sexta-feira, 5 de janeiro de 2018

O CANCRO DA IGREJA



Anselmo Borges 

1. "O Papa Francisco é hoje um dos homens mais odiados no mundo." Esta afirmação recente pertence a Andrew Brown, no The Guardian, que acrescenta: "E quem mais o odeia não são ateus, protestantes ou muçulmanos, mas alguns dos seus próprios seguidores."
Pessoalmente, não sei se trata mesmo de ódio, mas tenho a convicção firme de que Francisco tem na Igreja muitos opositores e inimigos, furiosos por causa das reformas que está a operar e por verem os seus interesses, incluindo o clericalismo e o carreirismo, ameaçados. Sobretudo na Cúria Romana, que, como já aqui escrevi, quando se olha de modo atento para a história, foi fazendo mais ateus do que Marx, Nietzsche e Freud juntos.
Mas, por outro lado, Francisco é hoje um dos líderes mundiais mais estimados, amados e influentes do mundo. A simplicidade e a humildade, a simpatia e o afecto, reais e genuínos, que manifesta pelas pessoas, a começar pelos mais débeis, fragilizados, abandonados, o seu amor pelas periferias geográficas e existenciais, tornaram-no uma figura popular em toda a parte.

VALDEMAR AVEIRO, O COMANDANTE DE HOMENS

Entrevista conduzida por Lúcia Crespo



«Tem 83 anos, nasceu em Ílhavo, terra de gente com salitre no sangue. Aos 16 anos, Valdemar Aveiro partiu para os mares da Terra Nova a bordo do Viriato, navio de pesca à linha. Era então moço de câmara. Estreou-se como capitão no Santa Joana, o primeiro arrastão português. Deixou o mar em 1988, mas continua ligado à pesca. “Tenho uma actividade que faz inveja a muita gente”, graceja.»

«"Ó menina, tenho uma maldição muito rara, que é pôr-me na pele dos outros." A frase sai-lhe assim, dorida e espontânea, como acontece com os homens grandes. Valdemar Aveiro tem 83 anos e é um dos capitães dos bacalhoeiros portugueses que andaram pelos mares do fim do mundo. Nasceu em Ílhavo, embarcou com 16 anos para a Terra Nova a bordo do Viriato, um navio de pesca à linha. Era então moço de câmara. Foi escalando na hierarquia de bordo e fez a sua estreia como capitão no Santa Joana, o primeiro arrastão em Portugal. Foi depois convidado para comandar o navio mais moderno de então, o Coimbra. Valdemar Aveiro correu o mundo como comandante de navios. E de homens.»

Li em negócios 

NOTA: Texto e foto do jornal NEGÓCIOS

FESTA DA EPIFANIA DO SENHOR



A ESTRELA QUE NOS GUIA PARA JESUS

Georgino Rocha


A estrela dos Sábios do Oriente que procuram Jesus, recém-nascido, surge como o grande referencial para quem deseja encontrar a verdade. Procura porque o seu espírito a intui e a vê partilhada por outros. Procura porque reconhece os sinais da novidade que vão surgindo um pouco por toda a parte e quer captá-los e entrar em sintonia. Procura porque sente o impulso de uma secreta esperança que anima os caminhos da vida.
Jesus, o procurado, irradia a sua luz a partir da encarnação, fazendo-se humano. Constitui assim um novo espaço de encontro com toda a humanidade: homens e mulheres, povos e raças, judeus e pagãos, novos e velhos, camponeses e citadinos. Hoje é o dia do encontro oferecido por Deus na gruta de Belém, aonde chegam os Sábios Reis vindos do Oriente, após terem feito um percurso que fica como iluminação de todos os que se dispõem a ser cristãos discípulos de Jesus, a Estrela por excelência. E a liturgia da Igreja destaca este encontro como meta de convergência do tempo de Natal que manifesta novos horizontes: A Belém acorrem os pastores; ao Templo, o velho Simeão e a profetisa Ana, símbolos queridos dos fiéis judeus; a Jerusalém se dirigem, rumo a Belém, os Sábios Reis. (Mt 2, 1-12).

quinta-feira, 4 de janeiro de 2018

“DESCOBRIR AVEIRO”

