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sábado, 7 de agosto de 2021

O Cristo pensador

Crónica de Anselmo Borges 
no Diário de Notícias 


Karl Rahner, talvez o maior teólogo católico do século XX, deixou escapar um dia, numa aula, uma daquelas observações que nunca mais se esquecem: na Igreja católica, é obrigatório confessar os pecados graves e mortais, mas ele não estava a ver que algum bispo ou padre ou superior religioso, ministro ou professor católico se tenha alguma vez confessado do pecado grave e, frequentemente, mortal, da ignorância culpada, da incompetência fatal, da inteligência irresponsavelmente menorizada.
Em geral, nas igrejas, faz-se pouco apelo à razão, à reflexão crítica, à pergunta. Como se a fé não tivesse de conviver com a inteligência, com a dúvida e com a pergunta. Os cristãos - mas isso acontece em todas as religiões - parece que ficam tolhidos na sua capacidade de perguntar. No entanto, Jesus morreu a rezar esta pergunta infinita que atravessa os séculos: "Meu Deus, meu Deus, porque é que me abandonaste?", e o filósofo Martin Heidegger, um dos maiores do século XX, escreveu que "a pergunta é a piedade do pensamento".
Na catequese e nas pregações da Igreja, parte-se, desgraçadamente, de um Cristo definido dogmaticamente e concebido à maneira de um robô, que chegou a este mundo já pré-programado e que não fez senão cumprir esse programa. Por isso, não precisou de pensar, não teve hesitações, não passou por tentações, não teve de decidir ele mesmo o que devia fazer para realizar a vontade de Deus, a quem chamava com ternura Abbá, querido Papá.