sábado, 10 de maio de 2008

"O enigma da matéria: o espírito e a liberdade"


Costumo dizer aos estudantes que o enigma não é tanto o espírito, mas a matéria. Embora o espírito seja enigmático na sua relação com a matéria – como é que, estando na raiz o espírito, há matéria? --, parece menos compreensível como é que da matéria resulta o espírito, melhor, como é que a matéria se abre em espírito. O dualismo antropológico é cada vez mais inadmissível; mas como entender a emergência do espírito a partir da matéria?
Não têm faltado afirmações reducionistas do Homem. “O Homem não passa de um objecto material e tem apenas propriedades físicas” (D. M. Armstrong, 1968). “Toda a conduta humana terá um dia uma explicação mecânica” (D. Mackay, 1980). “As máquinas inteligentes tomarão pouco a pouco o controlo de tudo, acabando por apoderar-se do mundo da política... Pensar é simplesmente um processo físico-químico (L. Ruiz de Gopegui, 1983). “O espírito é uma máquina” (M. Minsky, 1987).
Hoje, com as novas técnicas da tomografia de emissão de positrões e da ressonância magnética nuclear funcional, consegue-se visualizar imagens das regiões do cérebro que entram em acção aquando das diferentes operações mentais. Assim, num artigo recente, António Damásio escreveu que, embora avesso a previsões, lhe parece seguro poder afirmar que até 2050 a acumulação do saber sobre os fenómenos biológicos em conexão com a mente consciente fará com que “desapareçam as tradicionais separações de corpo e alma, cérebro e espírito.”
Talvez haja quem receie que, mediante a compreensão da sua estrutura material, algo tão precioso e digno como o espírito humano se degrade ou desapareça. Mas António Damásio previne que “a explicação das origens e do funcionamento do espírito não acabará com ele.” O nosso assombro estender-se-á até essas incríveis microestruturas do organismo e às suas funções que permitem o aparecimento do espírito e da autoconsciência – não se esqueça que o cérebro, com os seus cem mil milhões de neurónios e um número incalculável de sinapses, é a estrutura biológica mais complexa que conhecemos. O espírito sobreviverá à sua explicação biológico-neuronal, como a rosa continua a enfeitiçar-nos com o seu perfume, depois de analisada a sua estrutura molecular.A questão da consciência continuará a fascinar-nos, apesar de todos os avanços da neurobiologia. A razão está em que o corpo e o cérebro são objectivamente acessíveis. A consciência, porém, é íntima e ineliminavelmente subjectiva: é sempre cada um(a) a viver-se a si mesmo(a) subjectivamente de modo único e intransferível, sendo dada, portanto, na experiência pessoal. Demos um exemplo, apesar de tudo, menos exigente: um neurocientista que tivesse todos os conhecimentos sobre os mecanismos com que o cérebro processa a impressão da cor azul, sem a sua vivência real consciente, não saberia o que é o azul. O problema permanecerá: como é que processos eléctricos e físico-químicos originam a experiência subjectiva. Há uma correlação entre a consciência e o cérebro, mas como é que a experiência de si na primeira pessoa surge de processos e factos da ordem da terceira pessoa?
Mediante as novas técnicas, percepcionamos a base neurobiológica do pensamento. Significa isso que temos desse modo acesso ao conteúdo do pensamento? Onde está a liberdade no cérebro? Onde estão a autoconsciência e o eu no cérebro?
Como sublinha o célebre historiador Jean Delumeau, há realmente hoje correntes reducionistas, no sentido neuronal ou como se o Homem não passasse de um “mosaico de genes”. Mas, não se esquece então que é o Homem que faz a ciência e lhe dá sentido? “Se o universo é o fruto do acaso, se o Homem não foi querido por um Ser que transcende a História, se a nossa liberdade é ilusória, nada tem sentido e, segundo a fórmula trágica de L.-P. Fargue, ‘a vida é o cabaret do nada’”. E continua: se, como pergunta J. F. Lambert, o Homem é da mesma natureza que os outros seres, donde lhe vem o seu valor e dignidade? Onde se fundamentam os direitos humanos? Se se não é bom ou mau, “mas apenas bem ou mal programado”, ainda se poderá falar de responsabilidade?

Anselmo Borges
In DN

VANESSA PENTACAMPEÃ


VANESSA FERNANDES PENTACAMPEÃ DA EUROPA

A portuguesa Vanessa Fernandes conquistou hoje, em Lisboa, o quinto título europeu consecutivo de triatlo, batendo assim o recorde do holandês Rob Barel, que conquistou quatro títulos consecutivos entre 1985 a 1988.
A força, a determinação e a capacidade de sofrimento desta atleta ímpar são um extraordinário exemplo para a nossa juventude, de todas as idades. Os meus parabéns.

HÁ DESPORTO PODRE



Quando era jovem fui educado no princípio de que o desporto era uma escola de virtudes. Jogava-se por amor à camisola e a mística clubista prosperava. Cada um tinha o seu clube. E a fidelidade era tal, que até se dizia que se mudava de religião, mas de clube nunca.
Depois veio o profissionalismo levado ao extremo, e com o dinheiro veio o “sistema” , de que alguns dirigentes falavam há muito. Os sérios, naturalmente, para quem os fins não justificam os meios. Mas certos adeptos, para os quais o que importa é ganhar, custe o que custar, até batem palmas aos que, por artes subterrâneas, levam a água ao seu moinho. Honestidade deixou de contar. O importante é voar nas asas da fama, que às vezes dá grandes negociatas. O desporto deixou de ser a tal escola de virtudes. Esta palavra, no mundo do desporto profissional, em muitos casos, passou de lema de vida para motivo de sorrisos mal disfarçados.
As condenações a clubes, dirigentes e árbitros, anunciadas ontem mas conhecidas há dias, vieram mostrar o tal “sistema”. Será, penso eu, a ponta do iceberg, que urge mostrar e condenar na íntegra. Para bem do desporto e de quem o vive lealmente.
Acredito, no entanto, que há dirigentes e atletas honestos. Leais, correctos no jogo, sabendo ganhar e perder com dignidade. Incapazes sequer de experimentar a corrupção. Esses precisam de ser louvados e acarinhados. Os outros, os corruptos, esses têm de ser, depressa, erradicados do desporto. O desporto tem de ser sadio. O desporto podre não pode ter lugar na sociedade democrática. A nossa juventude precisa de continuar a cultivar o princípio das virtudes dentro e fora dos campos desportivos.

FM

VIVALDI: "A Primavera"

Hoje já ouvi Vivaldi. E mesmo no fim das "Quatro Estações", perguntei a mim mesmo se não seria bom partilhar com os meus amigos a sua "Primavera", apesar desta estação ainda andar com o frio às costas.

PONTES DE ENCONTRO


Impostos: uma receita de enganos?

Na edição do passado Domingo, dia 4 de Maio de 2008, o “Jornal de Notícias” dava título a uma notícia com a seguinte frase: “Seis mil gerentes dizem ganhar apenas o salário mínimo nacional!”
Estes dados foram recolhidos por um Departamento do Ministério do Trabalho – Gabinete de Estratégia e Planeamento - e referem-se ao ano de 2006.
Nesse ano, o valor do salário mínimo nacional era de 385,90 euros, valor bruto, o qual ainda estava sujeito ao desconto de 11,5% para a Segurança Social, o que se traduzia no salário líquido mensal de 343,45 euros!
Portanto, 343,45 euros era quanto estes gerentes e directores de empresas levavam, no final de mês, para casa!
Na mesma notícia, podem-se ler ainda outros valores salariais mensais de gerentes e directores, designadamente nas áreas da restauração e hotelaria, todos eles com valores igualmente baixos para o cargo que ocupam.
Focando-me apenas nos gerentes e directores de empresas que declararam ter recebido os 343,45 euros mensais, a primeira ilação a tirar é que estes ganhavam, pelo menos nessa altura, o mesmo que qualquer um dos seus funcionários, partindo do princípio que também pagavam a estes só o valor do ordenado mínimo nacional! Confuso, não?
Mesmo tendo em conta os graves problemas porque têm passado algumas das empresas portuguesas, sobretudo as chamadas microempresas, convenhamos que custa muito a entender e a aceitar que os valores declarados correspondam à realidade.
Num país em que a fuga ao fisco e à Segurança Social se tornou, por parte dos empresários, uma regra e um hábito, não é da admirar que se esteja perante uma fraude fiscal, daqueles para quem pagar impostos continua a ser coisa de tontos ou palermas.
Sabemos que esta realidade, nestes últimos anos, se tem alterado muito, devido à luta contra a evasão e fraude fiscal, sem que isso signifique, contudo, que o sistema fiscal se tenha tornado mais eficaz na luta contra a desigualdade de fortuna, de que são exemplo os salários dos gestores e directores pagos, como é o caso, pelo salário mínimo nacional.
Sei que as políticas relacionadas com questões de fiscalidade e impostos de um país são difíceis de aplicar, eficazmente, sobretudo quando se quer combater as fugas das grandes fortunas, que arranjam sempre formas de transferir os seus capitais para onde quiserem, designadamente para o estrangeiro ou paraísos fiscais
O desenvolvimento de um país também se mede pela forma como a carga fiscal é distribuída pelos seus cidadãos e como as receitas da mesma são, depois, redistribuídas, através das diversas rubricas de despesas, e, aqui, ainda se está longe do satisfatório.
Talvez estes seis mil gerentes e directores achem que não há mais nada a fazer pelo desenvolvimento do seu país e dos seus cidadãos pelo que pagar impostos já não faz sentido algum. Agora, que parecem ser mesmo ingénuos, lá isso parecem.
Sem entrar em demagogias, espero que as autoridades portuguesas esclareçam, cabalmente, o que se passa com esta notícia, pelo menos, em nome daqueles que pagam, na íntegra, os seus impostos – normalmente, os trabalhadores por conta de outrem.
No entanto, é mais que provável andarem por aí outros gerentes, directores, empresários e empresas (mas estes sem a aparente ingenuidade dos primeiros) que já usufruindo de ordenados avultados ou lucros fabulosos, que até declaram às finanças, ainda conseguem ter rendimentos superiores, ao que ganham legalmente, através dos rendimentos não declarados. Vai uma aposta? Estes comportamentos são uma das causas das desigualdades sociais e da falta de desenvolvimento de qualquer país.
Afinal, a “economia subterrânea” existe mesmo e para alguma coisa é, ou não será?
Vítor Amorim

