sábado, 4 de novembro de 2023

Perante o horror, o silêncio de Deus

Crónica de Anselmo Borges 
no Diário de Notícias


Actualmente, porque, com a televisão, temos acesso às imagens, talvez seja sobretudo perante os horrores das guerras que se pode ficar estarrecido perante o silêncio de Deus. São bombardeamentos que não deixam pedra sobre pedra, que matam indiscriminadamente homens, mulheres, crianças, e ficamos esmagados sobretudo pela dor, o clamor, as lágrimas, a desorientação das crianças inocentes. Onde está Deus?
Joseph Ratzinger, chamado aos 17 anos para o serviço militar do Reich, foi desertor e prisioneiro dos americanos. Já Papa Bento XVI, como já aqui escrevi, esteve em Auschwitz e fez um discurso dramático e deveras emocionante: "Tomar a palavra neste lugar de horror, de crimes contra Deus e contra o ser-humano sem precedentes na História, é quase impossível, e é particularmente difícil e deprimente para um cristão, para um Papa que procede da Alemanha. Num lugar como este faltam as palavras; no fundo, só há espaço para um atónito silêncio, um silêncio que é um grito interior para Deus: Por que te calaste? Por que quiseste tolerar tudo isto? Onde estava Deus nesses dias? Por que se calou?"

sexta-feira, 3 de novembro de 2023

Centenário da morte de José Estêvão

3 de novembro de 1962

Nos dias 3 e 4 de novembro, Aveiro comemorou o primeiro centenário da morte de José Estêvão Coelho de Magalhães, com diversos atos públicos, entre os quais a edição de uma coletânea de trechos de alguns dos seus discursos e escritos.

In Calendário Histórico de Aveiro 

Foto de uma coletânea de textos 

Dialogar é preciso com urgência

Pela janela confirmo o inverno fora do tempo. Chuva, vento e frio são, para mim, um convite à contemplação. E da minha tebaida sinto um mundo estranho e complicado, longe de nós. Longe de nós, mas a comunicação social tudo torna presente. 
A guerra com destruição e mortes sem conta nunca mais acaba, porque é do tamanho de gente desvairada que nunca aprendeu a resolver os problemas pelo diálogo e pelas negociações. Direta ou indiretamente.
Eu sei que no mundo civilizado há sempre quem desista de conversar serenamente, na procura de soluções para qualquer problema. E se é assim entre pessoas e famílias, entre partidos políticos e adeptos dos clubes, como nos admiramos com as lutas entre países de culturas e políticas diversas?
No fundo, temos todos muito que aprender. 
Dialogar serenamente é preciso com urgência a todos os níveis e em todas as situações.

quinta-feira, 2 de novembro de 2023

CURIOSIDADES — Símbolo da República


Quando chegamos a certa idade, o tempo frio e chuvoso obriga-nos a ficar por casa. E há horas para tudo: dormir a sesta, ouvir música, ver televisão, ler, conversar, etc. Hoje deu-me para ler e peguei num livro de Luís Almeida Martins, que havia adquirido e lido há anos, e que tem por título “365 dias com histórias da História de Portugal”. São 694 páginas escritas com graça e acessíveis a toda a gente.
Aqui fica uma história resumida:

UM BUSTO DE CARNE E OSSO

O autor conta-nos a estória de uma mulher que serviu de modelo ao artista encarregado de esculpir o busto da República Portuguesa. E diz:
“Pouco depois da revolução de 25 de Abril de 1974, foi entrevistada na televisão uma mulher de 82 anos que, se não possuía um discurso muito fluente, dava ainda mostras de grande vivacidade e guardava na expressão e nas posturas uns fortes lampejos de beleza física quase magnética. Chamava-.se Ilda Pulga, nascera na vila alentejana de Arraiolos, vivia desde os 18 anos na capital quase sempre trabalhando como costureira — e era a República em carne e osso.”
Ilda Pulga morreu em 1993 com 101 anos.

