sábado, 30 de março de 2024

Sexta-Feira Santa, Sábado Santo, Páscoa

Crónica Semanal de Anselmo Borges
Padre e professor de Filosofia

Deus é radicalmente questionado quando se é confrontado com a realidade brutal dos holocaustos da História e concretamente com a tortura e a morte dos inocentes. Neste domínio, é sempre incontornável a passagem célebre de Os Irmãos Karamázov, de Dostoiévski, em que Ivan Karamázov refere precisamente a crueldade exercida sobre as criança inocentes. "A ciência toda não vale as lágrimas das crianças", proclama. O que faremos com o sofrimento dos inocentes? Como se pode alguma vez justificar o injustificável? É tal a revolta de Ivan Karamázov que ele devolve respeitosamente a Deus o bilhete de entrada na harmonia final da história do mundo.
Em última análise, é o sofrimento e a morte que nos obrigam a pensar. Mas precisamente o sofrimento e a morte são o que a razão nunca entenderá, concretamente quando se trata do sofrimento e da morte das vítimas inocentes. É por isso que Miguel de Unamuno escreveu: "O mais santo de um templo é que é o lugar onde se vai chorar em comum". E acrescentava de modo dramático: "Um Miserere cantado em comum por uma multidão, açoitada pelo destino, vale tanto como uma filosofia."
O paradoxo é este: face ao calvário do mundo, Deus comparece perante o tribunal da razão. Por outro lado, para haver salvação, também e sobretudo para as vítimas inocentes, ela só pode vir de Deus. Deus tem de justificar-se, e, ao mesmo tempo, só ele pode justificar, isto é, salvar.

Festa da Páscoa — Tradições da minha infância



Limitado pela fragilidade dos anos que passam apressados, talvez tocados pelos ventos marinhos, não posso ficar indiferentes à Festa da Páscoa, símbolo maior da nossa fé e da nossa civilização. Os bolares desafiam e afinam os nossos gostos e culturas e a fraternidade anima-se em  horas de partilhar lembranças entre padrinhos/madrinhas de batismo e seus afilhados. Também havia reciprocidades. 

E lá íamos, pequenos e mais crescidos, pedir a bênção aos padrinhos e madrinhas de batismo. Alguns até lhes beijavam as mãos, ajoelhados, enquanto recebiam a bênção. Diziam os padrinhos e madrinhas: Deus te abençoe e faça de ti um santo/a.

terça-feira, 26 de março de 2024

Testemunho de um emigrante nos EUA

JACINTO FIDALGO RESPEITA MUITO AS NOSSAS TRADIÇÕES

Jacinto Fidalgo e Helena Clara

Jacinto Manuel Merendeiro Fidalgo e Helena Clara Rola Sarabando Fidalgo, sexagenários, casados em 1984 na nossa paróquia pelo saudoso Padre Ruben, emigraram para os Estados Unidos da América (EUA) há 36 anos, à procura de uma vida melhor, como decerto muitos outros.
Antes da emigração, construíram uma casa com dinheiro emprestado por familiares, porque não tinham “acesso ao crédito bancário”, regras daqueles tempos. O Jacinto era eletricista/canalizador e a esposa educadora de infância.
Em Portugal, entretanto, para além dos ordenados, viram-se obrigados a vender tremoços e pevides no Mercado da Gafanha, no Grupo Desportivo da nossa terra, na Feira de Março e no Beira Mar. Mais tarde, em 2007, remodelaram toda a moradia, mas gostavam de comprar um automóvel, porque o seu transporte normal era a bicicleta. E pelas dificuldades da vida decidiram emigrar.
Hoje tem nos EUA uma empresa de canalização com 90 empregados, enquanto sua esposa exerceu a sua profissão durante 25 anos na América. Presentemente, “trabalha como empregada no nosso escritório", disse o Jacinto.

domingo, 24 de março de 2024

RECORDAÇÕES - Budismo

BUDA

O primeiro desafio para se perceber o Budismo partiu de um convite, original entre nós, lançado pela palestrante, Margarida Cardoso, da União Budista Portuguesa, há anos, em Aveiro.

“Sentados comodamente, mãos sobre os joelhos, olhos fechados; vamos sentir o ar a entrar e a sair pelas narinas; vamos ouvir o barulho da sala… e agora o silêncio; deixemos entrar os pensamentos…”. Isto, porque o Budismo é essencialmente uma filosofia de vida, uma prática enriquecida por experiências de meditação, um estado de consciência límpido, luminoso, de compaixão e de sabedoria, frisou Margarida Cardoso. A convidada do CUFC recordou que Buda, meio milénio antes de Cristo, abandonou os prazeres para procurar a iluminação, que só será conseguida através da atenção que prestarmos a grandes verdades, as quais nos conduzem à libertação interior absoluta. Disse que o sofrimento tem origem no desejo, que a eliminação do desejo leva ao fim do sofrimento, e que, quando atingirmos esta fase, ao longo de uma caminhada de intenções, ações, recolhimento e concentração puros, alcançaremos o nirvana, ausência total da dor, meta perseguida pelos budistas."

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Jesus e o Reino de Deus

Crónica de Anselmo Borges
Padre e professor de Filosofia

Na fé, pergunta nuclear é em que Deus se acredita e no que é que, acreditando, muda na vida, na compreensão do ser humano e do mundo. Não seria digno da pessoa acreditar por medo, acreditar num deus que humilha o Homem, num deus que, na sua eternidade feliz, permanecesse indiferente à história humana enquanto um mundo de sofrimento.
Na tradição da experiência cristã, embora a relação com Deus se não esgote na ética, a salvação a partir de Deus é experienciada e vivida no meio do mundo, na relação inter-humana, tanto no amor face a face como na transformação política das estruturas e situações que impedem um mundo de rosto humano. Neste sentido, “fora do mundo não há salvação”, como sublinhava o teólogo E. Schillebeeckx.
Para os cristãos, Deus revelou-se de modo definitivo, embora não exclusivo, na figura histórica de Jesus de Nazaré. E o núcleo da mensagem de Jesus, na sua pessoa, nas suas palavras, na sua vida, na sua morte, é o Reino de Deus. E o Reino de Deus é o próprio Deus enquanto amor incondicional, amor soberanamente libertador dos homens, que fazem a sua vontade. E a vontade de Deus é o Homem digno e livre, o mundo d na paz, na alegria, as pessoas na justiça, no amor, num mundo fraterno, sem dominadores nem dominados.