sábado, 9 de abril de 2005

Fotografia de José Carlos Sá em exposição

Foto de José Carlos Sá
Hoje, dia 9 de Abril, foi inaugurada na Casa Municipal da Juventude de Aveiro a exposição "Os Palcos da Bola", com fotografias da autoria de José Carlos Sá, aluno da disciplina de Fotojornalismo, do 4ºano da licenciatura em Comunicação do Instituto Superior das Ciências da Informação e da Administração de Aveiro. A mostra pode ser apreciada até 30 de Abril, de segunda a sexta-feira, entre as 9.30 e as 19 horas, e aos sábados, entre as 10 e as 13 horas e entre as 14 e as 18 horas.
... O plural de Palcos da Bola só tem cinco minutos de distância. Ou uma eternidade. São dois mundos nos antípodas, unidos pela bola mágica.O Estádio Municipal de Aveiro é o palco opulento, garboso nas suas cores novinhas em folha. É bonito, apresenta-se bem, era preciso pôr gravata para receber o 2004. Vão lá jornalistas, até aos treinos, quando muda o treinador dá nas notícias, há VIP's e saídas de emergência, parabólicas que levam a redondinha ao mundo, e ondas nas bancadas porque às vezes vai lá gente que dá para fazer as ondas. Tem apanha-bolas contratados, é enorme de tão grande, tem um painel "Você está aqui". Porque é grande, do tamanho dos sonhos de quem delira com vitórias opulentas, garbosas nas suas cores novinhas em folha... ... Fonte: Blogaveiro (Para ler mais, clique aqui)

Sócrates avança com medida acertada

O primeiro-ministro, José Sócrates, vai avançar com uma medida acertada, medida essa que vai pôr fim aos políticos que se eternizam no poder. Assim, a proposta de José Sócrates, a ser aprovada pelo Governo, limitará a três mandatos os cargos de presidentes de Câmara, das Juntas de Freguesia e líderes regionais, bem como do próprio primeiro-ministro. Os que exercem funções há mais de 12 anos, só poderão recandidatar-se mais uma vez.
Sempre pensei que os cargos políticos devem ser assumidos como um serviço à sociedade. Depois disso, os cidadãos que os desempenham teriam de regressar às suas anteriores profissões. O que acontece é que alguns ficam de tal modo agarrados ao poder que até acabam por ter medo de sair dele. São os tais profissionais da política, que se tornam, muitas vezes, incapazes de singrar noutras áreas profissionais.
Além disso, o poder pode acabar por criar vícios, podendo levar os políticos a caírem em situações de estagnação a vários níveis. A mudança, na política como em qualquer outra área, pode gerar inovação e estimular novos desafios, à partida sempre bons para o progresso das sociedades e bem-estar das populações.
Nunca compreendi a razão por que é que os eleitores contribuem para a manutenção no poder de autarcas, votando muitas vezes nos mesmos. Será que vêem neles pessoas insubstituíveis e únicas? Será que não vislumbram outros políticos, porventura mais dinâmicos e melhores? Será que não acreditam nas vantagens de mudanças e de outras ideias? Será por comodismo? Será por medo de assumirem a responsabilidade de novas experiências? Confesso que não sei.
Fernando Martins
(Achegas, concordantes ou discordantes, podem ser dirigidas para o meu e.mail: rochamartins@hotmail.com)

Testamento do Papa

Testamento de 06.03.1979 e sucessivos acrescentos Totus Tuus ego sum Em nome da Santíssima Trindade. Amen. "Vigiai, pois, porque não sabeis em que dia virá o vosso Senhor" (cf. Mt 24,42) - estas palavras recordam-me o último chamamento, que acontecerá no momento em que o Senhor quiser. Desejo segui-Lo e desejo que tudo aquilo que faz parte da minha vida terrena me prepare para este momento. Não sei quando isso acontecerá, mas, como em tudo, também neste momento me coloco nas mãos da Mãe do meu Mestre: Totus Tuus. Nas mesmas mãos maternas entrego tudo e Todos aqueles com os quais a minha vida e a minha vocação me ligou. Nessas mãos entrego, sobretudo, a Igreja e também a minha Nação e toda a humanidade. Agradeço a todos. A todos peço perdão. Peço também a oração, para que a Misericórdia de Deus se mostre maior do que a minha fraqueza e indignidade. Durante os exercícios espirituais reli o testamento do Santo Padre Paulo VI. Esta leitura impulsionou-me a escrever o presente testamento. Não deixo atrás de mim nenhuma propriedade da qual seja necessário dispor. Quanto às coisas de uso quotidiano de que me sirvo, peço que sejam distribuídas como parecer oportuno. As notas pessoais sejam queimadas. Peço que dom Stanislaw, a quem agradeço pela colaboração e pela ajuda tão prolongada ao longo dos anos e tão compreensiva, vele por isto. Todos os outros agradecimentos, em contrapartida, deixo-os no coração diante do próprio Deus, pois é difícil exprimi-los. No que diz respeito ao funeral, repito as mesmas disposições que o Santo Padre Paulo VI deu (numa nota à margem: a sepultura na terra, não num sarcófago, 13.3.92). "Apud Dominum misericordia et copiosa apud Eum redemptio" João Paulo pp. II Roma, 06.03.1979 (Para uma leitura de todo o texto, clique ECCLESIA)

HORIZONTES DA FÍSICA

Por iniciativa da FISUA - Associação de Física da Universidade de Aveiro, os Horizontes da Física estão a ser alargados a quem gosta de saber mais. Assim, nos próximos dias 14 e 28 de Abril, no Grande Auditório do Centro Cultural e de Congressos, haverá duas conferências para todos, pelas 21.30 horas, seguidas de Concerto. A primeira, a apresentar por José Fernando Mendes, da UA, versará o tema "Das pontes de Konigsberg ao Genoma", e a segundo, a cargo de Carlos Herdeiro e Miguel Costa, da FCUP, sobre "Viagens no tempo". No dia 12 de Maio, no Grande Auditório da Reitoria da UA, à mesma hora, João Lopes dos Santos, da FCUP, falará sobre "Teleportação: magia ou ciência?". Estas três boas oportunidades de podermos abrir os nossos próprios horizontes, no âmbito da ciência, não podem ser desperdiçadas.

