, pelos mansos e humildes de coração.

“Eu Te bendigo, ó Pai” porque estás sempre comigo e por meio de mim desvendas o teu rosto bondoso e amigo, sorridente perante o agir dos seres humanos – homem e mulher - que acompanhas com solicitude confiante, pronto para o perdão das suas negligências e recusas, compassivo e misericordioso; por mim, queres realizar a maior prova de humanidade, mediante a minha entrega incondicional à defesa da dignidade humana e da verdade que liberta por amor. E fomos até à cruz do Calvário!

“Eu Te bendigo, ó Pai” porque compensas e alivias os cansados da vida – física, afectiva, intelectual, espiritual, moral, relacional – e os oprimidos pelo sem sentido do ram-ram da rotina, pelo peso das normas e leis desumanizantes, pelas burocracias administrativas, pelas tensões e conflitos desgastantes; ofereces-lhes um “espaço” novo – o meu coração – aberto a todos para que possam respirar o alívio suave da humildade e da mansidão e sintonizar com o seu ritmo de amor que se faz serviço ousado constante.

“Eu Te bendigo, ó Pai” porque queres dar-me a conhecer como sendo igual a Ti e mestre da humanidade, Teu Filho e tua palavra que é necessário escutar. Bendigo-te pelo esforço de tantos que estudam a nossa presença nos segredos da natureza para que sirvam melhor a humanidade; por tantos que nos descobrem e apreciam no santuário da consciência humana para que possam agir rectamente, recebendo o apoio da nossa luz e verdade; por tantos que nos encontram nas situações sofridas e injustamente impostas – os meios de comunicação trazem ao olhar, nem sempre ao coração, a “ponta” aterradora deste mundo infame – e conscientemente se dispõem a socorrer-nos, aliviando a miséria consentida; por tantos que saboreiam a suavidade da nossa companhia e a leveza do nosso amor, vivendo o seu dia-a-dia com o espírito que de nós procede e nos relaciona, reservando tempos de encontro na oração meditada, realinhando algum desvio moral na purificação da consciência, sendo membros responsáveis da sociedade e da comunidade cristã, dando testemunho de nós, “rumando” ao futuro definitivo onde todos conviveremos em família.

Escutemos o Papa Francisco no seu apelo à alegria e à paz, apelo que realça a simplicidade da vida que permite um novo sabor das pequenas coisas.

“A espiritualidade cristã propõe uma forma alternativa de entender a qualidade de vida, encorajando um estilo de vida profético e contemplativo, capaz de gerar profunda alegria sem estar obcecado pelo consumo. É importante adoptar um antigo ensinamento, presente em distintas tradições religiosas e também na Bíblia. Trata-se da convicção de que «quanto menos, tanto mais». Com efeito, a acumulação constante de possibilidades para consumir distrai o coração e impede de dar o devido apreço a cada coisa e a cada momento. Pelo contrário, tornar-se serenamente presente diante de cada realidade, por mais pequena que seja, abre-nos muitas mais possibilidades de compreensão e realização pessoal. A espiritualidade cristã propõe um crescimento na sobriedade e uma capacidade de se alegrar com pouco. É um regresso à simplicidade que nos permite parar a saborear as pequenas coisas, agradecer as possibilidades que a vida oferece sem nos apegarmos ao que temos nem entristecermos por aquilo que não possuímos. Isto exige evitar a dinâmica do domínio e da mera acumulação de prazeres”. Louvado Sejas, 222.

