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sábado, 18 de julho de 2020

Desconfinar a Igreja. 4

Crónica de Anselmo Borges 



1. Também se aplica à Igreja, e compreende-se que de modo particular à Igreja, tantas são as expectativas em relação a ela: dá-se eco, sobretudo nos média, ao que é negativo, aos erros, crimes, escândalos... Quem pode negar tudo isso? Mas o que a Igreja fez e faz de positivo é mais: promoção das pessoas, combates pela sua dignificação, infindáveis iniciativas de caridade e cultura... Também agora, nesta calamidade pandémica. Quantos políticos portugueses, se quiserem ser honestos, terão de estar de acordo com as palavras do alcaide de Madrid, José Luis Martínez Almeida: “A acção da Igreja foi fundamental, como o é na vida quotidiana.” 
Neste contexto, perdoe-se esta nota: quando a ecologia tem de ser um elemento essencial na viragem, o Vaticano dá o exemplo: instalou no edifício da Aula Paulo VI painéis solares, promove o uso de veículos eléctricos, eliminou o uso de pesticidas tóxicos nos jardins... 
Mas a dívida maior para com a Igreja, apesar da e no meio da sua história de miséria, é que através dela o Evangelho foi sendo anunciado, e o Evangelho está na base da tomada de consciência da dignidade inviolável da pessoa e foi fermento que levou à proclamação dos Direitos Humanos. 

domingo, 17 de março de 2019

Bento Domingues - O impossível pode acontecer

Bento Domingues
"A situação actual dá a impressão de que os europeus se cansaram de 74 anos de paz e, agora, dão passos para barrar os caminhos da cooperação no desenvolvimento de todos. Parecem apostados em regressar, com novos moldes, a uma época de insensatez, em nome de um nacionalismo vesgo"

1. Em Guimarães, de 7 a 12 de Março deste ano, além de outros programas, a Biblioteca Municipal dedicou o Festival Literário, Húmus, a estudar Raul Brandão, uma das suas glórias. Participei, no dia 9, com Alberto S. Silva, numa Mesa de Debate sobre As Cruzadas vistas dos dois lados, moderada por Pedro Vieira. Estava anunciada nestes termos: “Durante séculos, cristãos e muçulmanos lutaram pela posse do território. Da época do Al-Andalus, seguido do período da Reconquista, às Cruzadas dos séculos XI a XIII, estes movimentos influenciaram em muito a história de Portugal e da Península Ibérica. Mas todas as histórias têm dois lados. Como são interpretados os factos históricos dos dois lados da barricada?” 
Esta interrogação envolve séculos de grandes realizações, destruições, confrontos, períodos de entendimentos e muita violência. As religiões foram texto e pretexto para alternadas dominações políticas, económicas e culturais. Não se pode esperar muito de uma mesa de diálogo amistoso com um tempo necessariamente limitado. Mas o tema devia tornar-se incontornável. António Borges Coelho ajudou-me a vencer a minha ignorância [1]. 
Apesar de tudo o que permanece oculto, até os mais cépticos concedem que o passado, quanto mais estudado, mais desmitificado. Esta é a tarefa dos historiadores, com os seus métodos de investigação e interpretação. O proveito é para todos os interessados em saber donde viemos [2]. 
Não podemos deixar que os confrontos entre religiões durmam o sono dos arquivos, memórias de outras épocas enterradas. Somos hoje testemunhas de tragédias que continuam a desenhar mapas de sangue e crueldade. Podemos e devemos admirar castelos, fortalezas e prisões de tempos guerreiros por razões de ordem estética, científica e moral. Mas agrada-me sempre mais ver, nas relações de Portugal com os reinos de Espanha, castelos e fortalezas transformados em pousadas, do que apenas testemunhos de ignorâncias e ressentimentos não resolvidos. 

sexta-feira, 29 de junho de 2018

Ecumenismo e proselitismo

Anselmo Borges

Na continuidade do seu empenho no diálogo ecuménico em ordem à unidade visível dos cristãos, bem claro nos seus encontros com o Patriarca de Constantinopla, Bartolomeu, a quem chegou a pedir a bênção, com o Patriarca Kirill, de Moscovo, depois de um milénio de costas voltadas, na sua ida a Lund, Suécia, para a inauguração das celebrações dos 500 anos da Reforma, o Papa Francisco, correspondendo a um convite para estar presente na celebração dos 70 anos do Conselho Mundial das Igrejas, esteve no passado dia 21 em Genebra. Uma viagem sob o lema "Caminhar, rezar e trabalhar juntos", apelando a "uma nova primavera ecuménica".

