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sexta-feira, 21 de junho de 2024

António Rego — Um comunicador das "gentes" e das "ondas"


"O padre António Rego, antigo diretor do Secretariado Nacional das Comunicações Sociais e jornalista em vários órgãos de comunicação nacionais, afirma que autenticidade é o segredo para o comunicador e afirma-se sacerdote “das gentes” e “das ondas”.
“O dever de comunicar nas ondas foi uma experiência muito rica, porque tive sempre de ver, para além das câmaras e das imagens, uma comunidade viva. Não apenas a comunidade eclesial, mas a comunidade humana”, disse em declarações à Agência ECCLESIA."

Participei inúmeras vezes em reuniões e encontros de formação organizados pelo padre António Rego, na sua qualidade de diretor do Secretariado Nacional das Comunicações Sociais. Manifestava claramente os seus conhecimentos humanos e eclesiais, com naturalidade e otimismo. E na vida de comunicador, nas diversas áreas do jornalismo, mostrava a sua cultura multifacetada, onde sobressaía a fé que o animava.
Os meus parabéns ao padre António Rego pela celebração dos seus 60 anos de ordenação sacerdotal.

terça-feira, 27 de julho de 2021

O mar é mais horizonte que fronteira

Mar de São Miguel - Açores

“O mar é mais horizonte que fronteira e é onde sinto a palavra ‘infinito’ sem a saber definir, explicar, mas inunda-me, perpassa todo o corpo, mesmo quando vejo menos, quando desço, com a maresia mais atrevida. Há qualquer coisa que transcende quem mergulha. Quando mergulhamos com a máscara, vê-se a água numa determinada forma; quando atravessamos, já é outra perspetiva; quando sobe e vê a luz, e nós aceleramos o andar por causa da respiração, há uma alegria enorme por virmos respirar naturalmente e encontrar o planeta que tínhamos abandonado por momentos e que nos dá esta alegria de vivermos com estes dons de Deus”

sexta-feira, 22 de novembro de 2019

Os livros são quase pessoas

Crónica de António Rego no "Correio da Manhã" - Folhas secas 



Os livros são quase pessoas. Não ouvem, nem veem, nem falam. Mas têm alma quase mais forte que a vida que em nós palpita. Melhor que nós compõem a eternidade. Fio onde subtilmente corre o nosso pensamento, tornam-se mais velozes que nós próprios. Empilhados em estantes parecem fúnebres, sequência de campas em fila de cemitério. Atravessamos as suas ruas sem dizer nem escutar palavras, levantam uma poeira que nos faz arder os olhos e perturba as aparências do nada que compõem os enigmas que se escondem nas suas páginas. Mas são uma cátedra, um púlpito, uma vida, um recheio interminável de saber, um amontoado de gerações, um ventre sereno da arte e do saber. Uma estrada aberta, plantada de mil plantas. 

É nos serenos silêncios 
que se escrevem 
os nossos melhores discursos 

Se entro pela estrada do digital, não vejo cruzes, tropeço na ramagem quase mais ruidosa que as folhas de Novembro, que se enrolam nos pés à passagem nos corredores da floresta ressequida. E todavia sinto que também nesse percurso há um diálogo, parecido com o discurso, que tanto mais se sente quanto maior é o silêncio. Até por vezes me parece ouvir a folhagem a dizer nomes vivos e até expressar ideias que nunca me haviam ocorrido.

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Há sempre um tempo para chegar e um tempo para partir


O TEMPO
António Rego

Tinha praticamente acabado de ser ordenado Padre quando surgiu o Decreto do Concílio sobre os Meios de Comunicação Social. O próprio título era novo e pensávamos que longo e pouco fácil de divulgar e assimilar. E foi afinal o grande batismo do cinema, da imprensa, da rádio e da televisão no século XX. A expressão latina Media surge quase cinquenta anos depois quando se dá o fantástico cruzamento com as plataformas digitais que prolongam quase até ao infinito as autoestradas da comunicação do nosso tempo. Na narrativa diária do Concílio, foi meu companheiro e mais tarde colega, um jornalista e escritor espanhol, que me ensinou a ver, julgar, agir e contar factos e dizeres muito complexos, numa linguagem simples e próxima. Agradeci-lhe, por escrito, em pleno Concílio.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Está dito e redito que estamos em crise