Importância da água vista com humor

Na Casa da Cultura Fernando Távora, em Aveiro



“ÁGUA com HUMOR”

Hoje, dia 10 de Maio, pelas 15 horas, vai proceder-se à inauguração da exposição internacional de cartoon “ÁGUA com HUMOR”.
Patente na Casa da Cultura Fernando Távora até ao próximo dia 8 de Junho, reúne 150 cartoons sobre o tema da água. Uma exposição que mostra como se pode, com humor, chamar a atenção de todos para um dos principais problemas do mundo neste começo do séc. XXI. Podem ser vistos os trabalhos premiados e todos os outros cartoons seleccionados para a edição do PortoCartoon em 2003, seguindo as preocupações da UNESCO.
“AGUA com HUMOR” tem produção do Museu Nacional da Imprensa, sendo organizada pela Comissão das Comemorações do Bicentenário da Abertura da Barra de Aveiro, Porto de Aveiro, Município de Aveiro e Museu de Aveiro.
De registar ainda o apoio do “Diário de Aveiro” e da “Rádio Terra Nova”, dois órgãos de comunicação social que têm acarinhado bastante todas as realizações integradas nas comemorações do Bicentenário da Barra de Aveiro.
A exposição é assim apresentada por José Luís Cacho, Presidente do Conselho de Administração do Porto de Aveiro: “Sendo, a água, um bem precioso, preciosa é a região onde se insere o Porto de Aveiro. Temos uma esplendorosa Ria, um mar que afaga costa luminosa. Quanto a refrigério, água e humor emparelham. Na vida, como na feliz simbiose desta exposição que o Porto de Aveiro, enquanto membro dinamizador da Comissão das Comemorações do Bicentenário da Abertura da Barra de Aveiro, oferece à comunidade. Mais uma iniciativa a enriquecer o bojudo lote de manifestações culturais do programa evocativo do Bicentenário. Que a água, aqui usada como tema inspirador de magníficos cartoons, vos rasgue mil sorrisos e alguma reflexão.”

Fonte: Porto de Aveiro

sexta-feira, 9 de maio de 2008

RIA DE AVEIRO: Cisnes tranquilos


(Clicar nas fotos para ampliar)


O meu leitor António Angeja teve a amabilidade de me enviar estas duas fotos, com a seguinte legenda:
"CISNES QUE VI NA RIA DE AVEIRO PERTO DO AREÃO NO FIM-DE-SEMANA PASSADO......COMO LÁ FORAM PARAR??????? ....NÃO SEI...."

Jardim Oudinot: Quem o plantou?

A propósito do desafio lançado por mim, há dias, no sentido de se descobrir quem fez o Jardim Oudinot, recebi um esclarecimento do meu amigo Júlio Cirino, que agradeço e que aqui transcrevo:

Sobre o Esteiro Oudinot, julgo saber o seguinte: 
1) Foi construído sob direcção de Reynaldo Oudinot em 1802. Antes da sua abertura existiam na borda bebedouros, feitos de troncos de pinheiro escavados, para matar a sede aos bois que iam para as companhas da Costa Nova. Daí o aparecimento do nome do lugar do Bebedouro. 
2) Não sei quem mandou plantar as árvores do Jardim Oudinot. No livro “A Gafanha, Os Homens, O Espaço e o Tempo” - tese de mestrado na Universidade de Coimbra de Maria Isabel Fernandes (1996), lê-se que o pomar foi mandado plantar por Homem Cristo quando presidiu aos destinos da JAPA.
Um abraço,

Júlio Cirino
:
NOTA: Vamos continuar à procura. Sei que Homem Cristo mandou plantar o jardim, mas o que está na parte frontal da Capela de Nossa Senhora dos Navegantes. Agora o outro, o que chegou a ter árvores de fruta, que a malta ia saborear no intervalo da natação, no Esteiro, já não sei. Temos de descobrir literatura ou documentos sobre isso.

FM

FESTAS DA CIDADE: SANTA JOANA


Vamos entrar, como manda a tradição, nas Festas da Cidade. Com programa variado e para todos os gostos e idades, não falta a componente religiosa, em torno de Santa Joana, a princesa Joana que um dia trocou Lisboa por esta humilde vila, que era Aveiro. Depois, pelo que fez pelos mais pobres e pelo exemplo de fé que testemunhou, foi beatificada e proclamada padroeira da cidade e da diocese. O seu culto espalhou-se pelo país, mas foi em Aveiro que ele se radicou com mais entusiasmo. Santa Joana tem nome em muito do que há na cidade e arredores. Ruas, estabelecimentos comerciais, paróquia, instituições religiosas, seminário, tuna musical, livros, irmandade, museu, e por aí fora. O povo, com a sua generosidade e intuição, acolheu-se ao regaço da padroeira, desde há muito. E até é curioso ver não crentes a pronunciarem-se, como enlevo, sobre Santa Joana.
No dia 12 de Maio, data da partida para o céu da princesa Joana, para aí receber a glória do bem que fez e do testemunho que deu, Aveiro recorda-a com devoção. É o dia da padroeira, com procissão vistosa, onde pontifica o fervor das nossas gentes. Se puder, passe pelo seu túmulo, no Museu de Santa Joana. Pode ser que Santa Princesa lhe segrede qualquer recado.

FM

AVEIRO: FESTAS DA CIDADE

No Teatro Aveirense, 12 de Maio
JACINTA CANTA ZECA AFONSO A cantora de jazz Jacinta apresenta no dia 12 de Maio, no Teatro Aveirense, “Convexo”, o seu mais recente trabalho discográfico. Trata-se de uma significativa homenagem a Zeca Afonso, o cantor da liberdade. Jacinta ousou, com arte e muita sensibilidade, recriar a música de Zeca Afonso, um aveirense que inspirou a resistência política, com baladas que, ainda hoje, fazem pensar. O concerto tem início às 21.30 horas, na sala principal do Aveirense, e integra-se nas Festas da Cidade.

quinta-feira, 8 de maio de 2008

PORTO DE AVEIRO – 1


Ontem visitei o Porto de Aveiro, graças a um amável convite do Dr. Carlos Oliveira, da Direcção de Exploração Portuária. Foi uma visita guiada e há muito esperada, ou não fosse eu, como sou, um apaixonado pela Gafanha da Nazaré, terra dos meus antepassados, referenciados por aqui desde o século XVII.
Penso que os gafanhões e povos circunvizinhos deviam procurar fazer como eu, organizando-se e solicitando uma visita ao Porto de Aveiro, já que esta estrutura é um dos principais alicerces do nosso desenvolvimento socioeconómico.
Escrevi neste meu espaço, há já bastante tempo, que a Gafanha da Nazaré é filha do Porto de Aveiro. Hoje, diria que toda a região lhe deve muitíssimo, se considerarmos, com propriedade, as suas diversas valências, nomeadamente, os Portos Comercial e Industrial, de Pesca Costeira e Longínqua. Posso até sublinhar que o nosso porto, tendo em conta esta realidade, é o principal de Portugal.
Quem passa e vê, através das vedações, sobretudo o Porto Comercial, talvez não faça a mínima ideia da dimensão deste complexo portuário e do movimento que nele se desenvolve no dia-a-dia, com cargas e descargas de diversos produtos, destinados, em grande parte, à indústria transformadora. E quando a Barra de Aveiro se apresentar mais desassoreada, o que se espera para breve, passarão a ter acesso aos terminais navios de porte ainda maior, o que fará crescer, de forma notória, o volume de mercadorias, presentemente perto dos quatro milhões de toneladas por ano.
Naturalmente, o acesso ferroviário, em construção nesta altura, mas já operacional dentro da área portuária, será, também, uma mais-valia para o crescimento do Porto de Aveiro. E com o seu crescimento toda a região dele poderá beneficiar, salvaguardando-se, como é de esperar, a componente ambiental, muito importante para o bem-estar das populações.

FM

NOTA: Durante algum tempo aqui darei notícia, embora ligeira, da visita que fiz ao Porto de Aveiro.