Como nasceu o Conselho Mundial das Igrejas? Para a sua criação teve papel relevante a experiência de conflito na missionação. Por isso, foi importante, em 1910, a Conferência Mundial das Missões de Edimburgo. Em 1920, o Patriarcado ecuménico de Constantinopla propôs a criação de uma "Sociedade de Igrejas", à semelhança da Sociedade das Nações. Em 1937-1938, responsáveis de mais de cem igrejas manifestaram-se favoráveis à criação de um Conselho Ecuménico das Igrejas, tendo a sua concretização sido adiada por causa da Segunda Guerra Mundial. Em 1948, na sequência da Guerra e das experiências que provocou, realizou-se a Assembleia fundadora do Conselho, com 147 membros. Actualmente, o Conselho é constituído por 345 Igrejas ou denominações cristãs de mais de 120 países, com representantes das antigas Igrejas ortodoxas, das Igrejas anglicanas, baptistas, metodistas e também das mais recentes ramificações do protestantismo evangélico, perfazendo na totalidade uns 500 milhões de cristãos. A Igreja católica não se conta entre os seus membros, também porque, ela sozinha, representa mais de metade do cristianismo no mundo, 1200 milhões, mas tem um estatuto de observador e participa na comissão doutrinal Fé e Constituição.

segunda-feira, 23 de outubro de 2017

500 anos da Reforma Protestante – De inimigos a irmãos


Um texto de Luís Manuel Pereira da Silva

«Em 31 de outubro de 1517, Martinho Lutero envia ao arcebispo de Mogúncia as 95 teses, proposições em que se distancia de práticas que ele considerava inaceitáveis na Igreja de Roma. Decorreram, precisamente, 500 anos. A este evento costuma atribuir-se o estatuto de evento fundador da Reforma Protestante. Plasticamente, é registada a força deste acontecimento através da imagem de Lutero afixando as teses na porta da Igreja de Vitemberga, uma prática, aliás, frequente entre os académicos que expunham, assim, as suas ideias, dispostos a discuti-las. No caso de Lutero, porém, o evento assume um carácter que ultrapassa a dimensão académica e configura-se como o princípio de um movimento que vem a assumir contornos de enorme relevância eclesial (conduz à rutura com Roma) e política, criando divisões no império dirigido por Carlos V a partir de 1519.

Não nos interessam aqui, porém, os dados de ordem histórica, mas reter que, felizmente, hoje, já não estamos nesse ponto. Costumo recordar aos meus alunos que, quando é estudada a Reforma e a Contrarreforma, na disciplina de História, só lhes é contado o primeiro capítulo dessa narrativa, pois, felizmente, hoje, já não estamos nessa fase do conflito que foi encontrando, em alguns eventos pacificadores, como com o édito de Nantes de 1598, alguns mais ou menos efémeros raios de conciliação. A história deste caminho fez-se, até finais do século XIX e inícios de XX, com grandes divergências e conflitos. Feridas que a história levou tempo a sarar. Católicos e protestantes olharam-se, durante tanto tempo (demasiado tempo!), como inimigos. Basta recordar que, na Irlanda do Norte, essa é uma dolorosa ferida ainda com escaras.»