“Eu Te bendigo, ó Pai, porque assim foi do Teu agrado”. Não nos privemos da maravilha da oração de Jesus, saboreemos a sua mensagem e, confiadamente, deixemo-nos interpelar.

quinta-feira, 6 de julho de 2017

Época Balnear: “Zero mortos... menos um”


O Comandante da Capitania do Porto de Aveiro, Carlos Isabel, aposta num balanço no final da presente época balnear de “zero mortos... menos um”, recordando o anterior Verão, que chegou ao fim nas praias de Aveiro sem qualquer vítima mortal. “Zero mortos... menos um” é um lema da Capitania, li no Diário de Aveiro. Excelente lema, já que, como é sabido, há muitos aventureiros que podem estragar a festa balnear. E o que importa fazer? Importa ter em conta os avisos adequados para cada dia e respeitar os conselhos dos nadadores-salvadores. Nada de aventuras em zonas desprotegidas. E tudo será mais fácil.

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quarta-feira, 5 de julho de 2017

Gastronomia: Tosta rústica de bacalhau e maçã


Penso que os petiscos em tempo de verão têm um sabor especial. Não quero dizer que o percam nas outras estações do ano, mas cá para mim o verão é porventura mais propício ao convívio e à confraternização. Daí a ideia de publicar neste meu espaço um bom petisco que poderá servir como ponto de partida para à volta da mesa se conversar enquanto se come e bebe algo diferente. A sugestão aqui fica, com votos de bom apetite e melhor proveito. 



Ingredientes (4 pax): 
Pada de Vale de Ílhavo (2 uni)
Bacalhau fumado (1 emb./aprox.200g)
Maçã golden (250g)
Espinafres (300g)
Manteiga (qb)
Ovos (4 uni)
Limão (1 uni)

Preparação

Em meia pada de Vale de Ílhavo, faça um corte longitudinal.
Com o miolo para baixo, coloque num sauté antiaderente e deixe tostar ligeiramente.
Descasque as maçãs, corte em gomos e reserve em água, com um pouco de sumo de limão (para que não oxidem).
Escalfe os ovos e reserve.
Num sauté antiaderente, salteie ligeiramente as maças com manteiga e um pouco de sumo de limão.
À parte, salteie também os espinafres com um fio de azeite.
Para a montagem, coloque a tosta com o miolo para cima, disponha a maçã, de seguida os espinafres e o bacalhau fumado e termine com o ovo escalfado. 

Bom apetite!

Receita apresentada pelo Chef Udine Peixe, no âmbito do “Showcooking para Miúdos” do Festival do Bacalhau 2016.

