sábado, 26 de janeiro de 2008

A Aviação em S. Jacinto

A fotografia de Ângelo Ribau, recentemente divulgada no blogue, teve o condão de me fazer tirar dois livros da estante que reli com satisfação e me transportaram ao tempo das avionetas. Trata-se de “HIDRO-AVIÕES NOS CÉUS DE AVEIRO” e “A MÍSTICA DE AVEIRO NA AVIAÇÃO NAVAL”, ambos escritos por Joaquim Nunes Duarte. Claro que ao falar de Aveiro e de aviões, a Gafanha e as suas gentes não poderiam ser excluídos por estarem estreitamente ligados ao assunto como descreve o autor com muito afinco e sensibilidade. Estes apontamentos estão pejados de histórias pitorescas da época e da interligação havida entre o pessoal dos aviões e as populações envolventes.
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Saberá a geração actual que aquela a quem ainda chamamos “Base de S. Jacinto”, começou por ser em 1917 um centro de luta anti-submarina instalado e usado por aviadores navais franceses que se retiraram em 1918 com o fim da guerra? Nesse ano foi aí instalada a Aviação Marítima Portuguesa começando por utilizar o equipamento cedido pelos franceses. Em 1920 foram aqui preparados os hidroaviões com que Gago Coutinho e Sacadura Cabral fizeram a primeira travessia aérea do Atlântico Sul. Em 1952 é extinta a Aviação Naval e com ela a Escola de Aviação Naval Almirante Gago Coutinho. (A Marinha só voltaria a voar em 1993 com a aquisição de helicópteros para as fragatas da classe “Vasco da Gama”). A Aviação Naval é junta com a Aeronáutica Militar (do Exército) dando origem à Força Aérea Portuguesa. A área de S. Jacinto passa a ser a Base Aérea nº 7 nela funcionando agora a Escola de Aviação Gago Coutinho até 1976. Nesse ano a Força Aérea instalava em S. Jacinto a Base Operacional de Tropas Pára-quedistas. Em 1994 é a vez do Exército iniciar o seu ciclo de ocupação com a Brigada Aerotransportada, formada pela junção dos Páras e Comandos e o aeródromo passa de militar a civil.


A foto acima é de 1941, obtida logo após a inauguração do hangar em primeiro plano, construído pelos Estaleiros Navais de S. Jacinto criados no ano anterior. Os hangares eram virados para a ria para possibilitar o acesso dos hidroaviões. À esquerda vê-se a messe de oficiais, por trás do hangar as oficinas, as messes dos sargentos e o alojamento das praças. O hangar mais pequeno servia para montagem de aviões.



Nos primórdios da Aviação Naval o comando estava instalado no Forte da Barra. Depois muita coisa foi melhorada, sendo ainda no tempo da Marinha construída a pista de aterragem com 1400 metros de comprimento – a primeira do país a ser iluminada – novos hangares e a Torre de Controlo.
A passagem a aeródromo civil trouxe novas asas e novas perspectivas.
Por aqui passou a volta a Portugal de avião em Agosto de 1994. Novos voos se seguirão.

João Marçal

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Escândalos no BCP

ZANGAM-SE AS COMADRES...
Com as guerras internas no seio do BCP, as comadres zangaram-se. Quando assim é, descobrem-se as verdades. E as verdades, pelo que se lê e ouve, geraram escândalos. Tudo está em investigação, pelo que, até ao lavar dos cestos, todos são presumíveis inocentes. Não podemos ser juízes, é certo, mas dá para perceber que, na alta finança, os grandes investidores protegem-se uns aos outros, proporcionando, entre eles, a “partilha” de fabulosos lucros, enquanto, pela calada, se vão perdoando grandes empréstimos. Digo isto, assim friamente, porque é público. E que eu saiba, até agora, ninguém foi verdadeiramente incomodado. Um pobre qualquer já teria respondido por dívidas não pagas nos prazos legais ou por desrespeito às leis em vigor. Poderia até estar preso, não fosse ele fugir. Na alta finança, tudo é diferente. Investiga-se… investiga-se, e no fim, tudo se resolve a contento de todos, para bem do bom nome do principal banco privado português, para bem do bom nome da banca portuguesa. Já agora, tudo estará bem nos outros bancos? E assim corre (lindamente) a vida de alguns… FM

Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré em Palermo

Grupo Etnográfico na Polónia

Settimana Europea a Palermo

Um honroso convite, dirigido ao Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré, veio de Palermo, Itália, muito recentemente. A “Settimana Europea a Palermo”, que decorrerá entre 10 e 13 de Maio, integrada nas celebrações dos 200 anos da paróquia de S. Eugenio, padroeiro de Palermo, e em honra de Nossa Senhora de Nazione, vai contar com uma representação daquela instituição gafanhoa. A comitiva do Grupo Etnográfico, constituída por cerca de 30 pessoas, tem já lugar marcado no festival internacional, mas também participará na eucaristia solene, interpretando um ou dois cânticos religiosos, da tradição portuguesa, concretamente, da região das Gafanhas.
Esta é a segunda deslocação a Itália do Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré, o que prova, à evidência, quanto é apreciado o seu trabalho, nesta área da etnografia e folclore.
O Grupo, que reconhece o prestígio de que goza, saberá dignificar a nossa terra e suas gentes, como já tantas vezes o tem feito, no País e no estrangeiro. E, por isso, com mais responsabilidades ficará para continuar a trabalhar, tanto na busca das nossas tradições como no estudo e divulgação das mesmas, com a dignidade a que nos habituou há muito.
Deste meu recanto, formulo votos de uma boa preparação da viagem e de uma excelente apresentação dos nossos cantares e danças, com trajos a rigor. No regresso, terei muito gosto em contar, aqui, como tudo decorreu.

