Reflexão de Georgino Rocha
para o domingo da Epifania do Senhor
“O Natal é um dom que nos é oferecido, é uma luz que se acende. A grande pergunta é: o que é que eu vou iluminar com esta luz? Por que é que esta luz se acendeu? O que é que eu posso fazer? Essa é, no fundo, a verdadeira pergunta natalícia”.
Cardeal Tolentino Mendonça
Ingenuidade, ignorância ou provocação?! São exclamações espontâneas que a pergunta dos Magos a Herodes suscita e “deixa no ar”. Confiança no informador, desejo de acertar na procura, certeza firmada no nascimento ocorrido? São interrogações que podem servir de guia para penetrarmos na maravilha da Epifania do Senhor. Profissão de fé no Recém-nascido, profecia do futuro emergente, testemunho corajoso de quem busca a verdade e, inquieto, arrisca todas as vias? São deduções razoáveis e auspiciosas que se podem fazer, a partir do encontro de Jerusalém. A pergunta dos Magos é a pergunta de tantos homens e mulheres do nosso tempo que, sem preconceitos inibidores, ousam escutar a voz da consciência profunda e, livremente, pretendem alcançar resposta condizente.
“O encontro com Deus necessita de sinais, de mediações, fortes e impalpáveis ao mesmo tempo, como todos os sinais de luz, afirma Manicardi, prior da Comunidade de Bose. E prossegue: O texto do Evangelho apresenta a procura de Deus por parte dos Magos: procura feita de confiança, caminho, indagação, e, finalmente, encontro”.
Perguntar ao rei do poder por outro rei, seu concorrente, credenciar a necessidade de saberem com a descoberta da “sua estrela no Oriente”, manifestar a determinação de quererem adorá-lo, reconhecendo a sua divindade… é “coisa” que dificilmente Herodes podia “engolir”. E, hábil como era, desencadeia um processo em ordem a evitar quaisquer veleidades.
Mateus, o autor do relato, quer fazer, à sua comunidade, uma catequese sobre Jesus. Serve-se de referências do 1.º Testamento, aproveita algumas narrações orais que circulavam e compõe a belíssima mensagem do seu texto. Mt 2, 1-12.
Os magos encarnam o peregrino da verdade, inquieto nas suas certezas e aberto a todas as surpresas. Partem juntos, percorrem distâncias incalculáveis, avançam em planícies suaves, enfrentam a dureza das subidas e das descidas, indagam sem medo, esperando ver confirmadas a sua percepção e adesão primeiras. De facto, embora a verdade seja alcançada por cada um, o caminho faz-se em conjunto. É mais humano e encorajante. Como seria mais fácil para quem anda à-procura, se pudesse contar com grupos de apoio e acompanhamento!
Herodes, o do poder, os sacerdotes e os levitas, os das leis e do culto, desempenham bem o papel de quem está instalado e não quer ser incomodado. Alarmado pela surpresa anunciada, o rei quer eliminar o possível concorrente. Insensíveis à novidade, os funcionários do Templo descansam após o cumprimento do dever cumprido, da informação dada. O povo não chega a saber de nada. E Mateus deixa-nos, assim, um esboço do retrato de tantos de nós em relação aos acontecimentos e ao sentido que comportam.
Finalmente, chegam. Cansados, mas alegres. A estrela indica-lhes o sítio preciso. Entram na casa. Vêem o Menino com Maria, sua Mãe, e José seu fiel cuidador. Prostram-se em adoração. Abrem os tesouros, pois o seu coração estava aberto desde sempre. Oferecem-lhe os presentes, símbolo da condição sublime do Recém-nascido. Que emoções e experiências! Que maravilha! O mundo da pesquisa e investigação aos pés de Jesus e acolhido por Ele. Uma estrela a guiar a busca da verdade na rede de influências e no universo das noites sem brilho. O silêncio fecundo das testemunhas, Maria e José, admiradas e enternecidas pela atitude de tão ilustres visitas. A ternura do Menino Jesus nascido para ser Rei, reconhecido e apresentado na sua missão de serviço à salvação humana querida por Deus Pai.
O Cardeal D. José Tolentino em entrevista a propósito do sentido do Natal, afirma: “O que Deus nos ensina no Presépio é a audácia de nascer, a audácia de nascer mesmo na fragilidade, na nudez, na precariedade, no não-preparado, na vida como ela é, mas com a capacidade de florescer. No fundo, a capacidade de ser. O programa de vida que o Natal nos deixa é, de facto, essa capacidade de sermos em plenitude”...
“O Natal é um dom que nos é oferecido, é uma luz que se acende. A grande pergunta é: o que é que eu vou iluminar com esta luz? Por que é que esta luz se acendeu? O que é que eu posso fazer? Essa é, no fundo, a verdadeira pergunta natalícia”.
Pe. Georgino Rocha