NOTA: Publicado na agenda "Viver em..." da CMI

terça-feira, 4 de julho de 2017

A nossa Gente — Ângelo Valente e Sofia Nunes



Julho celebra a juventude no Município de Ílhavo e, num mês próspero em atividades que lhes são destinadas, destacamos dois dos jovens mais dinâmicos e notáveis do concelho: Ângelo Valente e Sofia Nunes. É já praticamente impossível falar em gerontologia em Portugal sem mencionar o Centro Comunitário da Gafanha do Carmo. E é muito por causa deles. 
Ângelo Valente é animador social, Sofia Nunes é gerontóloga. Quando, em 2011, o Centro Comunitário da Gafanha do Carmo os juntou, poucos meses depois de abrir portas, estavam longe de imaginar que viriam a formar uma equipa tão popular. 
A premissa que os inspira é simples, embora concretizá-la seja um desafio diário: multiplicar a felicidade, dividindo-a. “Ver cada pessoa feliz” é, de resto, assim que a dupla resume o objetivo daquilo que é mais que um trabalho. Para Ângelo e Sofia, estar no Centro Comunitário é estar em casa, em família, “rodeados de pessoas, música, abraços, amizade, do Vadio e da Viana”. Vadio e Viana são os cães de estimação do Centro Comunitário da Gafanha do Carmo, verdadeiras sessões de terapia em quatro patas. Foram ambos adotados pela instituição e são fortes aliados no combate à depressão e à solidão dos utentes. Têm sido, provavelmente, dois dos cães mais mediáticos do país, nos últimos anos, acompanhando Ângelo e Sofia em todas as suas intervenções. 
Foi em 2014, com um vídeo que parodiava o da música “Wrecking Ball”, de Miley Cyrus, que Ângelo Valente e Sofia Nunes perceberam que tinham as armas certas para fazer algo diferente: um sentido de humor consciente, mas desprovido de pudores, a “família” certa e as redes sociais, que os erguiam no número de seguidores muito rapidamente. Entre esse vídeo e serem a equipa que dá a cara pelo lar mais conhecido do país, passou menos de um ano.
Centenas de entrevistas, reportagens inteiramente dedicadas a eles, um “Alta Definição” (SIC) com o utente Alfredo, duas conferências Futuridade com lotação esgotada e convidados como Daniel Oliveira, Marisa Matias, Nuno Markl, Fernando Alvim ou Manuela Ferreira Leite. 
Ângelo e Sofia têm o currículo cheio, mas isso nem os preocupa muito. O que realmente lhes importa é a quantidade de sonhos que já conseguiram concretizar, o número de pessoas que se identifica com eles e os que já não têm medo de envelhecer, graças a eles. “A missão é desmistificar a velhice e a institucionalização, sensibilizando a sociedade para se tornar mais integradora de forma a que todos possamos envelhecer de forma livre, autónoma e feliz” e, para isso, o animador e a gerontóloga garantem que é muito importante que, mesmo depois de envelhecer, seja “valorizado o potencial de cada ser humano, o contributo de todos, independentemente da sua condição ou faixa etária”. A equipa assume que a institucionalização é “um evento marcante na vida de qualquer pessoa e exige muito, até da família, principalmente ao nível emocional”. Mas, Ângelo e Sofia garantem que as melhores respostas são “o amor e a aceitação” e que, na maior parte dos casos, a adaptação é bem sucedida e grande percentagem dos utentes acaba por reencontrar, no Centro Comunitário da Gafanha do Carmo, “uma felicidade que já julgava extinta”. 
Quem os conhece e está atento ao seu trabalho, à ligação que estabelecem com os que os rodeiam, percebe perfeitamente porquê. Ângelo e Sofia merecem tudo de bajulador que se diga sobre eles. 
Nossa gente: resta-nos agradecer que nos multipliquem a felicidade, juntando-se.

Fonte: Agenda "Viver em..." da CMI

NOTA: Não tenho o gosto de conhecer pessoalmente os homenageados deste mês pela agenda "Viver em..." da CMI, mas sei das suas iniciativas levadas a cabo no Centro Comunitário da Gafanha do Carmo, algumas das  quais foram badaladas na comunicação social. Porque se trata de ações que fogem, tanto quanto sei, do dia a dia de muitas instituições de âmbito igual ou semelhante ao do Centro Comunitário que animam, numa conjugação de saberes (animação cultural e gerontologia) a todos os títulos meritória, apraz-me sublinhar que podem e devem ser seguidas por muitos técnicos que trabalham nestas áreas. Nos tempos que correm, urge levar à prática o espírito criativo e inovador junto de quem precisa de recriar novos horizontes que justificam uma existência feliz. 
Os meus parabéns. 