POSTAL ILUSTRADO

Posted by Hello PESCADOR do artista aveirense Gaspar Albino

sexta-feira, 8 de abril de 2005

O mundo despediu-se de João Paulo II

As imagens e os sons do mundo na hora da despedida do Papa João Paulo II, que partiu para o seio do Pai, ainda ocupam o meu espírito. E hão-de permanecer, tenho a certeza, como momento único e jamais sentido.
Povos de todas as raças e condições, representados pelos seus Reis, Presidentes e Chefes de Governo, diplomatas e governantes, líderes das mais diversas religiões do planeta e gente e mais gente, todos vindos de vários quadrantes da Terra, prestaram a maior e mais expressiva homenagem de todos os tempos a alguém que marcou indelevelmente a História. Responsáveis por isso, unicamente, a vida e o carisma de um homem e a missão de um Papa que, durante quase 27 anos, se deu à proclamação da Boa Nova de Jesus Cristo, numa tentativa de aproximar homens e mulheres em torno de projectos de fraternidade e de amor. Fraternidade e amor que gerassem paz, liberdade e respeito pela dignidade do ser humano. E, consequentemente, que acabassem com a fome, com os marginalizados, com os espoliados e com os perseguidos por causa da sua fé e de sonhos de liberdade. João Paulo II foi o Bom Pastor que incansavelmente nos convidava a levantar e a andar rumo ao Senhor de todos os dons, mas também a permanecer "no amor de Cristo", como sublinhou o decano dos Cardeais, Cardeal Joseph Ratzinger, que presidiu, hoje mesmo, ao funeral do Papa. Um caixão simples, apenas com uma cruz e com o M de Maria, sobre o qual foram colocados os Evangelhos, acolheu os restos mortais da maior personalidade do século XX. Com os restos mortais de João Paulo II humildemente pousados no chão da Praça de São Pedro, Deus recebeu as orações e as homenagens da Igreja e do mundo, as lágrimas e as palmas de uma multidão, como nunca se viu, bem como os agradecimentos e o entusiasmo de uma juventude magnetizada pelo carisma ímpar deste Papa que agora nos deixou. O seu corpo ficará em campa rasa, na terra, "como semente de eternidade", garantindo o futuro e a esperança da Igreja, disse o Cardeal Ratzinger, para logo acrescentar que o Papa "procurou o encontro com todos", enquanto deu a sua vida, até ao último momento, "por Cristo e por nós".
"O Santo Padre foi sacerdote até ao fim, porque ofereceu a sua vida a Deus pelas suas ovelhas e por toda a família humana, numa doação quotidiana ao serviço da Igreja e, sobretudo, nas difíceis provas dos últimos meses", salientou o Cardeal Ratzinger. E acrescentou: "Podemos estar seguros de que o nosso amado Papa, agora na Casa do Pai, nos vê e abençoa." A beleza e a sobriedade da liturgia, os cânticos e o significado profundo dos textos bíblicos escolhidos e proclamados em diversas línguas, como símbolo da universalidade da Igreja, envolveram a cerimónia que as televisões e rádios levaram em directo a todos os recantos da Terra. Os demais órgãos de comunicação social hão-de mostrar, amanhã, a toda a gente que está em sintonia com o mais mediático e mais viajado de todos os Papas, outros pormenores, vistos de vários ângulos. Que tudo sirva para nos convocar a uma reflexão sobre o exemplo do Papa João Paulo II e sobre a mensagem da sua vida de entrega a Cristo e aos homens de boa vontade. Tão-só para construirmos um mundo muito melhor. Fernando Martins

quinta-feira, 7 de abril de 2005

Obra do Apostolado do Mar

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Acolhimento cristão junto dos portos
deve ser dinamizado
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O Director Nacional da Obra do Apostolado do Mar, padre Carlos Augusto Noronha, também pároco de Buarcos, na Figueira da Foz, é um profundo conhecedor das necessidades dos pescadores e marinheiros. E defende, por isso, na linha do que propõe o Papa João Paulo II, que as dioceses ligadas ao mar devem dinamizar o acolhimento cristão a todos os que demandam os portos. Também defende que nas paróquias piscatórias se criem pontos de encontro, os Stella Maris, onde os valores do homem do mar sejam cultivados e defendidos. (O texto completo pode ser lido no SOLIDARIEDADE)

Bispos portugueses apresentam princípios de acção social

Princípios e Orientações da Acção Social e Caritativa da IgrejaPreâmbuloEm Portugal, uma boa parte da acção social e caritativa da Igreja exerce-se através de um amplo e diferenciado leque de instituições sócio-caritativas, designadas oficialmente Instituições Particulares de Solidariedade Social (IPSS) e apoiadas pelo Estado. A institucionalização da acção social proporcionou-lhe estabilidade, contribuiu para melhorar a qualidade dos serviços prestados e tem ajudado a definir o quadro de cooperação entre os parceiros sociais. Porém, em paralelo com os aspectos positivos, também originou alguns inconvenientes que não podemos ignorar.A Conferência Episcopal Portuguesa, atendendo às recentes alterações legais e pretendendo aperfeiçoar os parâmetros de cooperação com o Estado e com outras entidades, considera chegado o momento de definir alguns princípios gerais que ajudem a clarificar a perspectiva eclesial das instituições sócio-caritativas e contribuam para optimizar o estilo de cooperação entre os parceiros sociais.A Igreja, realidade humana de instituição divina, distinta de qualquer outra comunidade humana, identifica-se, manifesta-se e realiza-se quando Cristo se torna presente, no seu seio, pela palavra anunciada e testemunhada, pela celebração da fé e pelo serviço fraterno, três realidades unidas de forma indissolúvel e insustentáveis quando separadas umas das outras. (Ver texto completo na Ecclesia)

