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domingo, 29 de novembro de 2015

Deus não passa por nós a correr

Crónica de Frei Bento Domingues 

«Precisamos de tempo 
para nascer de novo, para descobrir 
que outro rumo e outra vida são possíveis»


1. Não esperava que me viessem pedir contas por Deus não ter feito nada para impedir o massacre de Paris. Essas pessoas acabaram por concluir que tinham batido à porta errada. Sugeri-lhes, com toda a paciência, que falassem directamente com Ele e aproveitassem o encontro para se esclarecerem acerca de todas as guerras e violências que, até em seu nome, foram desencadeadas ao longo da História. Algumas das narradas na Bíblia Hebraica até passaram a ser glorificadas na Liturgia católica, como acontece, por exemplo, na própria Vigília Pascal. Isto sem falar na recitação e canto de alguns salmos especialmente violentos!
Como não me lembro de ter, alguma vez, atribuído a Deus as asneiras da iniciativa humana ou os desconcertos da natureza, não me sinto atraído a abordar casos de polícia como altamente religioso-teológicos. Tanto os que o culpabilizam como os que o absolvem sabem demasiado da divindade. Não se dão conta que Deus, em si mesmo, nos é totalmente desconhecido (omnino ignoto).

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Dos subúrbios de Paris

Abertura à pluralidade da cultura?


1. A celebração do dia nacional de França, 14 de Julho deste ano teve envolvências dignas de registo. O dia nacional tem, como se sabe, raízes na designada Tomada da Bastilha (ano de 1789) e marca um dos factos mais importantes do início da Revolução Francesa. Nas imagens da televisão viam-se o presidente francês e o chefe de estado indiano, a que se junta o facto do exército da Índia desfilar em Paris, nos Campos Ilísios. Ao ver as imagens dos dois responsáveis políticos poder-se-ia pensar numa visão de abertura intercultural da França, de uma noção de República (palavra tão nacional… francesa!) aberta às pluralidades das culturas, etnias, raças, grupos, filosofias, religiões, diversidades humanas, no fundo a superação de uma racionalismo de estado nacional, agora que as fronteiras estão esbatidas e que tudo é transnacional. Nem tanto assim era esse o motivo…
2. A comemoração de uma parceria estratégica entre a França e a Índia foi o argumento para o primeiro desfile militar externo da Índia ocorrer na avenida simbólica francesa, esta habitualmente um espaço circunscrito à visão nacional francesa. Se no ano passado Sarkozy foi o convidado de honra do desfile militar da festa republicana indiana em Nova Delhi, desta vez a retribuição trouxe à Europa o exército indiano. Bom seria que fossem outras as mobilidades humanas! Há partilhas culturais bem mais interessantes e dignificantes que a paisagem de poderio militar, mas é assim que ainda vai o mundo! O discurso do presidente francês não deixa margem para dúvidas: a França quer afirmar-se no poder das armas e quer (continuar a) vendê-las à Índia. Está tudo visto e dito…
3. “Decorria” este acontecimento político-diplomático e os subúrbios de Paris, já do tempo da véspera(s), estava aos solavancos, a arder… Carros ateados, locais assaltados, insegurança máxima. Estes subúrbios onde nasceram tantos factos marcantes continuam a ser a gestação humana de novas revoluções, enquanto o desfile das armas entretém a razão política…
Alexandre Cruz

sexta-feira, 4 de novembro de 2005

Paris está a arder

Crónica 
de Clara Ferreira Alves

Paris está, de facto, a arder. Mas, estes fogos postos são um pequeno rastilho aceso dos fogos que estão para vir. 
Quem deixar o centro de Paris e as suas conotações fantasistas e românticas pintadas de Sena e Torre Eiffel, de cafés e boulevards, de croissants e gastronomia, e decidir apanhar a rede de metro suburbana e deixar-se arrastar pela viagem à «grande banlieue parisienne», sabe que o aguarda o inferno no fim da linha. É como passar de um mundo para outro, nos antípodas. 
Os subúrbios de Paris, onde moram tantos imigrantes, entre eles os portugueses, são uma massa de desumana arquitectura, talhada e arrumada de propósito para mostrar a quem lá vive a sua alienação e a sua diferença desintegrada. É uma arquitectura monstruosa e apocalíptica, de corredores desabrigados e materiais frios, sem vida comunitária. Lugares onde as pessoas vivem como em gaiolas, atomizadas, isoladas, reduzidas à ínfima espécie da sua condição menor.