Ler todo o texto aqui

sexta-feira, 13 de outubro de 2017

Anselmo Borges — Francisco sobre: 4. o diálogo ecuménico e inter-religioso




Anselmo Borges

Ainda os diálogos do Papa Francisco e de Dominique Wolton: Politique et société. Se há palavra que atravessa o livro todo é a palavra diálogo. "Como é que a Igreja poderia contribuir hoje para a mundialização?", pergunta Wolton. E Francisco: "Pelo diálogo. Penso que sem diálogo hoje não é possível. Mas um diálogo sincero, mesmo se for preciso dizer na cara coisas desagradáveis." Foi a avó que lhe abriu as portas da "diversidade ecuménica". Criança, viu umas senhoras do Exército da Salvação e perguntou: são freiras? "Não, são protestantes, mas são pessoas boas." De facto, marcou-o, pois, por exemplo, estamos a celebrar os 500 anos da Reforma e, pela primeira vez, isso acontece com católicos e protestantes, e, depois de tudo quanto na Igreja se tinha ouvido sobre Lutero - "os protestantes iam para o inferno" -, Francisco veio dizer que ele foi "um pioneiro religioso, uma testemunha do Evangelho e um mestre da fé... A intenção de Lutero foi renovar a Igreja, não dividi-la. Era um reformador. Havia corrupção na Igreja, mundanismo, obsessão pelo dinheiro, pelo poder". E encontrou--se com o patriarca de Constantinopla, pedindo-lhe a bênção, e com o de Moscovo.
O diálogo, e concretamente o diálogo inter-religioso, "não significa porem-se todos de acordo. Não. Significa caminhar juntos, cada um com a sua própria identidade". Wolton: "E, no diálogo com o islão, não seria necessário pedir um pouco de reciprocidade? Não há verdadeira liberdade para os cristãos na Arábia Saudita e nalguns países muçulmanos. É difícil para os cristãos. E os fundamentalistas islamistas assassinam em nome de Deus." Francisco: "Eles não aceitam o princípio da reciprocidade. Alguns países do Golfo também são abertos e ajudam-nos a construir igrejas. Porque é que são abertos? Porque têm trabalhadores filipinos, católicos, indianos... O problema na Arábia Saudita é uma questão de mentalidade. Todavia, com o islão, o diálogo avança bem, porque, não sei se sabe, o imã da Universidade de Al-Azhar, no Cairo, Ahmed Mohamed el-Tayeb, veio visitar-me e eu retribuí a visita. Penso que lhes faria bem a eles fazerem um estudo crítico do Alcorão, como nós fizemos com a nossa Bíblia. O método histórico e crítico de interpretação fá-los-á evoluir."

Francisco reconhece, portanto, que para o diálogo inter-religioso é fundamental não tomar os livros sagrados à letra: é necessária uma leitura histórico-crítica. Outro princípio essencial para a liberdade religiosa e a paz entre as religiões tem que ver com a laicidade do Estado, isto é, o Estado não pode ser confessional, o Estado deve ser laico. Para garantir a liberdade religiosa de todos: ter esta religião ou aquela, nenhuma, poder mudar de religião. Francisco: "O Estado laico é uma coisa sã. Há uma sã laicidade. Jesus disse-o: é preciso dar a César o que é de César e a Deus o que é de Deus. Somos todos iguais diante de Deus." Mas laicidade não é laicismo. Neste, constrói-se "um imaginário colectivo no qual as religiões são vistas como uma subcultura". É necessário "elevar" um pouco o nível da laicidade mediante "a abertura à transcendência". Que quer dizer "um Estado laico "aberto à transcendência"? Que as religiões fazem parte da cultura, que não são subculturas. Quando se diz que não se deve colocar cruzes visíveis ao pescoço ou que as mulheres não devem levar isto ou aquilo, é uma estupidez. Porque uma e outra atitude representam uma cultura. Um leva uma cruz, outro outra coisa, o rabino a kipa, o papa o solidéu" [risos]. "Esta é a sã laicidade. Há exageros, nomeadamente quando a laicidade é colocada acima das religiões. Porventura as religiões não fazem parte da cultura? Serão subculturas?"

Wolton pergunta como é possível chegar ao diálogo com os ateus e os não crentes. Francisco responde que fazem parte da realidade. Há pontos de vista diferentes, mas "a realidade é a verdade". As pontes são o nosso diálogo. Mas deve partir-se da realidade, não da teoria, e "procurar juntos, é um caminho de busca. Procurar". Wolton insiste: "Seja como for, que fazer? Os ateus fizeram muito pela libertação social, política, pela democracia desde o século XVIII. O que é que a Igreja faz? A Igreja diz muitas vezes que "os espera". Mas se são ateus não precisam da vossa espera. Então, como dialogar? Que fazer com os ateus? Porque a Igreja matou muitos..." Francisco: "Noutras épocas, alguns diziam: "Deixai-os tranquilos, irão para o inferno."" Wolton: "Claro" [risos]. Francisco: "Mas nunca devemos falar com adjectivos. A verdadeira comunicação faz-se com substantivos. Isto é, com uma pessoa. Essa pessoa pode ser agnóstica, ateia, católica, judia..., mas isso são adjectivos. Eu, eu falo com uma pessoa. É um homem, é uma mulher, como eu. Um jovem perguntou-me na Polónia: "Que dizer a um ateu?" Respondi-lhe: "A última coisa que deverás fazer é pregar a um ateu. Tu deves viver a tua vida, tu escuta-lo, mas não deves fazer apologia". O diálogo deve fazer-se com a experiência humana. Podemos falar de muitos temas que temos em comum: problemas éticos, coisas humanas. Do que pensamos, dos problemas humanos, como comportar-se... Podemos debater sobre o desenvolvimento humano. E quando se chega ao problema de Deus, cada um diz a sua escolha. Mas escutando o outro com respeito... Podemos falar sem medo - tu és ateu, eu não... mas falemos. Ambos acabaremos no mesmo lugar. Seremos ambos comidos pelos vermes!"