Doentes de SIDA tratados por religiosos

"Os religiosos ligados à Igreja Católica são responsáveis pelos cuidados e assistência a 27% dos doentes de SIDA em todo o mundo. O número foi divulgado na apresentação do relatório 'Um serviço de amor. Análise global do empenho dos institutos religiosos contra o HIV e contra a SIDA', durante o Congresso da União dos Superiores Gerais (UISG) e da União internacional das Superioras Gerais (USG), que decorreu em Roma." Esta informação, que acabo de ler na RR, é esclarecedora, sobre a acção, concreta, das organizações católicas no mundo. Tanto mais esclarecedora quanto é certo que, mesmo entre nós, se pretende arrumar os católicos e outros crentes, como que fechando-os, nos templos e no recato das suas residências. Afinal, os católicos, com as suas mais variadas instituições, tanto de âmbito cultural, educativo e social, como espiritual e artístico, e mesmo recreativo, contribuem, como poucos, para a valorização do homem todo e de todos os homens, directa ou indirectamente. Se hoje, em Portugal, as organizações católicas, por sim simples raciocínio académico, fechassem as portas, instalava-se o caos no País. E apesar disso, há, lamentavelmente, uns iluminados que nem sabem o que faz a Igreja Católica pela sociedade.
FM

Na Linha Da Utopia


Construção de Comunidade

1. Ninguém duvida que esta fase histórica que vivemos é riquíssima, como nenhuma outra, na existência de formas de comunicação. Estas abundam por todos os lados e em todos os minutos e, à partida, deveriam de pressupor uma correspondente consciência de comunidade. Mas não é verdade automática que a comunicação representa comunhão. São as gerações que hoje têm a maioridade que confirmam que é cada vez mais difícil o fomentar dos laços de pertença e de identificação com projectos comuns. Onde outrora bastava fazer um «clic» e já estava a motivação acordada, hoje será necessário injectar doses abundantes despertadoras de motivação. Nada de novo esta constatação, pois hoje superabundam mil e uma ferramentas coisificantes que acentuam a vertente da individualidade, chegando-se a pontos, para ninguém se zangar, de se comprar uma TV para cada um.
2. Pode parecer que o dinheiro compra tudo mas tal não é verdade: relações que não são alimentadas pela relação humana franca e dialogal são laços que vão perdendo a ligação e desatam-se quase sem dar por isso. Fala-se e esboçam-se milhentos projectos que procuram mobilizar ao «sair de si» e de sua casa para participar em projectos comuns; realizam-se esforços diversos cada vez mais apurados na pertinência, rasgo, eficácia, urgência, com divulgação, marketing, mas que quase são o pregar no deserto de um tecido social que parece infecundo. E mesmo nestes encontros muitas vezes procura-se dar um safanão nos pessimismos da não motivação e não participação, assumindo que grão a grão lá iremos!
3. Um contraditório da ausência persegue a era das comunicações. E dizer-se da evidência de novas formas de comunidade e participação (como as comunidades virtuais ou todos os múltiplos movimentos de intervenção) não chega para deixar se constatar que a construção de comunidade social será hoje das tarefas mais exigentes e mais difíceis. Uma dificuldade que radica logo nas evidentes fragilidades das famílias, num mundo e mercado de trabalho que absorve grande parte do tempo da vida… O futuro que se faz cada dia exige toda a esperança e optimismo, mas este precisa de bases que saibam reconstruir aquilo que com o atrito das preocupações vais limitando o horizonte. É aqui, na sabedoria, que radica a essência da construção do espírito de comunidade. Não há comunidade na indiferença: esta um reflexo do pântano socioexistencial. A comunidade quer a presença de todos, onde as diferenças sabem ser e estar com os outros; não na pressa da sobrevivência, mas na partilha da qualidade de vida!

Para recordar

Teresa Salgueiro e José Carreras: Para recordar "Haja o que houver"

Facilidades no Ensino

"Se tem mais de 18 anos tem agora a oportunidade de obter o 9.º ano em poucos meses. Horário pós-laboral. Inscreva-se já!"
Este foi o anúncio de uma instituição que promete o 9.º ano em poucos meses. Das duas, uma: ou os candidatos já têm estudos muito próximos do 9.º ano, ou pretende-se oferecer gato por lebre. Em poucos meses, está garantido o 9.º ano. Umas noçõezitas da matéria, por sinal extensa, e o candidato fica com o canudo na mão. Pelo anúncio, basta ter mais de 18 anos. E, com isto, continua-se a brincar com o ensino e com a formação das pessoas. O 9.º ano em poucos meses? Não brinquem com estas coisas, por favor!
FM

PONTES DE ENCONTRO


Perseguidos em nome de Jesus Cristo!


Chegou-me, hoje, alguma informação da Fundação Ajuda à Igreja que Sofre, “organização dependente da Santa Sé, tendo por objectivo apoiar projectos de cunho pastoral em países onde a Igreja Católica está em dificuldades”, a qual dá conta da “perseguição aberta” que os cristãos, estão a sofrer em vários países mundo.
Neste momento particular, de confusão e de desorientação mundial, desejo lembrar, fraternalmente, nestas breves linhas, aqueles nossos irmãos que, para viverem a fé em Cristo Jesus, são perseguidos e torturados. (cf.: 2 Tm 3,12).
Recordo os cristãos que vivem no Iraque, onde são vítimas de perseguições, ofensas, atentados, por parte de sunitas e xiitas, para que abandonem os seus lares e o país.
Ainda no passado dia 13 de Março foi encontrado sem vida o corpo do Arcebispo caldeu Paulos Furaj Rahho, depois de ter sido raptado e assassinado.
O mesmo Arcebispo que, no início de Janeiro, deste ano, escrevia que a sua diocese estava mergulhada “na dor e na agonia”.
Lembro, também, os cristãos do Líbano, vítimas da violência extremista, que lhes tem destruído o pouco que possuíam e que são obrigados a abandonarem, igualmente, os seus lares e a sua terra.
E como era possível esquecer os cristãos da Terra Santa, vítimas de perseguições de grupos extremistas, tanto do lado muçulmano como judeu?
Estes cristãos praticamente não têm nada para comer e arranjar trabalho é uma tarefa quase impossível. Deste modo, são obrigados a deixar a terra onde Jesus nasceu, pelo que o risco de deixar de haver cristãos na Palestina é bastante elevado.
Alguém imagina o que seria a Terra Santa sem cristãos?
A estes países, muitos outros se podem juntar na perseguição, prisão e tortura aos cristãos, casos da Coreia do Norte, do Irão, da China ou da Arábia Saudita, entre tantos outros que poderiam ser também referidos neste espaço.
Bem sei que, em alguns casos, a delicadeza das situações e a discrição exigem um diálogo paciente e sereno, por parte das autoridades religiosas cristãs com as autoridades dos países em que as perseguições são frequentes, para que estas acabem, tão rápido quanto possível, e possa dar-se início a uma abertura religiosa. Decerto, um caminho longo e difícil de percorrer e não isento de riscos e retrocessos.
Por isso, recordo as palavras, recentes, do Papa Bento XVI: “Mais uma vez asseguro que a Terra Santa, o Iraque, e o Líbano estão presentes na oração e na acção da Sé Apostólica e de toda a Igreja.”
A “Além-Mar”, de 20 Fevereiro de 2008, publica um ranking feito pela organização internacional evangélica “Portas Abertas”, sobre a situação mundial dos cristãos perseguidos.
De igual modo, a A.I.S. tem todo um conjunto de informações sobre a liberdade religiosa no mundo, que podem ser adquiridas ou consultadas, através do seu site.
Num mundo que parece estar cada vez mais confundido com ele próprio e onde a esmagadora maioria dos seus cidadãos já têm dificuldade em entendê-lo, não esqueçamos estes nossos irmãos perseguidos em nome de Jesus Cristo, através da nossa oração e da nossa solidariedade.

Vítor Amorim

quarta-feira, 7 de maio de 2008

Reencontro ou redescoberta vital



As frequentes profecias de sociólogos, políticos, fazedores de opinião e tantos outros, que prevêem, a curto prazo, o desinteresse generalizado pelo cristianismo e o abandono maciço da Igreja nunca me impressionaram por aí além. A vida vai-nos ensinando quais as fontes que as alimentam e os interesses e sentimentos que se escondem por detrás de palavras, só aparentemente seguras. Ao mesmo tempo, vai-nos mostrando, também, que onde existe honestidade na procura sincera e objectiva da verdade o reencontro ou o regresso à fé cristã acontece como uma redescoberta vital e feliz.
É verdade que o cristianismo não vai na onda em que muitos gostam de boiar, não está voltado para cedências no que toca a aspectos essenciais da sua mensagem, não treme ante sondagens e estatísticas de acontecimentos de cariz religioso, se lhe são pouco favoráveis. Muito menos vive a Igreja obcecada pelo medo de ver os templos vazios, como tanto insistem os que aí não entram, ou fica paralisada e desnorteada por saber que há gente que propagandeia os seus desinteresses em relação ao transcendente.

António Marcelino
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Sem pão!

A pão e água. Vários dias sem comer mais nada. Para que os dois filhos não sentissem, também, a privação. Em Portugal, 2008. Trinta anos depois de Abril. Existe. E não se entende. De novo, em Setúbal, como uma maldição. Falámos com ela. Mãe sozinha. Professora do ensino básico. Um daqueles 439 mil nomes que dão corpo à taxa de desemprego. Cada caso é um caso. E em cada caso parece sempre que a fome é absurda. Evitável. A culpa vai de fininho instalar-se, quase sempre, nos ombros do pobre. Não morre sozinha. Nasce e cresce gémea da fome e da vergonha. Os empregados ouvem-se, desfilam, protestam. Mas os pobres desempregados calam-se, escondem-se. São raros e corajosos os gritos. As denúncias. Na sociedade onde impera o deus do sucesso, como reconhecer que não se é capaz de assegurar a subsistência própria? Louva-se a ambição dos que se propõem conquistar o Mundo. Mas não há lugar para reconhecer a meta dos que se ocupam em conseguir apenas o pão nosso de cada dia. É por isso que ao seu silêncio se tem de opor o nosso grito de escândalo: numa sociedade de abundância e desperdício, não se pode tolerar que cresça o número daqueles que temem ver chegar os dias … “sem pão!” Graça Franco

