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sábado, 28 de novembro de 2020

O SENTIDO DA VIDA. 1. QUEM SOU?

Crónica de Anselmo Borges 
no Diário de Notícias 



A presente crise, gigantesca, deveria ser uma oportunidade para pôr de modo mais profundo a questão decisiva do sentido da vida. 
Sentido tem a ver com viagem, direcção, meta. Nas estradas, encontramos placas em seta a indicar o caminho para alcançar um destino. Agora, até programamos o GPS que nos levará lá. 
Qual é o sentido da vida e a sua meta? Num primeiro momento, a resposta parece clara: a vida é um milagre e o seu sentido é ela mesma. O sentido está nela, no viver plenamente, na criatividade do dar e receber, em plena e total inter-relação. 
Mas em nós a vida torna-se consciente. O ser humano é autoconsciente, consciente de si mesmo e, por causa da neotenia — ao contrário dos outros animais, não vimos já feitos ao mundo, mas por fazer, sendo a nossa missão fazermo-nos a nós mesmos, uns com os outros —, a questão do sentido da vida torna-se uma questão pessoal, essencial e inevitável. Não é uma questão adjacente, que possa colocar-se ou não. Ela é constitutiva: ser ser humano é levar consigo esta questão: quem somos?, donde vimos?, para onde vamos?, que devemos fazer?, que sentido dar à existência? 
Somos uns com os outros e frente aos outros, mas cada um de nós vive-se a si mesmo como presença de si a si mesmo como um eu único: eu sou eu e não outro. Coincidimos, portanto, connosco, mas, por outro lado, experienciamo-nos como ainda não plenamente idênticos: somos nós mesmos e somos chamados a ser nós mesmos; num apelo constante a fazermo-nos, estamos ainda a caminho de nos tornarmos nós mesmos. Lá está a tarefa paradoxal que nos pertence, segundo Píndaro:

sexta-feira, 2 de agosto de 2019

Georgino Rocha - O valor dos bens e o sentido da vida

DOMINGO XVIII

Ganância é idolatria 
          
Jesus continua o rumo da viagem para Jerusalém e apresenta a sua mensagem em ensinamentos de vida, tirando partido das ocasiões que provoca ou surgem e aproveita. Os autores dos Evangelhos articulam, de forma literária bela, a sequência destes ensinamentos, desvendando o sentido mais profundo da viagem, enquanto escola de discipulado, estágio de acção missionária, itinerário de doação e entrega. Lc 12, 13-21.
Surge uma destas ocasiões, ao ouvir o pedido anónimo de alguém que queria que ele interviesse numa questão de partilhas de herança familiar entre irmãos. Este pedido mostra que Jesus era reconhecido como rabino e, como tal, podia solucionar legalmente tais questões (Dt 21, 15-17; Nm 27, 1-11). A resposta parece evasiva, embora afável, e tem a forma de uma interrogação: “Amigo, quem me fez juiz ou árbitro das vossas partilhas?” E a ilustrar a sua recusa, continua o ensinamento sobre o valor da vida que supera todos os bens. Termina com uma exortação: Guardai-vos de toda a cobiça; a vida não depende da abundância dos bens. Resposta que ressitua a sua missão em relação à gestão dos bens materiais, missão que não é de juiz ou árbitro, mas de quem afirma o valor da vida e dos bens ao seu serviço.
“Jesus recusa-se a substituir as autoridades legítimas, afirma Manicardi, a realizar acções de justiça. Ele remete para o ordenamento jurídico e para as figuras que a sociedade civil estabeleceu para dirimir questões como aquela que lhe foi submetida. Que se dirijam, disse Jesus em substância, aos órgãos estabelecidos pela comunidade civil”. Seguir a direcção apontada vai ser custoso e, por vezes, conflituoso. Nem sempre os órgãos da sociedade civil existem e funcionam com rigor, nem as instituições religiosas reconhecem o seu valor autónomo na organização da vida social. 
Outrora, como agora, a avareza tende a apoderar-se do coração humano que fica sem espaço para mais nada nem ninguém; a fazer-se centro de preocupações absorventes e de atitudes invejosas; a transformar os bens no deus da vida a quem se sacrifica tudo: amizades, família, profissão, honestidade e integridade, futuro que se reduz ao presente fugaz, consciência que se cala perante a conveniência. Na narrativa de Lucas, a erguer celeiros de prosperidade para alguns e a deixar multidões “de mãos vazias”.