Wolton: "O que é mais difícil: o diálogo ecuménico ou o diálogo inter-religioso?" Francisco: "Segundo a minha experiência, diria que o inter-religioso foi mais fácil do que o ecuménico. Tive muitos diálogos ecuménicos e gosto muito. Mas, se compararmos, o inter--religioso foi mais fácil para mim. Porque se fala mais do homem..." Wolton: "Quando se está próximo, tudo é difícil. Quando se está afastado, é mais fácil. É estranho."


Anselmo Borges no Diário de Notícias 

Por decisão pessoal, o autor do texto não escreve segundo o novo Acordo Ortográfico

domingo, 18 de junho de 2017

O ECUMENISMO DAS MULHERES

Crónica de Frei Bento Domingues no DN


1. Nos finais dos anos 60 do século passado, num curso de cristologia, dediquei algumas aulas a investigar, com os alunos, o contraste entre a atitude de Jesus em relação às mulheres e a sua permanente ausência nas grandes decisões de orientação da Igreja. As mulheres não tinham podido votar os documentos do concílio ecuménico Vaticano II, como também nunca tinham tido voz activa em nenhum outro Concílio. Um estudante, no debate, argumentou que, por isso, era um abuso falar de concílios ecuménicos, porque lhes faltou sempre a voz e o voto das mulheres cristãs. Esse facto era mais grave do que a ausência das Igrejas ortodoxas e protestantes no Vaticano II.
Mesmo sem entrar agora nessa discussão, é preciso ir à raiz de toda a problemática actual na Igreja, sobre o acesso das mulheres aos ministérios ordenados, sobretudo depois da decisão de João Paulo II destinada a abolir, e para sempre, qualquer debate a esse respeito. Invocou para o efeito a sua missão e decidiu que a Igreja não tem qualquer poder para conceder a ordenação sacerdotal às mulheres e que esta posição deve ser mantida por todos os fiéis da Igreja, definitivamente.
A 18 de Novembro de 1995, a Congregação para a Doutrina da Fé declarou que esta Carta Apostólica não é uma definição ex-cathedra [1]. A vontade de suprimir para sempre qualquer debate sobre esta matéria é o desejo do impossível. Há-de haver sempre quem não sinta essa obrigação e teime em discutir, como seu direito.
De facto, esse documento vem na linha da progressiva sacerdotalização dos ministérios ordenados na Igreja com resultados pouco cristãos. Levou a esquecer o principal: a marca sacerdotal do baptismo. Isto sim, que é grave. O principal passou para secundário e o secundário para principal. É uma inversão que atinge a própria raiz do cristianismo.
Por outro lado, não existem dois baptismos, um para homens e outro para mulheres. A identidade cristã é sacerdotal sem distinção de género. No entanto, quando se fala de sacerdotes pensa-se logo nos padres e nos bispos, algo vedado às mulheres.
É por esta deformação que os ministérios ordenados adquiriram uma posição tão relevante e absoluta em relação aos outros ministérios eclesiais, mas sobretudo desvalorizando a dignidade baptismal, comum a todos os cristãos. Esta é anterior e determinante para o exercício de outro qualquer ministério na Igreja. Aquilo que é um serviço expressou-se como um poder que impõe e domina, desfigurando a imagem cristã da Igreja: uns ensinam, mandam e celebram e os outros e as outras escutam, obedecem e assistem.

2. A qualificação do Baptismo, no Espírito Santo, é ontológica. Existe para celebrar um nascimento novo para a fraternidade na Igreja de irmãs e irmãos. Quando Tomás de Aquino pergunta o que há de mais importante, de mais poderoso na lei nova do Evangelho, responde: a graça do Espírito Santo, tudo o resto é para a secundar. Os ministérios pertencem ao âmbito funcional, são da ordem do fazer. A graça do Baptismo é da ordem do ser.
O chamado sacerdócio comum dos baptizados não se identifica com os ministérios ordenados a que se costuma chamar sacerdócio ministerial ou hierárquico. Ao fazer isto, esquece-se que a diferença entre ambos é em benefício do Baptismo e não ao contrário. A verdadeira dignidade de todos os cristãos, masculinos e femininos, provém da graça baptismal.
A desgraça está mesmo neste ponto. Quando se fala do sacerdócio comum, dado pelo Baptismo, fica-se com a ideia, essa sim muito comum, de que este está muito abaixo do sacerdócio ministerial, quando a verdade é completamente inversa. Os chamados ministérios ordenados têm uma história muito complexa que importa conhecer para não se cair em contra-sensos [2], como documentou o teólogo J. Tillard.
Se a celebração do Baptismo é um sacramento da transformação pascal da vida, todos os baptizados, sejam masculinos ou femininos, tornam-se sacerdotes, participantes do sacerdócio de Cristo. Esta participação é o fundamento de tudo o que acontece na Igreja.
Quando se nega a possibilidade de as mulheres baptizadas acederem aos ministérios ordenados, são exibidas muitas razões. A particularidade de todas elas é a de terem perdido a razão. É frequente invocar a Última Ceia para falar da instituição da Eucaristia. Por não constarem, nessa narrativa, nomes de mulheres, diz-se que não receberam o sacramento da ordem, o fazei isto em memória de Mim! O uso do argumento da ausência de mulheres nessa Ceia, para não poderem presidir à Eucaristia, deveria ser radicalizado, para se ver o seu absurdo. Se isso fosse verdade, as mulheres ficariam definitivamente impedidas de participar na Eucaristia. Em termos “pastorais”, as mulheres deveriam ser impedidas de irem à missa!