Na Linha Da Utopia


A insegurança da segurança


1. Não há sociedades perfeitas. Mas as que, em regimes de liberdade, procuram essa aproximação à perfeição têm na justiça e na segurança os seus alicerces fundamentais. O mapa da justiça portuguesa, numa naturalmente complexa rede de relacionamentos, hierarquias, competências e responsabilidades, tem procurado corresponder aos desafios da actualidade. Mas em si mesmo, e nestes últimos anos com o eclodir de «casos» mediáticos que desafiam a própria consistência de toda a estrutura, a justiça vai ceifando as suas próprias lideranças. Um facto problemático. Os números estão aí: com os acontecimentos dos últimos dias da demissão do director da PJ, «em 10 anos realizaram-se cinco mudanças de direcção da PJ, tendo sido só um mandato cumprido até ao fim». Mais ainda, dos diversos lados da questão, a insatisfação (explícita ou implícita) faz os cidadãos temerem e tremerem pela essencial segurança, da estrada à porta de casa.
2. É certo que a actuação das múltiplas forças de segurança deve primar por uma eficácia discreta. E sabe-se do bom conceito, mesmo internacional, tido em relação aos nossos agentes de segurança, onde a qualidade e competência são valores reconhecidos. Mas talvez o pior de tudo, que abre permeabilidade mesmo a instâncias maléficas do crime, seja que normalmente quando se fala das forças de segurança, é em circunstâncias menos boas para um clima socialmente ordenado que se deseja. Nestes contextos, a própria credibilidade das estruturas fica afectada. Apesar da forte componente hierárquica que preside às instâncias de segurança, a verdade é que muitas vezes o que se pede como realização eficaz não tem a devida correspondência nos equipamentos, nos recursos materiais, nas tecnologias de informação,... Infelizmente pode-se dizer que não é só em escolas que chove, também em agências de autoridade policial a chuva ou o calor perturba claramente o normal funcionamento.
3. Já há tempos um órgão de informação nacional entrou e mostrou a realidade por dentro, lá para o nosso interior do país. Do papel de fotocópia à energia eléctrica, sem palavras!... A autoridade situada, necessária, precisa de bases (também materiais) para ter sustentabilidade e ser credível nas populações. Se é insegura em si mesma, nada a fazer! É verdade que estão muitos mais agentes em formação… Mas o seu enquadramento em sociedade democrática precisa que toda a estrutura se apresente “firme” e segura na natureza e missão de todos e de cada um. Cada vez mais a questão da (in)segurança é uma problemática de cidadania. De justiça, de todos!

Alexandre Cruz

PONTES DE ENCONTRO


Os avisos, as crises e as vontades!

“Pela maneira como estamos, como a comunidade internacional está a olhar para o mundo, não iremos longe.”
Estas palavras, melhor, este aviso interpelativo, pelo seu significado e pela realidade que contém em si mesmo, exige uma reflexão séria e profunda por parte de todos aqueles que estão preocupados, sincera e convictamente, com as várias crises que se vão alastrando, paulatinamente, pelo mundo, sobretudo a partir da queda do Muro de Berlim (1989).
Quem as proferiu foi o Alto Comissário das Nações Unidas para os Refugiados, o português, Engenheiro António Guterres, no passado dia 4 de Maio, durante uma visita que fez ao Fundão e a Donas, terra natal da sua mãe e onde viveu parte da sua infância.
Trata-se, pois, de uma afirmação demonstrativa de todo um conjunto de problemas que persistem ou se agravam, ainda que com outros contornos, no mundo e que não é proferida por uma pessoa que esteja alheada das grandes questões internacionais. Bem pelo contrário.
Por muito que custe, é preferível, e mais positivo, encarar a realidade, no imediato, do que escamoteá-la, para mais tarde. Partindo deste pressuposto, o que Comissário para os Refugiados da ONU diz é que estão em confronto, pelo menos, duas perspectivas de ver o mesmo mundo e as múltiplas questões a ele inerentes.
Em linguagem do dia-a-dia, dir-se-ia que uns são os pessimistas e os outros são os optimistas, quando, afinal, o importante é saber quais são, de todos, os que melhor buscam a verdade e a razão das coisas, bem como as consequentes soluções e aplicações práticas, já que esta busca não é privilégio de nenhum tipo exclusivo de pessoas.
Já agora, e os chamados optimistas que me desculpem, existem estudos de perfis psicológicos que demonstram que um optimismo exagerado pode ser, tendencialmente, paralisante, para quem tem que tomar decisões e dar soluções, em tempo útil.
Como em tudo na vida, o mais provável é dizer que “é no meio que está a virtude”, tendo em conta as circunstâncias e os contextos em que se está inserido.
Da minha parte, confesso, bem gostaria de falar de coisas mais agradáveis, que também as há, mas, por agora, resta-me a quase certeza que alguém fará isso por mim e a esperança, sentida, que ainda é possível por o mundo a sorrir!
Utopia? Sinceramente, não creio! Não terá o próprio Evangelho nascido da simbiose de uma realidade profundamente humana e humanizante, cujo centro é Jesus Cristo, com a utopia cristã pelo Reino de Deus?
Responsável por esta Organização da ONU, desde Junho de 2005, conta com mais de seis mil funcionários (espero que a maior fatia da verba desta Instituição não se destine a pagar os ordenados destes). Está presente em 115 países, pelo que António Guterres sabe do que fala e porque fala. É um humanista, por excelência.
Preocupado, igualmente, com as consequências da subida dos alimentos, o Comissário da ONU para os Refugiados não deixou de se referir a toda “uma série de ameaças que já se concretizaram ou estão como uma espada sobre as nossas cabeças e que nos devem levar a pensar como é possível olhar para o mundo de outra maneira.” Tudo isto a par de conflitos “no Afeganistão, Iraque, Palestina, Sudão e, esperemos, que não no Líbano.”
Optimismos ou pessimismos à parte, o importante é saber que, em cada problema que surge, aparece uma nova oportunidade para o resolver. Deste modo, a possibilidade de evitar a sua repetição, no futuro, nunca se tornou tão real e exequível. Queiramos nós! Tudo depende, afinal, da vontade de cada um!


Vítor Amorim

A papoila


Há dias, ao passear na Barra, vi esta papoila numa zona de 'depósito de lixo' . Como para nós nada há mais belo que a natureza, aí vai esta flor. Assim me disse o meu amigo Carlos Duarte, quando me enviou a papoila. Aqui fica, meu caro, porque é sempre bom saborear a partilha.

“IGREJA AVEIRENSE”


Saiu há pouco a revista “IGREJA AVEIRENSE”, uma iniciativa da Comissão Diocesana da Cultura. Trata-se do n.º 2 do III ano, referente ao segundo semestre de 2007.
Esta revista vem na sequência de um projecto que visa preservar os principais documentos emanados da Diocese de Aveiro, nomeadamente, dos seus bispos, titular e emérito, do Plano Pastoral e Serviços Diocesanos, entre outros, relacionados com Espiritualidade, Ecumenismo, Publicações, Efemérides, Em Memória de e Pessoas Notáveis. Neste último caso, foi evocado Pedro Grangeon Ribeiro Lopes, um viseense que um dia chegou a Aveiro e a aceitou como cidade sua, testemunhando na vida a fé que recebera na infância e que sempre alimentou.
Quem pegar na “IGREJA AVEIRENSE”, para a ler, como quem lê um livro que deve ser consultado, pode confirmar a oportunidade desta publicação e dos projectos pastorais da Diocese de Aveiro. Como que profetizando a crise social e económica recentemente anunciada, com sinais de catástrofe à vista, para a qual temos de nos preparar, estimulando-nos para a solidariedade e para a caridade, a Diocese diz-nos que “o serviço dos mais pobres é sinal visível e expressivo da verdadeira Igreja de Jesus Cristo”.
Nessa linha, sintonizam os textos de D. António Francisco, em diversas circunstâncias, com o Plano Pastoral, onde se proclama que “o serviço da caridade é uma sábia e santa forma de evangelizar”, numa expressão feliz e oportuna do Bispo de Aveiro.
Quando muitos pensam que o catolicismo é o que se faz nas igrejas e nos seus adros, desde as mais simples às mais pomposas, é bom referir que esta revista nos dá uma panorâmica, tão completa quanto possível, da acção da Igreja de Aveiro, no dia-a-dia das pessoas concretas. Múltiplos secretariados e serviços específicos, movimentos apostólicos e comissões diocesanas, instituições de ensino, cultura e de solidariedade social, propostas de espiritualidade e de formação para clérigos e leigos, acções ecuménicas e publicações de âmbito eclesial, de tudo um pouco se encontra na “IGREJA AVEIRENSE”, mostrando vida em movimento por terras da Ria e do Vouga.
Na rubrica Em Memória de são evocados os sacerdotes falecidos e que se deram por inteiro ao serviço da Igreja, ultrapassando, muitas vezes, os limites das suas próprias forças, sem nunca virarem a cara aos compromissos que assumiram no dia da ordenação presbiteral.
Os que desejarem estar em sintonia com o que faz a Igreja, em terras de Aveiro, têm de ler esta revista. Mas também a podem ler, ou consultar, os estudiosos, os académicos à procura de temas para os seus mestrados ou doutoramentos e os simples curiosos.

Fernando Martins

terça-feira, 6 de maio de 2008

Figueira da Foz: Janela aberta


No meio da floresta de cimento, é possível encontrar uma janela aberta para o mundo. Ou um espelho onde se reflecte a paisagem natural. Essa, sim, com vida.