O Monopólio da Palavra
António Rego

Está dito e redito que estamos em crise. Ditas e analisadas estão causas e consequências. Até à exaustão. Como agir, avançar, ultrapassar, parece matéria menos óbvia. Números, cálculos, hipóteses, também abundam. Horizontes nebulosos, dados sobre todas as mesas parecem não faltar. Muitas das explicações, todavia, não passam de conversa de adivinhos que se querem fazer passar por cientistas. Há, em consequência, abundantes palavras simplesmente inúteis. Nem palavras são. Apenas desabafos.

terça-feira, 6 de setembro de 2011

A CLASSE MÉDIA

Um artigo de António Rego


(...) mais que um enfraquecimento económico, foi debilidade de alma com dependência viciosa da banalidade, mau gosto, futilidade de vida e perda de valores humanos e patrimoniais.
E cada vez mais se vão vendo e ouvindo notícias, debates, declarações, sentenças avulsas, sobre uma crise que desaba sobre todos, e onde todos parecem querer fugir na hora de assumir gestos concretos para a solução. Os verdadeiramente pobres já não sabem que dizer e fazer. Os chamados ricos não sentem alteração apreciável. Tal como está a impatrialidade do dinheiro, facilmente se arranja um colchão anónimo em qualquer recanto do planeta e aí se faz descansar em paz os milhões, escapando ao mais rigoroso sistema fiscalizante. Assim ignoram a crise dos outros aquietando a consciência com doações ou fundações que pouco remendam os andrajos ou saram as feridas. A crise, mais cedo ou mais tarde, vai passar e tudo continuará como dantes.

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Celebrar 25, 30, 50 anos de casamento é bonito





As arrojadas escolhas de Deus 

António Rego 



Celebrar 25, 30, 50 anos de casamento é bonito. Mas não é menos bonito celebrar a consagração sacerdotal. É reavivar um conjunto de etapas do amor nas suas diversas fases. É ver a vida distante e próxima nas suas horas sublimes e nas suas rotinas aparentemente sombrias ou insignificantes. Mesmo que não seja uma comemoração arredondada, há um olhar novo sobre o tempo, os percursos, as opções, os erros, as fidelidades, a constância, os acertos de trajetória dentro dum caminho resoluto de viagem.

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Está aí o Verão

Está aí o Verão.
E as férias, o mar, a montanha, as origens, a memória, a família…

Está aí o Verão. E as férias, o mar, a montanha, as origens, a memória, a família. Não se juntam, necessariamente numa grande festa. Mas muitas vezes aproximam-se numa espécie de Natal menos apressado, com tempo para assentar, conviver, recordar e celebrar. Aparentemente sem nada de sagrado. Mas com sentido numa espécie de visita à infância, sem ornamentos do trabalho, da cidade, da política, dos meios herméticos quantas vezes geradores de máscaras para uma espectáculo social ou pódio de prestígio para uma visibilidade respeitável em relação aos outros.
Temos presenciado, de há algum tempo a esta parte, espectáculos perturbadores em matéria de economia, finanças, negócios, política, empreendimentos, sempre aos milhões, com jogos escondidos sem percebermos o que significam as promessas, os contratos, os desvios, corrupções, roubos, manobras de compra, venda, cumplicidade, estratégias de ocultação do que se pretende, embaciamento do olhar do cidadão comum que não se apercebe dos jogos por baixo da mesa e até desconfia da sanidade do seu próprio olhar. Assim, nada é o que parece, embora se diga que em política o que parece é. As acções ou omissões sobre dinheiros, justiça, saúde, educação, tecnologia, manobras empresariais, cobrem-se duma neblina enganosa que, a um tempo deixa ver metade e oculta a outra metade dos factos e das manobras em vários quadrantes. 
A mesa de bilhar parece a grande parábola dos poderes. Um toque, aparentemente simples, leva efeito, direcção, sequência, recolocação, vitória ou suicídio. É um jogo complexo, escondido na inteligência e habilidade de quem desfere um impulso débil numa bola fria e indiferente. Há gestos com destino de glória ou de humilhação. Directos, públicos, claros,
registados, repetidos, interpretados por críticos com pouco pudor mas que sabem escandalizar-se, rasgar as vestes, invocar a moral, dizer-se, finalmente, civilizados. E que espalham o seu olhar à sociedade que exorciza tabus, vive opulentamente das públicas virtudes e vícios privados. Que esmaga impiedosamente quem desconhece ou transgride as regras. Ai de quem tem a infelicidade de cair nesta armadilha. E, todavia, a transparência continua a ser a virtude primeira da relação humana. Que se explicita no tempo gratuito e sereno das férias. Mas que diz respeito ao todo pessoal e social. A mentira não é boa regra para nenhum quadro de vida.