3. O teólogo valdense italiano, Paolo Ricca [3], depois de analisar a situação da mulher na comunidade cristã nascente, procurou mostrar como “progressivamente foi afastada, de quase todas as funções, até se tornar o proletariado do cristianismo. Tal como na sociedade industrial do século XIX, o proletariado levava as coisas para a frente, as mulheres levam a Igreja para a frente, mas justamente como proletárias, isto é, sem poder”.
Parece-me um retrato sugestivo, mas esse caminho pode desvirtuar o que, hoje, está em causa: as mulheres, como no tempo de Jesus, não pretendem, como os discípulos, um poder de dominação, mas o poder de servir.
A regra de Santo Agostinho está certa: “Convosco sou cristão, para vós sou bispo.” A complementaridade das mulheres nos ministérios ordenados manifestará a originalidade das capacidades femininas de servir as comunidades cristãs, que tradições obsoletas impedem.
O Papa Francisco foi à Suécia para celebrar os 500 anos da Reforma Luterana. Encontrou mulheres e homens ordenados no serviço de uma Igreja cada vez mais democrática nas suas decisões. Não se poderá aprender nada com essa tradição?
As mulheres ordenadas, caminho ou obstáculo ao ecumenismo cristão?

[1] La Documentation Catholique, 19.06.1994, n.º 2096, pp 551-552; Ib. 553; Ib 03.07.1994 n.º 2097, pp 611-615
[2] Cf. J. M. R, Tillard, O.P., La “qualité sacerdotale” du ministère chrétien, NRTH, 5, 1973, pp 481-514
[3] Cf. Revista da Associação Oreundici, n.º 3, de Junho de 2013

quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

Unidade no certo, liberdade no duvidoso e caridade em tudo

Semana de oração pela unidade dos cristãos  
— 18 a 25 de janeiro


«Reconciliação» entre cristãos é esperança 
para a Europa, proclama o Papa Francisco

«O Papa Francisco assinalou hoje no Vaticano o início da semana de oração pela unidade dos cristãos, afirmando que este esforço ecuménico é um sinal de “esperança” para a Europa.
“Na Europa, esta fé comum em Cristo é como um fio de esperança: pertencemos uns aos outros. Comunhão, reconciliação e unidade são possíveis”, disse, na audiência pública semanal que decorreu na sala Paulo VI.
Na saudação aos peregrinos de língua portuguesa, Francisco sublinhou que estes dias de oração são um apelo à “comunhão de preces e de esperanças
“O movimento ecuménico vai frutificando, com a graça de Deus. Que o Pai do Céu continue a derramar as suas bênçãos sobre os passos de todos os seus filhos. Irmãs e irmãos muito amados, servi a causa da unidade e da paz”, concluiu.
A Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos, que no hemisfério norte se celebra de 18 a 25 de janeiro, evoca em 2017 os 500 anos da reforma protestante, iniciada por Martinho Lutero.»