Dia dos Fiéis Defuntos


Hoje, 2 de novembro, celebra-se o Dia dos Fiéis Defuntos, em Portugal e no mundo. Celebra-se tradicionalmente pela Igreja Católica, um dia depois da Festa de Todos os Santos, 1 de novembro. Para o cristão, a morte é a passagem para a fase definitiva e eterna da vida, em união com a morte e ressurreição de Jesus Cristo.
Se é verdade que todos os dias, ou muito frequentemente, recordamos os nossos entes queridos, revivendo encontros, conversas e cenas de tantos momentos, de mistura com amores, amizades, e trabalhos, também é normal trazermos para o presente os que, de várias formas, contribuíram para a nossa formação a vários níveis.
Para além dos familiares, próximos os mais afastados, somos “visitados”, continuamente, pelos amigos de todas as horas, desde a infância, até à nossa velhice.
Quantas vezes brinco com quem na minha infância brinquei, com os velhos com quem revivi histórias que jamais saem da minha memória, de professores e mestres que me encaminharam na vida. Mas são, para mim, alguns familiares os mais presentes. Pai, mãe, avós, tios e tias, irmãos, primos e primas, mas ainda os vizinhos e colegas das escolas por onde passei.
Convivi com imensos amigos em tantas iniciativas, desde a juventude até à idade em que me encontro, com memória suficiente para me sentir rodeado por todos, na certeza de que o reencontro com os que mais me amaram  será quando Deus achar por bem levar-me para o seu aconchego maternal.
Neste dia, uma flor fresca e viva do nosso jardim.

Fernando Martins

quarta-feira, 1 de novembro de 2023

Um soneto de Manuel Alegre

 

 

Com mãos se faz a paz se faz a guerra.
Com mãos tudo se faz e se desfaz.
Com mãos se faz o poema - e são de terra.
Com mãos se faz a guerra - e são a paz.

Com mãos se rasga o mar. Com mãos se lavra.
Não são de pedras estas casas, mas
de mãos. E estão no fruto e na palavra
as mãos que são o canto e são as armas.

E cravam-se no tempo como farpas
as mãos que vês nas coisas transformadas.
Folhas que vão no vento: verdes harpas.

De mãos é cada flor, cada cidade.
Ninguém pode vencer estas espadas:
nas tuas mãos começa a liberdade.

Manuel Alegre

Desafios do Mar Português

Museu Marítimo de Ílhavo
18 de Novembro



O Seminário “Desafios do Mar Português” está de regresso, com a 11.º edição, que se realiza no dia 18 de novembro, no Museu Marítimo de Ílhavo, integrado nas comemorações do Dia Nacional do Mar. Desta vez, o seminário terá como mote a exposição temporária “Mar Oceano: Legado de Mário Ruivo”, patente no Museu Marítimo de Ílhavo, e assinalará o 25.º aniversário do Relatório da Comissão Mundial Independente para os Oceanos.

Fonte: CMI

A guerra

Desde que nasci, houve sempre guerras devastadoras e com mortes sem conta. De algumas pouco sabíamos e as notícias eram incompletas e manipuláveis. Presentemente, as guerras são vistas em todo o mundo em direto. 
Horrível é tudo o que os nossos olhos contemplam e impensável o que virá depois. Famílias destroçadas, povoações em cacos, mortes sem conta. E no fim, quem ficará a ganhar? Ninguém!
Não será a nossa geração que ficará a saber o futuro do mundo dito civilizado, depois desta guerra.

Do sonho à pobreza extrema

Era eu menino quando uma família gafanhoa resolveu emigrar para a Argentina. Conheci-a de perto porque a minha mãe era amiga do casal. O marido e pai foi à frente para conhecer o terreno. Vislumbrou futuro e chamou mulher e filhos. Ainda tenho na memória o rosto e o sorriso deles.
Vendida a casa e demais propriedades, lá partiram todos ao encontro do chefe de família, como se dizia. A felicidade do reencontro e a esperança num futuro muito melhor estava no peito inchado de todos. E lá foram…
Nunca mais se falou deles. Soube que chegaram a ter uma quinta, certamente arrendada, e que vendiam produtos agrícolas nos mercados. Os anos passaram, até que um dia, em conversa com um parente, soube do desaire.
A vida, que lhes sorriu nos primeiros anos, deu uma reviravolta. A derrota e a miséria instalaram-se. Não conseguiram ultrapassar a desdita. A pobreza extrema chegou. Tornaram-se pedintes nas feiras e onde calhava. Não sei se há herdeiros…