FM

Mensagem do Papa para o Dia Mundial das Comunicações Sociais





"É preciso evitar que os media se tornem o megafone do materialismo económico e do relativismo ético, verdadeiras pragas do nosso tempo. Pelo contrário, eles podem e devem contribuir para dar a conhecer a verdade sobre o homem, defendendo-a face àqueles que tendem a negá-la ou a destruí-la. Pode-se mesmo afirmar que a busca e a apresentação da verdade sobre o homem constituem a vocação mais sublime da comunicação social. Usar para tal fim as linguagens todas e cada vez mais belas e primorosas de que dispõem os media é uma tarefa grandiosa, confiada em primeiro lugar aos responsáveis e operadores do sector. Mas tal tarefa, de algum modo, diz respeito a todos nós, porque todos, nesta época da globalização, somos utentes e operadores de comunicações sociais. Os novos media, sobretudo telefonia e internet, estão a modificar a própria fisionomia da comunicação, e talvez esta seja uma ocasião preciosa para a redesenhar, ou seja, para tornar mais visíveis, como disse o meu venerado predecessor João Paulo II, os traços essenciais e irrenunciáveis da verdade sobre a pessoa humana (cf. Carta apostólica O rápido desenvolvimento, 10)."
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Eusébio



A Pantera Negra, o Rei

Eusébio faz hoje 66 anos. Jogador de futebol dos mais famosos do mundo, de todos os tempos, personifica a arte de tratar a bola por tu. Modesto, mas futebolista que ostenta, entre nós, e não só, o título de Rei. Muitas e muitas alegrias deu a todos os portugueses, por esse mundo fora, sobretudo quando envergava a camisola da selecção das quinas e mesmo quando representava o seu Benfica.
Veio de Moçambique, depois de treinar nas ruas de terra batida com a bola de trapos. Mas a sua arte, a sua gana de chegar e de rematar à baliza, as suas “arrancadas” para ultrapassar os adversários, os seus golos imparáveis e a sua incontida alegria contagiante, com as vitórias, ainda permanecem na nossa memória.
A Pantera Negra, nome com que ficou para a história, também sofria e nos fazia sofrer com as derrotas da nossa selecção, sobretudo quando chorava por não ter conseguido, sozinho que fosse, levar o nosso País à vitória.
Presentemente, como nosso embaixador pelo mundo do Futebol, Eusébio continua a receber o carinho de todos os portugueses. E continua a emocionar-se e a emocionar-nos com as nossas vitórias.
Parabéns, Eusébio!

FM

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

S. Jacinto: Escola de Aviação Naval


Hoje apareceu-me esta foto que anexo. É a Escola de Aviação Naval Gago Coutinho. Não a conhecemos como a da foto. A informação foi-me dada há muitos anos pela minha mãe, e a foto foi "tirada" pelo meu tio Josué.
Ângelo Ribau
Nota: O tio do Ângelo, Josué Ribau, era formado em Matemática e faleceu jovem. Na Gafanha da Nazaré há uma rua com o seu nome.
FM

Na Linha Da Utopia



O recuo da liberdade

1. Claro está que a liberdade não recua por si pois é sempre sinal de “relação”, e não se dizer esta afirmação sem a sua devida comprovação. A tese é demonstrada por factos concretos no relatório anual da Freedom House, sobre a situação da liberdade e democracia no mundo. Esta entidade foi fundada há 60 anos por Eleanor Roosevelt, a par de outros membros, no aprofundamento dos inúmeros tratados de paz e da democracia. Este relatório começa com a ideia de que «o ano de 2007 foi marcado por um recuo assinalável da liberdade global» (Público, 23 Janeiro). Nomeando países e situações concretas, dando especial destaque à Rússia e à China, o relatório chega à conclusão de que é a primeira vez que nos últimos 15 anos se verifica o segundo ano consecutivo de perca nos índices da liberdade global.
2. Desde a liberdade de imprensa às novas tecnologias da comunicação, das situações mais variadas na sociedade civil às corrupções de estados, o estudo elaborado mostra-nos as tendências do futuro da liberdade. Como sabemos, após a queda do muro de Berlim (1989) pensava-se que, corrigidas as fronteiras do liberalismo económico, entraríamos finalmente numa era global de desenvolvimento justo e pacífico em que a liberdade e a democracia, propostos como valores ocidentais, teriam a sua abertura exponencial a todo o planeta. Tal facto não se concretizou, havendo hoje claramente retrocessos que questionam os modelos futuros, provindo uma fatia desta perca de credibilidade democrática dos simbólicos unilateralismos da última (quase) década norte americana.
3. A conclusão, parece, vai-se tornando clara. Com o emergir em força fulgurante dos impérios orientais da China (com Japão e Índia), os designados valores do Ocidente que se pensava virem a ser hegemónicos, vão perdendo a força capaz de modelar a globalização em curso. Vai sendo um facto de “perda” que também se pode observar no emergir de novas autoridades (e mesmo autoritarismos) diante da indiferença democrática em libertinagem… Que força de impressão sócio-política virão a ter no mundo os paradigmas orientais (na sua visão do trabalho, da sociedade, da pessoa e dignidade humana)? Eis a questão do futuro! Nesse novo cenário é…por um lado, uma riqueza pois temos sempre tanto a aprender dos outros; por outro lado, a (dúvida) certeza que começa mesmo a revestir-se de significado essencial o sabermos que “identidade” de valores assumimos como referenciais comuns. As obras sobre as raízes do ocidente continuam a proliferar; na encruzilhada, saberemos melhor para onde vamos!