Ler mais aqui 

Nota: Texto e foto da Ecclesia

Mais duas palavras

Já lá vai o tempo em que se falava da unidade dos cristãos no sentido de as igrejas,   não católicas, fecharem a sete chaves vivências de fé, durante séculos, para se acolherem na Igreja Católica, aceitando, obviamente, como pastor comum, o Papa. Penso que essa ideia já foi posta de parte, predominando, nos tempos de hoje, o respeito mútuo pela verdade essencial que é Jesus Cristo, Mestre e Salvador. E assim, seguindo cada Igreja o seu caminho, lado a lado, em pé de igualdade com a Igreja Católica,  todas estarão a construir o Reino de Deus neste mundo. fundamental para brotar uma sociedade mais justa e fraterna. 
Há muito que defendo o princípio de as Igrejas seguirem a máxima de grande alcance, atribuída a Santo Agostinho, que muito aprecio e que li,  pela primeira vez, há décadas, na Catedral de São Paulo, da Igreja Católica Apostólica Evangélica Lusitana, em Lisboa: "Unidade no certo, liberdade no duvidoso e caridade em tudo" 

segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

Oração Ecuménica em Aveiro

Terça-feira, 
19 janeiro - 21h15
Igreja da Misericórdia



Vem já de longa data a tradição dos cristãos de Aveiro das diferentes tradições se reunirem em oração comum na Semana de Oração pela Unidade da Igreja. Este ano, estando a Igreja católica a viver o Ano da Misericórdia, de comum acordo, acertou-se que a oração ecuménica se realizasse na igreja da Misericórdia, no centro da cidade de Aveiro, no próximo dia 19, terça-feira, às 21h15.
Como habitualmente, no final da oração, haverá um momento de convívio, servindo-se um chá aos participantes.

Fonte: Diocese de Aveiro

domingo, 28 de junho de 2015

SÓ PARA DEPOIS DO JUÍZO FINAL

Crónica de Frei Bento Domingues 

 «A humanidade não pode continuar 
a envenenar o seu próprio futuro»


1. Dizem que o Papa Francisco não é um homem apressado, mas tem muita pressa. Tentarei compreender porquê. Para já, quero manifestar a alegria que vivi na leitura da primeira Encíclica de um Bispo de Roma, dirigida a cada pessoa que habita este planeta a reconhecer, a respeitar e a cuidar. Ele é a nossa própria casa. A humanidade não pode continuar a envenenar o seu próprio futuro. É um rio de muitos afluentes. Pelo horizonte, pelo conteúdo e pelo estilo é justo chamar a este texto a Carta Magna da ecologia integral [1].
Ao contrariar a liberdade de exploração egoísta dos recursos de todos, o Papa Francisco vai ter de enfrentar novas campanhas contra o seu pontificado, campanhas movidas por aqueles que procuram reduzir tudo a negócios de miopia. Pedem-lhe que se ocupe do Céu e esqueça os pobres. Mas este argentino continuará a protestar contra os vendilhões da terra de todos apenas para benefício de alguns.

terça-feira, 27 de janeiro de 2015

«Ecumenismo de sangue» une Igrejas perseguidas

Francisco encerra Semana de Oração 
pela Unidade dos Cristãos



“Neste momento de oração pela unidade, gostaria de recordar os nossos mártires hoje. Eles dão testemunho de Jesus Cristo e são perseguidos e mortos, porque são cristãos, sem fazer distinção, por parte dos perseguidores, da confissão à que pertencem: são cristãos e por isso são perseguidos. Este é, irmãos e irmãs, o ecumenismo do sangue”, declarou, na homilia que proferiu na Basílica de São Paulo fora de muros.

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quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos


D.Manuel Linda


Unidade não se faz por decreto


O presidente da Comissão Episcopal da Missão e Nova Evangelização encara a semana de oração pela unidade dos cristãos, que começa este domingo [começou no passado domingo] como uma oportunidade de fortalecer o percurso ecuménico em Portugal.
Em entrevista à Agência ECCLESIA, D. Manuel Linda sublinha o sentido da frase bíblica que vai “dar o tom” a estes oito dias, “Dá-me de beber”, retirada do diálogo entre Jesus e a samaritana.
Para o prelado católico, num tempo em que judeus e samaritanos não se davam, o gesto de aproximação de Cristo àquela mulher continua hoje a ser um “símbolo de abertura” e um convite a que todas as pessoas tenham a “capacidade” de não se fecharem aos outros, “mesmo nos momentos difíceis”.
No caso das Igrejas cristãs, esta passagem do Evangelho apela a que elas continuem a estreitar laços, ainda que “a cultura, as tradições, os hábitos digam que não é possível”, salienta aquele responsável.
Num olhar para a caminhada ecuménica em Portugal, D. Manuel Linda diz que “oficialmente, formalmente”, têm sido dados no país “passos significativos na ordem da unidade”.
Isto depois de “um tempo em que a Igreja Católica era praticamente a única existente na sociedade” e os “grupos minoritários”, as outras confissões religiosas “porventura não eram tão respeitados como deveriam ser”.

domingo, 28 de dezembro de 2014

Um milénio entre a excomunhão e a bênção

Crónica de Frei  Bento Domingues 



1. Segundo a cronologia, devia ter deixado para hoje o que escrevi no Domingo passado. Mas assim é melhor. Vamos, então, à fonte donde nasceram as questões que os jornalistas levantaram ao Papa, no voo de regresso da Turquia.

