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sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

Quem era a serpente do paraíso? (1)

Crónica de Anselmo Borges 



1. É claro que a fé não deriva da razão, à maneira da matemática ou da ciência, não sendo, portanto, demonstrável cientificamente. Mas também se deve tornar claro que a fé não pode agredir a razão, com a qual tem de dialogar, dando razões de si mesma. Há que distinguir entre saber e crer. Como dizia o médico e filósofo Pedro Laín Entralgo, o penúltimo é da ordem do saber, mas o último é da ordem da crença. Por isso, o crente não pode dizer que sabe que Deus existe e que há vida depois da morte, como o ateu não pode dizer que sabe que Deus não existe e que com a morte a pessoa acaba: o crente e o não crente não sabem, crêem, com razões. Neste contexto, Kant é inultrapassável, também quando escreveu que, apesar da sua majestade, a religião não está imune à crítica. Aliás, o Evangelho segundo São João inaugura-se dizendo: "No princípio, era o Logos", portanto, o Verbo, a Palavra, a Razão. E "foi pelo Logos que tudo foi criado", provindo daí, como sublinharam vários cientistas, que a criação, a natureza, é investigável, pois é racional. Uma religião que tem medo da razão, da investigação crítica, do confronto e diálogo com as ciências, não é humana nem presta verdadeiro culto a Deus, correndo o risco de um dogmatismo estéril e, no limite, ridículo. Como o não crente também não pode ser dogmático nem fundamentalista.