Alexandre Cruz

Memória de Maria de Lourdes Pintasilgo na Internet



Maria de Lourdes Pintasilgo, primeira mulher a ser primeira-ministra em Portugal, foi recordada por Frei Bento Domingues como uma pioneira e uma "figura do catolicismo" português, na apresentação dos seus arquivos, que a partir de ontem estão acessíveis na Internet.
O projecto, "Memória na Internet de Maria de Lourdes Pintasilgo", foi lançado pela "Fundação Cuidar o Futuro", criada pela ex-primeira-ministra, em 2001, numa cerimónia na Fundação Gulbenkian, em Lisboa.
Bento Domingues desafiou os historiadores a fazerem um estudo sobre os católicos que tiveram um papel político durante as últimas décadas, desde o Estado Novo até à democracia.
A partir de agora, mais de dez mil documentos (parte do espólio de Lourdes Pintasilgo já tratado pelo centro de documentação da fundação) estarão acessíveis no "site" www.arquivopintasilgo.pt, desde a prova da terceira classe da futura engenheira até ao discurso de apresentação da candidatura presidencial de 1986.
Maria de Lourdes Ruivo da Silva Pintasilgo nasceu em Abrantes, a 18 de Janeiro de 1930, e morreu a 10 de Julho de 2004, em Lisboa.
Fonte: Ecclesia

Aceda já a Maria de Lourdes Pintasilgo

Erro político gravíssimo



"Não podem fechar-se serviços públicos por atacado sem explicar e, sobretudo, sem criar alternativas. É um erro político gravíssimo".


Manuel Alegre,
"Visão", 24-01-2008


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NOTA: A afirmação acima, da Manuel Alegre, não é de um político da oposição. Manuel Alegre é membro fundador do PS. É um socialista histórico. E é um político que pensa pela sua própria cabeça. Concorde-se ou não com as suas ideias, temos de convir que tem, hoje, o estatuto de um homem corajoso.

Em minha opinião, Manuel Alegre tem razão. Todos sabemos que as reformas que o Governo está a implementar são inadiáveis, mas tem de haver bom senso. Por aquilo que tenho visto, os nossos políticos, uma vez na cadeira do poder, não gostam muito de explicar ao povo o que tem de ser feito e o modo como vai ser feito. Alguns governantes, olhando do alto do seu palanque, olham cá para baixo como se as pessoas ainda estivessem na fase da menoridade. Explicar, explicar, explicar é fundamental. E depois agir, mesmo sabendo-se que às vezes é preciso parar para reflectir, só ou acompanhado. Veja-se o que aconteceu com o aeroporto. Se não fosse alguém a dizer, serenamente, que era necessário pensar muito bem porque o empreendimento era muito complexo, talvez o Governo embarcasse num erro colossal.


FM

Perspectivas de um novo ano em Igreja



"A Igreja não é varandim cómodo para olhar e julgar os que andam na rua. Ela própria tem de andar na rua, não de cruz alçada ou em cortejo de honras, mas para sentir, como próprias, as alegrias e as dores de todos, as injustiças, como desafios, a mentira, como acicate, os problemas que impedem as pessoas de viver com dignidade, como seus problemas, o compromisso dos que aí lutam, como a sua frente de luta permanente."

Leia todo o texto em Correio do Vouga

Bicentenário da abertura da Barra de Aveiro



“Histórias do Mar e da Ria”


A 3 de Abril de 1808 foi reaberto o canal de ligação entre a Ria de Aveiro e o Mar. Com esta acção, abriram-se novas perspectivas de desenvolvimento e criação de riqueza para toda a região de Aveiro.
Pela importância do evento e pelo seu impacto no desenvolvimento sócio-económico da região da Ria de Aveiro, a Rádio Terra Nova, em cooperação estreita com a Comissão das Comemorações do Bicentenário da abertura da Barra de Aveiro, lançou um pequeno desafio a toda a comunidade escolar da região da Ria, através de um concurso literário que visa não só chamar a atenção para o evento, como também criar uma oportunidade para recordar e reflectir sobre o passado para melhor preparar o nosso futuro.
“Histórias do Mar e da Ria” cria a oportunidade para reflectir sobre a nossa própria identidade, valorizando o passado sempre com os olhos postos no futuro. Este concurso não tem propriamente prémios para os autores mas sim para os estabelecimentos de ensino e turmas a que os autores pertencem.
Os professores e responsáveis escolares que, porventura, ainda não conheçam as condições de participação no concurso, podem consultar o Regulamento
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NB: Clicar na imagem para ver melhor
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Fonte: Porto de Aveiro

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Na Linha Da Utopia



E os petiscos regionais?

1. Naturalmente que nada está em causa numa intervenção que procura melhorar as condições de higiene e de qualidade alimentar. Essa garantia de protecção da saúde é sempre bem-vinda, no esforço da melhoria de um serviço para o bem de todos, evitando os maus hábitos do típico improviso português, também à mesa. Mas que essa intervenção oriente para uma uniformidade de procedimentos à mesa é algo que deita a perder séculos de riquezas regionais tão enaltecedoras da nossa história e tradição. Haverá uma fronteira, sempre a discernir, entre uma qualidade necessária a garantir em termos de higiene e o apreço pelas nossas origens e riquezas tradicionais, estas que são a fonte de apreço em sectores como o turismo e a gastronomia.
2. Sendo certo que quando não há condições mínimas não haverá outra solução, todavia, são manifestamente insuficientes as leis (feitas por quem conhece as “raízes” do país?) que num instante mandam fechar, como se não existissem pessoas e outros valores envolvidos. Mesmo para além da certificação de produtos regionais, sempre conducentes a uma industrialização da qualidade relativa, vemos muita gente a pedir um equilíbrio de procedimentos que consiga preservar no bom senso aquilo que são, que somos, mesmo como “petiscos regionais”. Se assim não for, uma uniformização à mesa conduzirá, a médio prazo, ao “plastificado” dos mesmos produtos em série, tudo igual, de norte a sul. Se Portugal não tivesse uma gastronomia riquíssima em zonas regionais que espelham a ancestralidade típica e se não tivéssemos no turismo uma tábua de salvação, talvez se pudesse compreender a opção.
3. Neste momento a “batata quente” (talvez não seja batata doce!) anda entre a autoridade competente e os legisladores. Nestes processos talvez tudo tenha sido falado, menos a urgente e essencial preservação daquilo que patrimonialmente à mesa nos caracteriza (?). Muito acima das questões de higiene e segurança alimentar (valores fundamentais sempre a preservar como “qualidade”), o que acontece é reflexo das tendências uniformizadoras dos tempos da globalização que vivemos. Como garantir a qualidade necessária diante da premente preservação da nossa identidade cultural, daquilo que nos caracteriza à mesa? Eis a questão fundamental (não apressada) para não vermos um país futuro de norte a sul com a mesma mesa, onde tenham desaparecido aqueles “petiscos regionais” que nos falam da nossa história e do paladar da nossa cultura.