António Rego

sábado, 23 de maio de 2009

António Rego: "Um Ramo de Amendoeira"

Mesmo quando denuncia,
é de amizade que se trata

O Cón. António Rego, director do Secretariado Nacional das Comunicações Sociais (SNCS) da Igreja Católica em Portugal, lançou esta Quinta-feira, em Lisboa, a sua nova obra "Um Ramo de Amendoeira", que reúne os editorais escritos ao longo dos últimos anos para o semanário Agência ECCLESIA. O título da obra evoca uma passagem do livro do profeta Jeremias, no meio de um período negro de Israel. 
Na apresentação do livro, D. Manuel Clemente, Bispo do Porto e presidente da Comissão Episcopal da Cultura, bens Culturais e Comunicações Sociais, falou do autor como uma das "personificações mais interessantes do que pode e deve ser a comunicação social". Após salientar a "qualidade evidente e actualidade constante" da escrita do Cón. António Rego, o Bispo do Porto destacou três pontos fundamentais: "espírito, coração e engenho". "Mesmo quando denuncia, é de amizade que se trata", sublinhou.

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terça-feira, 8 de janeiro de 2008

Quando a caravana não passa

A gente nunca sabe tudo quando surge um caso surpreendente saído por inteiro das mãos dos homens. A primeira versão parece evidente e muitas vezes ganha terreno e encerra o assunto. Mas há, depois, aspectos insólitos que são chamados de políticos, com manipulações, interesses escondidos, razões que o não são.
O rally não começou. Ficou reduzido a um título: o terrorismo venceu o rally Lisboa-Dakar. Depois começam a surgir rastos, sequências, jogos, esconderijos, desconfianças, efeitos colaterais.África, com tudo isto, parece ficar mais longe depois das cimeiras e querelas para extracção de dividendos ligadas ao desenvolvimento, aproximação política, diálogo de culturas.
Nos últimos dez anos assistiu-se a uma regressão em alguns países de África que eram plataforma de acolhimento internacional, assumida e eficaz. Veja-se o caso do Quénia, da Costa do Marfim ou do Zimbabwe, por exemplo. Eram uma espécie de modelo de países onde o poder do povo se expressava mesmo dentro das concepções culturais de poder associado a pessoas, idades, tribos e culturas. Sem se pretender impor uma concepção de "democracia ocidental" foram dados passos importantes na aproximação da África com outros Continentes.
Os sobressaltos recentes onde se inclui a suspensão dum rally projectado para atravessar a Mauritânia e, segundo parece, sem grandes alternativas para chegar ao Senegal, puseram o mundo outra vez de sobreaviso, numa relação com o terrorismo internacional organizado que pode, na sequência de Nova Iorque, Londres, Madrid, Bali, deixar o medo mais visível que o diálogo. É o terror. O rally é o menos.
Como se percebe, cada um destes temas e lugares se reveste duma enorme complexidade para serem analisados de relance. Mas o todo volta a questionar-nos sobre aquilo que estamos a construir. Associado ao preço do petróleo, à forma de vivermos melhor com ou sem ele, ao agravamento da pobreza dos pobres, ao isolamento dos que já estão mais sós e a tantas questões a que, nestes dias se tem referido o Papa Bento XVI.
Não abre em beleza este novo ano.
E à Igreja pergunta pelos seus missionários, pelo lugar que desempenham em diferentes países onde o estrangeiro é simplesmente indesejado e onde, todavia, é imperioso dar a Boa Nova libertadora de Jesus. Honra e louvor aos heróis que partem e ficam nos momentos de grande complexidade e interrogação como o que vivemos. A verdade é que não podemos andar por cá como se nada se passasse no outro lado do mundo que, afinal, está mesmo aqui à porta.

