sábado, 5 de abril de 2008

BICENTENÁRIO DA ABERTURA DA BARRA DE AVEIRO - 5


Painel Cerâmico de Zé Augusto enriquece Meia-Laranja

Um painel cerâmico, da autoria do artista aveirense Zé Augusto, enriqueceu as celebrações do Bicentenário da Abertura da Barra. Sinal de bom gosto, é verdade, mas também de valorização do nosso património cultural. A arte, quando exposta aos olhos de quem passa, projecta sempre um valor acrescentado. O molhe da Meia-Laranja, como é conhecido o molhe Central, não passa agora despercebido a quem vai dar uma olhada ao mar. O trabalho de Zé Augusto, que traduz uma sensibilidade muito grande e que é bem conhecida, ali ficará a assinalar, de forma indelével, as comemorações do Bicentenário da Abertura da Barra.
NOTA: Foto oferecida pelo Portal do Porto de Aveiro

ANTIGOS ALUNOS DA EICA EM CONFRATERNIZAÇÃO

Conversas à mesa

Luís Quaresma apresenta o livro

Dinis Vizinho trabalha com a sua digital

Recordar é viver...

Hoje foi dia de confraternização. Antigos alunos da EICA (Escola Industrial e Comercial de Aveiro) reuniram-se num almoço-convívio para recordar tempos de juventude vividos em comum, nos bancos da escola, nos recreios, em passeatas pela cidade, no parque, em jogos de futebol e outros, em matraquilhadas no Guilherme. Mas também em encontros de estudo, de conversas sem fim, de namoricos, de brincadeiras e de irreverências próprias da idade e de jovens sem complexos, e penso que sem problemas de maior. Se os havia, e decerto houve, eram murmurados entre amigos mais íntimos.
De ano para ano, vamos sentindo que a vida, seguindo a caminhada inevitável da finitude, nos marca com a ausência de quem apenas pode estar presente na nossa memória. Por isso, foi tocante para todos a recordação dos que partiram, ouvida num minuto de silêncio comovente. No último ano, deixaram, hoje, as cadeiras vazias o Elmano Piedade e o José Carlos Madail.
Cabelos brancos e carecas luzidias, peles enrugadas e barrigas proeminentes, de tudo houve no convívio deste sábado. Mas o que sobressaiu foi, sem dúvida, o prazer do encontro, a alegria do abraço, a gargalhada da história recordada, a certeza de que a amizade, entre gente sã e amiga, é valor a cultivar e a enriquecer, em jeito de quem gosta de atirar à terra as sementes do bem e da fraternidade.
Que importa, nestes casos, a comida, se o fundamental é rever os amigos, cujas fisionomias, apenas, em alguns casos, permanecem na nossa memória, obrigando-nos a perguntar, ciciando, ao vizinho do lado: Quem é aquele do bigode branco? E o da camisola verde? E o que vem no carro preto? E o de óculos escuros? E o de…
Este ano, o Luís Quaresma aventurou-se a publicar um livro – Memórias da EICA e não só… – com notas sobre colegas e de colegas que foi possível contactar. Um esforço que todos compreenderam e aplaudiram. E que vale a pena repetir, para se não perderem outras vivências de tempos que já lá vão, mas que urge tornar presentes. Diz o Luís, no texto de abertura: “Pena que nem todos tenham colaborado, porque eu sei que há montes de cenas engraçadas, prontas a saírem das vossas cabeças, mas por vergonha ou por preguiça, nunca as passaram ao papel. E é pena, porque os nossos filhos e netos, e até alguns amigos mais íntimos a quem fosse dado ler essas cenas, iriam sorrir e compreender a vida de estudantes dos anos 50 do século passado, tempo em que não havia televisões, nem Play Stations ou telemóveis, muito menos automóveis. Alguns felizardos (muito poucos, diga-se de passagem) lá conseguiam ter uma bicicleta.”

Deste meu recanto, onde cultivo gratas e infindáveis memórias, abraço todos os colegas que ao longo da vida comigo se cruzaram e tanto me contagiaram com amizades que não se perdem no tempo.

Fernando Martins



BICENTENÁRIO DA ABERTURA DA BARRA DE AVEIRO - 4

Mário Lino, Ana Paula Vitorino, Ribau Esteves e José Luís Cacho


Na sessão solene comemorativa do Bicentenário da Abertura da Barra, 3 de Abril, reservada a autoridades civis, políticas e religiosas, mais convidados, que teve lugar à sombra do Farol e com mar e barra à vista, o ministro Mário Lino referiu que a Barra de Aveiro é o “espelho do dinamismo regional”. E tendo em conta a sua importância, no contexto regional e nacional, garantiu o “lançamento das obras imprescindíveis para a melhoria das acessibilidades marítimas e essenciais para o aumento da competitividade do porto de Aveiro".
Adiantou que “cerca de um milhão de metros cúbicos de areias, resultante das dragagens, será empregue no reforço do cordão dunar, a Sul, nas praias da Costa Nova e da Vagueira", tendo realçado os investimentos de que o Porto de Aveiro está a ser alvo, nomeadamente a construção de novos terminais, a via de cintura portuária e a ligação ferroviária, "que estava bloqueada há mais de 20 anos".
Por sua vez, Ribau Esteves, presidente da Câmara Municipal de Ílhavo, em cujo território se situa a área portuária, nas suas mais variadas vertentes, “cantou” um hino à vida com qualidade, que todos almejamos, sem esquecer quantos, ao longo do tempo, deram corpo à abertura da barra e a tornaram um pólo de desenvolvimento local, regional e nacional.
Lembrou, entretanto, que o Porto de Aveiro é o mais completo do País, pois oferece todas as variantes, desde a pesca artesanal e costeira até à longínqua, passando pelos portos comercial e industrial.
Ribau Esteves aproveitou a oportunidade para salientar a importância da Marina da Barra, “que precisa de ser desencalhada”, recado que deixou ao Ministro. Considera esse empreendimento uma mais-valia que a todos beneficiará, enquanto frisou, como fundamental para o progresso da região, uma gestão integrada da Ria de Aveiro.
José Luís Cacho, presidente do Conselho de Administração da APA, enalteceu o trabalho dos funcionários e demais colaboradores do Porto de Aveiro, frisando que todos nos sentimos felizes por continuarmos a ter, no seio da sociedade civil aveirense, “novos Luís Gomes de Carvalho”. São eles, acrescentou, “todos os empresários que, a seu modo, com o seu saber, o seu arrojo e a sua vontade de vencer, vão abrindo novas barras, dragando vontades empreendedoras até cotas arrojadas, rebocando os navios-almirantes da burocracia até aos cais da eficácia”.

FM

A NOSSA GENTE: SARA REIS DA SILVA

Sara Reis da Silva


Neste mês de Abril, em que se assinala o Dia Mundial do Livro e do Direito de Autor e em que a Câmara Municipal de Ílhavo irá proceder à entrega dos prémios do Concurso Literário Jovem 2008, dedicamos a rubrica da “Nossa Gente” a uma jovem professora e escritora da nossa Terra: Sara Reis da Silva.
Nascida em 1972, na Gafanha da Nazaré, Sara Silva cedo demonstrou especial gosto pelos livros, dedicando grande parte do seu tempo à leitura e à escrita por considerar que “é no convívio continuado com os livros que podemos ser mais abertos ao outro e mais sensíveis ao belo”.
Licenciada em Ensino de Português e Inglês (1995) e Mestre em Estudos Portugueses (1999), pela Universidade de Aveiro, Sara Silva é assistente na Universidade do Minho (Instituto de Estudos da Criança), desenvolvendo a sua docência e a sua investigação na área da literatura infantil e juvenil. É membro da APPLIJ (Associação Portuguesa de Promoção do Livro Infantil e Juvenil – Secção Portuguesa do IBBY (International Board on Books for Young People) – e da ELOS – Associação Galego Portuguesa de Investigação em Literatura Infantil e Juvenil. É investigadora do projecto “Literatura Infantil e Educação para a Literacia” do Centro de Investigação em Literacia e Bem-Estar da Criança (LIBEC – Universidade do Minho) e da Rede Temática Ibérica de Investigação em Literatura Infantil e Juvenil (LIJMI) (Universidade de Santiago de Compostela).
Sara Silva tem dinamizado várias acções de formação, bem como apresentado comunicações e conferências em encontros científicos nacionais e internacionais, assinando igualmente a rubrica literária do jornal O Ilhavense e interpretando literatura portuguesa na Rádio Terra Nova. É colaboradora do suplemento “Das Artes e das Letras” do jornal “O Primeiro de Janeiro”, nomeadamente da secção “O Sonho no Armário”.
Autora dos livros “Dez Réis de Gente… e de Livros: Notas sobre Literatura Infantil” (2005) e “A Identidade Ibérica em Miguel Torga” (2002), Sara Silva colabora na Revista “Malasartes – Cadernos de Literatura para a Infância e Juventude” e é membro do projecto Gulbenkian/Casa da Leitura, estando actualmente a preparar a sua dissertação de doutoramento acerca da Literatura Portuguesa para a Infância, designadamente da obra de Manuel António Pina.
A Câmara Municipal de Ílhavo tem contado com a preciosa colaboração de Sara Silva como membro do júri do Concurso Literário Jovem desde o seu início, realizando, no dia 23 de Abril do corrente ano, a entrega dos prémios da sua 7ª edição.
Fonte: Agenda "Viver em...", da CMI
NOTA: Permitam-me os meus leitores que aproveite esta oportunidade para sublinhar a admiração que tenho pela Sara Reis da Silva, a Sarinha que conheço desde sempre. A Sarinha é um exemplo para tantos jovens e até para adultos que vivem para futilidades e para projectos sem sentido. Desde tenra idade que olhou para os livros como peças fundamentais da sua formação, elevando-os aos lugares cimeiros da investigação e da divulgação. Não é por acaso, pois, que está a preparar-se para o doutoramento em Literatura Portuguesa para a Infância, dela se esperando que dinamize, de forma entusiasta, acções concretas que levem os nossos jovens e crianças a alimentar o gosto pelos livros e pela leitura. Os meus parabéns para a Sarinha, pela distinção merecida que a CMI lhe atribuiu.
FM