Papa: publicações para guardar

Penso que nunca se escreveu tanto sobre um Papa como agora. João Paulo II foi, sem sombra de dúvida, um Papa mediático, como jamais houve na história da Igreja. O seu longo pontificado e as inúmeras viagens apostólicas que fez, a par de um grande interesse por temas sociais, sempre na defesa dos homens sofredores e da denúncia das injustiças, terão contribuído para isso. Os aspectos teológicos, a procura do diálogo ecuménico e inter-religioso, a capacidade de perdoar e de pedir perdão, bem como o seu carisma para atrair os jovens, também ajudaram a que João Paulo II fosse respeitado e amado por todo o mundo. Como legado, deixou-nos imenso para ler e para meditar, que todos haveremos de aproveitar, quando a comoção nos deixar. Penso até que, em torno da sua memória e da herança que nos legou, não deixarão de surgir centros de estudos e de reflexão. Hoje, contudo, gostaria de recomendar aos meus leitores que fossem recolhendo algumas publicações que têm estado a aparecer no mercado, muitas delas de iniciativa dos grandes órgãos de comunicação social. Grandes jornais e revistas fizeram edições especiais, recheadas de elementos históricos ligados a Karol Wojtyla, o Papa que veio de Leste, com toda uma experiência de luta e de sofrimento provocados pelo regime comunista, para incutir um novo ânimo à Igreja. Tenho lido muito do que se tem publicado e permito-me destacar a edição especial da revista SÁBADO, com a indicação de que é "para guardar". A vida de Karol Wojtyla, a relação com Portugal e a devoção a Fátima, a sua influência na queda do comunismo, as melhores fotografias e o sofrimento dos últimos anos são títulos da revista que procura fazer um retrato de João Paulo II, "Um Papa Notável". Nesta revista, há de tudo um pouco: a vida, as visitas, os atentados, as doenças, a influência, a política, as polémicas, os números, as viagens, os poderes e os Papas, entre outros temas. Depois, há os comentários de Francisco Sarsfield Cabral, Vítor Feytor Pinto, Jaime Nogueira Pinto, Aura Miguel, Peter Stilwell e Marcelo Rebelo de Sousa. As fotografias são excelentes. É, de facto, uma revista para guardar. Fernando Martins

quarta-feira, 6 de abril de 2005

O prazer de ler

Desde que foi anunciada a morte do Papa, os órgãos de comunicação social não pararam de mostrar, de dizer e de escrever sobre João Paulo II. Jornalistas, cronistas e convidados têm-se multiplicado em elogios ao Santo Padre, enquanto recordam, pelas formas mais diversas, o que foi a sua vida de pastor universal. E se é verdade que a grande maioria sublinha o muito de bom ele fez, ao longo de um pontificado de mais de 26 anos (o terceiro mais longo da história de Igreja), também é certo que um ou outro destoa. Curiosamente, os que mais destoaram, a meu ver e por aquilo que li, foram dois teólogos, que me dispenso de divulgar por uma questão de princípio, nesta hora de dor para o mundo. Confesso que as leituras que tenho feito sobre o Papa João Paulo II me têm enriquecido sobremaneira. Por me lembrarem a vida de muita fé de um Papa, por me recordarem pormenores que tinham caído no esquecimento, por enaltecerem aspectos doutrinários que havia guardado na gaveta, por me contarem curiosidade sempre agradáveis de saber, por sublinharem a capacidade de amar de alguém que fez da sua vida uma doação aos outros. Dessas muitas leituras comovem-me imenso as que vêm de gente sem fé ou que a perdeu na labuta do dia-a-dia, as que vêm de quem declara não o seguir, as que vêm de quem não se identifica com os valores do cristianismo. Mas também me comovem as que vêm de quem um dia foi "apanhado" pela mensagem acutilante e desafiante de João Paulo II, pelo seu ardor apostólico, pelo seu testemunho de amor a Deus e aos homens e mulheres do nosso tempo, pelo defensor da justiça, da verdade, da paz e da harmonia entre povos e nações. Quando me dirijo para este meu espaço de partilha, quase diário e quantas vezes, como hoje, longe de casa, apetece-me remeter os meus leitores para esses escritos, o que tenho feito quando tal é possível. Acontece que nem todos os órgãos de comunicação social têm as portas abertas para isso, o que se compreende, por os serviços on-line custarem muito dinheiro. Hoje, por exemplo, gostaria de encaminhar os meus leitores para um artigo de Fernando Ilharco, "Nunca mais", publicado no PÚBLICO. Como não é possível, aqui ficam, apenas, três frases: "O Papa João Paulo II uniu o mundo, uniu-o entre tempos, uniu-o entre os homens e uniu-o entre nós e Cristo. Para muitos, João Paulo II foi e é o nosso próprio tempo, a modelação da nossa vida, a vontade divina, ela mesma, nas nossas pequenas mãos"; "Numa época de tantas e tão radicais transformações, nas quase três décadas de pontificado, na sua presença e com seu exemplo até ao fim da vida, João Paulo II mostrou aos homens que a humanidade, os valores cristãos que são o ser que somos, é o caminho para Deus"; "É nesta dimensão humana oferecida por Cristo que se nos abre o futuro possível desta Terra, no qual, todos dias e até mais não ser necessário, ouvindo as palavras tantas vezes ditas por João Paulo II, renovadamente nos vamos ouvindo dizer: nunca mais, nunca mais guerra, nunca mais miséria, nunca mais ódio". Fernando Martins