Alexandre Cruz

Mundo mais alegre




"... se pudermos dar alegria aos outros, já será muito bom!"


Enquanto trabalhava, ouvi esta frase, mais palavra menos palavra, a uma jovem que estava a ser entrevistada num programa televisivo. Nem sei o nome da jovem, mas soou-me bem o que ouvi. Aqui está, de forma tão simples, um bom conselho para toda a gente. O mundo, com sorrrisos, com gargalhadas e com alegria, ficará mais suportável e todos seremos mais felizes. Com rostos carrancudos ou tristes todos ficaremos mais pobres...
Foto de um "site" brasileiro

Um poema de Pablo Neruda


O MAR

Um único ser, mas não existe sangue.
Uma carícia apenas, morte ou rosa.
Vem o mar e reúne as nossas vidas,
sozinho ataca e reparte-se e canta
em noite e dia e criatura e homem.
A essência: fogo e frio: movimento
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Pablo Neruda


In “Antologia”,
com selecção e tradução de José Bento,
edição de “Relógio d’Água”

Pobreza no mundo



"Desejamos também expressar o nosso sentir junto dos poderes públicos, da comunicação social e da sociedade civil e afirmar a nossa disponibilidade para um projecto colectivo que vise a erradicação da pobreza no nosso País e maior solidariedade com a redução da pobreza no mundo. Temos a convicção de que erradicar a pobreza é possível e urgente."

AVEIRO: Seminário de Santa Joana

Pormenor interior de porta

Coro


Sacrário

Painel frontal

Frontal da capela-mor


Cada vez me convenço mais de que temos de aprender a ver, com olhos de ver, a arte e os símbolos que nos rodeiam. Estão neste caso as nossas igrejas, desde as mais modestas às mais sumptuosas.
Sinto e vejo que muita gente entra a correr para o culto, saindo apressada, logo a seguir, sem olhar para a arte e para os símbolos que nos templos estão para nossa edificação. Também é verdade que nem sempre há cicerones nas nossas igrejas, para explicarem, a quem chega, o que significa cada símbolo, o que representa cada peça artística. É uma falta para a qual é preciso encontrar uma saída, sob pena de continuarmos com as igrejas cheias de gente que nem sequer conhece bem o que existe na sua comunidade ou naquelas por onde passa.
Hoje vou mostrar, como desafio, algumas imagens da igreja do seminário de Santa Joana Princesa, em Aveiro. Gostaria que os meus amigos lá entrassem e que apreciassem a arte que ostenta.
FM

Medicamento avulso



Um quinto dos medicamentos receitados não são utilizados. Esta é uma realidade indesmentível. Todos nós temos em casa caixas e mais caixas de medicamentos, com o “rótulo” de sobras. Alguns, cujo efeito é bem conhecido, poderão ser ainda utilizados. Por exemplo, quando temos uma dor de cabeça, lá tomamos uma aspirina. Mas há outros que acabam por caducar e o seu destino pode ser o lixo. Ou regressam às farmácias para seguirem para uma qualquer incineradora.
Isto é um prejuízo incalculável para todos. Para os utentes, porque acabam por comprar medicamentos, normalmente caros, que acabam no lixo. Para o Estado, porque comparticipa os mesmos medicamentos.
A partir daqui, por que razão não são comercializáveis doses medicamentosas estritamente indispensáveis para o tratamento prescrito pelo médico? Acho que esta seria e é a melhor solução. Mas… atenção: a indústria farmacêutica já está a lembrar os “perigos” da venda avulsa. Que pode haver confusão, por falta da caixa, dizia um entendido. Francamente… não haverá solução para isso?

FM

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Prós e Contras: O tabaco

Não aguentei mais Gosto de assistir, como telespectador, ao "Prós e Contras". Ontem era dia de reflectir sobre a recente lei que proíbe o tabaco em recintos fechados. Em determinada altura não aguentei mais e virei as costas à algazarra. Uma lei que defende os não fumadores, que devia merecer uma análise calma, porque está em jogo a saúde de milhões de portugueses, virou, simplesmente, numa bagunçada inadmissível. Tudo porque uns tantos inteligentes, acorrentados a interesses bem conhecidos (comerciais, industriais e políticos, neste caso porque tudo serve para dar nas vistas), resolveram brincar com coisas sérias, mostrando-se de caras sérias e fazendo dos outros uns tontos. O importante é muito simples: respeitar a saúde das pessoas e levar uns tantos fumadores a ter em conta que não podem obrigar ninguém a fumar. Ninguém pretende tirar o vício seja a quem for. Quem quiser fumar, que fume. Mas que o faça sem incomodar e prejudicar os outros.
FM

Carnaval da Glória foi cancelado


"Este ano, o tradicional Carnaval da Glória não vai sair à rua. Motivos financeiros, aliados à data do evento, este ano excepcionalmente cedo, e à fraca mobilização de equipas, foram as razões apontadas pela Comissão Organizadora para este cancelamento"
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O Diário de Aveiro noticia hoje que o Carnaval aveirense, habitualmente organizado pela paróquia da Glória, não se vai realizar. Embora não seja um frequentador assíduo dos festejos carnavalescos, não posso deixar de lamentar que isto aconteça.
As explicações do pároco, padre Manuel João, são esclarecedoras, mas nem assim se compreende que os aveirenses, com as forças vivas à frente, tenham deixado cair uma festa já com raízes entre nós. Tanto mais que sempre foi pautada pela alegria e pelo sentido pastoral, sobretudo na aproximação que proporcionava a todos os aveirenses, num clima sadio.
Ficará para o ano. Espero que sim.