DO TRANSCENDER AO TRANSCENDENTE

"Ai de mim que sou um homem desgraçado, pois faço o mal que não quero e deixo de fazer o bem que quero!"
S. Paulo
O Homem tem uma constituição paradoxal. Por vezes, constatamos que fizemos aquilo de que nos espantamos negativamente, erguendo, perplexos, a pergunta: como foi possível eu ter feito isso? - aí, não era eu. Há, pois, o "isso" em nós sem nós, de tal modo que fazemos a experiência do infra ou extra-pessoal em nós. Talvez fosse a isso que São Paulo se referia quando escreveu: "Ai de mim que sou um homem desgraçado, pois faço o mal que não quero e deixo de fazer o bem que quero!" Por outro lado, damos connosco como sendo mais do que o que somos: ainda não somos o que queremos e havemos de ser. Ainda não sou o que serei. Uma das raízes da pergunta pelo Homem deriva precisamente desta experiência: eu sou eu, portanto, idêntico a mim, mas não completamente idêntico, porque ainda não sou totalmente eu. Então, o que sou?, o que somos?, o que é o Homem? O Homem não se contenta com o dado. Quer mais, ser mais, numa abertura sem fim. Exprimindo esta abertura ilimitada, há uma série de expressões famosas: citius, altius, fortius (mais rápido, mais alto, mais forte), que é o lema olímpico; o Homem é bestia cupidissima rerum novarum (animal ansiosíssimo por coisas novas), dizia Santo Agostinho; Max Scheler definiu-o como "o eterno Fausto", e Nietzsche, como "o único animal que pode prometer"; Unamuno escreveu: "Mais, mais e cada vez mais; quero ser eu e, sem deixar de sê-lo, ser também os outros." Mesmo na morte, o Homem não está acabado, pois é o animal do transcendimento e sempre inconcluído. Precisamente a inconclusão mostra que a sua temporalidade e o seu ser têm uma estrutura essencialmente aberta. O Homem não pode não transcender. Mas, como escreveu Leonardo Boff, há o bom e o mau transcender. Exemplos do mau transcender e má transcendência são a droga, o álcool em excesso, a religião enquanto superstição alienante. A vida é exaltante, mas também é terrível - traz, por vezes, dificuldades e opções que exigem algo de heróico. E há quem não aguenta. E foge-se, alienado, para a droga, por exemplo, e "viaja-se". Mas, quando se regressa da "viagem", os problemas estão lá todos, com uma agravante: há menos força para enfrentá-los e superá-los, na alegria de crescer e transcender. No bom transcender - no amor, na produção, na investigação, na obra de arte, na contemplação da beleza, na generosidade frente à vida, na religião criadora --, o horizonte alarga-se, há mais vida partilhada, humanidade livre, justa e feliz, criação do novo, esperança que toca o Além. Qual é o termo da força do transcendimento humano? Por outra palavras: qual é o sentido último da existência? Há quem pense que a vida não tem sentido. O Homem transcende sem Transcendência. É conhecida a imagem apresentada por Sartre: o burro esfomeado que puxa uma carroça com uma cenoura à frente -- desfaz-se numa corrida sem termo e sem sentido, porque nunca a alcança. Alguns - os agnósticos - dirão que os seres humanos não têm razões suficientes para poderem decidir-se. Para outros, o Homem e a realidade transcendem, em última análise, para um Transcendente neutro e impessoal: uma sociedade finalmente justa, livre, sem exploração, em plena transparência - pense-se no ideal da sociedade comunista - ou a Natureza, não enquanto naturada, mas naturante, aquela Força originária e criadora que superará todas as contradições. Mas, nesta resposta, fala-se de espiritualidade e transcendência anónima, que não permite a salvação do Homem concreto e pessoal. Os seres humanos acabam por ser reduzidos a momentos da Totalidade impessoal. Nem os crentes podem demonstrar que Deus existe nem os não crentes que não existe. Deus transcende a razão científica objectivante. Como diz Jean d'Ormesson, os crentes não estão em condições de "garantir que Deus existe, a única possibilidade é esperar que isso aconteça." Mas, precisamente na entrega confiada ao Deus criador, transcendente e pessoal, mostra-se a razoabilidade do acto de crer, porque então tudo alcança mais luz e sentido final.
Anselmo Borges

Dulce Pontes no Centro Cultural de Ílhavo




Participei ontem à noite no espectáculo inaugural do Centro Cultural de Ílhavo, com Dulce Pontes numa actuação em que mostrou “O coração tem três portas”. A cantora e compositora, bem acompanhada por sete músicos, sentiu que em Ílhavo tem muitos admiradores. A sala de espectáculos do Centro Cultural de Ílhavo, inaugurado recentemente, esteve cheio e, tanto quanto sei, foram muitos os que não tiveram lugar no auditório que tem capacidade para 500 pessoas.
Dulce Pontes, que foi legitimamente apresentada como artista de referência nacional e com larga aceitação internacional, mostrou que sabe cativar o público, ora apresentando canções mais elaborados, ora mais populares. Todas elas, diga-se de passagem, com arranjos musicais bem à altura da sua voz, capaz de chegar onde a artista quer, tal é a sua amplitude e potência.
Gostei de voltar a ouvir, com toda a dimensão e sensibilidade que Dulce Pontes soube imprimir-lhes, belas melodias de Zeca Afonso, que, pelo mérito do seu criador, ocupam já um lugar de relevo entre os mais expressivos clássicos da música portuguesa, com nível para chegar fora de portas, se houver artistas, como há, com vontade e ousadia para lhes emprestarem os seus talentos. Dulce Pontes está a fazê-lo, tal como a nossa Jacinta o faz, ou não fosse ela uma cantora de jazz de referência, premiada recentemente ao nível Europeu.

FM

sexta-feira, 4 de abril de 2008

BICENTENÁRIO DA ABERTURA DA BARRA DE AVEIRO - 3

A RTP transmitiu, ontem, uma reportagem sobre as comemorações da abertura da Barra de Aveiro, ocorrida em 3 de Abril de 1808.

BISPOS PORTUGUESES DIRIGEM-SE AOS ALUNOS, PAIS E PROFESSORES


Aos alunos, os Bispos querem sublinhar quão importante é o seu esforço e dedicação ao estudo, num tempo de profundas mutações e incertezas, que requer das novas gerações sólidos conhecimentos de base, busca do sentido da vida, ambiente de disciplina, espírito crítico e criativo e activa participação cívica;
Aos pais, querem manifestar apreço pelo amor com que se dedicam à educação dos seus filhos, que hoje requer um acompanhamento mais próximo num contexto em que sobejam problemas e dilemas e faltam formação adequada e partilha de soluções;
Quanto aos professores, reconhecendo a complexidade crescente em que exercem a sua missão e a sua autoridade profissional, os Bispos desejam partilhar uma palavra de estímulo e de confiança, cientes do quanto já se faz bem feito e com bons resultados, tanto em escolas estatais como em escolas particulares. A concepção de educação acima enunciada requer dos professores um empenho redobrado na vocação que são chamados a desempenhar com rigor e qualidade, vocação esta que deve ser reconhecida e incentivada por toda a sociedade. Só num clima de confiança e de exigência mútuas e de esperança é possível melhorar a educação.

Fonte: Ecclesia

BICENTENÁRIO DA ABERTURA DA BARRA DE AVEIRO – 2

Ana Paula Vitorino e Inês Amorim



Um livro de Inês Amorim

“PORTO DE AVEIRO: Entre a Terra e o Mar”

O primeiro acto das cerimónias comemorativas do Bicentenário da Abertura da Barra de Aveiro decorreu na antiga Capitania, em Aveiro, com o lançamento do livro de Inês Amorim, “PORTO DE AVEIRO: Entre a Terra e o Mar”. Trata-se de uma obra de luxo, pelo conteúdo e pela edição, que terá de fazer parte de qualquer estante de quantos prezam a nossa cultura, a nossa terra e as nossas gentes. Veloso Gomes, professor universitário, disse na apresentação, entre muitas outras considerações técnicas e científicas, que esta obra “é um bom livro para nos afastar das preocupações do dia-a-dia”. Mostra-nos um património riquíssimo e estimula o interesse por estes temas, sublinhou.
Recordou, com evidente oportunidade, a ideia de Luís Gomes de Carvalho (o homem e o técnico que mais contribuiu para concretizar o sonho de abrir uma barra que lavasse a nossa laguna, ao tempo, e durante muito tempo, cheia de águas podres) de que era “preciso construir um dique à moda da Europa". Já então se sonhava com o projecto de pertencermos, de direito e de cultura, de técnica e de progresso, à Europa.
A secretária de Estado dos Transportes, Ana Paula Vitorino, depois de recordar que Aveiro, Ílhavo e Gafanhas ganharam "uma fantástica Ria em sorte”, e “homens com vontade indómita a abraçar o Mar vizinho”, lembrou uma frase que ouviu – O Porto de Aveiro é fruto desse abraço entre o Sal e o Mel –, “em que o Sal simbolizará, aqui, a panóplia de entraves com que se depararam (…), e “O Mel significará enxugamento de maleitas, bem-estar, progresso, qualidade de vida…”
Ainda não li, como é compreensível, este livro de Inês Amorim, a autora que todos elogiaram pelo trabalho desenvolvido, com cuidado e rigor científico. Dele falarei, obrigatoriamente, quando bem mastigar e deglutir este trabalho que nos mostra, assim creio, os desafios que se puseram a quantos, há dois séculos e até antes, sentiram a necessidade de abrir uma barra, que desse vida de qualidade garantida, de uma vez por todas, à laguna aveirense, deixando entrar e sair navios, numa contribuição indesmentível para o progresso destas terras de Aveiro, Ílhavo e Gafanhas, sobretudo.