terça-feira, 5 de abril de 2005

Comentários de Marcelo Rebelo de Sousa sobre o Papa

... João Paulo II foi sempre radical
Amorte do Papa está naturalmente a dominar toda a semana. Foi o grande acontecimento da semana. É sobre a morte que eu gostaria de fazer alguns comentários. Primeiro, como é que o mundo católico e não católico reagiu perante este fenómeno? Não falo, naturalmente, do fenómeno. Eu diria que o mundo católico reagiu, como é natural, com um sentimento de orfandade. Eu, católico, e os demais católicos sentimos a perda do pai. A juntar a essa orfandade o facto de ele ter corrido o mundo todo - gostava de dizer na sua autobiografia que se sentia mais Paulo do que Pedro; São Paulo correu o mundo e escreveu cartas em que se via que conhecia cada uma das comunidades. E, ao correr o mundo, quis identificar-se com as pessoas de todo o mundo, praticamente durante todo o pontificado. E isso acentua quer a ideia de orfandade dos católicos quer alguma orfandade, no sentido de uma falta, dos não católicos. Uma segunda reacção, ainda relacionada com os católicos - quem acredita na vida eterna acredita que, para além desta vida terrena, depois da morte, a morte não é o fim, é o começo da parte mais importante da vida. E sobre isso encontrei num artigo lindíssimo de João Bénard da Costa, que é um homem da esquerda, um católico de formação, que tem um artigo num livro chamado Um Papa entre dois séculos sobre os 25 anos de pontificado do Papa em que cita um filósofo não católico, cristão luterano, chamado Kierkegaard, que foi para muitos um precursor do existencialismo, que tem esta frase que é um bocadinho o que nós sentimos "Deus vê no segredo, conhece a aflição, conta as lágrimas e não esquece nada." Quer dizer, neste sentido não acaba aqui, e há uma realidade que Deus acompanha nesta vida, e que prossegue na vida eterna. (Para ler todo o artigo, clique DN)

Artigo de António Ribeiro Ferreira, no DN

... 'Não tenhais medo'
As primeiras palavras de Karol Wojtyla quando foi eleito Papa em 1978 foram, e muito bem, lembradas por várias personalidades na hora da morte do líder da Igreja Católica. Seria bom que esta mensagem, e em especial o exemplo de vida de João Paulo II nos seus 26 anos de Pontificado, não fique perdida na imensa floresta de registos sobre a obra do Santo Padre à frente da Igreja. Particularmente em Portugal, um país que teve o privilégio de ter recebido o Papa três vezes, viu Fátima consagrada como um verdadeiro Altar do Mundo e dois dos pastorinhos de 1917 elevados a beatos da Igreja Católica. (Para ler o artigo todo, clique aqui)

KAROL - o Homem e o Crente

É sabido que a Barca não sossobra. O Mestre estará até ao fim dos tempos. Vai emprestando o leme, de quando em vez adormece, de cansaço, e até parece não notar as tempestades. É preciso que os discípulos lhe gritem que a barca está a afundar-se. “Porque temeis, homens de pouca fé?”Entregou as chaves a Pedro que as foi passando a outro, depois a outro. A Igreja, até Wojtila, foi recebendo e outorgando essas chaves. Naquele primeiro dia, na varanda de Pedro, Karol estava mais nervoso do que parecia. Honrosas e pesadas são estas chaves. Para cúmulo, não aplicáveis a todas as portas. As pequenas comunidades – as Igrejas locais – receberão por sua vez chaves de segredo, adaptadas às singularidades de cada história, continente e cultura. Até porque Ele disse: “Eu sou a porta”.Mesmo na expectação de um novo sucessor de Pedro, vivemos pela emoção, o rasto de luz de Karol Woytila, Papa. As ressonâncias vindas de todos os quadrantes acentuam o sulco que este homem abriu em tantos caminhos onde muitos homens e mulheres se sentiam perdidos, sem pão nem importância, dignidade ou direitos. Ou mesmo inseguros na fé e abalados na esperança. Ele reacendeu a chama de Deus em muitos corações sombreados pela neutralidade, indiferença ou sobrelotação de efemérides e insignificâncias. Na Europa, juntou valores adormecidos do Oriente e do Ocidente. Falou duro e forte a alguns. Com uma convicção próxima da teimosia. Mas com um afecto incontido diante de raças, culturas e crenças e situações. De pessoas. Nada proclamou em abstracto. Inundado pelos media foi repercutido até aos confins da terra nas suas palavras e gestos, mas sobretudo na sua humanidade incontida e a sua fé inabalável.Todos estão desconcertados, sem saber o que merece primeira homenagem: o homem ou o crente. Foi um Homem fascinante e um Crente inquebrantável. Por qualquer ponto se começa bem.
António Rego
Fonte: ECCLESIA