Fernando Martins

Notas: 
1-Texto publicado no livro "Gafanha da Nazaré - 100 anos de vida";
2- Frequentemente, encontro conterrâneos nas ruas por onde passo, cujos nomes já fugiram da minha memória. Conheço-os de vista, mas não os identifico. Depois, ouvido o nome, saltam para o presente memórias vivas guardadas em gavetas bem recheadas. Hoje, por exemplo, quando viajava por uma rua  da nossa terra, lembrei-me de uma família amiga que emigrou e que nunca mais regressou.

terça-feira, 31 de outubro de 2023

A vida cristã não é espiritual?

"Os jovens entrevistados no âmbito de um estudo são quase unânimes em considerar que a vida cristã não é espiritual. É por isso que decidiram dirigir-se a outras experiências, para encontrar lugares e contextos nos quais a sua demanda pudesse ser satisfeita. Estamos muito impressionados com estas afirmações: como é possível não colher o potencial espiritual da vida cristã? É verdade que é preciso interrogar-se sobre o que é que os jovens andam à procura, mas também fazer um exame de consciência sobre a qualidade espiritual das experiências que são vividas e propostas pela comunidade eclesial."

Foto e texto da Pastoral da Cultura

Dia das Flores


Hoje é o Dia das Flores. Por onde quer que passemos há muita gente com flores e todos os caminhos se cruzam nos cemitérios. Amanhã, 1 de novembro, é o Dia de Todos os Santos. No fundo, é o Dia dos Fiéis Defuntos, aqueles que viveram como nós, mas que já estão nos nossos corações e memórias.
Os crentes aceitam que estão no seio de Deus. Os não crentes celebram as boas recordações que eles nos legaram. E a melhor forma de os recordar, para pessoas sensíveis, ainda são as flores, em especial as que são cultivadas com carinho a pensar nas campas que acolhem os restos mortais daqueles que são ou foram os nossos entes queridos.

Dia Mundial das Cidades - Gafanha da Nazaré


Neste dia, 31 de outubro, há três celebrações que mereciam algumas palavras, em jeito de homenagem: Dia Mundial da Poupança, Dia das Bruxas e Dia Mundial das Cidades. Como não tenho tempo para as três, resolvi optar pela última da lista.
O Dia Mundial das Cidades leva-me a pensar que uma povoação que se enquadre naquele título tem de se apresentar com dignidade: Limpa, asseada, com nível social, cultural e artístico. E se à partida não reúne essas qualidades, têm os moradores de lutar por elas, devendo contribuir para isso.

Nota: Sobre o Dia Mundial da Poupança, nem quero pensar nisso. Estou ou estamos todos cansados de poupar que nem queremos falar do assunto; e sobre o Dia das Bruxas, nem uma palavra. Não há por aí tantas bruxas e bruxedos?

segunda-feira, 30 de outubro de 2023

Estou nas minhas sete quintas




Para não haver confusão, tenho um quintal com relvado, árvores de fruto e galinhas a correr quando sentem gente, mas não sou adepto de andar por lá a trabalhar.  Contudo, a Lita adora. É curioso. As  galinhas parece que andam sempre esfomeadas. E nós só fazemos algo quando nos apetece, sempre sem pressas. Até se dorme a sesta, tranquilamente.
Hoje deu-me para ver fotografias de tantos anos. Umas recuperáveis com as novas tecnologias, e de outras até aproveitamos recantos. Gostaria de aprender mais umas coisinhas sobre a edição de fotos, mas não descubro quem tenha tempo e pachorra para me ensinar. E sem ajudas, vou fazendo  o que posso e sei.
Boa semana para toda a gente, mesmo para os que se vão esquecendo que a vida tem de continuar com otimismo.

Fernando Martins

Crianças brincam à guerra



«As crianças brincam à guerra
É raro que brinquem à paz
porque os adultos
desde sempre fazem a guerra,
tu fazes “pum” e ris;
o soldado dispara
e um outro homem
não ri mais.
É a guerra.»