M.ª Donzília Almeida — Dia Internacional sem Sacos Plásticos


Já que há Um Dia Europeu Sem Carros, Um Dia Internacional Sem Sacos Plásticos, por que não Um Dia Nacional Sem Corrupção? Haverá algum ideólogo corajoso que leve a proposta ao parlamento?
Como sou muito sensível a questões ambientais e uma defensora acérrima da reciclagem, achei interessante haver um dia dedicado a este tema.
As práticas aqui defendidas, que para mim, são já uma rotina diária, tornam-se mais prementes, no atual contexto nacional.
Um dia, estando eu, numa loja de comércio local, reencontrei uma antiga aluna, atualmente a residir em França. Depois de calorosos cumprimentos, a conversa versou sobre questões ecológicas e o contributo do homem para a preservação do ambiente. Constatámos que ambas partilhávamos as mesmas ideias sobre a defesa de um ambiente saudável, alguma semente por mim deixada? Na despedida, ofereceu-me um saco de nylon, que guardado na carteira, leve e prático, está sempre à mão para uma compra inesperada. Além de tudo, tem uma inscrição que para mim é uma lição para a vida.
O mundo assinala hoje, o Dia Internacional Sem Sacos Plásticos, uma efeméride institucionalizada com o objetivo de alertar a sociedade para a necessidade de reduzir o consumo e utilização excessiva de objetos descartáveis.
O 3 de julho é promovido pela Fundação Privada Catalã para a Prevenção de Resíduos e Consumo Sustentável e pretende sensibilizar a população para esta problemática.
Segundo o Programa das Nações Unidas Para a Ambiente, PNUA, estima-se que um cidadão, na Europa, consome cerca de 500 sacos plásticos por ano, que acabam no lixo ao fim de meia hora de utilização ou então no meio-ambiente, criando-se vastas ilhas de lixo plástico nos oceanos (80% da poluição marinha). Como os animais confundem o plástico com alimentos, acabam por morrer pela ingestão desse material, como as tartarugas e outros anfíbios.
Os sacos de plástico são constituídos por resinas tóxicas, provenientes do petróleo, e levam cerca de 500 anos a decompor-se. Apesar da gravidade da situação, apenas 2% da população mundial recicla sacos plásticos
Nesse sentido, já foram sensibilizadas algumas lojas e  supermercados para o uso de sacos de papel, biodegradáveis. Para além do consumo de recursos, o uso excessivo e insustentável de sacos, é potenciado pela falta de valor que lhe é atribuído, pois é oferecido. Neste momento, em alguns hipermercados, já se paga pelos sacos, o que é dissuasor para o consumidor, sendo esta medida, amplamente, defendida pelos ambientalistas.
Perante este panorama desolador de incúria e irresponsabilidade, faço um apelo a toda a gente e em particular às mulheres, a quem está, maioritariamente, atribuída a tarefa das compras. Será um estímulo para a dona de casa ir ao baú, onde tem guardadas aquelas preciosas obras artesanais: crochet, bordados, patchwork, ou um simples bocado de chita...que as noivas levavam no enxoval. E reabilitar as saquinhas do pão!
Os tempos modernos apelam a um facilitismo e funcionalidade das tarefas, mas quem sofre é o ambiente. Os resultados falam por si!

M.ª Donzília Almeida

03.06.2017

A Ria está mais limpa: A Gafanha já pode respirar mais fundo

A Gafanha pode respirar fundo e a ria está mais limpa… a bacia de contenção de lixiviados e a estação de tratamento estão prontas… estão, assim, finalizadas as obras da Bacia de Contenção de Lixiviados e a Estação de Tratamento, no Cais Comercial do Porto de Aveiro.
O sistema é formado por uma bacia de captação das águas, que envolve a zona do Petcoke, que escoa para depósitos, os quais drenam para dois tanques finais de sedimentação e tratamento dos efluentes É a última das obras reclamadas pela Associação para a Defesa dos Interesses da Gafanha (ADIG), para reduzir ao mínimo as emissões de partículas do Petcoke sobre a Gafanha da Nazaré e povoações a sul. 
Vem juntar-se às benfeitorias já anteriormente realizadas pela Cimpor e pela APA: A Barreira Eólica contra Ventos Dominantes, o Canhão de água vaporizada sobre a pilha de Petcoke na carga e descarga, navios de transporte mais pequenos e começo imediato da carga para camiões cobertos, cuidados com as gruas, paragem da movimentação com ventos mais fortes e a Estação de Monitorização da Qualidade do Ar Ambiente
É o culminar feliz dum sonho e dum direito dos gafanhões. Como diria António Gedeão: “Enquanto o homem sonha, o mundo pula e avança”…
É justo reconhecer a disponibilidade que a Administração da Cimpor e o atual Presidente da Administração do Porto de Aveiro sempre tiveram para dialogar connosco, por forma a "chegar a bom porto" na minimização dos problemas da poluição pelo Petcoke e Clinquer.
Agora é obrigatório continuar a seguir o procedimento já habitual no manuseamento dos referidos produtos, proporcionando à Gafanha da Nazaré e seus habitantes um ambiente mais saudável.