PAPA para a vida de muita gente

A minha geração foi marca indelevelmente pela vida e exemplo do Papa João Paulo II. Durante mais de 26 anos, o nosso dia-a-dia não pôde ignorar a sua intervenção, com apelos que foram moldando os nossos comportamentos e definindo o rumo das nossas atitudes. Os testemunhos disso mesmo estão bem patentes nos inúmeros escritos e declarações vindos de todos os quadrantes. E de tal modo, que me deixam impressionado, pela autenticidade que revelam. Leio-os e escuto-os com indisfarçável comoção. Nos últimos tempos, porém, o carisma do Papa projectou-se no mundo dos crentes e não crentes, sobretudo pela força que imprimia à defesa dos valores em que acreditava. Fragilizado pela idade e pela doença, exausto por uma entrega sem limites à missão que recebeu, sempre sem notarmos no seu semblante ou nas suas palavras qualquer gesto de enfado, de cansaço ou queixa, João Paulo II ensinou ao mundo que os velhos, afinal, têm direito a estar entre nós, com as suas experiências de vida, com os seus dons, com a sua sabedoria. E mostrou isso, precisamente numa altura em que, por esta ou por aquela razão, em especial económicas, se marginalizam pessoas, pelo simples facto de serem velhas. O mundo inteiro continua a curvar-se perante a memória deste Papa que contribuiu para mudanças radicais que se alargaram da Europa a outros continentes, colocando o homem, com toda a dignidade que lhe é devida, no centro do universo. Os regimes totalitários ruíram como castelos de areia, mas nem assim o Papa fez a apologia do capitalismo, como muitos esperavam, antes o condenou pelas injustiças que levavam, também, à exploração do homem pelo homem, transformando-o, em imensas situações, apenas no elo de uma máquina ou cadeia de produção. João Paulo II soube deixar os salões do Vaticano para ir ao encontro do homem todo e de todos os homens, em especial dos que sofrem no corpo e na alma, não para simplesmente os consolar, e já não seria pouco, mas fundamentalmente para clamar por justiça. E fê-lo sem constrangimentos junto dos poderosos, assumindo afirmações nem sempre politicamente correctas, que logo mexiam com o mundo, levando gente de bom senso a pensar e a decidir pela dignificação do ser humano. Outros, foram-se calando, ao sabor dos seus interesses egoistas. A sua morte, perante a qual todos os povos da Terra se curvaram, quantas vezes com lágrimas nos olhos, ainda vai acicatar-nos mais. Estou disso convencido. É que o testamento de João Paulo II ainda tem muito por descobrir. Os seus inúmeros escritos, encíclicas, cartas pastorais, homilias, exortações apostólicas, livros de teologia e de filosofia, poesia e discursos, entre muitos outros, precisam de ser mais lidos. E eu estou mesmo convencido de que tal vai realmente acontecer, porque são um património inestimável que não pode cair no esquecimento. Fernando Martins

"Furos" escolares vão acabar

Toda a gente sabe que as faltas dos professores são uma alegria para os alunos. Os "furos" ou "feriados" oferecem aos estudantes a oportunidade de nada fazerem de útil, normalmente, trazendo aos mesmos atrasos nos estudos e tempos livres indesculpáveis nos tempos de hoje. As escolas deviam, desde há muito anos, organizar-se para responder a este problema, já que legislação nesse sentido não falta. Tem faltado, isso sim, vontade para ocupar os alunos com actividades úteis, quer ao nível dos estudos curriculares, quer ao nível da aquisição de conhecimentos gerais, que são a base da cultura das pessoas. O primeiro-ministro José Sócrates anunciou ontem que essa triste realidade dos "furos" vai acabar, tendo sublinhado que as Escolas vão ter de ultrapassar esse problema, com uma organização adequada. É natural que os professores existentes nas escolas não sejam em número suficiente para dar resposta a todos os "furos", mas a verdade é que o assunto vai ser resolvido. Pelo menos foi essa a impressão que me ficou, depois de ouvir José Sócrates. F.M.

segunda-feira, 4 de abril de 2005

CEP rende homenagem ao Papa de Fátima

Os Bispos portugueses, reunidos em Fátima para a assembleia plenária da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), prestaram hoje homenagem à figura do Papa João Paulo II, falecido no passado sábado.“Foram quase 27 anos em que percorremos os caminhos da Igreja, conduzidos por essa grande figura de Pastor. Aqui em Fátima disse-nos em 1982 que o Pastor é aquele que vai à frente, para identificar os perigos e apontar os novos caminhos da peregrinação do Povo de Deus. Ele foi, para toda a Igreja, esse Pastor, que decididamente, com passada larga, tomou sempre a dianteira, apontando obstáculos a vencer mas, sobretudo, rasgando novos caminhos, alguns nunca andados nem imaginados”, disse o Cardeal-Patriarca de Lisboa, D. José Policarpo, na abertura dos trabalhos da reunião magna do episcopado.“A sua morte provocou uma invulgar unidade da humanidade, de cristãos de todas as confissões, de homens crentes de outras religiões, de Governos e de Instituições, de degelo de posições rígidas, na manifestação do que de melhor está guardado no coração do homem e no âmago das culturas. Esta unidade universal, verdadeiro sinal de uma esperança nova, tornou-se no ‘ex-libris’ deste pontificado”, acrescentou. Considerando que a morte de João Paulo II “foi salvificamente fecunda”, o Patriarca disse que “a nossa comunhão com ele é também uma recolhida acção de graças ao Senhor da Igreja, pelo Pastor que nos deu e uma prece, a ele que já está na comunhão dos Santos, que continue a interceder pela Igreja, que precisa de continuar o seu caminho no tempo, não rejeitando nada da grandeza do drama humano”. (Para ler mais, clique ECCLESIA)

Arcebispo de Braga é o novo presidente da CEP

D. Jorge Ortiga
O Arcebispo de Braga, D. Jorge Ortiga, é o novo presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP). Foi eleito hoje, dia 4 de Abril, na Assembleia Plenária da CEP, que está a decorrer em Fátima. O vice-presidente é D. António Montes, Bispo de Bragança e Miranda, e o secretário passou a ser D. Carlos Azevedo, Bispo Auxiliar de Lisboa. O Conselho Permanente é composto por D. José Policarpo, Patriarca de Lisboa (por inerência), D. Albino Cleto, Bispo de Coimbra, D. António Marto, Bispo de Viseu, e D. José Alves, Bispo de Portalegre e Castelo Branco. As eleições para as diversas comissões realizar-se-ão posteriormente. A Assembleia Plenária da CEP prolonga-se até dia 7 de Abril.

