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sábado, 5 de março de 2022

Palavras para mim. 2

Crónica de Anselmo Borges
no Diário de Notícias

O cristianismo em grande parte venceu graças à proclamação de Cristo: "Eu sou a Ressurreição e a Vida."

Continuo com palavras que ao longo da vida me foram dirigidas e me marcaram positivamente. Do teólogo Andrés Torres Queiruga. Para o crente, é a própria realidade, comum a todos, que, mediante certas características, como a contingência radical, a consciência da finitude, concretamente frente à morte e ao impulso radical para transcendê-la, a exigência de Sentido último, se mostra implicando uma Presença como seu Fundamento primeiro e Sentido último. Assim, na estrutura íntima do processo religioso, "não se interpreta o mundo de uma determinada maneira porque se é crente ou ateu, mas é-se crente ou ateu porque a fé ou a não crença aparecem ao crente e ao ateu, respectivamente, como a melhor maneira de interpretar o mundo comum".
Do filósofo Miguel Baptista Pereira. "Na leccionação da Antropologia Filosófica, nunca se esqueça da centralidade do homo dolens (o Homem sofredor)".

sábado, 27 de novembro de 2021

Religião a mais? Deus e dignidade

Crónica de Anselmo Borges 
no Diário de Notícias



1 O filósofo Henri Bergson, na obra famosa As Duas Fontes da Moral e da Religião, mostrou a distinção entre dois tipos de religiosidade. A primeira - a religiosidade estática - tem a sua base na angústia da morte e no sentimento de abandono perante uma Natureza tantas vezes cruel, e, a partir do instinto de sobrevivência, procura protecção divina para a pequenez humana. A outra - a religiosidade dinâmica - assenta na intuição do Mistério Último experienciado como amor. Esta exprime a grandeza do ser humano e apoia-se na experiência de pessoas excepcionais - os místicos. Mas a mística autêntica e completa é acção, pois o místico verdadeiro, "através de Deus, por Deus, ama a Humanidade inteira com um amor divino".

sábado, 23 de outubro de 2021

Crer num Deus imoral?

Crónica de Anselmo Borges 
no Diário de Notícias

Ai de nós, se não tivesse havido nem houvesse ateus, não os ateus vulgares, mas daqueles que sabem o que isso verdadeiramente quer dizer! Sem eles, muitos crentes continuariam de rastos diante da Divindade. Mas que Deus seria esse que nos obrigasse a andar de rastos diante d'Ele e nos tornasse mesquinhos e ridículos aos nossos próprios olhos?...

A palavra fé vem do latim fides, donde deriva também fiel, fidelidade, confiar, fiador, confiança, confidência. Crer vem de credere, donde deriva também credo, crença, crente, acreditar, credor, crédito. Até etimologicamente, ter fé não significa, portanto, em primeiro lugar aceitar um conjunto de afirmações doutrinais ou dogmas. A fé é, antes de tudo, a entrega confiada a Deus, Fonte originária de tudo quanto existe. Entregar-se-lhe confiadamente como Sentido último de toda a realidade e da existência própria. Como um homem se entrega confiada e amorosamente a uma mulher, como um amigo confia num amigo.
A pergunta é inevitável: mas Deus terá crédito, a ponto de se poder realmente acreditar n'Ele, sem ilusões? Quem quiser reflectir sobre a fé religiosa medite na relação amorosa humana, no que ela implica de confiança, de decisão racional e de crédito.
Teria crédito um Deus em relação ao qual se pudesse dizer, como escreveu Ernst Bloch, que o Homem pode e deve ser melhor do que o seu Deus?