De Suzana Caldeira (textos) 
e Suzana Nobre (ilustrações)


«Com textos de Suzana Caldeira e ilustrações de Suzana Nobre, este livro partilha sítios e pormenores da cidade de Aveiro que de outro modo poderiam passar despercebidos. Focado no Bairro da Beira-Mar este é o número 1 da recém-criada coleção: “Descobrir Aveiro”, em que cada livro tratará um Bairro ou Temática especifica do distrito de Aveiro.
É um projeto de autoedição, em que as autoras assumiram todas as etapas do projeto criativo e assumindo sós todo o custo e risco de edição.
Este livro é dedicado à cidade de Aveiro: leve, ilustrado e de fácil leitura fala da cidade, do seu património, da cultura e das tradições, desenvolvido por duas pessoas não naturais de Aveiro, que se apaixonaram pela cidade.
O prefácio é de José Carlos Mota, docente no Departamento de Ciências Sociais, Políticas e do Território da Universidade de Aveiro que descreve o livro como “um trabalho de enorme qualidade a merecer louvor e apoio”.»

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ANIVERSÁRIO DO AQUÁRIO DOS BACALHAUS


O Aquário dos Bacalhaus do Museu Marítimo de Ílhavo, que se tornou num dos maiores atrativos do museu, celebra o seu 5.º aniversário no próximo dia 13 deste mês. As comemorações são sobretudo dedicadas à família, com dois momentos de puro deleite que permitirão, por um lado, experimentar a tranquilidade e a beleza do Aquário dos Bacalhaus e, por outro lado, conhecer mais acerca do silencioso mundo destes habitantes das águas geladas do Atlântico Norte.
De manhã, a partir das 10h, o Aquário ficará reservado a uma aula de Yoga para pais e filhos; à tarde, às 15h30, realiza-se uma visita especial que permitirá escutar o silêncio do fundo do mar. Durante este dia as visitas ao Museu Marítimo de Ílhavo são gratuitas, entre as 10 e as 18h
As inscrições para ambas as ações podem realizar-se até 11 de janeiro por telefone (234 329 990) ou por email (visitas.mmi@cm-ilhavo.pt).

Fonte: CMI, MMI

UA ASSINALA O SEU 44.º ANIVERSÁRIO

Entrevista com o Reitor Manuel António Assunção


"Temos uma Universidade reconhecida e líder em várias áreas"

«Numa altura em que a UA assinala o seu 44.º Aniversário, o Reitor Manuel António Assunção destaca os grandes marcos de uma instituição que considera ser hoje líder em várias áreas, capaz de servir muito bem a região e o país, internacionalmente reconhecida e dotada de um excelente ambiente físico e humano. Nesta entrevista, o Reitor dos últimos sete anos e meio aponta a Saúde como uma das questões que continuará a estar na agenda da Universidade e avança que a proteção do planeta, incluindo as alterações climáticas, a economia circular e a revolução digital serão alguns dos próximos grandes desafios a que a UA saberá certamente responder, garantindo assim a continuidade do seu relevante papel na sociedade.»

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quarta-feira, 3 de janeiro de 2018