Na Linha Da Utopia


António Vieira ou o poder da palavra
1. Quando Fernando Pessoa (1888-1935) atribui a António Vieira o título de Imperador da Língua Portuguesa, fala-nos de uma concepção não meramente literária da língua mas da dinâmica andante e reconstrutiva da vida, cultura e do homem do séc. XVII que foi António Vieira (1608-1697). Em 2008 assinala-se o Ano Vieirino, celebrando-se em múltiplos acontecimentos os 400 anos do seu nascimento (http://www.ua.pt/vieira2008). Na actualidade do séc. XXI que vivemos, na imensidão poderosíssima das mil imagens, também esta pode ser uma oportunidade de regressar à fonte primordial da comunicação que é a palavra. Claro que não meramente palavras por palavras; mas ideias, concepções, dinamismos, estímulos que derrubem muros e ergam todas as pontes onde as diferentes culturas, na riqueza da diversidade, interajam de forma inclusiva, estimulante e culturalmente acolhedora.
2. Poder-se-á considerar este projecto humaníssimo e decisivo, que Vieira registou de modo incontornável na sua época, como o sentir da “língua viva” dando vida e ser às línguas, sempre compostas de mudança, no que elas representam como encontro com o mais profundo do sentir humano e do encontro dignificante com os outros em espírito de fraternidade. Assim sempre fosse!... É por isso que do Brasil profundo e explorado (até ao tutano, diria Vieira) de seiscentos, quem aprende as línguas indígenas (dos índios às gentes provenientes de África) chega a Lisboa pronto, porque autenticamente livre, para se propor à limpeza dos vazios e superficialidades da linguagem de muito do Barroco do seu tempo. Tão estético e elegante que “vazio” da autenticidade do ser e da tão rica profundidade humana. Vieira, filho mestiço de boa gente, sente: o deixa andar, a redoma de vidro, o conformismo, o apagamento, o vazio, tudo e todos os que estão indiferentes ou intolerantes recebem de Vieira o espevitar do compromisso!...
3. Em boa hora esta viagem retrospectiva à complexidade da portugalidade e do período da catarse do primeiro tempo verdadeiramente global de seiscentos quer acolher, neste ano de 2008, olhares prospectivos quanto ao futuro que se desenha no ser e no tempo da globalização que nos interpela e à reinvenção diária da vida. Não é como dantes, mas os “passados” que nos precederam oferecem, a quem se abre a essa totalidade da experiência humana, chaves de leitura para mais e melhor sermos resposta. Uma das peças de Vieira, aos 47 anos de idade e nos decisivos anos 50, é o Sermão da Sexagésima (1655) proferido na Capela Real de Lisboa, onde ele procura libertar os seus contemporâneos das amarras de concepções vazias enaltecendo o conteúdo.
4. Integrado no CICLO DE POESIA “O MAR”, da organização da Fundação João Jacinto de Magalhães, esta quinta (21.30h), na Fábrica de Ciência Viva, a cidade acolhe, de viva voz pelo actor António Fonseca, a película que ousou abanar os alicerces da cómoda retórica: O Sermão da Sexagésima. Entrada livre, um momento único de rasgo da cultura portuguesa, um privilégio para esta terra de ria e mar!

Alexandre Cruz


BISPOS PORTUGUESES CHAMAM A ATENÇÃO PARA A CRISE

D. Carlos Azevedo, porta-voz da Conferência Episcopal Portuguesa, lembra que temos de estar mais atentos à crise socioeconómica
“Importa que as instituições da Igreja estejam muito próximas das dificuldades e a partir de instâncias de observação da realidade socioeconómica, possam ir de encontro às situações mais críticas”
“A Igreja está presente no terreno, nas paróquias, onde se conhecem as situações e se acompanham, mas é preciso abrir cada vez mais os olhos sobre estas realidades e criar um observatório social”
Clique aqui para ler mais

Atlético Clube da Marinha Velha


O Atlético Clube da Marinha Velha foi um clube de futebol que existiu na Gafanha da Nazaré, precisamente no lugar da Marinha Velha. O seu campo era no sítio onde está hoje, mais ou menos, o Porto de Pesca Costeira. Quando havia jogadores com pontapé potente, a bola, muitas vezes, ia para a Ria! E então, era preciso que alguém a fosse buscar a nado. Assisti a isto, era eu criança e jovem, há uns 50 e muitos anos. Foi seu fundador e principal dirigente o senhor que, na fotografia, está de chapéu. Era ele o senhor Casqueira, mais conhecido por Casqueirita. Este senhor, tanto quanto posso recordar, tinha um carro de praça, o primeiro que houve na Gafanha da Nazaré. O senhor Casqueirita era um homem bom, que se dedicava a causas sociais, desportivas e culturais. Também chegou a ter um Rancho Folclórico. Alguns jogadores de futebol eram seus empregados e viviam em sua casa. Tinha ainda uma agência funerária. Diz-se que gastou um boa fortuna nestas suas actividades.
O meu amigo Júlio Cirino anda a escrever um livro sobre as suas recordações da Gafanha, onde, decerto, haverá um espaço alargado para o Desporto, já que é treinador de algumas modalidades do Atletismo e seleccionador de uma delas. Agora precisa de conhecer os nomes destes jogadores. Quem poderá dar uma ajuda? Aqui fica o pedido!
As ajudas podem vir por e.mail: f.rocha.martins@gmail.com
FM

Voltou a ser rentável produzir cereais?


Entrevista com o Presidente da AMI

A edição de hoje do jornal “Diário Económico” contém uma entrevista com o Doutor Fernando Nobre, Presidente da Assistência Médica Internacional – AMI.
Atendendo à vastíssima experiência internacional do Presidente da AMI, que já esteve em mais de cem países em missões humanitárias, o que lhe dá uma enorme autoridade para se pronunciar, entre outros assuntos, sobre a crise alimentar que o mundo atravessa, convido todos os leitores a lerem esta entrevista.
Só um breve comentário: a dado passo da entrevista, é feita a seguinte pergunta ao Dr. Fernando Nobre: “Voltou a ser rentável produzir cereais?”
Lembram-se, caros leitores, da Política Agrícola Comum da União Europeia – a PAC?
Então já devem perceber porque é que na Europa deixou de haver incentivos à produção de cereais, entre outros produtos agrícolas! É tudo uma questão de lucro! Nem que, para isso, seja necessário pagar para não se produzir! Os outros, os que estão fora da Europa, que produzam, sempre fica mais barato. E se eles não produzirem ou não quiserem exportar?
Ao que chegámos!

Vítor Amorim

«Quantos pães tendes?»


Ainda haverá lugar e tempo na alma para se ouvir falar de crise? Há coisas que são mais que claras. O petróleo, pai convencional da energia, calor, frio, movimento e tecnologia tem os poços em alerta e os preços a disparar todos os dias. Entra-se pela terra dentro para, em vez do poético girassol, se extrair força de cavalos que arrastem toda a tralha de que se compõe a vida moderna. A terra, árida e triste, diz que não dá para tudo.
Daria, mas da forma como a repartiram só vê tombar árvores - motores de respiração do planeta. Se se volta ao carvão a sala comum da humanidade fica irrespirável, pior que uma câmara de gás. E mais. Nesta lista, já quase se não fala de carne, peixe, legumes ou leite. Fala-se de pão, arroz, mandioca. Quem não lembra as crises de outrora que começavam quando os pais diziam: "come muito pão e pouco toucinho"?
É fácil demais apanhar estes dados e arremessá-los simplesmente para os sistemas, as ideologias, os responsáveis pela agricultura ou economia. Mas os governos não podem ser os últimos a reconhecer que isto acontece. Ninguém pode ignorar esta crise global, ainda que passageira. Entramos em matéria planetária onde um minuto de luz ou refrigeração a mais, a demora num duche ou na lavagem dos dentes tem repercussões na humanidade. Tem o mesmo preço, para o planeta, esbanjar num hotel de luxo ou numa cabana perdida de África.
Aqui entram outros elementos. Este preço não é igual para todos. O pão falta na mesa de muitos e sobeja muito na mesa de poucos. Há algo de errado nas contas do mundo. Alguns cristãos, apenas inspirados no Evangelho, têm deixado sugestões simples que nos podem questionar sobre o nosso comportamento face à terra e aos bens, mas também abrir pistas concretas e possíveis, individual e comunitariamente. Por exemplo: a agricultura deve estar voltada para os bens alimentares; importa reformular o conceito de pobreza neste novo contexto; qualquer desperdício deve ser considerado como um crime de assalto à mesa dos pobres; reforçar a vigilância para as situações de fome envergonhada; ter coragem de aceitar este momento como de crise sem que isso signifique uma derrota ou humilhação. Mas aceitar que não se trata duma catástrofe natural. É uma tragédia que todos ajudámos a desencadear. E na consciência, deixar bem clara a pergunta de Jesus diante da multidão faminta: "Quantos pães tendes"?

Jardim Oudinot: Obras em curso


Como disse ontem, passei pelo antigo Jardim Oudinot, com obras de remodelação em curso. Máquinas e trabalhadores andavam em bom ritmo, sinal de que o novo jardim estará para breve. Esta foi a satisfação que senti. O povo desta região estava a necessitar de um espaço ajardinado, com diversas valências. O povo e quem nos visita. A mágoa, como referi ontem, veio com a velha ponte arrancada a ferros. 
Voltando ao Jardim Oudinot, gostaria de saber em que ano é que ele foi construído e quem foi o seu mentor. Já perguntei, já li o que foi possível ler, já contactei antigos responsáveis pela JAPA (Junta Autónoma do Porto de Aveiro), antecessora da actual APA, e ninguém me soube dizer, com rigor em que época é que foi criado. Uma coisa é certa. O Jardim Oudinot diz bem que foi uma homenagem ao Eng. Oudinot, que elaborou os planos da abertura da Barra, abertura essa que foi concretizada pelo seu genro, Luís Gomes de Carvalho. 
Terá sido criado com base na necessidade de fixar as areias movediças, conforme projecto conhecido? A pergunta aqui fica para quem me quiser ajudar.