Fernando Martins

BICENTENÁRIO DA ABERTURA DA BARRA DE AVEIRO - 1

Antiga Capitania: Aqui se iniciaram as celebrações do dia 3 de Abril

O dia de ontem foi de muitas emoções. O ter participado nas cerimónias oficiais do BICENTENÁRIO DA ABERTURA DA BARRA DE AVEIRO, ouvindo especialistas na matéria, o administrador da APA (Administração do Porto de Aveiro), autarcas e membros do Governo, mas vendo e convivendo, também, com amigos, ligados, de alguma forma, às coisas do mar e da ria, despertaram em mim muitas emoções. No fundo, saí das comemorações, dignamente vividas por toda a gente, penso eu, cansado, mas reconfortado pelo prazer do que vi, ouvi e senti.
Para não postar aqui um texto demasiado pesado, pelo número de caracteres e pelas diversas referências sempre importantes, tenciono, durante o dia e provavelmente ao longo de vários dias, repartir, por textos mais curtos, o que me ocorrer sobre esta efeméride, de incalculável importância para toda a região e para o País. Espero, naturalmente, que venham achegas dos meus leitores. Se vierem, como espero, serão preciosos contributos para o conhecimento que todos buscamos.

Fernando Matins

A PALAVRA E O TESTEMUNHO

Se é irrefutável que, no mundo contemporâneo, nunca se disseram tantas palavras – escritas ou não – como hoje, não é um dado adquirido, nem seguro, que no seu centro e atenção esteja a dignidade do homem, nem que estas, no geral, estejam para o servir a desenvolver-se e a crescer, integralmente, enquanto pessoa e cidadão.
Poderão alguns pensar que escrever na Comunicação Social, escrita ou falada, ou, como é o caso, num blogue, é um acto para alguns privilegiados ou apenas destinado a predestinados – uma espécie de sábios da pós-modernidade – que sabem, vá lá saber-se porquê, de tudo um pouco.
Confesso que sempre fui muito céptico relativamente às palavras, ditas ou escritas, pois elas próprias podem enganar, manipular, confundir ou induzir em erro não só quem as lê, mas, também, quem as redige ou profere.
Madre Teresa de Calcutá dizia que “todas as palavras são inúteis se não vierem do fundo do coração. As palavras que não dão luz aumentam a escuridão".
Também alguém, cujo nome, de momento, não me recordo, dizia que “a palavra tem que ser o espelho da alma: tal homem tal palavra".
E se isto de escrever ou não escrever, dizer ou não dizer já não fosse um assunto sério e delicado, vou verificando que há uma tendência para reduzir as realidades concretas e reais das pessoas a palavras (já agora, também a números) com roupagens conceptuais e intelectuais.
Se é bom, e necessário, que se fale e escreva sobre ecologia, religião, economia, abusos sexuais das crianças, sucesso ou insucesso escolar e de tudo aquilo a que ao homem, diz respeito, não deixa de ser perigoso que estes assuntos sejam transformados em conceitos intelectualizantes, só ao alcance de poucos, que, não sei porquê, põem-se logo a dar opiniões, sugestões, a teorizar, tantas vezes desligados das realidades de que falam.
Criam-se comissões, fazem-se assembleias, simpósios, pedem-se relatórios, chamam-se peritos, mas, na realidade, na vida real, os problemas continuam presentes, sem soluções à vista, e tudo se arrasta de gabinete em gabinete ou de assinatura em assinatura.
Enquanto cristão, se pudesse, gostava de perguntar a Cristo, porque é que Ele nunca escreveu durante a Sua missão na terra, excepto no episódio da mulher adúltera, em que escreveu, não se sabe o quê, com o dedo no chão (cf. Jo 8,1-11).
Mas, mesmo neste episódio evangélico, este gesto da escrita de Jesus está inserido num acto de libertação, neste caso de uma mulher adúltera, que os escribas e fariseus queriam delapidar, até à morte, de acordo com a Lei de Moisés.
Terá Jesus, neste seu gesto singular, querido dizer-nos que, para além das circunstâncias e das realidades do tempo e do espaço a palavra, neste caso a palavra escrita, deve, acima de tudo, ter uma acção libertadora?
Em verdade e em rigor, não sei qual a Sua intenção. Sei, contudo, que a “caneta” e o “papel” de Cristo foram o Seu testemunho. Um testemunho que, ía ao encontro da vida real e autêntica dos homens de todos os tempos e da sua salvação. Por isso, e por nós, ofereceu a Sua vida!
Recordo as palavras de Paulo VI, no ano de 1975: “O homem contemporâneo escuta com melhor vontade as testemunhas que os mestres, ou, então, se escuta os mestres, é porque eles são testemunhas” (cf. E.N. 41).
As palavras podem e devem ser pérolas valiosas, sempre que, quem as escreve ou as solta dos seus lábios, as souber fazer exemplo de vida para si próprio.
Agora que termino estas palavras de partilha, sinto que elas me inquietam e incomodam.

Vítor Amorim

Exposição no Museu Marítimo de Ílhavo

A propósito do texto que publiquei ontem sobre a exposição que vai ser inaugurada amanhã, sábado, pelas 17 horas, no Museu Marítimo de Ílhavo, recebi, do meu assíduo leitor João Marçal, o seguinte comentário, que está anexo à notícia que dei. Dada a sua importância, para aqui o transportei, na certeza de que vai ser mais lido, enriquecendo, sobremaneira, quem gosta destas coisas do mar, dos navios e da nossa gente.
FM
Esta agulha magnética pertenceu ao NTM "Creoula" e o seu destino era a sucata quando o navio foi remodelado para as actuais funções. Numa visita que fez ao estaleiro o Cap. Marques da Silva viu-a entre outras peças numa lixeira e aproximou-se como que para lhe dizer um último adeus, depois de algumas viagens em que esta o orientou no mar. Alguém o observou de longe e veio-lhe perguntar se a queria. Transportaram-lha para casa, ele recuperou-a e hoje é uma bonita peça de museu e capa do convite para a exposição dos seus trabalhos relacionados com o tema da vida que abraçou: a Pesca do Bacalhau.
JM

quinta-feira, 3 de abril de 2008

Na Linha Da Utopia


À Janela

1. O mundo corre depressa, demais, sem tempo para saborear os momentos, os instantes, os pormenores, ávida. É a nova lei da sobrevivência. A lógica da quantidade invade todos os terrenos que precisam respirar “sentido”, horizonte, para “ser” qualidade. Vivemos muito do tempo em “janelas” de comunicações informáticas, nas novas tecnologias que nos vão (tele)comandando. Um bem extraordinário, mas mais um desafio a saber conviver quanto baste com elas para haver tempo(s) de convivência com aqueles que são a razão de ser da vida, as pessoas... Para não nos deixarmos “afogar” nas “coisas” utilitárias, o autodomínio e a distância crítica serão, hoje, uma alavanca decisiva em ordem a preservar a humanidade da Humanidade.
2. Um dia destes, na nossa cidade, no momento em que o sinal vermelho obriga a parar, reparo num rosto de uma pessoa, de seus 70-80 anos que estava à janela de uma casa. O dia estava de um sol que brilhava, iluminando as ruas e as relações das pessoas. O rosto dessa pessoa idosa, que parecia estar em pé com muleta, era como quem, procurando fugir daquela solidão que “mata”, anseia por uma réstia de luminosidade que seja o sentir a vida da cidade. O semáforo passou a verde, tem de se acelerar, senão uma buzinadela faz assustar os transeuntes do passeio. Uma última olhadela nessa pessoa e, até sempre. Quantas janelas falam solidão pelo olhar de quem ela é o único fio de contacto com a cidade dos vivos! Quantas janelas, do lado de dentro, gritam um silêncio perturbador da inquietação do “não há tempo” para amar a vida dos que nos deram a vida?!...
3. O único remédio parece ser mesmo “remediar”. Os modelos de sociedade, de quando em quando com impulsos que cortam o resto de tempo para conviver, caminham na ordem do pragmatismo alucinante. Este, muitas vezes, dependendo do património de valores, é inimigo da “companhia”, da sensibilidade, do tempo para estarmos mais uns com os outros. Mas também, noutras circunstâncias, quando esse tempo sobra não existe um “coração” afável que saiba cuidar do essencial. Este é o tempo das opções com sentido de humanidade. Quanto mais ampararmos mais seremos amparados... Se não cuidarmos dessa árvores da vida, com afecto, amor e presença, também é essa janela que nos (des)espera. Tem de haver tempo…para que o sol de todos os dias possa entrar por essas janelas de um coração humano!

Alexandre Cruz

Exposição no Museu Marítimo de Ílhavo

No próximo sábado, 5 de Abril, pelas 17 horas, vai ter lugar, no Museu Marítimo de Ílhavo (MMI), a assinatura do protocolo de depósito da "Colecção Capitão A. Marques da Silva", que vai ficar exposta, temporariamente, naquele museu ilhavense. Na mesma altura será apresentado o respectivo catálogo.
Segundo o director do MMI, Álvaro Garrido, o depósito e exposição da colecção do Capitão A. Marques da Silva "acrescenta riqueza às memórias materiais da 'faina maior', visto que a maioria das peças permitem ao Museu novos e belos suportes de discurso para as memórias que pretende evocar".

Ponte da Barra quase pronta



Folgo em saber, pela Rádio Terra Nova, que as obras da Ponte da Barra deverão ficar concluídas no próximo dia 24 de Maio. Isto significa que, no Verão, que vem aí a correr, os moradores e veraneantes já não terão problemas no acesso às praias da Barra e Costa Nova. Há décadas que a ponte estava a necessitar de obras, que garantíssem a segurança de quem por ela passava. Era bem visível uma depressão na estrutura, que na altura denunciei. Depois garantiram-me que não havia perigo, mas sempre restava a dúvida de a ponte ruir, de um dia para o outro. Não conteceu, felizmente. Mas aconteceu na velha ponte de madeira, que ligava o Forte à praia da Barra, e na ponte, de cimento armado, que estabece a ligação da Gafanha da Nazaré a Aveiro.