DIA DO FESTIVAL DO SONO - 3 de janeiro

MaDonA


Sleeping is my favourite homework and I want more of this!” (Dormir é o meu trabalho de casa preferido e eu quero mais disto...) foi a inscrição estampada em letras brancas sobre o fundo preto da t-shirt. O Bruno tinha a irreverência de um aluno de onze anos e a força indomável do mar a correr-lhe nas veias. O mar da sua Costa Nova! Entrou na sala com ar desafiador, à espera da reação da teacher. Esta esboçou um sorriso de bonomia, pois não havia motivo para qualquer repreensão. Além do mais, os olhos do aluno de um azul celeste, em dia primaveril, enfeitiçavam a teacher. Tal como os do irmão mais novo: verde água, no rosto emoldurado por cabelos louros ondulados. Sempre que passava nas coxias da sala e me abeirava do Raimundo, quedava-me a contemplá-lo...”Tão pródigo o Criador” cogitava eu. E ele sabia, o malandro, lia-se no seu sorriso cúmplice. Aquela mãe, uma antiga aluna, roubara as cores do arco-íris. 
Se, nessa altura, soubesse da existência deste dia, a 3 de janeiro que coincide com o início do 2º período, ter-lhe-ia dado uma folga para “comemoração” da efeméride. 
Por mais hilariante que pareça, o Festival of Sleep Day tornou-se uma celebração popular, um feriado não oficial, promovido a nível mundial, há alguns anos, por gente bem humorada que gosta muito de dormir. 
Depois dos presentes de Natal, dos excessos alimentares, dos saldos e da festa de fim do ano, nada melhor do que um dia de descanso … a 3 de Janeiro, dedicado ao sono. 
Para recarregar energias para o novo ano de trabalho ou de escola que começa, deve-se descansar ao máximo, sendo este dia para lembrar a importância do sono. No caso dos adultos recomenda-se dormir 6 a 8 horas por noite. 
Como não há regras para a celebração deste dia, a pessoa pode simplesmente fechar os olhos e descansar da forma que mais lhe agradar, seja na cama, no sofá ou na cadeira favorita. Com o frio do inverno a convidar ao recolhimento, esta é uma oportunidade de ouro para hibernar e recuperar forças. 

Recomendam os organizadores do Festival: 

1 - Durma com o seu mais-que-tudo, o seu animal de estimação, o seu urso de  peluche... mas durma o mais possível a 3 de Janeiro! 

2 - Determine quanto tempo deseja “comemorar”! Uma sesta, as oito horas da praxe, ou simplesmente passar pelas brasas. O melhor é ser o dia inteiro… 

3 - Vista o seu pijama mais confortável e coloque a melhor roupa de cama (Lençóis polares!?) que tiver para o sono ser “delicioso”. 

4 - Se levar o Festival do Sono mesmo a sério, a cama não é tudo. Estire-se no sofá, ponha uma  almofada no chão e descontraia. Se tiver uma rede para balouçar tanto melhor… 

Uma espreguiçadeira num solário foi a minha opção..

SÃO GONÇALINHO - 10 A 18 DE JANEIRO


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MUSEU DE ÍLHAVO E SANTO ANDRÉ

DIA ABERTO - 14 DE JANEIRO 




O Museu Marítimo de Ílhavo e o Navio-Museu Santo André têm entrada gratuita no dia 14 de janeiro, domingo, encontrando-se aberto ao público entre as 14:00 e as 18:00. O segundo domingo de cada mês é dia aberto em ambos os espaços. Esta é uma boa oportunidade para ficarmos a conhecer melhor o nosso património histórico.

segunda-feira, 1 de janeiro de 2018

2018 — ANO NOVO VIDA NOVA


Acordei hoje ao raiar da aurora. Da janela do meu sótão olho o horizonte e espero que o astro rei faça jus à sua natureza real e nos ilumine nos caminhos solidários da vida. Mas ele mostra alguma timidez, porventura fruto da passagem do ano vivida com muita festa, noite adentro, por todo o mundo. O Sol também precisará de descanso? Pelo que ouço e leio, ele, que ilumina e aquece a terra há milhões de anos sem conta, ainda tem pujança para outros tantos ou muito mais! Por aí, podemos ficar descansados. 
Se é assim com o Sol benfazejo, o mesmo não poderemos dizer da Terra que, dia após dia, tornamos inabitável, com agressões inauditas a toda a hora e em todos os cantos. É preciso pensar nisto, mas se quisermos, ainda estamos a tempo de a salvar com gestos simples e atitudes corretas, no respeito absoluto pela saúde do planeta que habitamos.
Bom ano!