Mensagem do Bispo de Aveiro sobre a morte do Papa

D. António Marcelino
JOÃO PAULO II
- UM TESTEMUNHO QUE NOS ENRIQUECEU A TODOS Comecei a escrever estas palavras quando, preso à catadupa de notícias que chegavam ao mundo inteiro, se ia dizendo da gravidade do estado de saúde do Papa, cuja vida, presa por um fio, estava a chegar ao seu termo. Invadiu-me, então, uma forte emoção que não tentei reprimir. Algumas lágrimas, nascidas de um coração sensível, que aceitava, sem reticências, o querer de Deus, marejaram-me os olhos. Lágrimas de sentida gratidão. O Papa é um mortal, como qualquer de nós. A sua fragilidade física, a aumentar cada dia, vinha-me preparando para momentos de inevitável pesar. João Paulo II é um irmão, muito chegado, que me entrou, por inteiro, no coração e na vida, e me permitiu a experiência pessoal, já iniciada com Paulo VI, de tocar de perto e com uma normalidade inesquecível, a possibilidade de uma Igreja hierárquica próxima das pessoas, o calor da comunhão fraterna a estimular, cada dia, o sentido de serviço, a abertura a todos, sem excepção, porque ele sabia que em todos se esconde e se pode encontrar o Deus amor, que de mil modos actua e se revela. Todos os bispos, por força da sua missão, mantêm uma especial relação com o Papa, com encontros pessoais regulares, pelo menos de cinco em cinco anos, em visitas programadas. Para além destes encontros com João Paulo II que, para mim, foram vários, dado os trinta anos de episcopado que estou prestes a completar, muitos outros se proporcionaram pela minha participação em três sínodos dos bispos com a presença diária do Papa, e nos vários simpósios dos bispos da Europa, realizados em Roma. Ainda nas suas vindas a Portugal ou em idas minhas a Roma, por motivo de reuniões e congressos com audiência papal. Sempre encontros gratificantes. Foi também a concelebração eucarística em grupo na capela pessoal do Papa e, meia dúzia de vezes, a refeição à sua mesa de todos os dias. Toda esta proximidade gerou estima, amizade e admiração e até um certo à-vontade. Podíamos, então, fazer perguntas ao Papa e estabelecer uma conversação que nada tinha de formal. João Paulo II favorecia muito esta aproximação, com o seu interesse, bom humor e conhecimento da nossa língua, fazendo questão de falar e querer que falássemos em português. No sábado à noite estava a celebrar a Confirmação numa paróquia da diocese, quando a notícia, por demais esperada, chegou. Convidei o povo a rezar e a agradecer o grande dom à Igreja e ao mundo, que foi João Paulo II e pude, então, aplicar logo por ele a Sagrada Eucaristia. Dei graças a Deus por assim ter sido. Foi para mim o momento mais propício para acolher, para rezar, para agradecer. Eu sei que o Papa continua vivo. O muito que nos deixou é património da Igreja e da humanidade. Não o quero perder. Não o podemos perder. António Marcelino, Bispo de Aveiro

Exéquias pelo Papa na Sé Catedral

Sob a minha presidência, haverá exéquias solenes na quinta-feira, dia 7, na Sé Catedral de Aveiro, às 19 horas. Dado que os Bispos de Portugal se encontram em assembleia plenária em Fátima, de segunda a quinta-feira, só nesse dia posso estar, como é meu desejo e meu dever.
Para esta celebração convido os presbíteros e os diáconos, os consagrados e os leigos, os jovens e os adultos, a diocese e a cidade, representantes das paróquias e dos movimentos apostólicos.
Convido, também, as diversas instituições da comunidade civil e todas as pessoas de boa vontade, porque, para ninguém, João Paulo II é uma pessoa estranha.
Peço a todos os párocos que organizem, nestes dias, celebrações de sufrágio pelo Santo Padre de modo a que todos os paroquianos se possam associar, em oração fervorosa, por João Paulo II e, em serena reflexão, pelo que a sua vida significou e significa para a Igreja, para o mundo, para cada um de nós.
António Marcelino, Bispo de Aveiro

Sé de Aveiro: Exéquias solenes em memória do Papa

Na Sé de Aveiro, D. António Marcelino presidirá, na próxima quinta-feira, pelas 19 horas, às exéquias solenes, em memória do Papa João Paulo II.
Entretanto, o prelado aveirense confessou à Renascença estar muito emocionado com a forma como o mundo está a reagir à morte de João Paulo II, tendo frisado que a abertura demonstrada nos últimos dias pela China para um novo relacionamento com a Igreja Católica já é uma graça do falecimento do Papa.
D. António Marcelino considerou que João Paulo II levou, durante o seu Pontificado, o diálogo ecuménico a um patamar tão elevado, que o próximo Papa não pode deixar de continuar.
Todos as pessoas são convidadas a participar nesta cerimónia, que se realiza no dia anterior ao funeral do Papa João Paulo II.