FM

Na Linha Da Utopia





O “Risco”


1. A história é revestida de equilíbrios provindos de “choques”. Bom seria que esses “choques” não existissem, mas eles são um facto. O famoso “Crash” dos anos 30, de que ouvimos falar como novidade em tempos, trouxe consigo um efeito dominó típico de estarmos e vivermos em rede. Hoje, mais que nunca sublinhe-se, a intensidade da “rede” é elevadíssima, tempo on-line, para o bem, para o menos bem e mesmo para o mal. Os mercados estão alavancados uns nos outros, num medir de forças ao segundo e num jogo mediático tornado de tal maneira forte em que, tantas vezes, valoriza-se mais o poder da imagem virtual que o real das condições económicas. Há já alguns anos, lembramo-nos do “fim” de algumas grandes empresas globais dos EUA que assentavam a sua lógica nos planos da virtualidade, até que ruiu…
2. A noção de “risco” está aí, novamente demonstrada. “Risco” e “Crash”, palavras a evitar dizer nesta estratégia de não contagiarmos o pessimismo das bolsas e dos mercados. Com antídoto para o “risco” aposta-se na palavra “confiança”, visando recuperar os equilíbrios perdidos. Só que estes, afinal, andavam mais ilusórios que reais. Tal como, por princípio, uma pessoa ou família não pode gastar mais que o que ganha ou tem, assim também quanto maior eram os índices de especulação dos mercados (nos EUA, desde há meses), maior será no reajustamento a crise. A recente crise dos mercados internacionais, entre as mais variadas razões, também demonstra que a virtualidade dos mercados mais dia menos dia acaba por descer à realidade, e que todos – uns com os outros - estão seguros por um fio comum. O que acontece em Nova Iorque, chega até nós, e o que se sente em Paris tem impactos em Tóquio, numa interdependência que impõe reciprocidades no reajustamento das situações de crise.
3. Os analistas da especialidade têm dito que as quebras rivalizam com o 11 de Setembro 2001, e numa “vertigem” que obriga a acompanhar o fuso horário das diferentes bolsas mundiais que unem as grande capitais do mundo. É a globalização dos mercados, que desafia à globalização da cooperação, como acontece nestes dias com o povo moçambicano vítima das cheias. À ideia global, desde os séculos XVI pertence a noção de incerteza e insegurança, pois «viver numa época global significa a necessidade de enfrentar uma série de novos factores de risco. Em muitas situações teremos de ser mais atrevidos do que cautelosos no apoio que dispensamos à inovação científica ou a outros tipos de mudança. Ao cabo e ao resto, uma das raízes da palavra “risco”, no português original, levou à criação de outra palavra que também significa “ousar” (Anthony Giddens. O mundo na Era da Globalização: 43). Seja uma globalização da ousadia mais justa e solidária.

Alexandre Cruz

Três milhões de euros para o Jardim Oudinot

Ponte da Cambeia

A Câmara Municipal de Ílhavo adjudicou, por cerca de três milhões de euros, a recuperação do Jardim Oudinot, na Gafanha da Nazaré, considerado o «maior parque da Ria de Aveiro», informou a autarquia.

A empreitada foi adjudicada ao consórcio Conduril/Rosas Construtores, sendo o prazo de execução de cinco meses e resulta de um acordo financeiro entre a Câmara Municipal de Ílhavo e a Administração do Porto de Aveiro (APA).
As infra-estruturas a serem construídas consistirão num ancoradouro de recreio, percursos pedonais e cicláveis, equipamentos desportivos, parques infantis e uma praia fluvial com apoio de bar.
«Com esta obra realizada pela Câmara Municipal de Ílhavo, no âmbito de um acordo de parceria com a APA, cumpre-se um importante objectivo do Plano Unir@Ria, materializando-se o maior Parque da Ria de Aveiro, e garantindo a sua disponibilização e fruição a todos, com uma nota de relevância para o acesso directo da população da Gafanha da Nazaré à Ria, na única zona onde isso é possível dentro da área portuária», refere uma nota municipal.
O processo segue agora para visto do Tribunal de Contas. Na última reunião, o executivo municipal de Ílhavo adjudicou também o projecto para a remodelação e ampliação do Mercado da Costa Nova ao Gabinete Octógono Projectos, por 97 mil euros.
Trata-se de uma obra considerada «da maior importância» para a manutenção do mercado da Costa Nova, «visto englobar não só a ampliação do espaço de venda do mercado propriamente dito, mas também nela se incorporar a nova cozinha, completamente equipada e obedecendo a todas os requisitos higio-sanitários para a confecção do marisco que é vendido no mercado já cozinhado».


Assim vai a Educação

Foto enviada por um professor amigo. Clicar na imagem para ampliar

Assim vai a Educação entre nós. Com pais destes, como serão os homens de amanhã? Naturalmente, e à partida, piores do que os seus pais. A não ser que venham a recuperar da educação que receberam, mas à sua custa... ou à custa de outro ambiente, onde a educação para a responsabilidade seja uma realidade concrecta.

