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domingo, 4 de agosto de 2019

Anselmo Borges - O Homem: trabalhador e festivo



 «Dar-se conta do milagre do Ser e de se ser. 
Há maravilha que nos abale mais na raiz de nós do que esta?»


1. Andam enganados aqueles e aquelas que, no decurso do tempo, fizeram uma leitura literal do Génesis, o primeiro livro da Bíblia. Porque, concretamente nos primeiros três capítulos, não se trata de uma narrativa histórica, mas de um mito, uma estória. O filósofo Hegel, um dos cumes do pensamento, embora não fosse exegeta, viu mais, mais fundo e de modo mais penetrante do que muitos exegetas, quando leu essas primeiras páginas sobre a criação, Adão e Eva e o chamado “pecado original”. 
No princípio, Deus fez a Terra e os céus. E criou Adão e Eva, que viviam no Éden, o paraíso terreal. Não podiam comer da árvore que estava no meio do jardim, a árvore da ciência do bem e do mal. Comeram e foram expulsos do paraíso. O que aqui está, diz Hegel, é a passagem da animalidade à humanidade e à grandeza de ser ser humano, mas também ao seu carácter dramático e mesmo trágico. Souberam que estavam nus. Comeram da árvore da ciência do bem e do mal e ficaram a saber que são seres humanos, portanto, conscientes de si mesmos, conscientes de que são conscientes, com consciência reflexiva, que os outros animais não têm. Essa é a nudez humana, na solidão metafísica: cada um está só, é si mesmo de modo único e intransferível. 
Deus também tinha dito que, se comessem, morreriam. Comeram e souberam que o ser humano é mortal, o que o animal não sabe. Quando dizemos — cada um e cada uma — “eu”, cada uma e cada um di-lo de modo exclusivo e único e sabe que há-de morrer e angustia-se face à morte: “Ai, que me roubam o meu eu”, gritava Unamuno. Esta é a constituição do ser humano. E não é possível voltar atrás, porque a entrada do jardim do Éden, símbolo da inconsciência animal, é guardada por querubins com a espada flamejante.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2019

O vinho de Jesus alegra a festa dos convivas. Aprecia!

Georgino Rocha
«Jesus não se impõe, mas também 
não se desinteressa do que é humano»


Jesus está no início da sua vida de missionário itinerante. Após a chamada de alguns discípulos, toma parte na boda de casamento de uns noivos em Caná da Galileia, terra a pouca distância de Nazaré. Está lá, Maria, sua Mãe. Os convivas são numerosos e a festa podia demorar uma semana. Há regras a cumprir. O protocolo era minucioso e os participantes observavam-no rigorosamente. O chefe de mesa supervisionava tudo. Os serventes estavam atentos e disponíveis para que nada falte. O programa decorria com grande normalidade. Mas a surpresa acontece. Há sinais de que algo está a ocorrer. E antes que seja conhecido por todos, Maria dá conta, identifica o que é e vai dizê-lo a Jesus. “Não têm vinho!”. Que maravilha! O cuidado da Mãe de Jesus manifesta-se de modo solícito para que a festa prossiga com o entusiasmo inicial e a boda de casamento proporcione alegria a todos, sobretudo aos noivos e familiares. Com Maria, as crises podem ser previstas, e pode ser removido o que lhes dá origem. Ela encaminha tudo para Jesus. Mesmo que a ocasião pareça inoportuna. 

Endossado o assunto a quem pode ajudar a resolvê-lo, ela dirige-se aos serventes e exorta-os a que façam o que Jesus lhes disser. Que ousadia! Uma mulher tomar a iniciativa em público, em casa alheia, e credenciar um desconhecido. E os serventes, que boa vontade revelam ao aceitarem obedecer-lhe prontamente. “Fazei o que Ele vos disser”. Nem sequer informam o chefe responsável pelo protocolo. Seguem com prontidão a indicação de Jesus, um estranho: “Enchei essas talhas de água”. Assim fazem e ficam a aguardar nova orientação. “Tirai agora e levai ao chefe de mesa”. Sem temer nada, cumprem a ordem recebida. E dão conta da surpresa agradável do chefe ao provar o vinho novo, obtido por intervenção de Jesus e da sua colaboração. Não reclamam “louros”, nem recompensas extra, nem dizem nada. Apenas partilham a alegria renascida nos corações que se espelha no rosto dos convivas.