Papa enfrentou regimes e sistemas

O Papa enfrentou regimes e sistemas, afirmou o Cardeal-Patriarca de Lisboa, D. José Policarpo, no domingo, na missa por alma de João Paulo II
Só na generosidade, solidariedade e no compromisso com os outros, o Homem descobre a sua própria vida. "Foi isso que fez de João Paulo II, não só um grande pastor da Igreja mas um grande símbolo da humanidade", realçou D. José Policarpo, Patriarca de Lisboa, na homilia da celebração de domingo, na Sé de Lisboa. Nesse abraçar "apaixonadamente o destino da humanidade, agigantou-se a energia espiritual de um grande crente", afirmou o Cardeal de Lisboa, que é também o Presidente da Conferência Episcopal Portuguesa. A força deste homem que o fez percorrer o mundo e "enfrentar as grandes causas da humanidade foi a força da fé". "A sociedade contemporânea, na variedade de religiões e culturas, nas contradições paradoxais entre desejos anunciados e caminhos percorridos, no traumatismo de páginas da história que todos gostaríamos de esquecer, o ateísmo e a descrença assumidos como valores, parece mais antagónica que convergente com este anúncio de esperança cristã", referiu o purpurado. João Paulo II - sublinha D. José Policarpo - foi "um dos que ousaram percorrer corajosamente esses caminhos". Na sua primeira visita a Portugal, recorda o Patriarca de Lisboa, João Paulo II disse-lhe: "bispo é aquele que vai sempre à frente" e que "discerne caminhos novos". Durante o Pontificado deste Papa, "tivemo-lo como pastor corajoso. Sempre à frente com passada rasgada e decidida. Não escondendo o peito das ameaças que pesam sobre a Igreja e sobre o homem. Chocando o mundo e surpreendendo muitos. Galvanizando multidões", disse na homilia o Patriarca de Lisboa. No seu caminho pastoral, João Paulo II enfrentou "regimes e sistemas"; "quebrou tabus" e "abriu as portas do diálogo entre culturas e religiões", sublinhou D. José Policarpo.
Fonte: Agência Ecclesia

João Paulo II será sepultado na Basílica de São Pedro

Funeral do Papa na sexta-feira
O funeral do Papa João Paulo II terá lugar pelas 10 horas (hora local, 9 horas em Lisboa) de 8 de Abril, sexta-feira. A decisão foi tomada na segunda das Congregações Gerais dos Cardeais, concluída há minutos, com a participação de 65 Cardeais. A missa exequial terá lugar na Basílica de São Pedro, sob a presidência do Cardeal Joseph Ratzinger, Decano do Colégio Cardinalício. Posteriormente, o corpo do Papa será sepultado na cripta da Basílica de São Pedro, após as cerimónias de encomendação. O porta-voz do Vaticano, Joaquín Navarro-Valls, negou que João Paulo II tivesse manifestado qualquer vontade ou explicitado qualquer disposição para ser sepultado na Polónia. Hoje, 4 de Abril, o féretro de João Paulo II será trasladado pelas 17 horas da Sala Clementina para a Basílica de São Pedro, seguindo-se uma celebração da Palavra presidida pelo Camerlengo da Santa Igreja Romana, Cardeal Martinez Somalo. Cerca de uma hora depois, os fiéis de todo o mundo poderão prestar a sua última homenagem ao Papa. Tendo em vista o previsível afluxo de peregrinos, a Basílica permanecerá aberta toda a noite, fechando apenas das 2 às 5 horas da manhã, para operações de limpeza. (Para ler o artigo todo, clique ECCLESIA)

domingo, 3 de abril de 2005

Artigo de José Manuel Fernandes, director do "PÚBLICO"

O Papa da liberdade Morreu como sempre viveu: com enorme coragem, a eterna coerência, as convicções inabaláveis, a persistência do lutador que nunca desiste. Sobretudo nunca desiste de ser quem é, de assumir até às últimas consequências a sua liberdade interior, de não se render às circunstâncias, mesmo as mais adversas. As últimas semanas, os últimos meses - os últimos anos? - foram de um grande sofrimento. Karol Wojtyla era um homem tolhido pela doença, diminuído há muito pelo atentado quase fatal de 1981 - agora confirmadamente uma obra do KGB - e que, mesmo assim, não se eximia a qualquer das que acreditava serem as suas obrigações. Num mundo onde a velhice, em especial a degradação do corpo que surge com a doença e a idade, é tantas vezes escondida e motivo de vergonha, João Paulo II assumia-se como era perante todos. Não para exibir a dor ou inspirar piedade, mas porque era um velho doente e queria dizer a todos que um velho doente não deixa por isso de ser o mesmo ser humano, merecedor do mesmo respeito, senhor da sua inalienável dignidade. Num tempo em que tudo fazemos para evitar a dor e fugir ao sofrimento, João Paulo II não deixava de tentar cumprir todos os rituais ligados à sua função mesmo que isso implicasse dor e sofrimento - até porque assumir o sofrimento próprio e entendê-lo como a vontade de Deus faz parte da herança da Cristandade, da crença mais profunda dos fiéis. Acreditar, ter fé, é um dom - e escrevo-o como alguém que conheceu e perdeu a fé. Quando essa fé tem o poder e a intensidade que se percebia em João Paulo II - não é certamente por acaso que D. José Policarpo, patriarca de Lisboa, escreveu que a imagem mais forte que guarda de João Paulo II é do "Papa como um grande crente" - ela determina cada gesto, cada decisão, toda a iniciativa. Admito que é difícil, para todos, mesmo para os católicos, entender o significado integral da entrega de alguém como Karol Wojtyla, sobretudo quando o seu ministério é mais controverso. No entanto julgo que, sobrepondo-se a todas as diferenças de opinião, temos de olhar para o seu legado como algo de que não podemos guardar o que gostamos e esquecer o que não gostamos: temos de o tentar compreender na sua integralidade pois corresponde à imensa coerência e complexidade de alguém que nunca desistiu e sempre lutou pelas suas convicções mais profundas. (Ler o texto na íntegra no "PÚBLICO")