Fernando Martins

domingo, 31 de dezembro de 2017

NA AURORA DE UM NOVO ANO


No balanço próprio do final de 2017, prestes a passar à história, olhamos para 2018 com esperanças ciclicamente repetidas. O novo ano, no íntimo das nossas perspetivas, vai ser muito melhor. 
Propositadamente, regressei a 2004 para reler o que havia escrito no último dia do ano. Tinha criado, nesse mês e ano, o meu blogue Pela Positiva. E manifestei, então, o desejo de que todos devíamos assumir a nossa quota-parte nas responsabilidades de mudar o mundo para melhor. O mundo não estaria, obviamente, muito bem.
Em 2010 já se falava em crise e por isso sugeri que se avançasse, com o otimismo possível e necessário, para um novo ano de lutas, no sentido de conquistarmos o tempo perdido. De mangas arregaçadas, de olhar firme em novos horizontes e de coragem para ultrapassar obstáculos, é nosso dever caminhar em frente, na certeza de dias melhores, disse na altura.
Daqui a uma horas, como é tradição por estas bandas, haverá foguetes, sirenes dos barcos nos portos aqui à porta a assinalarem a sua presença. E outras barulheiras de gente bem disposta animarão a noite. Para alguns, não faltará o espumante, a alegria a rodos, as passas, o otimismo, tudo para afugentar o ano velho de triste memória para muitos, mas também para receber com esperança o ano novo. Outros ficarão calados, porventura esquecidos, imersos em recordações felizes, abertos a sonhos sempre possíveis. É, no fundo, uma forma de receber quem chega e nos bate à porta: O NOVO ANO. Oxalá 2018 não se esqueça do modo gentil como o acolhemos. E daqui a um ano, falaremos disso, se Deus quiser.

Fernando Martins

Nicolau Santos — Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança:
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.

Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança:
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem, se algum houve, as saudades.

O tempo cobre o chão de verde manto,
Que já coberto foi de neve fria,
E em mim converte em choro o doce canto.

E, afora este mudar-se cada dia,
Outra mudança faz de mor espanto,
Que não se muda já como soía.

Luís Vaz de Camões
in "Sonetos"

Nicolau Santos deixa o EXPRESSO ao fim de “19 anos, 9 meses, 30 dias e uma paixão”, como diz no texto de despedida publicado naquele semanário de referência que acompanho desde a sua fundação. Não sendo muito dado às Economias, embora da minha saiba curar bem, porque sou poupado, lia as suas opiniões em jeito de balanço semanal, para me sentir minimamente informado.
A dada altura, que não posso precisar, Nicolau Santos começou a publicar poesia no meio da aridez da Economia, talvez para amaciar a frieza dos números e a ganância dos resultados positivos no mundo do liberalismo económico, tantas vezes sem alma. E eu passei a gostar mais das suas considerações numa área em que foi e é especialista. 
Na despedida, Nicolau Santos, que também é poeta, brindou-nos, deste vez, com Luís Vaz de Camões, selecionando “Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades”. Quis fechar com chave de ouro e penso que acertou. 

FM

Bento Domingues — Um chora, outro faz chorar

1. A inspiração do concílio Vat. II (1962-1965) foi retomada com vigor, originalidade e alegria, por um bispo argentino, em 2013. 2017 foi o ano da contestação ruidosa ao Papa Francisco, acusado, por grupos conservadores, de oito heresias! Como recusa o papel de vedeta, continua ocupado, sobretudo, com as vítimas das mil formas de pobreza e exploração de crianças, adolescentes, adultos, velhos, doentes e com as guerras que provocam mundos de refugiados. Os seus gestos não se destinam a chamar a atenção para a sua pessoa ou para a figura papal, mas sim para a degradação da Casa Comum de que todos somos responsáveis. Não se mostra fascinado por viagens triunfais. Os seus destinos são lugares e situações, onde é preciso estabelecer pontes de entendimento. Tudo isso é conhecido. Não se refugia, porém, no mundo dos grandes princípios, porque sente que uma fé que não nos sacode é uma fé que deve ser sacudida.
Na apresentação dos votos natalícios aos membros da Cúria Romana (21.12.2017), continuou o estilo já adoptado em anos anteriores, mas noutra direcção. Os meios de comunicação destacaram, apenas, uma frase que ele usou, embora não tenha sido cunhada por ele: “Fazer as reformas em Roma é como limpar a Esfinge do Egipto com uma escova de dentes.” Serve para dizer que a sua determinação encontra muitas resistências, mas não vai desistir.
Sabe que existem conluios ou pequenos clubes que representam um cancro infiltrado nos organismos eclesiásticos e, de modo particular, nas pessoas que lá trabalham. Desce ao concreto na denúncia de um outro perigo: “o dos traidores da confiança ou os que se aproveitam da maternidade da Igreja, isto é, as pessoas que são cuidadosamente seleccionadas para dar maior vigor ao corpo e à reforma, mas — não compreendendo a alçada da sua responsabilidade — deixam-se corromper pela ambição ou a vanglória e, quando delicadamente são afastadas, autodeclaram-se falsamente mártires do sistema, do ‘Papa desinformado’, da ‘velha guarda’... em vez de recitar o ‘mea culpa’. A par destas pessoas, há ainda outras que continuam a trabalhar na Cúria e às quais se concede todo o tempo para retomar o caminho certo, com a esperança de que encontrem, na paciência da Igreja, uma oportunidade para se converterem e não para se aproveitarem. Isto naturalmente sem esquecer a esmagadora maioria de pessoas fiéis que nela trabalham com louvável empenho, fidelidade, competência, dedicação e também com grande santidade”.
O Papa Francisco não está preocupado com uma Cúria de puros anjos a quem não haja nada a apontar, uma instituição exemplar para autoconsolo. Seria ficar numa reforma ad intra, numa estética organizativa. O que lhe importa é uma Igreja ad extra, de saída, de diálogo com crentes e não crentes, para chegar a todas as periferias e colocá-las, não só no centro das preocupações das Igrejas e das Religiões, mas também no centro da política mundial.

