O CAPELÃO MILITAR PARAQUEDISTA
QUE SALTAVA À FRENTE PARA DAR CONFIANÇA
HÁ DEZ ANOS, CÉSAR FERNANDES TORNOU-SE PÁROCO DA GAFANHA DA NAZARÉ, APÓS 28 ANOS DE SERVIÇO NAS FORÇAS ARMADAS COMO CAPELÃO MILITAR PARAQUEDISTA, ONDE FOI “PAI” E “COMPANHEIRO” DE MUITOS MILITARES EM MISSÕES INTERNACIONAIS DE PAZ.
César Fernandes, o mais velho de seis filhos de Adelino e Ludovina, nasceu há 72 anos, em Calvão. Aos 12 anos, entrou no seminário local, tendo transitado dois anos depois para o Seminário de Santa Joana em Aveiro. Após a sua formação no Instituto de Ciências Humanas e Teológicas no Porto, em 1979, foi ordenado presbítero na Igreja Matriz de Calvão, iniciando o serviço pastoral na paróquia de Aradas.
Em 1981, foi chamado ao serviço militar, obrigatório para todos os cidadãos portugueses do sexo masculino. César Fernandes foi incorporado nas Tropas Para-quedistas pertencentes à Força Aérea Portuguesa e colocado na Base Operacional de Tropas Para-quedistas Nº 1. Meses mais tarde, foi integrado no 113º curso de paraquedismo na Base Escola de Tropas Para-quedistas em Tancos. Terminado o curso com aproveitamento e regressado à sua anterior Unidade, aí completa os dois anos obrigatórios de serviço militar. Quando terminou esta missão de dois anos, foi surpreendido com o convite do Patriarca de Lisboa, Ordinário Castrense de Portugal, D. António Ribeiro, para ser capelão militar efetivo do quadro de capelães. Abraçou a missão em dois locais - na base militar de S. Jacinto, onde permaneceu 10 anos, e em Tancos, onde desenvolveu grande parte do seu serviço militar, terminando em dezembro de 2007 o seu percurso com a patente de tenente-coronel paraquedista.
César Fernandes realizou cerca de 10 missões internacionais de implementação de paz, acompanhando os vários batalhões de paraquedistas, em geografias como Bósnia, Kosovo e Afeganistão. Como capelão militar paraquedista dava apoio espiritual e emocional, celebrava a missa e aumentava a confiança dos militares, ao entrar também no avião e a ser o primeiro a saltar. O seu papel foi além de capelão, dizendo emocionado: “Fui um pai e um companheiro para muitos militares”.
Os 27 anos dedicados às Forças Armadas deram-lhe não só “amigos eternos”, como “a melhor parte” da sua vida. Aos 56 anos encerrou este capítulo do seu percurso, motivado pelo desgaste físico que obrigou a uma artroplastia de quadril para substituir parte da articulação do fêmur por uma prótese.
Motivado pelo serviço à comunidade, regressou à sua Diocese de Aveiro, tendo assumido a missão de Prior da paróquia da Gafanha da Nazaré, em agosto de 2015. Nessa ocasião, adiantou como desafios pastorais a “humildade, a generosidade, a proximidade e a colaboração, porque o objetivo da Igreja também é o bem do ser humano no seu todo”.
Há uma década que trabalha de “segunda a segunda”. Só no ano passado, as Jornadas Mundiais da Juventude, em Lisboa, conseguiram que agendasse três dias de férias. E se este é o momento que identifica como o mais feliz dos seus últimos dez anos, indica que a pandemia de Covid-19 foi o mais triste. “Foi uma dor de alma ver as igrejas vazias e rezar a missa sem a comunidade cristã. Celebrar as cerimónias pascais sem pessoas marcou-me muito”, recorda.
A sua jornada começa habitualmente às seis horas e meia da manhã com uma caminhada de 50 minutos em Aveiro, onde vive. Às nove já está na Paróquia, a coordenar as várias atividades. Na sua secretária há dossiês, documentos e livros, destacando-se a autobiografia do Papa Francisco que se encontra a ler. Fala do pontificado de Francisco com entusiasmo, elogiando o seu trabalho na renovação interna da Igreja, na sua maior abertura à sociedade e na atenção às periferias da sociedade.
Dez anos depois, e a caminho de completar 73 anos, César Fernandes partilhou já com o Bispo de Aveiro, D. António Moiteiro Ramos, a intenção de “descansar” e “ir para casa”. Revela que quer dedicar-se à família, em particular às suas duas irmãs com quem vive. Sente que é um dever, uma vez que “nunca teve tempo”.
Mas, enquanto o capítulo na Paróquia da Gafanha da Nazaré não se encerra, César Fernandes prossegue a sua missão, que descreve recorrendo às palavras do Santo Padre: “Às vezes, o Pastor vai à frente para orientar o caminho; por vezes está no meio para ser um deles; outras vezes vai atrás para acolher os que estão em último, não deixando ninguém para trás.”Nas suas palavras: “Enquanto aqui estiver quero ser este Pastor.”
NOTA: Transcrito, com a devida vénia, de "ÍLHAVO - revista" da CMI, edição de Março de 2025