REFLEXO



«Rezai incessantemente»

Vivemos nesta semana o Oitavário de oração pela unidade dos cristãos, que teve lugar pela primeira vez de 18 a 25 de Janeiro de 1908 – por iniciativa do episcopaliano americano Rev. Paul Wattson, como lembrou, com justiça, o Papa na alocução do Angelus do passado Domingo – e que trouxe à vida das comunidades de todas as confissões cristãs, num século de vigência, a consolidação de um genuíno desejo de unidade, hoje universal. O texto bíblico que dinamiza o Oitavário de oração em 2008 é-nos proposto pelo Apóstolo das nações na carta endereçada aos cristãos de Tessalónica: «Rezai incessantemente». Assim enunciada, a oração ressoa, nas palavras de São Paulo, como verdadeiro imperativo de vida cristã. Na docilidade ao Espírito que santifica a criação inteira, os cristãos aprendem a escutar a vontade de Deus, fonte de todo o bem, e a oferecer-Lhe o louvor perfeito.
Apesar de dilacerada em múltiplas voltas da História, os cristãos sabem que a unidade não é um desejo vão, pois têm como fundada razão da sua esperança a palavra de Jesus – «que todos sejam um» (Jo 17,21) –, pronunciada na antecâmara da Paixão. O desejo da unidade não esgota a força do seu dinamismo num justo e necessário movimento de purificação da memória, sempre pacificador, nem sequer no genuíno acolhimento do outro, tão enriquecedor na diferença, ou até na expressão mais viva do encontro fraterno, tornada patente na partilha da Eucaristia, única mesa de todos. Na verdade, tal desejo alcança o seu mais fundo sentido na missão, pois o mesmo Jesus, confiando ao Pai a unidade dos seus discípulos, logo acrescentou: «para que o mundo creia».
Ao iniciar o seu pontificado, Bento XVI pediu passos concretos nos caminhos, ainda difíceis, do ecumenismo. Não se tratará apenas, por certo, de esperar a multiplicação de actos de acolhimento, da parte de uns e de outros; nem ainda de conseguidas aproximações teológicas, a que as declarações conjuntas têm dado expressão; como até a realização de gestos, porventura epifânicos, protagonizados por aqueles que Deus escolheu para dirigir as comunidades. Mas poderá, sem dúvida, inscrever-se entre aqueles passos concretos trazer o desejo da unidade dos cristãos, segundo os desígnios de Deus, para a oração quotidiana das nossas comunidades, isto é, para a vida de todos e de cada um de nós, todos os dias. Essa tarefa pertence-nos.

João Soalheiro

ASAE mete medo a muita gente

Há tempos louvei aqui a acção da ASAE (Autoridade de Segurança Alimentar e Económica), em defesa dos consumidores. Entretanto, começaram as acusações de que aquele organismo está a exagerar na forma de agir e nas multas que prescreve para cada infractor. Talvez seja verdade. No entanto, continuo a dizer que a ASAE é importantíssima para a moralização dos agentes alimentares e económicos. Se é verdade que há gente muito honesta nestes domínios, também não deixa de ser correcto admitir que há muito "chico esperto" que está sempre pronto para nos enganar, vendendo gato por lebre.
É público que nas vésperas de uma grande peregrinação a Fátima alguns proprietários de restaurantes souberam que a ASAE ia passar por lá. Foi o suficiente para logo encerrarem certos estabelecimentos, conforme se podia ler nos avisos postados à porta, mais ou menos nestes termos: Encerrado para limpeza. Pois é. Se calhar, sem a ASAE à perna, tudo continuaria como dantes.
FM

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Unidade dos Cristãos


Está a decorrer, até ao dia 25, a SEMANA DE ORAÇÃO PELA UNIDADE DOS CRISTÃOS, a caminho da tarefa URGENTE da reunificação ecuménica das Igrejas Cristãs. A primeira vez que os cristãos se uniram em oração pela unidade de todos os que aceitam Jesus Cristo como Salvador, na semana entre as festas dos apóstolos Pedro (18 de Janeiro) e Paulo (25 de Janeiro), foi em 1908, em Graymoor, Nova Iorque, Estados Unidos.
No hemisfério Norte, essas continuam a ser as datas tradicionais da semana de Oração. Já as Igrejas do hemisfério Sul celebram a Semana de Oração em torno do Pentecostes, outra ocasião simbólica da Unidade dos Cristãos.
Para a Semana 2008 o tema escolhido foi "Não cesseis de orar", exortação do apóstolo Paulo na primeira carta aos Tessalonicenses.
De cada crente se espera, ao menos, um ou outro sinal de aproximação concreta aos irmãos de outras confissões religiosas, cristãos em especial, ou de outras religiões. O mundo ficará mais rico se assim fizermos e continuará pobre se mostrarmos total indiferença.
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Foto: Patriarcas ortodoxos

Na Linha Da Utopia



Aprender das diferenças

1. Que monótono seria o mundo se, sobre TUDO, todos pensassem da mesmíssima forma! Embora, muitas vezes, as próprias forças/sistemas sociais sobrevalorizem a uniformidade em vez da diversa criatividade, a história da humanidade, que em momentos determinados sofre os embates da hiperconfluência de tanta informação das diversidades, foi-se e vai-se construindo a partir das diferenças de formas de ser, pensar e agir. Todavia, toda essa riqueza da diversidade humana não provém de “uma qualquer diferença”, do fazer algo sem ninguém ter nada a ver com isso; a “diversidade”, na sua autenticidade, não se pode confundir com a libertinagem. Talvez aqui resida uma das grandes questões do tempo actual. Necessita-se de compreender as “diferenças” (de posição, cultura, política, religião) não pela sua rama mas na sua profundidade, pois só sabendo em que tabuleiro estamos é que será possível o aprofundamento das identidades no diálogo.
2. Este aprender das diversidades nada tem a ver com o proliferar das “diferenças indiferentes”, do ser diferente “por ser”, onde não há razões pensadas e amadurecidas para esta ou aquela posição. Já num patamar de superficialidade sem racionalidade, sem pensar o que se quer, então vale tudo, e as diferenças ganham um alcance desmedido e descentralizado do referencial inabalável da dignidade humana. No horizonte cultural e religioso o conhecer e apreciar das diferenças do outro acabam por mostrar o fascinante da aventura humana. Como refere Eduardo Lourenço, o pensamento, as filosofias e as religiões, representam as respostas mais profundas para o sentido da vida e da história. Estas diferentes abordagens não são superficiais mas tocam as razões profundas do pensamento humano; é neste patamar que o diálogo pode exercer pontes de um futuro mais digno e mais humano para todos.
3. A época que vivemos, com a redefinição da própria história à luz da globalização aceleradora, proporciona uma aprendizagem que dá valor àquilo que é diferente da nossa forma de pensar… Esta dinâmica procuradora e apreciadora não se confunde com anulação ou perca de identidade (outra palavra chave da actualidade), mas representa o aprofundar da mesma essência humana que nos une. Só neste terreno de qualidade, não superficial, poderemos mais e melhor discernir uma hierarquia de verdades que saiba diferenciar o que “passa” do que fica ou deve ficar. Dos bancos da escola à praça pública, talvez apreciar a riqueza dos que pensam (de forma pensada) diferente de nós seja um exercício para uma vida (com)unitária. O mundo precisa tanto de ler as diferenças como “complementaridades”. Cada vez mais, neste mundo, todos estamos no mesmo barco!