FM

PONTES DE ENCONTRO

Preço do arroz pode criar conflitos sociais na Ásia

«O recente aumento dos preços do arroz vai atingir duramente os países da Ásia. Os mais afectados são os mais pobres, incluindo os pobres urbanos», declarou Fukushiro Nukaga, Ministro das Finanças, do Governo japonês, durante a 41º Assembleia-Geral do Banco Asiático de Desenvolvimento (BAD), a decorrer em Madrid, até à próxima terça-feira, dia 6.
«Isto terá um impacto negativo nas condições de vida e de alimentação das populações. Esta situação pode levar a conflitos sociais», acrescentou. Segundo o Ministro das Finanças japonês, é necessário «adoptar medidas para satisfazer, imediatamente, as necessidades dos mais pobres»
Haruhiko Kuroda presidente do BAD, referiu, em Madrid que “O aumento do preço dos alimentos ameaça minar os esforços da Ásia para combater a pobreza", alertando que a "época dos alimentos baratos, quiçá, chegou ao fim", sublinhando que o preço do arroz triplicou nos últimos quatro meses, algo que, em sua opinião, "não se pode explicar pela leia da oferta e da procura", acrescentando que montante da ajuda "dependerá dos pedidos dos países em causa".
O próprio BAD estima que o aumento dos preços dos bens alimentares afectará mil milhões de pessoas, só na Ásia.
Rajat Nag, director-geral do BAD, afirmou, na sexta-feira, dia 2, também em Madrid, que das pessoas afectadas na Ásia cerca de 600 milhões sobrevivem com menos de um dólar por dia e os 400 milhões que estão acima deste limiar também são muito vulneráveis.
O preço do arroz tailandês, um dos mais utilizados na Ásia, é actualmente de cerca de mil dólares (648 euros) a tonelada, o triplo do que era há um ano, quando se realizou a anterior Assembleia-Geral do Banco Asiático de Desenvolvimento, no Japão.
A nível global, os preços dos alimentos quase duplicaram, em três anos, originando distúrbios vários e protestos, um pouco por todo o mundo, e restrições às exportações no Brasil, Vietname, Índia e Egipto.
O Ministro das Finanças do Japão, alertou que as restrições às exportações aumentam os preços, enquanto os subsídios para ajudar os pobres a lidar com a questão poderão ser um fardo pesado para os orçamentos nacionais e «não são sustentáveis, a prazo».
Os subsídios alimentares no Bangladesh, um dos países mais pobres da Ásia, deverão duplicar no corrente ano fiscal e atingir 1,5 mil milhões de dólares (973 milhões de euros). A 29 de Abril, o secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, anunciou a criação de uma célula de crise para lidar com a questão da subida do preço dos alimentos e os consequentes problemas de fome.
Entre outras causas da crise, a ONU refere a falta de investimentos no sector agrícola, os subsídios que pervertem o comércio, os subsídios aos biocombustíveis, as más condições climatéricas e a degradação do meio ambiente.
Com sede em Manila, Filipinas, o BAD é uma instituição financeira multilateral, criada em 1967, para reduzir a pobreza e melhorar a qualidade de vida nos países mais pobres da Ásia e Pacífico, através do financiamento de projectos em condições vantajosas, assistência técnica e difusão do conhecimento. O BAD conta actualmente com 67 países membros, dos quais 48 da região Ásia-Pacífico, como Timor-Leste, e 19 não regionais, tendo os Estados Unidos e o Japão como principais accionistas.
Portugal é membro do BAD, desde o ano de 2002.

Vítor Amorim

segunda-feira, 5 de maio de 2008

Na Linha Da Utopia


Gratidão + Esperança = Compromisso

1. Não que seja uma fórmula matemática (Gratidão + Esperança = Compromisso), mas formula, poderemos dizer, a construção sustentável de projectos de vida em vidas com projecto. As palavras são, por si, cheias de significado: Gratidão: mobiliza-nos para apreciar que tudo quanto somos o devemos não só a nós mesmos mas a muitos que nos ajuda(ra)m na caminhada de vida. Como muitas vezes dizemos, quem não agradece não reconhece, e reconhecer será valorizar com sensibilidade os alicerces nos quais queremos construir a nossa vida. Esperança: é o desejo do futuro que está cada momento, aí, a interpelar-nos para reinventarmos tudo o que pode ser melhor. Projecta-se na esperança, tanto mais, quem redobra a sua confiança confiando para além de si mesmo, no Amor-Absoluto divino. Essa abertura de espírito, naquilo que é construtivo (o bem e o belo), abre margens para a inclusão de outras experiências e caminhos diversificados de vida. Esta esperança profunda, que não quer ser palavra oca, assim, só pode brilhar como gosto de transformação positiva. A isso pode-se chamar Compromisso. Não um compromisso qualquer… Mas o compromisso que nos torna mais próximos e felizes na comum pertença à humanidade, pessoal e globalmente.
2. Foi com este espírito que no passado domingo familiares e finalistas do Ensino Superior aveirense, em ambiente de festa académica, acolheram a celebração da bênção dos finalistas, manifestando gratidão e esperança comprometida diante do futuro. Não o fim, mas um princípio de expectativas que querem ser contributo para derrubar as “barreiras” que pertencem à vida. Brotando do pensamento e escrita dos finalistas, partilhamos com a comunidade mais alargada o sentir da Oração de Compromisso dos Finalistas: «Amar, respeitar e apoiar, com humildade, todos aqueles que vão estar, pensar, viver e trabalhar connosco, sabendo, em abertura de espírito, caminhar em grupo, assumindo a colaboração com os outros como um valor fundamental da nossa vida; Viver no esforço e no empenho, em tudo aquilo que fizermos, partilhando os nossos conhecimentos na luz da dignidade da Pessoa Humana e da integridade social e ambiental do meio que nos irá rodear, e assim vivendo sempre em espírito de fraternidade; Dar o melhor de nós na promoção da ética da responsabilidade e na construção da paz, acolhendo a sabedoria que garante a força de nos sabermos levantar nos momentos mais difíceis da vida, alimentando a felicidade na perseverança dos ideais contra todas as tempestades; Ter sentido humano de gratidão e de criatividade na inovação, para sermos parte das soluções solidárias, educativas e científicas nos grandes problemas do mundo actual, querendo aprender mais cada dia, em ordem ao justo desenvolvimento humano; E não permitas, Senhor, que esqueçamos o verde da esperança, que durante estes anos nos inspirou e hoje enche os nossos corações, e auxilia-nos a cumprir todos os dias da nossa vida toda a grandeza do ideal que assumimos, perante todos, neste maravilhoso dia!»
3. Será significativo, ainda, dizer-se que cada ano essa imensa comunidade festiva manifesta toda a gratidão para com a Cidade que os acolheu e a Instituição de Ensino que lhes proporcionou a via do conhecimento. Razões, sempre a zelar, para acreditar no futuro!

Alexandre Cruz

AI O PROGRESSO!...



O progresso, por vezes, destrói as nossas memórias palpáveis. Não devia ser assim, mas é. Infelizmente.
Um dia destes disseram-me que as obras em curso na zona do Jardim Oudinot tinham destruído a velha Ponte da Cambeia, de tantas recordações. Não quis acreditar e fui certificar-me. É verdade. Já lá não está. O progresso podia ter em conta as memórias vivas do povo. Mas nem sempre as respeita, como era seu dever. A culpa não é minha, que sempre aqui, e não só, valorizei as marcas do passado.
A Ponte da Cambeia era, na minha infância, o centro de muita vida. Ali esperávamos os barcos mercantéis que traziam, das feiras de Aveiro e da Vista Alegre, as mercadorias adquiridas pelos gafanhões. Eram entregues ao barqueiro, com sinais identificativos, e na hora combinada eram esperadas pelos seus donos. Nesta ponte e noutros locais das Gafanhas. Quando havia atraso, os barqueiros deixavam-nas ali mesmo, na certeza de que não haveria ladrões.
Ali, na ponte, pudemos assistir a manobras arriscadas, em dias de temporal, com os homens do leme a orientarem as embarcações, com rigor, para passarem sem perigo. Nadava-se, conversava-se, atiravam-se piadas aos barqueiros, com perguntas ingénuas e algumas vezes maldosas: “Quem é o macaco que vai ao leme?”
Recordo-me, bem, da pesca do safio. Vara forte, com arame numa ponta. Preso tinha o anzol. Enfiava-se nas tocas onde se refugiavam os safios e esperava-se que ele atacasse o isco. Depois, com força, puxava-se, puxava-se, que ele oferecia enorme resistência. A propósito do safio, permitam-me que lembre a história contada por José Cardoso Pires no seu livro “Lavagante”, um inédito recentemente editado. Diz ele que o lavagante é marisco manhoso. Vai alimentando o safio na sua toca, levando-lhe comer constantemente, para o engordar. Quando vê que o safio, pelo tamanho, já não consegue sair do refúgio, então mata-o e dele se vai alimentando. Daí, penso eu, a dificuldade que os pescadores tinham em o sacar da toca. Porém, nunca faltava a ajuda dos presentes, que davam uma mãozinha.
Depois disto tudo, como não hei-de ter pena de ver desaparecer a antiga Ponte da Cambeia. E como eu, outros, muitos outros gafanhões, que de várias partes do mundo me têm contactado, a propósito das fotos que aqui publico. Sei que não era uma ponte romana nem coisa que se pareça. Mas era a nossa Ponte. Ponte do lugar da Cambeia, da Gafanha da Nazaré. Presumo, contudo, que no mesmo local venha a nascer uma nova ponte, com os traços fundamentais da que foi derrubada. Se assim for, ainda bem.