Foi uma peregrinação que durou três dias cheios de acontecimentos, cuja significação profunda e decisiva para o futuro passou quase despercebida. Começo pelo contraste complementar entre as declarações fervorosas sobre o Islão – a não confundir com as organizações que o invocam para matar em nome de Deus - e o apelo veemente aos dirigentes religiosos e políticos muçulmanos para que se unam na denúncia clara e pública desses crimes e ameaças.
A Turquia é a fronteira de muitas fronteiras políticas, religiosas e cristãs. Bergoglio não foi lá dar lições a ninguém. Foi encorajar os que procuram caminhos de paz no Medio Oriente, intensificar o diálogo inter-religioso e revigorar a proximidade católica com o mundo cristão da Ortodoxia.
Era conduzido pelo desejo de congregar as energias de todas as pessoas de boa vontade, daquelas que vêem o mundo a partir do rosto das vítimas da violência, dos pobres e dos excluídos e que não aceitam esta vergonha como uma fatalidade.

sábado, 25 de janeiro de 2014

Ecumenismo em Portugal levado à prática

Reconhecimento mútuo do Batismo 
é «pequeno» sinal que pede novos gestos


Borges de Pinho


«O professor universitário José Eduardo Borges de Pinho afirmou que o reconhecimento mútuo do batismo por parte das Igrejas cristãs em Portugal é um “pequeno” sinal que precisa de expressões maiores, mas significa um “passo em frente” para decisões futuras.
“Este reconhecimento mútuo representa um passo em frente e um abrir os nossos olhos para tomar as decisões que vêm a seguir, que não serão amanhã, mas que nos são pedidas”, afirmou à Agência ECCLESIA o docente da Universidade Católica Portuguesa.
Representantes das Igrejas Católica, Lusitana, Presbiteriana, Metodista e Ortodoxa (Patriarcado Ecuménico de Constantinopla) vão assinar este sábado, em Lisboa, uma declaração de reconhecimento mútuo do Batismo.
A assinatura é no entender de Borges de Pinho um passo “pequeno”, mais significativo “internamente do que exteriormente”.
“É evidente que se nos chamamos cristãos e desde que o Batismo seja realizado dentro das condições normais e básicas do seguimento de Jesus, à luz da tradição da Igreja, o reconhecimento não deveria ser alvo de qualquer problema ou discussão. Há aqui algo mais de simbólico do que de grande acontecimento”, explica.»

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quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Semana pela Unidade dos Cristãos

Divisão entre cristãos é um «escândalo», 
frisa papa Francisco, 
que pede abertura para entender
 «diferença como riqueza»


O papa Francisco lamentou esta quarta-feira no Vaticano, durante a audiência geral realizada na Praça de S. Pedro, a separação existente entre os cristãos, não obstante Cristo dever ser fonte de união.
«Com certeza que Cristo não foi dividido. Mas devemos reconhecer sinceramente, e com dor, que as nossas comunidades continuam a viver divisões que são escandalosas. A divisão entre nós, cristãos, é um escândalo. Não há outra palavra: um escândalo», frisou o papa, citado pela Rádio Vaticano.
A mensagem de Francisco enquadrou-se na Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos, que começou este sábado.

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terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos



«De 18 a 25 de Janeiro celebra-se a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos. Este ano, o tema proposto pelo Conselho Pontifício para a Promoção da Unidade dos Cristãos (Santa Sé) e a Comissão Fé e Constituição do Conselho Mundial de Igrejas é “Estará Cristo dividido?” (1Cor 1,13).
Trata-se de uma semana na qual somos desafiados a rezar pela unidade de todos os cristãos, não para que os outros se aproximem de nós, mas para que nos aproximemos mais uns dos outros.
No próximo dia 25, representantes das Igrejas Católica, Lusitana, Presbiteriana, Metodista e Ortodoxa (Patriarcado Ecuménico de Constantinopla), em Portugal, vão assinar uma declaração de reconhecimento mútuo do Batismo.
A assinatura terá lugar durante a celebração ecuménica nacional, na catedral Lusitana de São Paulo (Igreja Anglicana), com início marcado para as 18h00.
Para que não percamos o ideal do amor fraterno e da unidade, a nossa oração e acção são imprescindíveis.»

domingo, 19 de janeiro de 2014

A urgência do diálogo ecuménico

Crónica dominical 
de Bento Domingues 
só amanhã no meu blogue

Consciência ecuménica, consciência baptismal
Frei Bento Domingues

Algumas frases: 

«A urgência do diálogo ecuménico nasceu, nos finais do séc. XIX, nas chamadas terras de missão, para vencer o contratestemunho das igrejas cristãs divididas que se hostilizavam no anúncio do Evangelho da paz. As vicissitudes do movimento ecuménico já foram historiadas.»