Alexandre Cruz

Santa Joana e José Estêvão

Monumento a José Estêvão, em Aveiro

“Proponho-me visitar hoje os túmulos de Santa Joana e de José Estêvão, duas peregrinações que eu não podia deixar de fazer desde que aqui vim”

Este propósito de Júlio Dinis, anunciado na carta que escreveu de Aveiro, conforme registo publicado ontem no meu Blogue, dá que pensar. Quantos de nós já procedemos assim?
Será que, de visita a qualquer povoação, nos inteirámos antes daquilo que podemos e devemos visitar? Será que consultámos publicações que nos elucidem do que vale a pena conhecer melhor? Julgo que não. E no entanto, com frequência vejo, nas zonas históricas, turistas estrangeiros a consultarem literatura sobre o que tem de ser apreciado. Entre nós, julgo que há muito o hábito de raciocinar assim: como moramos relativamente perto, a todo o momento poderemos passar por cá, com mais calma. Só que, tal não acontece. O tempo passa e acabamos por não ver nada.
FM

domingo, 20 de janeiro de 2008

A PROPÓSITO DE UMA CARTA DE JÚLIO DINIS


De quando em vez sabe bem reler os clássicos da nossa literatura, nem que daí resulte algum prejuízo, momentâneo embora, para os escritores e escritos mais na berra. E foi isso que me levou, há tempos, a procurar na estante, algo desarrumada, um livro talvez pouco lido, a não ser por curiosos ou estudiosos das coisas literárias. Refiro-me a “Cartas e Esboços literários” de Júlio Dinis, com prólogo do célebre Egas Moniz, sábio que ao mundo e ao Homem muito deu no campo da medicina, mas que ainda encontrou tempo e disponibilidade interior para se dedicar a estudos sobre literatos e questões literárias, com a mesma paixão com que dissecava o cérebro humano em busca de verdades até então ignoradas.
Uma das cartas, agora lida com outro sabor, talvez pelo ambiente que quis e soube criar, referia-se à Gafanha, é certo que de fugida, em termos que me apetece repetir para que não caiam no esquecimento.
Reza assim, na parte que interessa, a missiva dirigido de Aveiro, em 28 de Setembro de 1864, a seu amigo Custódio Passos:
“Escrevo-te de Aveiro. São 7 horas da manhã do histórico dia de S. Miguel. Acabo de me levantar. Acordou-me o silvo da locomotiva. Abri de par em par as janelas a um sol desmaiado que me anuncia o Inverno.
A primeira coisa que este sol alumiou para mim, foi a folha de papel em que te escrevo; aproveito-a, como vês, consagrando-te neste dia os meus primeiros pensamentos e o meu primeiro quarto de hora.
Aveiro causou-me uma impressão agradável ao sair da estação; menos agradável ao internar-me no coração da cidade, horrível vendo chover a cântaros na manhã de ontem, e imensas nuvens cor de chumbo a amontoarem-se sobre a minha cabeça, mas, sobretudo intensamente aprazível, quando, depois de estiar, subi pela margem do rio e atravessei a ponte da GAFANHA para visitar uma elegante propriedade rural que o primo, em casa de quem estou hospedado, teve o bom gosto de edificar ali.
Imaginei-me transportado à Holanda, onde, como sabes, nunca fui, mas que suponho deve ser assim uma coisa nos sítios em que for bela.
Proponho-me visitar hoje os túmulos de Santa Joana e o de José Estêvão, duas peregrinações que eu não podia deixar de fazer desde que vim aqui.
A casa em que eu moro fica fronteira à que pertenceu ao José Estêvão. Há ainda vestígios das obras que ele projectava fazer-lhe e que, por sua morte, ficaram incompletas. Tudo isto se vendeu, e dizem que por uma ninharia.
Cheguei a Aveiro um pouco dominado pela apreensão de que talvez viesse ser infeccionado pelos eflúvios pantanosos da terra e cair atacado por sezões, circunstância que não obstante o colorido local que me havia de dar, nem por isso me havia de ser muito agradável.
Nada porém de novo me tem por enquanto sucedido, e continuo passando bem, e, o que é mais, engordando”.
Nesta carta do romancista quiçá mais lido de Portugal, há uma mão-cheia de considerações e de notas a merecerem outros tantos estudos. Interessa-me somente dizer que afinal esta terra tem sido notada e continuará a sê-lo, assim creio, por quem deambula com olhos bem abertos à magia de recantos nem sempre suficientemente divulgados.
Fico-me, no entanto, por duas ou três ideias, como esta de “imaginar-se transportado à Holanda”, que “deve ser assim uma coisa nos sítios em que for bela”, e a de na “GAFANHA visitar uma elegante propriedade rural” (quem diria?). Também o propósito de “visitar hoje os túmulos de Santa Joana e de José Estêvão, duas peregrinações que eu não podia deixar de fazer desde que aqui vim.”
Pois é verdade.
Nem sempre reparamos no que é nosso e muito menos lhe damos o valor devido, por esta ou por aquela razão.
E depois ficamos embasbacados, como eu fiquei, quando há anos ouvi de um amigo descrições de tal modo ricas de pormenores, ao mesmo tempo que denunciavam uma sensibilidade apurada e um gosto especial pelos ambientes bucólicos e pelo cheiro a maresia, desta terra que o mar e a ria beijam quase sempre com sedutora carícia. O tentar descobrir as belezas relatadas foi tarefa que na altura impus ao meu bairrismo, para então me deliciar meio envergonhado.
Aos que me lerem, aqui deixo a sugestão de tentarem encontrar o que a vida agitada não tem deixado ver.

