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quarta-feira, 15 de dezembro de 2021

O Douro fica sempre na alma de quem o visita

Ontem, a RTP ofereceu-nos no programa da Carlos Daniel um debate sobre o Douro e suas potencialidades, que segui com interesse. Tanto bastou para me trazer à memória uma viagem oferecida pela Câmara de Ílhavo  em 2008. Por isso, aqui partilho o que então escrevi.




“Nenhum outro caudal nosso corre em leito mais duro, encontra obstáculos mais encarniçados, peleja mais arduamente em todo o caminho…

Beleza não falta em qualquer tempo, porque onde haja uma vela de barco e uma escadaria de Olimpo ela existe.”

Miguel Torga, 
in “Portugal”

Ontem subi o Douro com olhos bem abertos à contemplação das belezas de que tanto tenho ouvido falar. E lido, em autores que cantam o rio que cortou cerce o seu leito, deixando marcas de feridas que os séculos fizeram secar. As chagas sararam, mas as crostas ressequidas lá estão, oferecendo a quem as aprecia a dureza da corrida desenfreada das águas soltas e apressadas com vontade de descansarem no oceano.
E se a beleza da paisagem é indiscutível, ao modo de nos obrigar a voltar, a paisagem bonita das velas dos barcos, de que fala Miguel Torga, já se foi com a voracidade do progresso. Os rabelos há muito que perderam o privilégio de temperar e refinar o Vinho Fino nas bolandas da descida da Régua até Gaia. Aqui recebeu o baptismo de Vinho do Porto, numa clara manobra de marketing, bem engendrada há séculos, que tais técnicas não são exclusivas dos nossos tempos.