2. Um caso exemplar foi a sua recente viagem apostólica a Myanmar e ao Bangladesh, países de minoria católica, mas de grande significação na promoção do diálogo inter-religioso em condições extremamente complexas, dada a grave violação dos direitos humanos. A Amnistia Internacional considera que as autoridades de Myanmar estão a aplicar, ao povo rohingya, no Estado de Rakhine, um sistema comparável ao apartheid, descrito como uma “prisão a céu aberto”.
No avião de regresso, foi questionado sobre todos os passos desse percurso. O mais importante era a questão da situação do povo rohingya. Uma jornalista perguntou-lhe o que tinha sentido no encontro com esses exilados no Bangladesh.
Resposta do Papa: “Aquilo não estava programado assim. [...] Depois de muitos contactos, inclusive com o governo, com a Cáritas, o governo permitiu a viagem destes que vieram ontem. [...] Aquilo que o Bangladesh faz por eles é estupendo, é um exemplo de acolhimento. Um país pequeno, pobre, que recebeu 700 mil refugiados...”
“Vinham cheios de medo, não sabiam que fazer. Alguém lhes dissera: ‘Cumprimentais o Papa, não dizeis nada.’ [...] Chegou o momento de eles virem cumprimentar-me. Em fila indiana: já não gostei disto, um atrás do outro. O pior é que, imediatamente, queriam expulsá-los do palco. Nesse momento, irritei-me e levantei um pouco a voz — sou pecador — e repeti muitas vezes a palavra ‘respeito’, respeito! Fiz parar a evacuação e eles ficaram lá. Em seguida, depois de os ouvir um a um com a ajuda do intérprete que falava a língua deles, comecei a sentir algo dentro de mim: ‘Não posso deixá-los ir embora, sem dizer uma palavra’; e pedi o microfone. E comecei a falar... Não me lembro do que disse. Sei que, a dada altura, pedi perdão. Penso que duas vezes, não me lembro.”
“Entretanto, a sua pergunta é: ‘Que senti.’ Naquele momento, eu chorava. Fazia de modo que não se visse. Eles choravam também. Depois pensei que estávamos num encontro inter-religioso, mas os líderes das outras tradições religiosas estavam distantes. [Então disse:] ‘Vinde também vós; estes rohingya são de todos nós.’ E eles cumprimentaram. Eu não sabia o que dizer mais, porque fixava-os, cumprimentava-os... Veio-me este pensamento: ‘Todos nós, líderes religiosos, já falámos. Peço a um de vós que faça uma oração, um do vosso grupo.’ Penso que foi um imã, um ‘clérigo’ da sua religião, que fez aquela oração e eles também rezaram ali connosco. Ao ver todo o caminho percorrido, senti que a mensagem tinha chegado. Não sei se respondi à sua pergunta. Uma parte estava programada, mas a maior parte saiu espontaneamente.”