«O Movimento Ecuménico português já apresentou serviço: representantes das Igrejas Católica, Lusitana, Presbiteriana, Metodista e Ortodoxa, em Portugal, irão assinar, no próximo dia 25, em Lisboa, uma declaração de reconhecimento mútuo do baptismo. Ainda bem.»

«Em certas zonas do mundo, o cenário é devastador: matam-se os cristãos sem perguntar pela identidade eclesial. O cristianismo está a ser completamente eliminado. É urgente um ecumenismo global de socorro.»

«O Papa mandou uma carta aos futuros cardeais: “O cardinalato não significa uma promoção nem uma honra nem uma condecoração, é simplesmente um serviço que exige ampliar o olhar e alargar o coração”.»

quinta-feira, 18 de julho de 2013

Europa sem horizontes novos


Cristãos à escala universal?



"Numa Europa politicamente baralhada, eticamente empobrecida, incapaz de horizontes novos, o mundo voltou a olhar para Roma, dada a esperança que daí parece vir a favor dos direitos humanos fundamentais, da dignificação e humanização das relações pessoais e sociais, da colaboração séria em prol da verdade, da justiça e da paz."

António Marcelino

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Renascimento da comunidade cristã

Ecumenismo

Criação comum

Irmão Roger


«Quer sejam católicas ou protestantes, as gerações ascendentes exigem mais do que reformas: um renascimento da comunidade cristã. Mas, muitas vezes, metem o carro à frente dos bois esquecendo que não há reforma de uma comunidade sem reforma do indivíduo. É preciso que o ser preceda o agir. Obcecados por uma vontade de reforma, arriscamo-nos a esquecer que a atualização começa nas profundezas de nós mesmos.

A estes jovens repito frequentemente: na comunhão fraterna que hoje junta várias gerações em Taizé, queremos escutar o Espírito Santo em vós, alargando a nossa inteligência, o nosso espírito, o nosso coração. Pedi a nossa conversão a Deus e construiremos em conjunto, e em conjunto diremos: «Vê, Senhor, o teu povo; considera os homens, nossos irmãos, pelo mundo. Separámo-nos, não nos conseguimos voltar a unir para participar numa criação comum. Desfaz a nossa suficiência. Abrasa-nos todos do fogo do teu amor».

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Ecumenismo nos caminhos da comunhão

A propósito da Unidade dos Cristãos

Bento XVI


«“Para avançar nos caminhos da comunhão ecuménica é necessário que nos tornemos ainda mais unidos na oração, mais comprometidos na busca da santidade e mais empenhados nas áreas do investigação teológica e da cooperação ao serviço de uma sociedade mais justa e fraterna”, declarou o Papa, perante uma delegação ecuménica da Igreja Luterana da Finlândia, na sua visita anual ao Vaticano por ocasião da festa de Santo Henrique, primeiro bispo e patrono do país nórdico.
Bento XVI aludiu a um caminho conjunto de “justiça, misericórdia e retidão”, que tem de ser percorrido com “humildade” para que os cristãos testemunhem a sua fé aos que “estão em busca de um ponto seguro de referência num mundo em rápida mudança”.
“Neste caminho dos discípulos, somos chamados a avançar conjuntamente na estrada estreita da fidelidade à vontade soberana de Deus, enfrentando dificuldades e obstáculos que possam surgir”, prosseguiu.»

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sábado, 21 de janeiro de 2012

UNIDADE NO CERTO, LIBERDADE NO DUVIDOSO E CARIDADE EM TUDO



Unidade no certo, liberdade no duvidoso e caridade em tudo. Estes princípios, repetidos até à exaustão, sobretudo durante a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos, são fundamentais nas vivências entre todos os que aceitam Jesus Cristo como Mestre e Salvador. O movimento ecuménico não é recente. Em 1895, Leão XIII tomou a iniciativa de propor uma novena de oração pela reconciliação dos cristãos, gesto que foi repetido até ao nossos dias, tanto por proposta da Igreja Católica como de outras Igrejas cristãs.