FM

BARRA DE AVEIRO: DIA DE ANIVERSÁRIO




A Barra de Aveiro vive hoje um dia diferente. Dois séculos de vida não podem ficar esquecidos. Como já neste espaço referi, teremos um dia de festa, com um conjunto de iniciativas dignas de louvor. Sem pretender repetir o que já divulguei, permitam-me que sublinhe a edição e lançamento de um livro, "Porto de Aveiro: Entre a Terra e o Mar”, de Inês Amorim, que mostrará a génese e o desenvolvimento do Porto de Aveiro, ao longo destes dois séculos. No entanto, penso que todos, neste dia histórico, podemos e devemos homenagear a Barra de Aveiro, visitando-a e apreciando-a, como ela merece. Em jeito de agradecimento ao que ela representou, e representa, para toda a região. Contudo, os gafanhões, os que lhe estão mais próximos, têm acrescidas razões para olharem a sua Barra, chamada Barra de Aveiro.

quarta-feira, 2 de abril de 2008

OS FOLARES


Na Páscoa, ofereceram-me um folar caseiro. Digo caseiro porque foi feito em casa, ao natural, em forno de lenha, como é hábito entre nós. Toda a família gostou e até o elegeu como o melhor que se comeu à nossa mesa. Quando demos os parabéns a quem no-lo ofereceu, logo a ofertante adiantou que, este ano, se limitou a orientar as operações, já que a filha e a nora apostaram em aprender. Bom exemplo.
Face a este exemplo, e porque é importante manter as tradições, lembrei-me de sugerir, o que faço por esta forma, ao Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré, que promova, na próxima Páscoa, a confecção de folares, na Casa Gafanhoa, já que forno ela tem.
Se isso acontecer, lá estarei para recordar os folares que minha mãe fazia. Sempre me há-de calhar um!

FM

DIA INTERNACIONAL DO LIVRO INFANTIL

Celebra-se hoje o Dia Internacional do Livro Infantil. Mesmo sem tempo para reflectir sobre o tema, não quero deixar em branco este espaço, nem perder a oportunidade de dizer alguma coisa, por mais simples que seja. Para já, devo sublinhar que este Dia Internacional deve levar-nos a pensar nas crianças, que precisam de criar hábitos de leitura. Sem esse hábito, não teremos leitores no futuro, sendo certo que os livros ainda são uma extraordinária fonte de saberes e de prazeres.
Quando vejo tantas crianças e jovens dominados pela TV e pela Net, pondo de lado os livros, fico a pensar no futuro de quem está a crescer. Ensinados ou treinados na utilização da Internet, onde facilmente catam os conhecimentos de que necessitam, sem grande esforço nem reflexão, penso que não chegarão longe. Vida fácil nunca enriquece ninguém.
Há, pois, que cultivar nas crianças o gosto pelos livros, onde as histórias, os contos e a poesia têm outro sabor.

FM

PRONTO-A-VESTIR E DIVÓRCIO NA HORA


Em período nenhum da nossa história, pelo que sei, se praticaram tantos e tão grandes ataques e desconsiderações em relação à família, como no tempo presente. Ainda há muita gente entre nós a viver de um ódio inconsistente e doentio, que colou valores fundamentais a sistemas políticos transitórios. A trilogia Deus, Pátria e Família continua a ridicularizar-se, como reminiscência de uma realidade fascista a abater.
Sem qualquer discernimento crítico sobre o que poderia ter sido exagerado e redutor nos referidos sistemas e o que constituía preocupação por defender e promover realidades e valores a respeitar e fontes inspiradoras a defender para segurança e bem da vida pessoal e comunitária, abriu-se caminho ao “bulldozer” arrasador de tudo o que parece a alguns ser património nefasto de um passado recente, que se quer renegar, mas acerca do qual não se procurou aprofundar nem a sua história, nem o seu sentido.
O ódio e a incultura, pela cegueira que comportam, são sempre inimigos da sociedade.
Os novos corifeus do poder político, que dizem emanado de um povo que não ouvem nem respeitam, e os do poder intelectual, narcisistas, que pararam no século das luzes, dizem-se, na sua maioria, em relação a Deus, agnósticos, à Pátria, estrangeiros, à Família, indiferentes. Tomam posturas cegas ao dizerem que só lhes interessa quem concorda com eles, não se importam, perante interesses pessoais e ideológicos, de negar hoje o que afirmaram ontem, ou de se manifestarem, com manha e hipocrisia, de acordo com tudo e com todos, se deste modo esperam tirar maior proveito.
As ideologias esvaziaram-se, a palavra já não é de honra, o povo é o seu grupo de apoiantes, a verdade e os valores universais relativizaram-se, quem diverge é inimigo, quem apoia espera favores, quem pensa está fora da realidade, quem não pensa é promovido… A vida política entrou em descrédito, os arrivistas invadem a rua e não só a rua, o programa da terra queimada vai alastrando, multiplica-se o número dos dogmáticos entre os que sempre reagiram a dogmas, o projecto é de mais jogos e menos pão, renasce o ditado de que “com bolos se enganam os tolos”. Parece que o céu se foi fechando, o sol deixando de iluminar, aumentando o clamor do “salve-se quem puder”.
Instala-se, assim, um clima que fere de morte instituições básicas e mata o interesse das pessoas sérias em relação ao serviço público à comunidade.
A visão parece catastrófica. Porém, nunca a esperança se desvanece em quem acredita que a morte já foi para sempre vencida. Mais se trata de um grito que convida a acordar, a agir, a ler a realidade com os ventos perigosos que traz no seu seio, do que de um pregão de desgraça, que convida a desistir, fugir da convivência, ou mesmo a emigrar.
Uma situação cheia de consequências, que gera preocupação e suscita repulsa, está à vista na destruição programada da família. À revelia da Constituição, do bem senso e do respeito pelos outros, deixou de ser considerada fundamento da vida em sociedade e espaço indispensável da dignificação e humanização dos seus membros, mormente dos mais indefesos, sejam eles crianças ou idosos. Os legisladores, apoiados numa votação favorável, por demais garantida, voltaram-se para a presumível solução e satisfação de casos e interesses individuais, para o caso de muitos deles, os seus próprios interesses.
Haja em vista o que acontece em relação ao divórcio. A pretexto de uma solução possível, ainda que sempre manca, de alguns problemas graves que, infelizmente, não faltam, as leis que aí temos denunciam que a família é uma ilusão e um prejuízo, a que não vale a pena dar qualquer atenção. Até se beneficia com isso. Ante os devaneios de quem casou, sabe-se lá porquê, sem dar sentido de responsabilidade ao acto, põe-se-lhe ali à mão, ao lado do “pronto-a-vestir”, o “divórcio na hora”. Favor a quem não quer lutar e castigo a quem diz que família é coisa séria. Voltarei a este tema, que o pano dá. Mas, ao menos, temos um Portugal mais moderno e mais considerado fora de portas!...

António Marcelino

Na Linha Da Utopia


A revolução da r(el)acionalidade

1. Os tempos actuais servem a cada semana novas tecnologias de comunicação. Cresce a olhos vistos a oferta de consumíveis prodigiosos, que dão para falar, escrever, fotografar, filmar, enviar, comprar, aceder à internet… É a revolução digital em veloz andamento, todavia, a reclamar a correspondente fronteira de convivência e mesmo da privacidade. As diferenças e diversidades de pensamentos e vida vão-se aproximando, a um ritmo que precisa da “racionalidade” como farol de referência. Mas não chega uma racionalidade “fria”, técnica, instrumental, empírica. Seja uma racionalidade humana como capacidade de pensar crítica e criativamente sobre a vida, os outros, as coisas, a Verdade. Para esta “aventura” decisiva à edificação de um futuro comum no mundo actual a “inteligência emocional”, envolvente de toda a pessoa e aberta a todas as pessoas, será o guia para se chegar a esse bom porto.
2. Há muita inteligência, hoje tornada tecnologia, que, ampliando mil potencialidades de alcance e rapidez, todavia, vive “enferma” pois na sua aplicação real revela a incapacidade de aceder à raiz humana comunitária, e amplia mesmo as desigualdades. Muitas vezes, ao mesmo tempo que vemos crescer os instrumentos, é um facto, vemos diminuir as “presenças” nos (e dos) interesses solucionadores das preocupações do bem comum. Se a época é de nova “revolução científico-racional”, teremos de conjugar os factores em ordem a uma visão relacional de tudo. Esta apresentar-se-á hoje como eixo decisivo, mesmo em ordem ao entendimento dos povos.
3. Nesse pressuposto relacional abrangente, já as finalidades adquirem outro alcance. Não se tratará de uma “razão” qualquer, fechada sobre si mesma, em modelos marcadamente teóricos, “fora da história”. Como “seres em relação” que todos somos, a própria ordem dos conhecimentos e da inteligência reconvertem-se no ideal de serviço à humanidade concreta. À medida que o conhecimento do profundo das culturas vai chegando à luz do dia global, ergue-se com maior premência o desafio do acolhimento das diferenças que, não desrespeitando a “dignidade humana” (patamar de referência comum), haverão de ser apreciadas e integradas na sua diversidade.
4. Não chegam meramente as “respostas antigas”, pois os desafios da proximidade são novos. A globalização em exercício vive-se à descoberta, não traz consigo as fórmulas solucionadoras de todos os problemas. Não será uma questão de tecnologias; essa já atingiu patamares admiráveis ao pôr-nos em contacto uns com os ouros. Será uma questão de Humanidade. A assunção do diálogo intermulticultural (acima de um “refrão” mas como existência social) será uma das chaves de leitura inclusiva daquilo que será cada vez mais a hiperconfluência (por vezes desordenada) de informação. É por isso que uma cidadania activa na base dos direitos humanos pode ordenar criativamente o encontro de uma “razão” que é chamada à “relacionalidade”.

Alexandre Cruz

NÃO TENHAIS MEDO!