3. O Papa Francisco chorou com aqueles exilados. Por desgraça, ensinaram a Donald Trump a oração de S. Francisco ao contrário: onde houver paz, que eu leve a guerra; onde houver amor, que eu leve o ódio; onde houver perdão, que eu leve a ofensa; onde houver a união, que eu leve a discórdia; onde houver a verdade, que eu leve o erro, a mentira; onde houver esperança, que eu leve o desespero; onde houver alegria, que eu leve a tristeza; onde houver luz, que eu leve as trevas.
D. Trump parece ter uma paixão especial pelo caos. Sem a promoção da desordem mundial, sem fazer sofrer, sem fazer chorar, não sabe o que fazer como Presidente dos EUA, um cego guia de muitos cegos.
Não vale a pena diabolizar este senhor da guerra e do comércio das armas. É preferível que todos os cristãos, fundamentalistas ou não, o saibam ajudar a descobrir a verdadeira oração de S. Francisco: onde houver guerra, que eu leve a paz. É muito melhor para todos!
Bom Ano!

Frei Bento Domingues no PÚBLICO

MENSAGEM DO PAPA PARA O DIA MUNDIAL DA PAZ


No primeiro dia do ano de 2018, celebra-se o 51.º Dia Mundial da Paz. O Papa Francisco, atento, como sempre, ao mundo sofredor, dedica a sua mensagem aos “Migrantes e refugiados: homens e mulheres em busca de paz”. E a abrir, formula votos de paz a todos as pessoas e a todas as nações da terra, lembrando que a paz, que os anjos anunciam aos pastores na noite de Natal, é «uma aspiração profunda de todas as pessoas e de todos os povos, sobretudo de quantos padecem mais duramente pela sua falta», e dentre estes, que traz presente nos seus pensamentos e na sua oração, quis «recordar de novo os mais de 250 milhões de migrantes no mundo, dos quais 22 milhões e meio são refugiados».
Atrevo-me a dizer que a leitura da Mensagem do Papa para o Dia Mundial da Paz é obrigatória para todos os católicos e para todos os homens e mulheres de boa vontade, por imperativo de consciência. O Papa, a voz mais autorizada da Terra no presente, dirige-se a todos, em especial aos que pretendem viver e lutar pela paz no mundo, começando na família e estendendo-se depois às comunidades locais e aos círculos mais alargados, sobretudo aos palcos de guerras e violências e de políticas opressoras.