Fernando Martins

TECENDO A VIDA UMAS COISITAS - 61

Escola da Ti Zefa, actual oficina de bicicletas e motorizadas

E AS MENINAS? ... IAM POUCAS À ESCOLA!...

Caríssima/o:

Comparando com as brincadeiras e os jogos que praticavam no canto, o nosso escolar viu que na sala de aula havia poucas meninas. Certamente haveria muitas outras escolas onde talvez a situação se invertesse...
Contaram-lhe então que as meninas da terceira classe tinham desistido quase todas, como fizera o seu irmão. Não era obrigatória a frequência além do 1.º grau (a terceira classe) que terminava com um exame!
Tudo isto lhe fazia muita confusão até porque ouvira dizer que a sua irmã mais velha (tinha mais dez anos de idade que ele) nunca passara da primeira dos cartões; que tinha dificuldade em aprender.[Muitos anos passados, já casada, e feitos os exames respectivos, se verificou que quase não via “um boi à sua frente”, tal o grau de miopia que afectava os seus olhos...]

Os anos foram passando e já na quarta classe e admissão o caso era bem notório. Como os professores juntassem os alunos para melhor os prepararem e se habituarem aos examinadores com pronúncias e maneiras de ser diferentes, lembra-se que da Marinha Velha, da Escola do Ti Lopes, vinham acompanhados pelo Professor Salviano para a Escola da Cambeia, da Ti Zefa, onde leccionavam a Professora D. Sílvia[1] e o Professor Ribau. Ainda hoje tem diante dos olhos o tabique de madeira que separava a parte masculina da feminina, sendo a área ocupada pelas meninas talvez um terço da dos rapazes! Quer dizer que a frequência do sexo feminino era de facto mais reduzida...
As escolas eram então masculinas, femininas e mistas. Não se sentiam grandes dramatismos nas relações entre uns e outras já que habitualmente eram parceiros de brincadeiras e de jogos que agora na escola teriam como palco a estrada que passava defronte do edifício.

Aí fica mais este retrato “à la minuta”, com uma realidade que entretanto foi completamente alterada.

Manuel

1. Aqui o Manuel faz uma pausa e apresenta a sua dúvida pois não tem a certeza se seria a D. Sílvia a professora nessa altura...

Na Linha Da Utopia


A Tri-Unidade Ecuménica

1. É um hábito anual que se poderia (e deveria) prolongar por todo o ano: mensal, semanal, diário. Um dia lá chegaremos, porque um infeliz dia de lá saímos. Este ano, de 18 a 25 de Janeiro (25 de Janeiro é celebrada a conversão de São Paulo – acontecimento que marca a matriz do espírito ecuménico), comemora-se os 100 anos da primeira Semana de Oração pela Unidade das Igrejas Cristãs. Foi no ano de 1908 (um ano depois da fundação do escutismo mundial por Baben Powel), em Graymoor - Nova Iorque, nos Estados Unidos, que pela primeira vez (de que há registos), após as grandes divisões seculares, os cristãos de diferentes igrejas se reuniram a orar pela unidade. Talvez hoje pareça estranhíssimo dizermos que antes as igrejas cristãs não se falavam…; para compreendermos bem o alcance e o progresso deste século teremos de ter presente a triste história das trágicas intolerâncias dos séculos XVI-XVII...
2. As distâncias culturais e linguísticas (não havia Internet nem um “inglês universal”), uma cristandade de multidão de que os mosteiros foram sendo as sedes culturais, uma bem-vinda irreverência desinstaladora das comodidades da religiosidade imperial, a situada incapacidade de diálogos como entendimento das diversidades (particulares) na unidade (essencial), a perspectiva de uniformidade igualitarista em vez da complementaridade das diferenças, entre tantas mil e uma complexas razões terão estado na origem das divisões das igrejas cristãs. No séc. XI (ano 1054), a fractura a oriente (ortodoxa) mais por razões de cultura; no séc. XVI, a divisão (protestante) no centro da Europa, por razões filosófico-teológicas da ordem da salvação e interpretação da Escritura. Uma complexidade de aspectos que entranhou o ADN colectivo de que uns é que eram proprietários da salvação e outros não. Sem relativismos, no limite as maiores atrocidades na catolicidade foram cometidas e as igrejas o reconhecem.
3. Os tempos são outros. Há cem anos assim essa “corrente” tolerante e de unidade foi semeando proximidades no conhecimento das diversidades. Sem medos de perder identidade. Para além do aparato exterior, quanto mais conhecermos as razões de cada diversidade mais nos sentimos em unidade. O mesmo acontece com os seres humanos, é imensamente mais o que nos une que o que nos separa. O caminho é sempre o diálogo (Vaticano II). Sem ingenuidades simplistas mas na purificação da memória (João Paulo II). Com todos os aprofundamentos rigorosos e discernindo entre o que são os dispensáveis acessórios e o ESSENCIAL que importa potenciar. O apelo continua a interpelar: «Que sejam UM». É irreversível, mas só com coragem dos líderes, o povo seguirá. Quanto ao designado Espírito Santo, Ele sempre quis a UNIDADE, Ele a vive na Trindade. Voltemos a Oração Ecuménica para nós e para a história que temos a construir. Deus não nos dispensará, mas sem (o Seu) Amor adiamos, adiamos...

Alexandre Cruz

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