As crianças brincam à guerra, recita uma poesia de Bertolt Brecht, porque as crianças não sabem como se brinca à paz. Ninguém lhes ensinou como se faz. Brincam à guerra porque desde sempre viram os adultos a fazerem-na, e é belíssimo fazer “pum”.

Li na Ecclesia


domingo, 29 de outubro de 2023

Santa Cruz da Trapa - Poesia no largo


De uma passagem por Santa Cruz da Trapa registei uma curiosidade. Poesia no largo da vila achei interessante. Na nossa região seria impossível. Há tantos poetas que seria difícil a escolha.

Figueira da Foz


Sou dado a cultivar e lembrar gratas recordações. Este domingo foi assim. Dormitei e ao despertar corri à cata de fotografias de décadas, entre papelada diversa. E encontrei, a dada altura, uma fotocópia de um poema de João de Barros da Figueira da Foz. No seu busto/estátua, junto à praia, há um excerto de um seu poema:

“AQUELE MAR DA MINHA INFÂNCIA
BOM CAMARADA E MEU IRMÃO...

EU SORRIREI, CALMO E CONTENTE
SE OUVIR E VIR, PERTO; BEM PERTO
O MAR FRATERNO, O MAR ETERNO, O LIVRE MAR.”

E onde poderia eu ler todo o poema, se é que ele existia?

Um certo dia teimei e resolvi ir à Biblioteca Municipal da Figueira da Foz. Não conheciam nenhum livro de João de Barros com esse poema. Depois de muita conversa, uma funcionária, com ares de muita experiência, adiantou: — Talvez nos arquivos da inauguração do monumento. E acertou... Guardo-o como uma relíquia. Sou assim.

Fernando Martins

 



AQUELE MAR

Aquele mar da minha infância,
bom camarada e meu irmão
a sua voz, o seu olor, sua fragrância
tanto os ouvi e respirei
que trago em mim o seu largo ritmo,
seu ritmo forte,
como se as praias onde espuma
quase me fossem
praias sem fim dentro de mim
ocultas praias, largas praias
do tumultuoso coração…
Aquele mar
meu confidente de horas idas
tudo escutava e adivinhava
do meu pueril e ingénuo anseio.
Nada sonhei que o não dissesse
– frémito de alma, grito ou prece –,
às madrugadas e aos poentes,
ao sol, às nuvens, ao luar,
ora nascendo, ora morrendo
nos longos, longos horizontes
em que se perdia o meu olhar…
Aquele mar
na calma azul, no temporal,
nunca mentia: era um só beijo,
hálito puro, largo harpejo
que me entendia e respondia
no seu inquieto marulhar…
Moço e menino, solitário,
rochas, falésias, areais
eu coroava-os de alegria
nos meus passeios matinais.
Ou nalgum barco pescador,
velas abrindo a todo o pano,
do oceano então era senhor,
largava a escota, navegava,
no vão desejo de aventuras,
que não chegava a realizar…
Mas era meu, e eu pertencia-lhe,
àquele mar,
era seu filho, escravo e dono,
sorria à sua Primavera,
amava a luz do seu Outono,
o vivo lume dos estios
a violência dos Invernos
longos clamores de temporais.
Aflito voo das gaivotas
junto das negras penedias,
também como ele me perdias,
nas tardes tristes e sombrias,
na bruma gélida das noites…
E a eternidade então ouvia
humano sonho sempre esquecido
na eterna voz que fala o mar.

João de Barros

NOTA: Edição de “Mar Alto” – Figueira da Foz,
1 de Junho de 1969, no dia da Festa da Cidade ao poeta.

Plantas da Bíblia — Flor-da-paixão



A Flor-da-paixão ou flor-de-maracujá é originária do Próximo Oriente. Anualmente cobre-se de flores, exuberantes e de aroma doce.

“Eu sou o narciso de Saron, o lírio dos vales. Como o lírio entre os espinhos, assim é a minha amiga entre os jovens (Ct 2: 1-2)"

In "Plantas da Bíblia"

Mudança da Hora

 



Logo mais, quando forem duas horas, atrase o relógio uma hora. E assim ganha uma hora. Já estamos habituados. Será que se ganha alguma coisa com esta mudança?

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