NOTAS:
1. Fonte: ADIG
2. Edição de Fernando Martins

domingo, 2 de julho de 2017

Bento Domingues — Nem Lutero nem Francisco


«O que mais me espanta não são os 500 anos de ausência de Lutero em Portugal. O que me desconsola é a nossa resistência passiva à reforma, muito mais abrangente e global, desencadeada pelo Papa Francisco, o segundo Papa dos tempos modernos, verdadeiramente católico, isto é, de abertura universal. O primeiro foi João XXIII.»

1. No passado dia 21, o Grémio Literário evocou os 500 anos “dos acontecimentos que abalaram a Europa na sequência do acto simbólico que marcou o início do movimento religioso e cultural na Cristandade e que ficou registado na História sob a designação de Reforma. Foi a 31 de Outubro de 1517 que Martinho Lutero afixou nas portas da igreja de Wittenberg as suas 95 famosas teses, que acabaram por conduzir a um cisma profundo e durável na Igreja de Roma”.
Segundo a tradição, isto aconteceu na véspera da festa de Todos os Santos. A dramatização desta data deu origem à Festa da Reforma, embora a sua fundamentação histórica seja questionada, dado que a narrativa é de Melâncton, em 1546, depois da morte de Lutero.
O V Centenário da Reforma já foi inaugurado, na Alemanha, em 2008, como a Década de Lutero.
É uma ocasião para os historiadores da cultura, da política e da teologia reexaminarem cinco séculos de história extremamente complexa e, talvez, colherem algumas lições para o nosso presente de renovados fanatismos políticos e religiosos
A Ausência de Lutero em Portugal foi o título da minha intervenção. Portugal não é a pátria de Lutero e os portugueses também não o puderam acolher no séc. XVI, nem com discernimento nem sem discernimento. Além disso, e não só em Portugal, ser bom católico era dizer mal dos protestantes e ser bom protestante era dizer mal dos papistas.
Para assinalar os 450 anos da sua morte, o Centro de Estudos de Teologia/Ciência das Religiões, da U. Lusófona, realizou um importante colóquio, cujos contributos já estão publicados. Merecem reedição. Tentei, no prefácio, explicar as razões da ausência de Lutero entre nós [1].
O P. Carreira das Neves, com o seu Lutero. Palavra e Fé, tenta preencher essa lacuna: “O tema que vamos tratar tem sido objecto de milhares de livros, artigos e pronunciamentos religiosos, políticos, sociológicos, filosóficos. Só estranha o facto de nenhum autor português ter assumido, nestes 500 anos que nos separam de Lutero, a responsabilidade de escrever sobre esta pessoa que está na origem do protestantismo luterano e das igrejas evangélicas.” [2]
Ausente em Portugal, teve mais sorte no Brasil, onde já foram publicados 12 volumes das Obras Seleccionadas de Martinho Lutero [3]. 
O luterano Artur Villares pergunta: “Cinco séculos depois, com a poeira da História a assentar e as polémicas, ódios e extremismos definitivamente encerrados nas prateleiras da apologética de todos os participantes, o que significa, para o homem de hoje, o nome de Martinho Lutero? Para muitos nada; para outros tantos, um mero revoltado, um rebelde, que destruiu a unidade da Igreja do Ocidente; para outros ainda, uma figura histórica, de assinalável grandeza, um dos construtores do mundo moderno. E para os luteranos? Naturalmente que a herança de Lutero é imensa: foi o pai do alemão moderno; foi o autor de uma vasta obra teológica, que hoje abarca cerca de cem volumes; dignificou o casamento, dando ele próprio o exemplo, ao casar em 1525 com a ex-freira Catarina de Bora, de quem teve seis filhos. Compôs dezenas de hinos, reestruturando o canto congregacional na Igreja. Reafirmou o sacerdócio universal de todos os crentes e introduziu o vernáculo como língua litúrgica. Inspirou grandes mestres da música, como Bach e Mendelssohn. E tudo isto, sem dúvida, foi entrando no património das igrejas após Lutero.” [4]
O dominicano Yves Congar, investigador da obra de Lutero, concluiu que ele “é um dos maiores génios religiosos de toda a História. Coloco-o no mesmo plano que Santo Agostinho, São Tomás de Aquino ou Pascal. [...] Ele repensou todo o cristianismo. Ofereceu-nos uma nova síntese, uma nova interpretação”. [5]