Fernando Martins

CÁRITAS PORTUGUESA ATENTA À FOME

PEDE:
"aos governos para deixarem de apoiar a produção de produtos energéticos a partir de produtos agrícolas para que a produção agrícola se volte a orientar para a produção de bens alimentares, designadamente de primeira necessidade"
E ALERTA:
"as autoridades para a necessidade de redobrarem os apoios aos mais carenciados, distribuindo bens de primeira necessidade aos mais necessitados e com manifesta escassez de recursos financeiros e alimentares"
Leia mais aqui e aqui

CUIDAR DO NOSSO CORAÇÃO

No CUFC, quarta-feira, 7 de Maio




Cada vez mais é preciso cuidar do nosso coração. Trata-se de uma "máquina" com enormíssima capacidade, mas não é eterna. Se cuidarmos dela, mais tempo poderemos viver. Toda a gente sabe disso, mas os nossos comportamentos nem sempre têm em conta a importância do coração. Eu que o diga, que já apanhei alguns sustos. Daí que assuma a obrigação de falar desta Conversa Aberta, integrada no Fórum::UniverSal, que vai ter lugar no CUFC, na quarta-feira, 7 de Maio, pelas 21 horas. Podem (e devem) participar os que já sofrem do coração e os que desejam apostar em ter um coração mais saudável. O conferencista será Polybio Serra e Silva, da Fundação Portuguesa de Cardiologia, e como moderador teremos o cardiologista aveirense, Rogério Leitão.

PONTES DE ENCONTRO


QUE PASSADO PARA O FUTURO DE PORTUGAL?


“Num certo sentido, o 25 de Abril continua por realizar-se”


Esta frase que escolhi para o início deste texto faz parte do discurso do Presidente da República, na 34ª Sessão Comemorativa do 25 de Abril, realizada na Assembleia da República, no passado dia 25 de Abril de 2008.
Nesse dia, tive oportunidade de escrever neste blogue uma breve reflexão sobre “O 25 de Abril e o futuro”. Acabava o meu texto da seguinte forma: ”Falar, nos dias de hoje, do 25 de Abril de 1974, é pensar e falar na capacidade que temos em regenerar o que tem que ser regenerado; aperfeiçoar o que tem que ser aperfeiçoado; na vontade em resolvermos as dificuldades e problemas que nos surgem e na qualidade de vida e de democracia que podemos prometer e cumprir, de forma competente, perante todos os cidadãos. Se assim não for, o 25 de Abril de 1974 será sempre passado sem sentido e um memorial de recordações e nostalgias que jamais poderão fazer parte do futuro.”
Perante isto, não posso estar mais de acordo com a frase do Presidente da República, já que um projecto de país e de uma sociedade jamais se esgotam no tempo. O futuro é, pois, o horizonte mais próximo, num projecto de um país, que, por via disso, nunca está acabado e cujas responsabilidades para as tarefas da sua contínua renovação e execução são transmitidas de geração em geração, ininterruptamente.
Neste seu discurso, Aníbal Cavaco Silva deu a conhecer um estudo, encomendado à Universidade Católica Portuguesa, “sobre as atitudes e comportamentos políticos dos jovens em Portugal”.
O estudo revela um “alheamento da juventude, que não pode deixar de nos preocupar a todos, a começar pelos agentes políticos. A começar por vós, Senhores Deputados. Se os jovens não se interessam pela política é porque a política não é capaz de motivar o interesse dos jovens. (…) Em todo o caso, o nível de informação dos jovens relativamente à política é de tal forma baixo que ultrapassa os limites daquilo que é natural e salutar numa democracia amadurecida.” Já gora, será só na vida política?
Compreendo as palavras do P.R. e os alertas que faz, em vista ao futuro e ao destino de Portugal. Contudo, não posso deixar de colocar algumas questões que o passado nos tem ensinado e das quais os políticos se parecem esquecer: É ou não é verdade que existe em Portugal uma falta grave de cultura de cidadania? É ou não é verdade que os partidos políticos são mais vendedores de ilusões do que cumpridores de promessas? É ou não é verdade que falar verdade custa a perca de muitos votos? É ou não é verdade que os Deputados, não prestam contas a ninguém do que fazem no Parlamento? É ou não é verdade que se tem dado a ideia que aprender e ensinar não exige disciplina e sacrifícios? É ou não é verdade que as pessoas querem é entretimento, começando no futebol e acabando nas telenovelas? É ou não é verdade que se tem desvalorizado a componente de memorização dos jovens? É ou não é verdade que o espaço familiar é cada vez mais ocupado pelo computador, a Internet ou as Play Stantion, em vez do diálogo familiar? É ou não é verdade que se vendem cada vez mais as chamadas revistas cor-de-rosa e sensacionalistas e decresce a venda da chamada “informação séria”? É ou não é verdade que temos uma democracia formal e conjuntural?
Estas questões são comuns a outros países, pelo que bem pior do que a baixa informação, política, dos jovens, e não só destes, tem sido a falta de qualidade e a mediocridade dos que têm gerido os destinos deste povo e deste país, ao longo das várias décadas de democracia. É difícil não fazer recriminações, como pediu o P.R., pois estas, agora, nada resolvem e o futuro não espera, e é este que conta! Até quando?

Vítor Amorim

FOME EM PORTUGAL: UMA VERGONHA DA NOSSA DEMOCRACIA

O PÚBLICO online informou, há momentos, que “mais de mil toneladas de alimentos foram entregues este fim-de-semana ao Banco Alimentar Contra a Fome, 25 por cento mais do que a campanha de Maio do ano passado”. Acrescentou que “todos os trabalhos de recolha, selecção, empacotamento e distribuição foram efectuados nesta campanha por perto de 17 mil voluntários”, que nada receberam por esse trabalho, como é normal. Os dirigentes e demais colaboradores devem ter ficado, com esta campanha, mais descansados. Se há mais pobres, também há gente generosa. Mas não podemos ficar por aqui. Os nossos governantes, os políticos, as instituições estatais e privadas e a sociedade em geral têm a obrigação, inadiável, de resolver este problema da fome, uma vergonha da nossa democracia. FM

domingo, 4 de maio de 2008

DIA DA MÃE



POEMA À MÃE

No mais fundo de ti,
eu sei que traí, mãe!

Tudo porque já não sou
o retrato adormecido
no fundo dos teus olhos!

Tudo porque tu ignoras
que há leitos onde o frio não se demora
e noites rumorosas de águas matinais!

Por isso, às vezes, as palavras que te digo
são duras, mãe,
e o nosso amor é infeliz.

Tudo porque perdi as rosas brancas
que apertava junto ao coração
no retrato da moldura!

Se soubesses como ainda amo as rosas,
talvez não enchesses as horas de pesadelos...

Mas tu esqueceste muita coisa!
Esqueceste que as minhas pernas cresceram,
que todo o meu corpo cresceu,
e até o meu coração
ficou enorme, mãe!

Olha - queres ouvir-me? -,
às vezes ainda sou o menino
que adormeceu nos teus olhos;

ainda aperto contra o coração
rosas tão brancas
como as que tens na moldura;

ainda oiço a tua voz:
"Era uma vez uma princesa
no meio de um laranjal..."

Mas - tu sabes! - a noite é enorme
e todo o meu corpo cresceu...

Eu saí da moldura,
dei às aves os meus olhos a beber.

Não me esqueci de nada, mãe.
Guardo a tua voz dentro de mim.
E deixo-te as rosas...



Eugénio de Andrade

BUARCOS: Ruas estreitas


Sempre gostei de passear por povoações antigas. O insólito aparece-nos a cada esquina. Vejam esta ruela limpa, que nos convida a olhar. Ela é tão estreita que quase nem dá para duas pessoas se cruzarem. Se levarem um cesto à cabeça ou à ilharga, não sei como será! E se precisarem de comprar uma mobília larga, como é que fazem para a meter em casa? A verdade, porém, é que nestas ruelas a vida existe. E não será interessante conversar de janela para janela, quando a monotonia ataca dentro de casa?

DIOCESE DE AVEIRO ONLINE


A Diocese de Aveiro já está online. A partir de agora, o mundo passa a ter acesso à vida da Igreja aveirense. Todos os que lhe estão ligados, directa ou indirectamente, podem entrar em sintonia com a diocese, que fica à distância de um simples clique. Na abertura deste espaço diocesano, o nosso Bispo, D. António Francisco dos Santos, sublinha que "A Internet é um caminho deslumbrante, cheio de magia e de fascínio, que se abre à evangelização com novo encanto, e é igualmente um meio imprescindível para construir a comunhão humana e eclesial, que a Igreja como casa e escola de comunhão se propõe realizar".
Para abrir o apetite, aqui deixo as rubricas, algumas das quais à espera de serem enriquecidas no dia-a-dia: Bispo de Aveiro, História, Plano Pastoral, Arciprestados, Clero, Documentos e Contactos, entre outras.
Felicito quantos puseram de pé este projecto, reconhecendo, assim, a importância de embarcar na carruagem mais significativa dos tempos de hoje. Com a ajuda de todos os diocesanos, a Igreja aveirense passa a estar em todos os recantos da Terra, assumindo, deste modo, a catolicidade da sua matriz.
Sugiro, agora, uma visita, para estabelecer, se quiser, a sua ligação diária.

