quarta-feira, 11 de abril de 2018

Bacalhau de cura tradicional

Seca antiga do bacalhau

Soube, há dias, que a ASAE (Autoridade de Segurança Alimentar e Económica) apreendeu bacalhau na Gafanha da Nazaré que estava a secar, ao sol e vento, segundo a tradição de há séculos. Ao que julgo saber, aquela autoridade, que garante a qualidade do que se consome em Portugal, para bem de nós todos, agiu em conformidade com as leis comunitárias.
Antes de mais, confesso que aprecio e respeito a intervenção da ASAE que age em nossa defesa. Mas há casos e casos.
Em Portugal, para só falar daquilo que sei de concreto, come-se bacalhau seco ao sol e vento há séculos, e, que se saiba, nunca morreu ninguém por isso. Fundamentalmente, porque o bacalhau de cura tradicional, antes de ir para a panela, tem de passar por várias águas para perder o sal. É o processo da demolha que, para além de reduzir, significativamente, o teor do sal, também elimina impurezas deixadas pelo vento.
Ora, se os produtos que comemos não podem estar expostos ao sol, como não proíbe a ASAE as couves e outros legumes, bem como ervas aromáticas e frutas? É óbvio que não proíbe, porque é de bom senso admitir que todos os produtos são bem lavados, em várias águas, antes de serem consumidos.
O que me parece é que os nossos políticos e demais especialistas envolvidos nas negociações nas comissões da UE não souberam defender, neste caso, os nossos interesses. Não será de repensar o caso? O bacalhau de cura tradicional não será mesmo o mais saboroso?

Fernando Martins

NOTA: Depois dos comentários que o meu escrito suscitou, importa esclarecer:
1. A ASAE tem a obrigação e o direito de zelar pela nossa saúde; Mal de nós se assim não fosse;
2. Sei que a secagem do bacalhau em estufa,  iniciada, ao que sei, no país, na EPA (Empresa de Pesca de Aveiro), há décadas, nasceu por razões económicas. Em estufa, a secagem era mais rápida e em maior quantidade,  e,  porventura,  mais económica, por necessitar de menos mão de obra;
3. O que eu defendo é o direito de uma empresa poder produzir, se assim o entender, bacalhau seco de cura tradicional.

19h45, deste mesmo dia.

4 comentários:

  1. AIRES GOURMET, AIRES SELVAGEM12/04/2018, 09:43:00

    ola -antes de mais gostei muito do artigo desde já agradeço ao autor .
    estou-vos a escrever precisamente do lugar da EPA . precisamente np lugar em que estas belas fotos foram tiradas . a seca natural ainda se mantêm quase igual as fotos.
    durante dècadas a seca natural tem sido feita . o ano passado a GNR (unidade control costeiro ) fez-nos uma visita durante vários dias e apreendeu aqui e a outro colega varias toneladas de bacalhau alegando precisamente o que o autor expôs . depois de varias analises feitas com o aparato das autoridades devido que o caso impõe . autos ,coimas, selagem de frigorificos. passados 30 dias as analises nada deram de anomalias ou qualquer contaminação, foi entregue o referido ao seu dono . para mim que secava a maior parte ao sol por questão de economia e qualidade devido a que os custos de energia são muito elevados (o que não era no passado ) leva-me a concluir que não tem nada a ver com prevenção mas sim com Lobies da energia e a procura de coimas. deduzo que até pode ser muito mais complexo do que na realidade mostra. hoje temos que encontrar formas de dar pleno emprego . claro que tenho que cumprir e com rigor esta lei absurda ( que estão todos contra)
    claro que hoje seria impenssável secar todo o bacalhau que Portugal consome
    (a maior parte já vem seco da origem ) Noruega o nosso grande amigo e inimigo. nem já temos fabricas onde o nosso querido Fiel Amigo pode ser feito como antigamente e segundo as nossas tradições. podia falar muito mas o meu tempo è precioso,
    por vezes culpamos a ASAE em tudo mas esta entidade não teve nada a ver com este problema .
    estamos a perder a nossa identidade , só para vos dar um exemplo.
    importamos bacalhau congelado temos que pagar ou garantir uma taxa aduaneira de 15% o que custa mais barato e dá emprego a muita gente direto e indireto , mas se os grandes grupos importarem o bacalhau jà seco não paga qualquer taxa aduaneira nem necessita de fazer mapas complexos a quem ou o que fez ao bacalhau. uma imposição feita aos industriais do bacalhau do passado. a nossa industria tem definhado e passa graves problemas financeiros algumas que restam . qualquer coisa não está bem . assim como não está bem a secagem tradicional .

    ResponderEliminar
  2. Sempre a ASAE é que é culpada ! Sempre a polícia é que tem culpa quando, afinal apenas está a cumprir o seu dever, que é o de garantir o império da Lei.
    Não é a ASAE que faz as leis. Se não gostamos das leis porque não vamos reclamar junto de quem as faz, os deputados ?
    Preferimos ficar caladinhos, como medo dos poderosos da política, mas reclamando dos mais fracos, que apenas fazem o seu trabalho. Ainda por cima, votamos sempre nos mesmos há 40 anos.
    COnclusão: merecemos estas leis e o país que temos.

    ResponderEliminar
  3. Completamente de acordo! fazem-se leis só para justificar o tacho de tanta gente, ou, para defender o interesse dos poderosos e a pedido destes.

    ResponderEliminar
  4. O comentário do Prof. Fernando Martins é muito válido e eu subscrevo-o.
    Todavia, a artilharia deverá ser apontada para os tecnocratas de Lisboa. A ASAE, como muitos outros, limita-se a cumprir a lei de um país que, precisamente, não tem lei sã e é uma verdadeira vergonha.
    Por essa razão e como protesto não voto a 56 anos.

    ResponderEliminar