2. Não cabe nesta crónica apresentar todas as razões que fizeram de Lutero um ausente da nossa cultura, da cultura que se desenvolveu em diálogo com a Reforma. Frei Jerónimo de Azambuja (†1562), grande exegeta da Bíblia, declarou no Concílio de Trento que “em Portugal, graças à providência divina e aos cuidados do rei muito cristão, não se vislumbra qualquer sinal da heresia luterana que enche o mundo”. De facto, os contactos testemunhados de portugueses com Lutero foram escassos. Os métodos da Inquisição, o controlo dos livros nos portos e nas livrarias construíram adequadas barreiras de protecção contra o contágio luterano.
No século XVI, quando se queria insultar gravemente alguém, bastava chamar-lhe “Lutero”. D. Frei Bartolomeu dos Mártires, Arcebispo de Braga, aguentou muitas insolências de alguns cónegos, mas protestou vivamente quando o apelidaram de “Lutero”. [6]

3. Muitos passos de aproximação e de entendimento mútuo já foram dados entre católicos e luteranos. Em 1999, foi assinada a Declaração Conjunta sobre a Doutrina da Justificação. O Papa Francisco, na viagem ecuménica à Suécia, entre 31 de Outubro e 1 de Novembro de 2016, no contexto da comemoração católico-luterana dos 500 anos da reforma protestante, assinou uma declaração comum com o presidente da Federação Luterana Mundial.
A fórmula Ecclesia semper reformanda é antiga. A Igreja, quando não vive em processo de contínua reforma, deforma-se. É da sua condição humana e cristã. Somos justificados pela graça de Deus e pecadores pelo mau uso da nossa liberdade. Para não envelhecer, é preciso renascer, deixar-se transformar.
O que mais me espanta não são os 500 anos de ausência de Lutero em Portugal. O que me desconsola é a nossa resistência passiva à reforma, muito mais abrangente e global, desencadeada pelo Papa Francisco, o segundo Papa dos tempos modernos, verdadeiramente católico, isto é, de abertura universal. O primeiro foi João XXIII.
A resistência à reforma dos ministérios ordenados está a privar a Igreja Católica dos serviços mínimos sacramentais às comunidades. Os padres, que são cada vez menos, tornaram-se robôs de missas, baptizados e casamentos.
Será que nas resistências às reformas de Bergoglio se esconde a aposta na 4.ª Revolução Industrial para seminários de robôs mais sofisticados? 

Frei Bento Domingues no PÚBLICO

[1] Martinho Lutero. Diálogo e Modernidade, prefácio de Frei Bento Domingues, Edições Universitárias Lusófonas, 1999
[2] Pe. Carreira das Neves, Lutero. Palavra e Fé, Presença, Lisboa, 2014, p.17
[3] Responsabilidade da Comissão Interluterana de Literatura. São Leopoldo.
[4] http://igreja-luterana.pt/site/lutero-ontem-e-hoje/
[5] Cf. Pe. Carreira das Neves, Op. Cit., pp. 419-422
[6] Cf. Martinho Lutero. Diálogo e Modernidade, pp. 7-12

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