Reflexão de Georgino Rocha
“Que o Deus da paz nos abençoe e venha em nossa ajuda. Que Maria, Mãe do Príncipe da paz e Mãe de todos os povos da terra, nos acompanhe e apoie, passo a passo, no caminho da reconciliação. E que toda a pessoa que vem a este mundo possa conhecer uma existência de paz e desenvolver plenamente a promessa de amor e vida que traz em si”.
Papa Francisco
A Igreja coloca o Novo Ano sob as bênçãos de Maria e destaca a sua maternidade divina como fundamento da sua especial relação com Jesus Cristo e da sua função cooperante no projecto de salvação. Também o Papa Francisco, seguindo uma tradição que vem de Paulo VI, dedica neste dia uma mensagem de Paz aos Responsáveis das Nações e a todos os homens de boa vontade. A nossa reflexão anda à-volta destes factos que procuramos meditar.
A invocação à Santa Mãe de Deus abre a segunda parte da Avé Maria, oração decorrente do diálogo do Anjo Gabriel com ela aquando da anunciação. Nasce e flui como resposta do povo cristão perante a contemplação das maravilhas enunciadas na primeira parte: Maria, a cheia de graça, convidada a alegrar-se, que fica surpreendida e preocupada com a mensagem recebida, que é escolhida para ser a Mãe de Jesus, o filho do Altíssimo, que quer saber o como de tudo isso que contrasta com a sua opção de noivado com José, que confia na verdade narrada, que se disponibiliza para ser a obediente serva e assumir tão grandioso projecto. Maria, a reconhecida por Isabel como a Mãe do Senhor, a bendita entre as mulheres que gera no seu ventre um fruto precioso, Jesus.
“Rogai por nós, Santa Mãe de Deus” reza, na Salve Rainha, a fé do povo cristão em súplica confiante ao sentir as aflições da vida e os males do mundo, ao fazer a experiência da fragilidade humana e das provocações adversas, ao dar largas às aspirações do coração que quer ser fiel à Palavra do Senhor e à Igreja que a proclama, e participar da sua missão na terra e gozar da sua recompensa no Céu.
Maria é Mãe de Deus por ser a Mãe de Jesus, seu filho carnal. No seu seio, Deus adquire forma humana, faz-se um de nós, humaniza-se. Faz-se célula germinal e vive as fases marcantes da concepção à idade adulta, da criança adolescente ao jovem amadurecido. Nada do que é genuinamente humano lhe é estranho. Até a experiência da morte, berço da vida nova, a feliz ressurreição. Querer encontrar Deus é procurar em Jesus a verdade do ser humano, o espírito filial, a relação fraterna, o cuidado solícito por toda a criação e pelo ambiente, nossa casa comum. Corremos o risco de dirigir o nosso olhar para onde Deus não está. Enquanto o tempo é tempo e a história tiver a marca da finitude, é na humanidade de cada pessoa e na relação de todas entre si que Ele se esconde para nos dar a alegria da surpresa do encontro amigo e da aliança de amor.
Maria é a garante da maravilha de Deus humanado. Nela, o encontro foi tão envolvente e fecundo que gerou, deu à luz e educou Jesus, o anunciado filho do Altíssimo e, depois, o ressuscitado para glória de Deus Pai. Nela, a aliança de amor é tão vinculante que dá um novo rumo ao noivado com José e constitui a família humana e legal de Jesus. É esta maravilha que a Igreja celebra em tempo de Natal e coloca como pórtico do Ano Novo que desponta como aurora promissora, como agenda aberta e limpa a preencher com abundantes gestos de amor em prol de cada pessoa e da humanidade. (Lc 2, 16-21).
Roga por nós, teus filhos, que por ti suspiramos em nossas necessidades, certos e confiantes de que sempre nos podes valer: na defesa da vida e da sua dignidade inviolável; no valor do amor conjugal e na riqueza da família, escola da mais qualificada sociabilidade humana e de iniciação ao despertar espiritual e à fé; na aspiração dos casais divorciados recasados que querem viver a sua relação na comunidade eclesial; na educação/instrução dos formadores da escola chamada a prestar um serviço público de qualidade; na responsabilidade profissional dos trabalhadores e empresários que cooperam para o bem comum e fazem do emprego um serviço estável e solidário; na conversão crescente dos cristãos, membros da Igreja e cidadãos do mundo; nas situações de aflição angustiante que se manifesta em tantas “feridas” e chagas sociais de abandono e pobreza.
Rogai por nós, Santa Mãe de Deus, e valei-nos nos esforços e acordos que somos chamados a fazer para a construção da paz, obra artesanal de todos os dias, suavizando tensões e acalmando conflitos, sanando feridas, promovendo a justiça e a solidariedade, educando as relações humanas e laborais, assumindo o compromisso da não-violência activa e alicerçando a firmeza das nossas convicções em Jesus Cristo, vosso filho, o príncipe da paz.
Fazei, Senhora, que se realize em nós e por nosso intermédio a súplica fervorosa do Papa Francisco na sua mensagem de Ano Novo: “Que o Deus da paz nos abençoe e venha em nossa ajuda. Que Maria, Mãe do Príncipe da paz e Mãe de todos os povos da terra, nos acompanhe e apoie, passo a passo, no caminho da reconciliação. E que toda a pessoa que vem a este mundo possa conhecer uma existência de paz e desenvolver plenamente a promessa de amor e vida que traz em si”.
Pe. Georgino Rocha