“Não tenhais medo” – foram estas as primeiras palavras que, no já longínquo dia 16 de Outubro de 1978, o Cardeal polaco Karol Wojtyla proferiu, da varanda central da Basílica de São Pedro, em Roma, logo que foi eleito, pelo Conclave Cardinalício, sucessor do Apóstolo Pedro, tomando, a partir daí, na a sua missão pontifícia, de quase 27 anos, o nome de João Paulo II.
No dia em que se celebra o terceiro aniversário da sua ida para a “casa do Pai”, pelas 20.37 horas, daquela noite, fria e húmida, do dia 2 de Abril de 2005, nos seus aposentos, no Vaticano, creio, firmemente, que a necessidade de deixar falar a memória de cada homem de boa vontade, e, em particular, a de cada cristão, se sobrepõe a tudo aquilo que já se disse e continuará a dizer desta personalidade invulgar, que tantas marcas deixou no mundo, do século XX, e que, segundo a vontade e os desígnios de Deus, continuará a fazer parte integrante da herança espiritual dos homens dos tempos vindouros.
”Não tenhais medo” – eis a frase chave de todo o seu pontificado, na medida em que ela contém, em si mesmo, a ideia estrutural de um programa de acção e uma fonte de inspiração para o seu múnus de Pastor.
Neste dia de saudade fraterna, de um homem justo e bom, o melhor tributo que se lhe pode prestar é o sermos capazes de transformar a sua memória passada em memória presente, actualizando-a e testemunhando-a, com a coragem e a determinação necessárias, para que, sem medos e preconceitos, o mundo acredite que o futuro só se constrói através da bondade e do amor dos homens que, amando, dão tudo de si aos outros, por amor a Cristo, até ao limite das suas forças e do seu sofrimento humano.
A memória dos homens bons jamais pode ser uma caixa de recordações, muito menos uma caixa fechada, que abrimos de tempos a tempos, como se de um ritual obrigatório e marcado pelas folhas do calendário se tratasse, para proveito e consolo pessoal, num certo dia ou momento.
É urgente que o mundo compreenda que a memória dos homens bons e justos é um poço de frescura e de sabedoria inesgotáveis, sempre disponível, sem privilegiados ou excluídos, capaz de apontar o futuro e abrir o coração ao compromisso evangélico com o nosso semelhante.
Recordo as palavras proferidas por João Paulo II, aquando da sua derradeira visita a Portugal, no dia 12 de Maio de 2000:
“Ao início da minha visita, exprimo a minha profunda estima e afecto a todos os portugueses, a quem desejo um futuro de paz, bem-estar e prosperidade, prosseguindo na senda das suas tradições e valores pátrios mais genuínos, que assentam no cristianismo. Que Deus vele sobre todos os filhos e filhas desta Terra de Santa Maria. Deus abençoe Portugal.”
Palavras de vida autêntica para todos e de desafio ao nosso futuro e à nossa coragem, enquanto povo e nação, que – como disse João Paulo II – deve ser fiel aos valores da paz, do bem estar e da prosperidade e um convite para não termos medo das rupturas, não entrarmos nos falsos consensos nem promovermos a mediocridade.
Celebrar João Paulo II é, sobretudo, saber encontrar nas suas palavras novos desafios, no seu exemplo a bússola para ir mais além, na sua memória a inspiração para a nossa vida.

Vítor Amorim

Um poema de Orlando Figueiredo


O meu coração
é um coração de menino
Nele cabem os amores
de um mundo pequenino

Meu coração de menino
Meu coração pequenino
com tantos amores
como ficas dividido

Para que me serves
meu coração atrevido?

Orlando Jorge Figueiredo

terça-feira, 1 de abril de 2008

A NOSSA GENTE: JOSUÉ DA CRUZ RIBAU

Josué da Cruz Ribau


No baú das minhas memórias há muitas gavetas, qual delas a mais interessante. Há uma, porém, que ocupa o lugar mais importante e que me faz reviver gratas recordações: é ela a das pessoas com quem me cruzei ao longo da vida ou de quem ouvi falar com enlevo. 
Por vontade própria, dedicaria, se pudesse, todo o meu tempo a trazer até ao presente essas memórias, por entender que não podem perder-se. Hoje recordo um homem que morreu jovem, de quem muito ouvi palavras de simpatia ditadas por pessoas que o conheceram mais de perto. Trata-se do Dr. Josué da Cruz Ribau. Os seus familiares, que dele guardam terna memória, evocam-no sempre quando a conversa nos conduz a tempos de há uns 60 anos. 
Josué da Cruz Ribau nasceu, curiosamente, no dia 1 de Abril de 1916. Hoje, se fosse vivo, estaria a celebrar o seu 92.º aniversário. Era filho de Manuel Ribau Novo e de Maria da Cruz, esta de Seixo de Mira, sendo irmão de Madalena e do padre Diamantino. 
Fez a instrução primária na Gafanha da Nazaré e estudou no Liceu de Aveiro. Foi bom aluno, como reza a tradição e salienta a família, ingressando depois na Universidade de Coimbra, onde se licenciou em Matemática. 
O Certificado da mesma Universidade diz, textualmente, que se licenciou em “Ciências Matemáticas", em 26 de Julho de 1940, com o “exame de Geometria Superior", tendo-lhe sido votada, em conselho da Faculdade, "a informação final de bom com catorze valores”. 
Foi, tanto quanto se sabe, professor no Liceu de Aveiro e ainda hoje é recordado pela sua simplicidade e inteligência. 
Conheci, pessoalmente, a biblioteca de sua casa, onde li, na minha juventude, muitos livros que o Dr. Josué deve ter apreciado. Essa biblioteca tinha a marca de seu pai, homem marcante na sua geração. Era agricultor de profissão. “Porém – como reza o livro ‘Gafanha: N.ª S.ª da Nazaré’ – a sua qualidade de ‘Louvado do Estado’ ocupava-lhe muito tempo pois ‘corria com muitos inventários’ e procedia a muitas avaliações, não só na Gafanha mas também em povoações mais ou menos próximas.” 
Manuel Ribau Novo foi um dos mais dinâmicos responsáveis pela construção da igreja matriz da Gafanha da Nazaré, inaugurada em 1912, e um entusiasta pela leitura da Bíblia. Tinha, inclusive, uma edição bilingue (português e latim), com tradução do Padre António Pereira de Figueiredo, datada de 1852. Ainda hoje, ao manuseá-la, recordo as vezes em que nela li passagens que me encantaram, coisa rara, no meu tempo de jovem, em que a Palavra de Deus era mais ouvida que lida. 
Dessa biblioteca recordo autores que então me entusiasmavam: Júlio Verne, Silva Gaio, Camilo, Eça, Júlio Dinis e até Santo Agostinho, entre outros, que não posso recordar com precisão. Algumas obras continham anotações do Dr. Josué e de seu irmão, o Padre Diamantino. Este irmão do Dr. Josué também morreu novo, com doença pulmonar. Diz-se que não procurou cura, por acreditar ser essa a vontade de Deus.

Sobre as suas leituras, contaram-me que era muito escrupuloso, procurando respeitar os preceitos da Igreja católica, no que diz respeito a livros então proibidos. Escreveu, por isso, ao Bispo de Coimbra, pedindo autorização para ler uma obra do Índex. O Bispo ter-lhe-á recomendado que talvez fosse melhor envolver-se mais nas leituras relacionadas com os seus estudos. 
O Dr. Josué era um doente epiléptico. Conhecedor da sua doença, ao sentir as crises, pedia sempre que o ajudassem nessas alturas. Nem por isso, contudo, deixou de ser um rapaz do seu tempo, convivendo com amigos e amigas. Talvez pela doença, não chegou a casar. 
De uma fotografia antiga, foi possível identificar José do Rei e seu irmão Manuel, ainda vivo, Manuel Catraio, Acúrcio Freitas. Mas também convivia com seu primo, o Dr. Maximiano Ribau, felizmente ainda vivo, licenciado em Medicina pela Universidade do Porto, em 1940. Cultivava a música, tocando guitarra, decerto para animar os convivas, com as melodias de Coimbra, baladas e fados, em tempos sem TV e sem Rádios. 
Em homenagem à sua memória, a Gafanha da Nazaré baptizou uma rua com o seu nome. 

Fernando Martins 

Nota: As informações aqui descritas, de forma sintética, são das minhas memórias e de conversas com familiares do Dr. Josué Ribau. Qualquer correcção, que entretanto me chegue, será de imediato aqui transcrita, em abono da verdade. 

F. M.

Na Linha Da Utopia

Dr. Jorge Sampaio


Uma Aliança Mundial Diária

1. Cresce a consciência de que pertencemos a um mesmo mundo e que nenhuma das pessoas vive isolada. Mesmo para os pensamentos mais críticos, a interdependência é hoje um factor inalienável, numa nova consciência de ideais e valores em que “cada pessoa que se eleva, eleva a própria humanidade”. O contrário, infelizmente, também é verdade: cada ofensa ao “outro”, ao património comum ou a si mesmo, empobrece a mesma humanidade. Esta consciência planetária está aí, todos os dias, entra pelos olhos dentro; ora perturba, ora fascina. Todas as formas de comunicar trazem consigo essa dupla face da moeda humana, a verdade no melhor e no prior. Diante da super abundância da informação, provinda de todos os lados pelas tecnologias da informação (que nos ultrapassam e nos fazem sentir pequenos…), os desafios são ainda maiores. Mais potencialidades, maiores responsabilidades.
2. Tem sido realizado um caminho ao encontro da reunificação (na diversidade) da Humanidade. O séc. XX trouxe consigo, após as grandes guerras na Europa, uma nova consciência universalista, tolerante e acolhedora, espelhada na Declaração Universal dos Direitos Humanos (10 Dezembro 1948). Esta “nova contagem” do tempo humano abre a “era da globalização” e multiplica os laços de esforço ético e corresponsável diante do futuro. Entre tantas e diversas referências, apresentamos algumas daí decorrentes: Declaração para uma Ética Global (1993, Parlamento das Religiões do Mundo em Chicago); Projecto de Ética Universal (em redacção pelo departamento de Filosofia e Ética da UNESCO); criação da Fundação de Ética Mundial (1995, com a liderança de Hans Küng); Declaração Universal para a Responsabilidade Humana (1997, redigida em Viena pelo Interaction Council Congress); Carta da Terra (1999 – 2002, Aliança Internacional de Jornalistas e co-redigida pelo Conselho da Terra e Cruz Verde Internacional); criação da Aliança de Civilizações da ONU (2005).
3. A Aliança das Civilizações foi iniciativa lançada em Agosto de 2005 por Kofi Annan e com o co-patrocínio da Espanha e Turquia, tendo sido nomeado o cidadão Jorge Sampaio como Alto-Representante da ONU (a 14 Julho 2007) (amanhã, 2008-04-02, na Universidade de Aveiro). Em Janeiro passado, neste 2008 - Ano Europeu para o Diálogo Intercultural, decorreu em Espanha o 1º Fórum da Aliança das Civilizações, na procura intensificadora da “apresentação de iniciativas e projectos de alto nível para fomentar o diálogo intercultural”. Os esforços estão aí, como resposta às problemáticas do encontro “inédito” do sentir e exprimir humano do mundo pós-11 de Setembro. Nunca estivemos “tão perto”; mas nunca como hoje esse encontro da proximidade faz brotar novos e decisivos desafios. Todos os diálogos são essenciais. Todos os dias, das maiores às mais pequenas coisas da vida…