António Rego

terça-feira, 6 de novembro de 2007

O VULCÃO DOS CAPELINHOS

António Rego
    Foi difícil o nascimento da última ilha de Portugal. Durante mais de um ano o vulcão expelia lamas, fogo e cinzas, a terra tremia, os homens fugiam. E foi nascendo uma pequena ilha. Do medo, fez-se espectáculo, dos rolos de nuvens negras mistério, das areias em permanente tempestade se antecipou a paisagem lunar.
    Passados cinquenta anos sobre este fenómeno que abalou a ilha do Faial nos Açores e surpreendeu geólogos e turistas, restam as dúvidas sobre o significado dum cataclismo, as formas estranhas como a terra evolui, as perguntas que geralmente se fazem a Deus sobre a criação, a harmonia, a evolução inteligente da natureza e dos seres.
    Cada qual responde com as razões que tem à mão. Muitas delas nada têm de científico. Muitas recusam enquadrar um fenómeno deste género no projecto inteligente de Deus. Ciência, razão e fé, entrecruzam-se nas explicações, ora unindo-se ora digladiando-se. Só a meio da escalada se percebe que não é o amontoado de razões que nos aquieta a alma, mas a razão profunda do nosso ser e a lógica cerrada da nossa fé firmemente ancorada na sabedoria silenciosa de Deus.
    No terramoto de Lisboa, Voltaire, como muitos, irritou-se e com Deus. Rousseau, homem insuspeito nestas matérias, lembrou-lhe que não tinha nada que se revoltar contra Deus. Se Lisboa, disse, fosse um conjunto de casinhas bem distribuídas, sem roubar lugar a rios e riachos, com o Tejo respeitado por inteiro, nada de grave teria ocorrido em 1755.
    Mas nem filósofos nem geólogos explicam os grandes cataclismos do Norte ou do Sul, as mortes de inocentes, o desaparecimento e destruição de cidades inteiras. Nem sequer os Gulagues, Auschewittz, ou Jardins de S. Cruz. A história, desde os tempos da Arca de Noé, Caim e Abel, está recheada de acontecimentos que só um olhar do alto, de fora do tempo e do espaço imediato pode projectar luz sem ser absurdo. Chamemos simplesmente Fé à chave de todo este imbróglio. Chamemos Deus ao ser de suma sabedoria que, face ao nosso desenquadramento do conjunto, nos tolera perguntas a mais, isto é, sorri das nossas arrogantes questões, os nossos olhos baços, presos ao quadrado sectário, sem altura nem horizonte.
    Desprezo pela razão? Pelo contrário, respeito por ela que tem direito a não ser iludida por dimensões parcelares e viciadas que são sempre as nossas. Humilhação para a ciência? Pelo contrário, glória a ela que se sente entrelaçada por fios mais que visíveis.
    O povo tem razão. No meio do vulcão das incertezas volta-se para a grande certeza de Deus que vê donde nós não vemos, projecta com sabedoria inalcançável e nos tranquiliza o coração como mais ninguém sabe fazer. Por isso, nos despojos da dor o crente sabe onde pode encontrar refúgio e em que ombro pode chorar de súplica e agradecimento. Feliz quem possui o dom da fé sempre escorado na faculdade superior da razão.

António Rego

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