Ler mensagem aqui

Georgino Rocha - Em Jesus, Deus tem Mãe


Santa Maria, Mãe de Deus

Maria surge na liturgia do início do Ano com o título de Santa Mãe de Deus. Título que distingue a sua especial vocação e singular missão. Título que enaltece a humanidade que ela representa. Título que nos faz intuir e acolher que, em Jesus, Deus tem Mãe. Que alegria e encanto! Que apelo a rezarmos com grande devoção: Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós pecadores! Que conforto para o nosso esforçado peregrinar nos tempos de intempérie, como os actuais!
Lucas, o evangelista narrador (Lc2, 16-21), leva-nos à gruta de Belém e faz-nos ver uma cena maravilhosa: o encontro dos pastores com “Maria, José e o Menino”. A sobriedade da descrição realça a grandeza da mensagem. E a alusão à atitude de cada um dos intervenientes configura um quadro muito expressivo da maravilha/mistério ali visualizado. O Menino está deitado na manjedoura. Os pastores contam o que os anjos lhes haviam anunciado. Maria, em silêncio, ouvia e conservava em coração agradecido. José, recolhido a um canto, nem deixa perceber reacção, que será certamente de grande admiração. E todos se maravilhavam pelo acontecido. Os pastores mensageiros regressam à vida quotidiana, à pastorícia, exultantes por tudo o que tinham ouvido e visto, cantando o alcance da experiência vivenciada.
O Menino tem nome. Não é um ser indiferenciado, letra ou número. Nome indicado pelo anjo Gabriel, o mensageiro das boas notícias. Nome que é inscrito nos registos oficiais do Templo de Jerusalém por José e Maria, sua Mãe. Nome que sempre o acompanha e fica como memória perpétua na inscrição da cruz no Calvário, a mando de Pilatos. Com o nome que simboliza a sua vocação pessoalíssima de Salvador da humanidade, “Jesus é circundado, conhece o gesto que simboliza a sua pertença ao povo da aliança, a sua integração nas relações familiares e sociais”. (Manicardi Comentário à Liturgia Dominical e Festiva, p. 39).
Jesus pertence a Israel, o povo que é de Deus, a Maria e a José de quem recebe o carinho e a educação familiares, aos avós e vizinhos com quem convive e se socializa, ao Templo com a sua vasta rede de leis e ritos, de práticas e tradições. Jesus entra na realidade que envolve a vida e tece a sua moldura cultural, abrindo a “janela” do mundo, horizonte maior da sua missão salvadora. E nós a quem pertencemos? Pergunta crucial que reclama uma resposta pessoal e clara. Sempre!
“É preciso reconhecermos o mistério em que estamos envolvidos e pelo qual somos acolhidos; é preciso reconhecermos o mistério do outro; é preciso tornarmo-nos atentos à presença divina que nos visita através das presenças das criaturas. A pertença a Deus passa através de pertenças horizontais, familiares, comunitárias”. (Manicardi, p. 40). As relações com o outro e com a comunidade constituem um teste qualificado da nossa pertença a Deus e da nossa fé, que sai confirmada ou desmentida. Façamos a prova da autenticidade. Veremos que é desafiante.
O nome de Jesus significa “Deus salva”. A narrativa bíblica descreve os factos mais marcantes da história da salvação, que atinge a plenitude na vida e missão de Jesus de Nazaré, com os capítulos finais: o trágico pela morte que o elimina; e o da feliz ressurreição pela aceitação incondicional que Deus Pai lhe mostra na manhã da Páscoa gloriosa. “Se os pais exprimem o que desejam para os filhos, dando-lhes o nome, também Deus indica o seu desejo para toda a humanidade ao indicar a Maria o nome que havia escolhido para Jesus.
Deus salva entrando na condição de quem necessita de ser salvo e selando com ele uma relação de amizade envolvente. “Sem ti, Deus não te salvará”, afirma Santo Agostinho. De que precisamos de ser salvos? E o contexto em que vivemos, o nosso ambiente familiar e o mundo do entretenimento, de violências e guerras?
A paz emerge com toda a força como a maior necessidade de cada pessoa e de toda a humanidade. Maria, a Mãe de Jesus, o Príncipe da Paz, é invocada também como a Senhora da Paz.
Acompanhemos o Papa Francisco que envia à Igreja uma mensagem muito apelativa dedicada aos “Migrantes e refugiados: homens e mulheres em busca de paz”. Diz o Santo Padre: “Com espírito de misericórdia, abraçamos todos aqueles que fogem da guerra e da fome ou se veem constrangidos a deixar a própria terra por causa de discriminações, perseguições, pobreza e degradação ambiental.
Estamos cientes de que não basta abrir os nossos corações ao sofrimento dos outros. Há muito que fazer antes de os nossos irmãos e irmãs poderem voltar a viver em paz numa casa segura. Acolher o outro requer um compromisso concreto, uma corrente de apoios e beneficência, uma atenção vigilante e abrangente, a gestão responsável de novas situações complexas que às vezes se vêm juntar a outros problemas já existentes em grande número, bem como recursos que são sempre limitados. Praticando a virtude da prudência, os governantes saberão acolher, promover, proteger e integrar, estabelecendo medidas práticas, «nos limites consentidos pelo bem da própria comunidade retamente entendido, [para] lhes favorecer a integração».
O Papa Francisco e no seu seguimento muitos dos nossos Bispos insistem na necessidade de promovermos a cultura do encontro que tem o selo da fraternidade sem fronteiras e faz brilhar a chancela da dignidade inviolável da cada ser humano. E que Maria, a Senhora da Paz, nos dê a sua bênção de Mãe de Deus realizada em Jesus, o Salvador.

Georgino Rocha

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