Alexandre Cruz

Bicentenário da abertura da Barra de Aveiro


Na próxima quinta-feira, 3 de Abril, assinalam-se os 200 anos da abertura da Barra de Aveiro, efeméride que será condignamente comemorada. O primeiro acto terá início às 16 horas, no edifício da Antiga Capitania, procedendo-se ao lançamento da obra “Porto de Aveiro: Entre a Terra e o Mar”.
A apresentação do livro estará a cargo de Veloso Gomes, professor universitário, engenheiro hidráulico, e da autora da obra, Inês Amorim, professora de História na Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Segue-se a inauguração de uma exposição de cartografia, intitulada «A Barra e os Portos da Ria de Aveiro 1808 – 1932, no Arquivo Histórico da Administração do Porto de Aveiro», que ficará patente na antiga Capitania do porto de Aveiro até 3 de Maio.
A historiadora Inês Amorim e o Prof. Doutor João Garcia foram os responsáveis científicos pela equipa que, durante mais de um ano, inventariou parte do espólio do arquivo do Porto de Aveiro. O segundo acto inicia-se às 18 horas, na Praia do Farol, com a recepção dos convidados e um Welcome Drink. Às sete da tarde, hora que os registos históricos indicam como tendo sido a da abertura da Barra de Aveiro, ouvir-se-á a Ronca do Farol.
Seguem-se “Honras a Terra”, por navios da Marinha Portuguesa. 15 minutos mais tarde, interpretação da peça musical inédita, concebida especialmente para este acto. A peça musical de ode ao bicentenário, será entoada pelo Coro da Casa do Pessoal do Porto de Aveiro, acompanhado de quinteto de sopro.
Dez minutos depois, o Ministro Mário Lino, o Presidente da APA, José Luís Cacho e o Presidente do Município de Ílhavo e da Associação de Municípios da Ria, Engº. Ribau Esteves proferirão discursos celebrativos da data.
Haverá ainda lugar à evocação de cartas alusivas à abertura da Barra de Aveiro, textos da autoria de Luís Gomes de Carvalho. Este segundo acto concluir-se-á cerca das 20 horas com a inauguração de um painel cerâmico de exterior, da autoria do artista aveirense Zé Augusto, e com a entrega dos prémios aos vencedores do concurso de fotografia “Porto de Encontro”.
O terceiro acto cumpre-se com um concerto pela Banda da Armada. Início previsto para as 21h 30m, no Centro Cultural e de Congressos de Aveiro. O concerto é aberto a toda a comunidade.

Fonte: Portal do Porto de Aveiro

ÍLHAVO: Centro Cultural




Foi inaugurado, há dias, o Centro Cultural de Ílhavo. Não pude estar presente, como gostaria, mas não deixei de passar por lá, precisamente ontem. Não me foi possível entrar, mas apreciei-o por fora. Gostei do que vi. Um dia destes hei-de voltar para o ver por dentro. Deve ser obra digna de Ílhavo. Também concordo com a localização. Sei que não faltaram propostas, há anos, para o construir noutro local, mais desviado do centro, mas ali é que está bem. Os equipamentos sociais e culturais devem estar no centro das povoações. Junto das pessoas. Ao jeito de porta aberta, como quem convida a entrar. Desviar os centros culturais para as periferias é um crime. O que importa, agora, para além de todas as quezílias, é dar-lhe vida. Escancarando as portas a iniciativas várias, com acções e projectos inovadores, e atraindo os jovens de todas as idades, Ílhavo pode orgulhar-se do seu Centro Cultural. E não lhe falta o largo, qual centro cívico, para eventos destinados a muita gente.

Da Palavra aos Actos


É um verdadeiro companheiro de viagem. Um guia vivo sem o mais pequeno estrago do tempo.Com voz clara, desenho perfeito do caminho a percorrer. À distância certa da origem e da parusia, do grande encontro, do reencontro da humanidade com Deus no seu projecto, do eterno regresso à casa, ou melhor, aos braços do Pai. Uma estrada de Emaús com pão repartido antes de chegar à mesa. É o Livro dos Actos.
As primeiras comunidades cristãs são o modelo certo e o estímulo preciso para todos os tempos e mudanças. Mesmo com outra contagem do tempo ou enquadramento religioso e cultural.
Tudo o que lá se encontra revela uma experiência, uma doutrina feita vida, a prática comunitária do projecto de Jesus. Venham, depois, os adereços da história os contextos que parecem tudo redoutrinar. Os Actos são o exemplo acabado do essencial que desafia todos os acessórios. São um tratado de Igreja viva situada no mundo real e alimentada pela projecção do Espírito para além dos tempos. Constituem a experiência da grande novidade do Evangelho em impacto frontal com as culturas, religiões, crenças, éticas, raças, estilos, filosofias de vida. Os Actos acabam por constituir a mais forte das doutrinas e o mais encarnado dos credos. Na oração, na palavra, na partilha do pão e dos bens, na reconciliação e no projecto da vida comunitária a partir da Ressurreição. Primeiro e último mandamento são argumento e testemunho, impulso e consequência, morte e ressurreição, festa e desejo insaciado do último passo da história.
Que tem tudo isto a ver com o nosso tempo cheio de contas, cálculos, tecnologias, competitividade, pressas do imediato, eficácia como critério e direito de sobrevivência à mistura com o profundo desejo de infinito e o deslumbramento pela figura de Jesus?
Os Actos remetem-nos para uma nova lógica do homem e de Deus.Com a bandeira da ressurreição e o impulso de quem descobriu a Boa Nova espanta o mundo inteiro, escandaliza os poderosos, surpreende os indiferentes, arrasta os apaixonados, alenta os fracos. Livro de bolso de qualquer cristão, vai oferecendo o rosto de Jesus sem a mais leve ruga de propaganda ou proselitismo. Revelando o ângulo de claridade que está para além de todas as palavras.
António Rego

Um poema de Mário de Sá-Carneiro


ÁPICE

O raio de sol da tarde
Que uma janela perdida
Reflectiu
Num instante indiferente –
Arde
Numa lembrança esvaída,
À minha memória de hoje
Subitamente…

Seu efémero arrepio
Zig-zagueia, ondula, foge,
Pela minha retentiva…
– E não poder adivinhar
Porque mistério se me evoca
Esta ideia fugitiva,
Tão débil que mal me toca!...

– Ah, não sei porquê, mas certamente
Aquele raio cadente
Alguma coisa foi a minha sorte
Que a sua projecção atravessou…

Tanto segredo no destino duma vida…

É como a ideia de Norte,
Preconcebida,
Que sempre me acompanhou…

Mário de Sá-Carneiro
Paris, Agosto 1915

ESCUTAR O CLAMOR DOS POBRES


Confesso que, às vezes, sinto que já não me devia surpreender com algumas coisas que oiço e vejo, mas, de quando em quando, lá vem a surpresa, boa ou má. No caso concreto a surpresa da superficialidade com que algumas pessoas abordam certos assuntos.
Quem procede assim, tende a acreditar que já sabe tudo da vida e a predisposição para a arrogância e a intolerância é elevada. Têm um fraquinho para julgar e avaliar (?) os outros pelas aparências e conveniências, dando crédito a tudo o que ouvem, através dos seus círculos mais próximos.
Não estou a inventar nada que as ciências dos comportamentos já não tenham dito escrito e demonstrado.
No passada reflexão que escrevi, com título “Hoje, houve bronca na missa!”, referi-me a uma situação, que deve indignar qualquer cristão, e que está associada a autênticos dramas humanos de pobreza, vividos numa freguesia da Arquidiocese de Braga, em contraponto com o luxo e a ostentação que alguns – poucos – habitantes, da mesma freguesia, exibem, em tom provocatório, até para a própria Igreja, como foi o caso.
Pois bem, um amigo e leitor deste blogue fez o favor de me contactar, amavelmente, ao mesmo tempo que, a dado passo da conversa, me deixava um aviso:
- Hoje, quase só não trabalha quem não quer! Isto, agora, é só malandros!
É verdade que já não é a primeira vez que oiço este género de afirmações, mesmo de pessoas ditas piedosas, mas, convenhamos, será que estamos num país em que cerca de dois milhões de pessoas preferem serem pobres ou andamos todos enganados?
Não sou especialista em coisa nenhuma e muito menos em assuntos de pobreza, cuja realidade é complexa e multifacetada – como refere a Mensagem da Comissão Nacional Justiça e Paz, para a Páscoa de 2008, com o título “Escutar o clamor dos pobres.” Andava no site da Agência Ecclesia e encontro uma mensagem redigida pela C.J.P., da própria Arquidiocese de Braga, assinada pelo seu Presidente, Bernardino Silva . Desta mensagem transcrevo as seguintes palavras: “Nesta zona do país em que tantas dificuldades sociais se fazem sentir, mesmo quando muitas não merecem o holofote dos media, é necessário prestar uma maior atenção aos mais pobres. (…) Ofende a dignidade da pessoa humana, atenta contra o seu direito à vida, impede o exercício desse outro direito fundamental que é a liberdade e constitui um obstáculo à participação, condição essencial de uma democracia autêntica.
Neste contexto, impõe-se que as comunidades cristãs, que têm o dever de praticar a “fantasia do amor”, promovam as iniciativas necessárias para ir ao encontro das necessidades dos irmãos, de modo a corresponder à interpelação exigente do Papa Bento XVI: “no seio da comunidade de crentes não deve haver uma forma de pobreza tal que sejam negados a alguns os bens necessários para uma vida condigna.” (Deus caritas est, nº 20)
Não sei se técnica e politicamente estão a ser tomadas as medidas mais indicadas ou eficazes para diminuir, ou mesmo erradicar, este flagelo social que atinge, em primeiro lugar, aqueles que não optaram por serem pobres, nem os que fizeram da pobreza um modo de vida.
Para estes casos ou análogos – que os há, decerto – e depois de devidamente avaliados, talvez o termo pobreza deva ser substituído por outras expressões, como sejam a de uma pessoa doente, socialmente falando, ou de um parasita social, que explora os bens, legítimos, do trabalho, honesto, dos outros cidadãos, para que ele próprio possa viver.
Vítor Amorim

segunda-feira, 31 de março de 2008

Comunicação social sabe, mas não cumpre

Toda a gente na comunicação social sabe que não deve entrevistar uma criança que foi vítima de um pedófilo (como o de Loures), mas entrevista; toda a gente sabe que não deve repetir à exaustão as imagens do vídeo do telemóvel, mas repete; toda a gente sabe que não deve ir para as portas do Carolina Michaelis entrevistar alunos menores sobre o que se passou, mas vai; toda a gente sabe tudo, mas faz de conta que não sabe.
JPP, no Abrupto

D. Jorge Ortiga reconduzido na presidência da CEP

D. Jorge Ortiga, Arcebispo de Braga, foi reconduzido, hoje, na presidência da Conferência Episcopal Portuguesa para o próximo triénio (2008-2011). A eleição decorreu no início dos trabalhos da 168ª Assembleia Plenária da CEP, que se prolonga até 4 de Abril, em Fátima. Para a vice-presidência foi eleito D. António Marto, Bispo de Leiria-Fátima.