AVEIRO: BÊNÇÃO DOS FINALISTAS - 3




Vivi hoje, na Alameda da Universidade de Aveiro, a Bênção dos Finalistas, em cerimónia presidida por D. António Francisco. Foi uma celebração muito expressiva, porque marcada pelas emoções de quem parte, pelas alegrias de quem chega ao fim do curso, pela esperança num futuro risonho e pela coragem de enfrentar outros desafios na vida. Finalistas e alunos das Escolas Superiores de Aveiro, familiares e amigos, professores e funcionários, todos se deram as mãos e cantaram hinos ao Deus do Amor, de quem esperam inspiração para, no dia-a-dia, promoverem gestos solidários e fraternos, alicerces de uma sociedade mais justa. Gostei, por isso, da alegria partilhada, da sintonia das preces, das palavras de despedida, do obrigado dos cursos, do reconhecimento do bem recebido, das amizades criadas, dos agradecimentos à cidade que os acolheu. Felicidades para todos, são os meus votos.
FM


UMA MENSAGEM

Um passo no futuro
Antes de partir, a nossa mesa redonda!

Num tempo que voou,
Porque o vivemos a brilhar,
Foram anos, trabalhos,
cadeiras e canseiras sem parar!

A todos, foram imensos,
Eis chegada a hora de reconhecer:
Olhar para trás, sentir o vencido mar,
À Ria, às gentes de Aveiro agradecer!

E se ao futuro a incerteza pertence
Na hora sempre sofrida de partir,
Fica-nos o sabor bem especial
Da arte da esperança sentir!

A Bênção é a nossa festa especial,
Finalistas da academia vamos cantar!
É o dia da unidade e grito maior
Que nos leva aos céus a Deus louvar!

Será, em mesa universal, a aula maior
Onde a abundância da paz todos encanta…,
Símbolos e Cursos, na Alameda, projectam o melhor…
O sonho, o futuro, triunfo de agiganta!


Na Linha Da Utopia



Ética nas liberdades de imprensa



1. Este ano foi Maputo a acolher as cerimónias centrais do Dia Mundial da Liberdade de Imprensa (3 de Maio). É neste contexto que a instância Iniciativa Africana dos Média reflecte de forma aberta e plural sobre a «situação, desafios e oportunidades, expansão e consolidação da Liberdade de Imprensa e do direito à Informação em África». Tratam-se, assim, de dimensões essenciais da pessoa humana em sociedade, como janelas abertas para democracia em liberdade de comunicação. A própria Declaração Universal dos Direitos Humanos inscreve-se nesta mesma matriz, ao destacar que «todo o ser humano tem direito à liberdade de pensamento, de consciência e de religião» (art. XVIII). Estes são os “lugares” mais profundos do ser humano.
2. Continua, ainda, grande a lista de países em que o bloqueio à liberdade de expressão é limitação de vivência no respeito inclusivo pelas diferenças. Quando a intolerância triunfa (ou triunfou…e a sua história é bem longa e de muitos quadrantes) é sinal fechado do assumir explícito da dignidade da pessoa humana. Não é por acaso que uma boa parte dos relatórios diagnósticos internacionais baseia-se na percepção da liberdade e alguns autores, mesmo, apresentam a referência «o desenvolvimento como liberdade» (obra pioneira de Amartya Sen, Nobel da Economia 1998). É nesta linha que os direitos humanos destacam que «todo o ser humano tem direito à liberdade de opinião e de expressão; este direito inclui a liberdade de, sem interferência, ter opiniões e de procurar, receber e transmitir informações e ideias por quaisquer meios e independentemente de fronteiras» (art. XIX da Declaração Universal).
3. Também neste 4 de Maio, no âmbito do 42º Dia Mundial das Comunicações Sociais, Bento XVI salienta que «quando a comunicação perde as amarras éticas e se esquiva ao controle social, acaba por deixar de ter em conta a centralidade e a dignidade inviolável do homem, arriscando-se a influir negativamente sobre a sua consciência, sobre as suas decisões, e a condicionar em última análise a liberdade e a própria vida das pessoas. Por este motivo é indispensável que as comunicações sociais defendam ciosamente a pessoa e respeitem plenamente a sua dignidade. São muitos a pensar que, neste âmbito, seja actualmente necessária uma «info-ética» tal como existe a bio-ética no campo da medicina e da pesquisa científica relacionada com a vida» (Mensagem de Bento XVI para o 42º Dia Mundial das Comunicações Sociais, 4 de Maio).
4. Os novos desenvolvimentos sociais geram novos imperativos no apurar da reciprocidade das liberdades, e nestas a justa liberdade de imprensa nos novos alcances das comunicações actuais. Quem não se lembra há uns tempos das polémicas caricaturas de Maomé…onde se entrecruzavam ausências de ética social na percepção da liberdade de cada um… Informar a profundidade do ser humano com o reconhecimento da dignidade do outro continua a ser a maior tarefa humana, porque caminho de tolerância, paz e desenvolvimento.

Alexandre Cruz

TECENDO A VIDA UMAS COISITAS - 76


OS CADERNOS ESCOLARES


Caríssima/o:

Quando recordamos estas coisitas da vida e, se porventura, falamos delas, é certo e sabido que os nossos jovens respingam com os seus remoques. E têm alguma razão, não fazem ideia da dificuldade que tínhamos em ir à loja do ti Bola ou da D. Joaninha comprar um caderno de uma dezena de folhas com o desenho dum lusito na capa! Os traços eram a azul e ele lá estava de braço estendido e de manga arregaçada. O papel da capa era fino e mais brilhante do lado de fora. Por dentro, nesta primeira etapa, as folhas eram de duas linhas para dar forma e tamanho à nossa letra! Só muito mais tarde escrevíamos nos de uma linha, quando a letra já estava certinha e não havia necessidade da guia superior. Cadernos quadriculados e lisos ficavam lá para a terceira e quarta classes ou para os alunos mais abonados.
Os cadernos eram deitados. Mesmos os que eram feitos de papel almaço cortado, eram mais compridos do que altos. Estes cadernos foram uma inovação que muito trabalho davam, pois as folhas tinham de ser dobradas e depois cozidas; mais tarde intercalavam-se folhas pautadas com quadriculadas e lisas.
Perto dos exames o nosso treino era feito com folhas de almaço; grande aflição, porque era tão larga que só com muita dificuldade a arrumávamos em cima do tampo da carteira. Em seguida, víamos as folhas das provas impressas mas que eram desse mesmo tamanho; já não havia dificuldade...
Hoje a variedade é tal que nos faz exclamar: Não há fome que não dê em fartura!
Os nossos jovens não podem aquilatar do engenho e da arte necessários para engendrar cadernos de folhas de papel costaneira ou de outros papéis ( de embrulho...) onde fosse possível escrever e reler aquilo que se tinha escrito!
Mais tarde, quando as bicicletas nos levavam a Aveiro, outros cadernos surgiriam... Será conversa de outro plano, mas foi aí que nos apareceu o nome “sebenta” e palpámos papel quase tão grosseiro como o churro que aproveitávamos para as nossas escritas mais respeitáveis!
Para terminar uma pergunta: alguém se lembra dos cadernos do modelo J?...


Manuel

GESTOS INESQUECÍVEIS


Recebi, há dias, um convite fora do comum que me deixou cheio de alegria. Um par de noivos pede-me para presidir ao seu casamento e, na celebração da eucaristia, dizer aos convidados que tinha tomado a decisão de dedicar as ofertas recolhidas na missa às famílias empobrecidas do nordeste brasileiro.
O noivo conhecia bem a situação de abandono, perseguição e fome que grassam por essas terras. Havia estado por lá em trabalho missionário cinco anos. A noiva vive há muito a simplicidade e a sobriedade de Taizé, comunidade ecuménica que difunde o seu espírito por todo o mundo.
Assim procedi, não sem uma certa emoção, vendo passar na minha imagimação os milhares de famintos deserdados pelos grandes latifundiários que se apoderam das terras para fazerem as enormes herdades. Assim correspondi, fazendo meu um pedido tão nobre e um gesto tão expressivo em ordem a atenuar um enorme problema social.
Está presente o pároco de uma dessas zonas nordestinas. Agradavelmente surpreendido pela iniciativa dos noivos, toma a palavra, após a recolha das ofertas, agradece comovidamente e deixa-nos uma linda e interpelante mensagem.
Hoje, é o dia da Mãe. Os noivos quiseram fazer-nos esta surpresa admirável. Pois, meus amigos, a oferta que pondes nas minhas mãos vai ser dedicada a satisfazer a necessidade maior sentida pelo povo de que sou responsável. Como não tem onde se reunir para tratar dos seus problemas, nem para rezar em conjunto, nem para tomar parte na celebração da missa, estamos a construir uma igreja dedicada a Santa Gianna Beretta Molla. Este dinheiro e, sobretudo, a vossa generosidade vão para esta construção que pretende ser um monumento à vida que este jovem casal está agora a iniciar.
Santa Gianna Beretta Molla foi canonizada em 2004 por João Paulo II. Era mulher casada e mãe de vários filhos. Tinha uma vida feliz, normal, simples. Uma vez, depara-se com um problema dilacerante: uma gravidez de risco. Os médicos aconselham-na a abortar. Ela pede para fazerem todo o possível para os salvar a ambos, mas sobretudo à sua filhinha nascente. E assim acontece, tendo ela sucumbido logo após o parto.
O olhar do jovem casal brilha com um fulgor intenso. A assembleia parece electrizada e irrompe numa ovação extraordinária. A admiração é visível em todos os rostos. A coincidência torna-se muito expressiva. O gesto chega mais longe do que as palavras.
O destino das ofertas recolhidas tinha um alcance sublime que o missionário apresenta de forma tão evangélica: enaltecer a coragem de quem defende a vida nascente, apoiar o sentido nobre do casal aberto à solidariedade com os mais empobrecidos no momento preciso em que mais se gasta e consome.
A assembleia assim o entende; e por isso, aplaude e colabora generosamente. E o gesto fica como uma recordação inesquecível na memória de todos.

Georgino Rocha

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