Efeméride: Agostinho da Silva

No domingo de Páscoa de 1994, 3 de Abril, morreu em Lisboa o professor e pensador Agostinho da Silva, depois de uma vida cheia envolta no sonho do 5º império. Do homem que acreditava que o Portugal do século XXI haveria de revelar ao mundo, "sobretudo pelo ser de cada um, o que se vai atingir para além do mundo, com toda a física e metafísica; todas as coisas várias e as mesmas; todos os povos um só e diferentes; todas as características uma e diferentes; todos os ideais diferentes, e um só". Agostinho da Silva nasceu no Porto em 1906 e em 1931 a Universidade da cidade invicta confere-lhe o doutoramento com distinção pela tese que desenvolveu, "O Sentido Histórico das Civilizações Clássicas". Inconformista, procura conhecimentos e culturas em todo o lado, funda Centros de Estudos no País e no estrangeiro, passa por Aveiro onde foi professor do Liceu José Estêvão, em 1933, profere palestras, cria Universidades e lecciona no Brasil e noutros países de vários continentes, escreveu livros. Foi um autêntico andarilho da cultura e da educação pelos quatro cantos do mundo. Eduardo Lourenço diz do pensador que "a encarnação perfeita de uma experiência transparente", que foi um "místico" e até um "excêntrico". Lembra, ainda, que Agostinho da Silva foi "o homem dos sete ofícios, profeta, pedagogo, sábio, naturalista por conta própria", onde "A Natureza e a face misteriosa, terrífica, o símbolo dos pesadelos e das ficções científicas, repousava nas suas mãos como num berço". F.M.

Editorial do "Expresso"

A linha da vida "A terrível batalha jurídica que se desenrolou nos Estados Unidos, com os tribunais a legislarem sobre o corte ou não corte do fio que ligava uma mulher à vida, e a luta que decorre em Portugal a propósito da marcação da data do referendo do aborto, trouxeram de novo à actualidade o debate sobre a vida humana. A questão coloca-se de forma muito simples: uns defendem que não é legítimo intervir sobre a vida de um ser humano, desde o momento da concepção até ao momento da morte, outros consideram que essa intervenção é legítima. Os primeiros condenam, por exemplo, o aborto e a eutanásia. Os segundos aceitam-nos. O Expresso, não sendo um jornal confessional, como é sabido, tem-se mantido intransigentemente contrário à manipulação da vida. Para nós, é necessário que haja uma linha clara, nítida, que separe a vida da morte - e que na transposição dessa linha não exista intervenção de ninguém. Ora os que defendem a eutanásia e o aborto estão a admitir que a linha que protege a vida não é nítida, que o início da vida e o momento da morte são discutíveis, que um ser com menos de 12 semanas não pode ser considerado um ser humano e que um homem ainda vivo pode já 'merecer' estar morto - sendo admissível, por isso, o golpe de misericórdia. Esta aceitação da ideia de que à volta da vida não deve haver uma linha inviolável mas uma nebulosa, e que são legítimas as intervenções nessa zona no sentido de interromper a vida ou apressar a morte, é um passo terrivelmente perigoso. Porque, além da eutanásia e do aborto, abre o campo a outras enormidades como a pena de morte. Ou a pensamentos ainda mais tenebrosos como este: se uma pessoa deixou de trabalhar e de ser produtiva, se se tornou um estorvo para os seus familiares, porquê mantê-la viva? Se a eutanásia é permitida, por que não alargar esse conceito aos velhos que só representam encargos para a sociedade e um peso insuportável para os parentes? Aceitar a manipulação da vida é um risco tremendo. Aqueles que, por razões ideológicas ou porque consideram que isso é 'moderno', defendem 'causas' como a eutanásia e o aborto, deveriam pensar um pouco mais a fundo até onde isso nos poderá levar."
NB: Transcrevo o Editorial do "Expresso" desta semana porque julgo que pode ajudar muita gente a pensar.

A globalização está a dar cabo de nós

No seu espaço habitual do suplemento "Economia & Internacional" do "Expresso", Nicolau Santos afirma que a globalização está a dar cabo de nós, garantindo que "não há milagre de produtividade que consiga reduzir o diferencial do custo de mão-de-obra entre a Europa e a China". E sublinha, a seguir, que o inevitável "é a concentração da riqueza num cada vez menor número de megaempresas e o avanço da pobreza e da insegurança profissional à escala planetária". Depois de contar a história económica do Japão, que passou quase do pleno emprego no pós-guerra para uma situação em que 40 por cento dos japoneses ocupam, presentemente, um posto de trabalho a tempo parcial ou a termo certo, Nicolau Santos afirma que a globalização vai fazer com que "a esmagadora maioria das nossas empresas têxteis desapareça, deixando no desemprego de 75 a 100 mil trabalhadores nos próximos cinco anos". Refere, por outro lado, que o movimento da integração europeia "vai tornar-nos o Alentejo da Europa, desertificado e pouco interessante, com os nossos melhores quadros e os nossos filhos a emigrarem para centros urbanos europeus bem mais compensadores do ponto de vista profissional, social e cultural". No entanto, Nicolau Santos frisa que ainda há soluções para evitar esta catástrofe, soluções essas que passam por algumas empresas nacionais dominarem sectores estratégicos e por haver incentivos a investimentos estrangeiros em investigação e desenvolvimento entre nós. Mais: por estimular o orgulho dos empresários nacionais em manterem as empresas nas suas mãos, por fazer compreender aos sindicatos que não pode estar em jogo os aumentos salariais, mas saber se ainda teremos um emprego daqui a cinco anos. Numa perspectiva positiva, temos de olhar, de facto, para a evolução do mundo económico, matriz do progresso a nível de bem-estar social. A economia, hoje, está na base de tudo, podemos mesmo dizê-lo. Mesmo acima das políticas governamentais, que pouco poderão fazer para além do estímulo e da criação de estruturas de apoio ao desenvolvimento empresarial, sempre no respeito pelo princípio da defesa dos mais frágeis da sociedade, como é próprio de uma democracia solidária. F.M.

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