Pode ler mais na Ecclesia

Cristiano Ronaldo, o dom e o trabalho


1. A magia de Cristiano Ronaldo vai contagiando o mundo (do futebol). Este passado fim-de-semana o “génio da bola” fez novamente das suas, mais uma vez, surpreendendo não só os adversários dentro do campo mas mesmo o mais leigo espectador (do futebol). Um dom especial, ninguém duvida. Muito trabalho, disciplina de treinos e rigor, já talvez nem tantos assim o saibam. Valerá a pena compreender, como sentido de exigência e espírito de sacrifício e luta, que o que se passa dentro das quatro linhas do futebol terá muitas lições a dar à vida diária, especialmente daqueles que estão na fase da sua primeira formação humana. Quando se pergunta a uma criança ou adolescente o que queres “ser”, na resposta imediata de “jogador de futebol” estará uma ideia de que para o ser quase não é preciso trabalhar, que é só chutar uma bola e marcar golos; e receber toda a admiração popular e os aplausos de reconhecimento. Puro engano, que esconde os sacrifícios necessários para atingir tal patamar de altíssima competição como no triunfo de qualquer atleta.
2. Talvez na sociedade de hoje a ideia fácil de ser jogador de futebol seja das maiores falsidades de que essa “felicidade” heróica se atinge com a maior das “facilidades”. Para que as ilusões se esbatam, mesmo sobre o melhor jogador do mundo da actualidade (há dúvidas?!), Ronaldo não esconde de que só com muito trabalho é que lá se chega. É verdade que o “dom”, a arte e a “magia” também nascem com as estrelas; mas a fatia decisiva do sucesso exige muita disciplina, rigor, método, auto-domínio, sentido de equilíbrio. Que o digam alguns documentários sobre a vida de Cristiano Ronaldo, dos sacrifícios feitos, das horas a fio de treinos mesmo depois dos outros atletas irem embora, as palavras fortes e directas de exigência do treinador, o sentido de camaradagem. Nada se faz sem trabalho, nem um jogador de futebol; e nada se faz sozinho, tudo terá de ser “jogo de equipa”. O Ronaldo brilha na equipa do Manchester; na selecção nacional, quando (ainda) não há equipa, não se pode esperar todos os milagres dos pés dele!
3. Talvez nos tempos actuais, especialmente também diante dos estatutos (permissivos) dos alunos, nas escolas, a “parábola educativa” que pode ser o futebol sublinhará a insistência de que só com trabalho (muito treino) venceremos. Sem “assiduidade”, sem rigor, sem espírito de equipa, sem método (que com toda a criatividade nos surpreenda), seremos o jogador que ao fim de uma corrida cai para o lado. O futebol, como escola de formação, também nos pode iluminar como referencial de exigência educativa. Quando não, a “derrota” será certa. Os treinos de Ronaldo à chuva, ao granizo, ao sol, poderão ser o espírito de luta naquilo que se quer. Com o exacerbar das facilidades não iremos lá! Ficaremos a ver o jogo passar…, a apanhar as bolas que sobram. O segredo serão as pequenas vitórias de cada dia!

Alexandre Cruz

“Parem com isto, deixem os alunos em paz"

:
Concordo... Mas há jornalistas que não desarmam. Serão sádicos ou exigem-lhe isso? Ou serão os consumidores de notícias que precisam de "telenovelas"? Ou serão todos, por não terem mais em que pensar?
FM

Os pobres estão proibidos


"O mundo moderno orgulha-se da sensibilidade social e preocupação com os necessitados. O Governo faz gala nisso. O nosso tempo acaba de conseguir uma grande vitória na vida dos pobres. Não acabou com a miséria. Limitou-se a proibi-la. É que, sabem, a pobreza viola os direitos do consumidor e as regras higiénicas da produção."



Abertura da Barra: 3 de Abril de 1808

Molhe Norte - 1934

A homenagem a Luís Gomes de Carvalho

Tenho por hábito dizer que a sociedade é injusta. Que é uma entidade sem alma, porque esquece, facilmente, os seus maiores. Assim foi, penso eu, com Luís Gomes de Carvalho, que abriu a Barra de Aveiro, há dois séculos, seguindo os planos iniciais do Engenheiro Oudinot, seu sogro. Chegou a ser, inclusive, perseguido e difamado pela obra que realizou, unicamente por razões políticas. Naquele tempo, como hoje, quem não era da “cor” estava sujeito a estas coisas. Luís Gomes de Carvalho foi, na opinião de alguns, um precursor do liberalismo. E todos sabemos como absolutistas e liberais se digladiavam, com ódios de morte.
Houve um poeta, porém, que não se esqueceu de Luís Gomes de Carvalho. Foi ele António Feliciano de Castilho, o poeta cego, romântico, que chegou a viver em Castanheira do Vouga, onde escreveu muitos poemas. Ali se terá inspirado para escrever “O Presbitério da Montanha”.


Arduas fadigas, derramadas somas
Ao Vouga nunca destruir poderão
A barreira que entrada ao mar tolhia;
Em teus dias, Senhor, um génio grande,
(O preceito fôi Teu, e Tua a glória)
As cadeias quebrou que o Ria atávão
………………………..
………………………..
O nome de Oudinot, que o sábio plano
Deo qual déste também, qual desempenhas
Engenhoso Carvalho em nossos dias;
Mas teu grande sabêr a mais se avança.

António Feliciano de Castilho


In “A faustíssima exaltação de S. M. F. o Senhor D. João VI ao trono”
Transcrito por Silvério Rocha e Cunha, Capitão do Porto de Aveiro, na Conferência realizada em 5 de Maio de 1923, na sede da Associação dos Engenheiros Civis Portugueses

NOTA: No excerto do poema, respeitei a ortografia da época. A foto é da "Exposição Histórico-Documental do Porto de Aveiro: Um imperativo Histórico"

HOJE HOUVE BRONCA NA MISSA!


- Sabes, hoje, de manhã, fui à missa e houve uma bronca de todo o tamanho! – afirmou o meu colega e amigo Rodrigues, ao telefone, logo após me ter inteirado do estado de saúde da sua filha mais nova.
- Bronca? Como assim? – perguntei-lhe eu.
- O Padre deu cá uma descasca no pessoal, que nem imaginas! Foi na homilia! – respondeu-me e acrescentou o Rodrigues.
O Rodrigues, aveirense de nascimento, vive e trabalha, por conta própria, há anos a esta parte, perto de Braga.
Também lá, a vida é difícil e o encerramento de empresas de têxteis, calçado, confecções ou produtos electrónicos, tem colocado muita gente no desemprego, havendo situações dramáticas, a nível da sobrevivência diária de muitas famílias.
A Cáritas Diocesana, pelo que ele me disse, tem sido uma das instituições que mais anda no terreno, na busca das melhores soluções e ajudas para estes dramas humanos.
Mas, como tudo na vida, um pólo tem sempre o seu oposto, ou seja, há miséria, de um lado, não admirando que surja a riqueza no outro.
De há três anos para cá, o responsável paroquial tem procurado sensibilizar, sobretudo na Quaresma, aqueles a quem a fortuna sorriu, para terem em conta as dificuldades dos outros irmãos, serem solidários com eles e evitarem todo o tipo de ostentação, que acaba por ferir a dignidade de quem já está fragilizado na sua vida diária.
Esta ostentação surge, ainda com mais vigor, durante a Visita Pascal, e, parte dela, passa-se no interior de umas duas dezenas de moradias (“mais que luxuosas” no dizer do Rodrigues), que abrindo as portas ao anúncio do Ressuscitado, não dispensam, ano após ano, o requinte e os luxos exuberantes – que passam pelos carros, roupas e não só, durante o resto do ano.
Pelo que me disse o Rodrigues, as mesas são autênticas montras de tudo o que há de bom e do melhor, com as mais variadas e caras iguarias que se possam imaginar, em quantidades muito para além do bom senso e das necessidades dos seus proprietários. Fazem-se festas com convidados vindos de fora da freguesia.
Já na Páscoa passada, o pároco fez “ameaças” de que deixava de fazer a Visita Pascal nas casas que não soubessem receber, com respeito, dignidade e humildade, Aquele que deu a vida para nos salvar.
Como se costuma dizer, em bom português, parece que os avisos e os apelos paroquiais entraram por um ouvido e saíram logo pelo outro!
Haverá, aqui, uma provocação gratuita? Será que querem uma Igreja à sua medida e ao seu gosto? Será que desejam algum confronto? Será que desconhecem que Cristo se fez pobre por nós? (cf. 2 Cor 8,9).
Ainda que não seja um caso isolado, infelizmente, é uma das excepções à regra, mas que exige, a meu ver, medidas pastorais serenas, rápidas e firmes, capazes de fazer da paróquia – qualquer paróquia – aquilo que ela é em si mesmo: uma comunidade de fiéis, baptizados, que se reúnem e celebram a doutrina salvífica de Cristo, e praticam a caridade do Senhor em obras boas e fraternas (cf. CIC 2179).
Quanto à questão da “bronca”, na Eucaristia, tive que dizer ao Rodrigues que me parecia que o pároco não teria dado “bronca” nenhuma, durante a homilia.
- Se houve “bronca” – no sentido de censura ou repreensão evangélica (cf. Mc 16,14; 1,25; 8,33 ou Lc 9,55) – ela foi dada pelo próprio Cristo. – afirmei eu ao Rodrigues – que logo retorquiu: - Mas foi o Padre que falou! Percebendo que o meu Amigo estava confuso, e para ser o mais preciso e conciso, fui à estante buscar o livro “Missa”, do Cardeal Jean-Marie Lustiger, que se tornou participante no nosso diálogo telefónico.
Afinal, o Rodrigues, até aí, ainda não tinha entendido que, quando o celebrante entra na Assembleia de fiéis, Cristo se torna presente na sua pessoa (cf. pag. 48).
Agora, do que ele mais gostou de ouvir foi que a homilia “é verdadeiramente uma acção de Cristo que, pela boca do Padre, torna presente a sua Palavra” (cf. pag 95 e 96).
Decerto que vou ter novas oportunidades de falar com o Rodrigues e, quem sabe, se, até lá, numa outra Assembleia Eucarística, presidida por um qualquer sacerdote, não pode surgir uma outra “bronca evangélica”.
Como em tudo, também na vida da Igreja, o importante é que “aquele que tiver ouvidos, oiça” (cf. Mt 13,9).

Vítor Amorim

domingo, 30 de março de 2008

Na Linha Da Utopia



FACILITAÇÃO LEGAL,
ESPELHO DE “VAZIOS”?

1. No discernimento apurado sobre o valor das leis, chegaremos à conclusão de que elas terão de assumir a matriz da dignidade da pessoa humana em sentido de comunidade, não se devendo diluir a lei meramente nos hábitos e costumes sociais, como se o que contasse fosse sempre a maioria, bastando haver, mesmo para a pior das decisões, 50% mais um. As fronteiras são, naturalmente, delicadas; mas uma função pedagógica, social e ética, das leis sempre foi um referencial em ordem ao progresso humano das sociedades. Mal vai quando, simplesmente, a lei naquilo que pode ser considerado de humanamente importante, já perdeu o seu estímulo e, resignadamente, ajusta-se aos hábitos da facilitação de tudo e dos próprios valores relacionais. Que se poderá dizer ou que sentir diante de leis que parece que visam o contrário do “espírito” dignificante pressuposto da “Lei”? Se uma lei é feita com a finalidade de baixar a fasquia ou gerar permissividades, vindo legitimar formas de vida e acção não conforme os considerados valores universais, que se poderá considerar?
2. Muito acima da casuística de cada situação, as sociedades que ergueram a «liberdade» como referencial colectivo vão ditando formas legais que atingem a «liberdade dos outros». O esboço e a ideia que caminha para a total facilitação legal do divórcio, será já espelho do valor que se dá às relações humanas e nestas à própria conjugalidade? Muito acima de quaisquer questões filosóficas, políticas ou religiosas, pois é uma questão humana e social que está em causa, que considerar quando se procura afastar cabalmente a «razão» e as «razões» da separação do casal? Mesmo em situações complexas e apesar dos sofrimentos e dramas da vida em que o “mal menor” será a separação, não será que, pela ausência de sentido de “verdade” e justiça, se está a esvaziar a ética da própria lei a aprovar? As perguntas podem não acabar…
3. Já há pessoas e analistas sociais que, pelas ideias que movem este perfil de legislação agora em caminho, vão fazendo a caricatura da banalização e do oportunismo que daqui poderá advir. Saberão os promotores ou defensores no parlamento do “divórcio já” tudo o que está em causa e os sinais que vão dando à sociedade? Afinal, que concepção de família, que ideais de pertença e que relações humanas, norteia o que se procura facilitar? Quem diria, onde chegámos nas nossas sociedades: aqueles que efectivamente amam a raiz da vida, ter-se de gastar energias a proteger a comunidade primeira, a família. E agora numa quase bipolarização estratégica e mediática, entre os que são chamados de “conservadores” porque defendem a família e os seus valores essenciais, e os que, no “deixa andar” mais cómodo e prático, facilitador, vão fazendo prevalecer uma liberdade na superficialidade, já sem a responsabilidade. A par dito mesmo diz-se que estamos na “Era do Vazio” e que depois as escolas manifestam uma dificuldade em gerar ambientes relacionais dóceis! Tudo está ligado… Cada vez mais, é na simplicidade todos os dias que fazemos as grandes opções; nestas a concepção de família é hoje uma opção e um valor essencial e inalienável. Ou (já) não será? Perguntar é procurar.

Alexandre Cruz

PARTIDO SOCIALISTA CONTRA A IGREJA CATÓLICA?


Igreja pede a Sócrates que controle
laicismo de alguns membros do PS

Quando D. Carlos de Azevedo, Bispo Auxiliar de Lisboa e porta-voz da Conferência Episcopal Portuguesa, afirma que “Há forças dentro do Governo que têm uma postura de ataque à Igreja Católica”, tem razão. E acrescenta, com inegável oportunidade, que “falta, da parte do primeiro-ministro, uma vigilância coordenadora de actos e medidas avulsas que ferem e atingem quem anda há muito a servir a população”.
Por aquilo que tenho visto, dá a impressão que o PS está agora dominado por uns tantos anticatólicos, ao jeito da primeira república, quando alguns políticos garantiam que acabariam com a religião a curto prazo.
O PS, quando tinha como líderes homens da craveira intelectual e humanista de um Mário Soares e de um católico como António Guterres, nunca ousou, que me lembre, afrontar a Igreja Católica. José Sócrates, prudente em muitos casos, deixa-se ir a reboque dos que consideram a Igreja Católica como uma instituição decadente e com lugar marcado em qualquer museu da história.
Os políticos da primeira República, que perseguiram e humilharam os católicos, não conseguiram acabar com a religião. Agora, em democracia, não serão os políticos actuais que conseguirão levar a cabo os intentos dos anticatólicos de há um século.
Cá para mim, venham as leis que vierem, mesmo as que o primeiro-ministro considera como conquista civilizacional, como foi o caso da lei que liberalizou o aborto, o catolicismo prevalecerá.
Os ataques à Igreja Católica, que são ataques aos católicos, só servirão para mais os unir na defesa dos seus valores, que são os valores da nossa civilização. Portanto, como católico, cá estarei em luta por aquilo em que acredito. Venham as leis que vierem...

FM
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Região de Aveiro: Costa Marinha







Há mil anos, como seria a zona costeira a que estamos ligados? Bem diferente, naturalmente. Haverá, com certeza, quem não faça uma simples ideia do que isto era, por aqui, à volta da Gafanha da Nazaré. Vejam, então, com olhos bem abertos, como era. Talvez, então, possam acreditar que toda esta região lagunar, afinal, se foi oferta da Natureza, também nasceu e cresceu graças à tenacidade de muita gente. E ainda poderei acrescentar que este rincão se deve, empregando palavras de Churchill, ao sangue, suor e lágrimas por aqui derramados.
Nota: Mapas publicados no Boletim Cultural da Gafanha da Nazaré, n.º 2, integrados em trabalho de Monsenhor João Gaspar sobre Formação da Ria e Povoamento da Região de Aveiro.

Gafanha da Nazaré: Filha do Porto de Aveiro


Escrevi há anos que a Gafanha da Nazaré é filha do Porto. Direi hoje, com mais realismo, que ela é filha da Barra de Aveiro, aberta em 3 de Abril de 1808. E poderei acrescentar que, sem a abertura da Barra, toda a região, e não apenas as terras que lhe estão próximas, lucrou e lucra com a entrada e saída de navios, e também com a sua estadia entre nós.
A abertura da Barra e os Portos (Comercial, Industrial e de Pesca Costeira e Longínqua) deram e continuam a dar outra vida à região. Todo o País, logicamente, disso beneficia. Por isso, celebrar esta data torna-se obrigação de todos. Porém, se nem todos puderem participar nas cerimónias ou usufruir das várias ofertas do programa, ao menos sintam e digam, de forma próxima ou mais alargada, que a abertura da Barra e a instalação dos Portos foram uma mais-valia que os homens de há dois séculos souberam oferecer-nos.

TECENDO A VIDA UMAS COISITAS - 71


JÁ ... JÁ ... JÁ LÁ VEM!...

Caríssima/o:

Vimos que os edifícios onde funcionavam as Escolas eram alugados e todos com carências estruturais notórias, pois que se tratava de casas pensadas para habitação ou de simples barracões.
Para além disso, o quadro de pessoal era constituído pelo/a professor/a e pelos alunos/as – todas as tarefas passavam pela iniciativa daquele/a e pela colaboração destes/as: desde a abertura da porta da rua até à limpeza e asseio da sala de aula, sem esquecer o bater da esponja do quadro, a obtenção do giz (quantas vezes do estuque de prédios velhos em demolição!...) ou a confecção da tinta para escrever (a célebre solução de azul de metileno)...

A pé ou de bicicleta, o Professor/a chegava, abria a porta e dava início às actividades, muitas vezes com a entoação do Hino Nacional. Ora a sua chegada era sempre um momento de certa expectativa para os alunos e notava-se o respeito na formatura que, ainda na rua e mais ou menos instintivamente, se alinhava ao longo da fachada.
Uma Escola havia em que, quando o Professor era avistado ao longe, o primeiro aluno que o vislumbrava lançava para o ar a cantilena:
- Já... Já... Já lá vem!
As brincadeiras iam cessando e o coro aumentava:
- Já... Já... Já lá vem!
Agora, todos alinhados, era a plenos pulmões que se anunciava ao burgo:
- Já... Já... Já lá vem!

Ora, certa manhã, o Professor meteu a chave na fechadura... e não a conseguiu rodar!
Silêncio!
Nova tentativa. Nada.
Foi dada ordem para que todos regressassem a suas casas.
Era lá possível que alguém se tenha atrevido a introduzir pedritas na fechadura?! E qual a motivação para a “brincadeira”? Feriado? Revolta de algum aluno injustiçado?
Ainda hoje o “processo“está aberto!...

[Perpassou na “aragem” que a obra teve a mão de alguém que, desesperado por não poder brincar com o seu “amigo”, um vitelinho recém-nascido, usou este estratagema!...? Verdade...mentira? Aí fica como nova pista...]


Manuel

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