domingo, 29 de dezembro de 2019

Sem balanço de 2019 e votos para 2020

Frei Bento Domingues

"Neste ano, cresceu muito o número dos amigos e familiares, o meu irmão Bernardo, com quem já não posso falar nem aguardar notícias"

1. Estamos a chegar ao fim do ano e continuamos dentro do mistério do tempo e dos seus enigmáticos sinais. Como não fui reler as crónicas de 2019, fico sem saber o que apontei, o que realcei o que me passou despercebido ou mal avaliado, assim como as esperanças e os receios que não se confirmaram.
Neste ano, cresceu muito o número dos amigos e familiares, o meu irmão Bernardo, com quem já não posso falar nem aguardar notícias. Continuarei a falar deles e, intimamente, a manter uma relação viva com aqueles que Deus não pode esquecer. É também com eles que rezo e, quando celebro a Eucaristia, convoco-os sempre a todos. Preciso desse mundo para continuar a viver. Já há muitos anos, uma jornalista perguntou-me o que desejava escrever como epitáfio sobre a sepultura. Respondi que, se alguém tiver essa triste ideia, escreva: não estou aqui.
Contaram-me que, numa aldeia do Norte, muito católica, morreu uma criança e todas as crianças foram ao funeral. De regresso a casa, uma perguntou à mãe: se eu morrer o que é que me acontece? O teu corpinho vai num pequeno caixão para o cemitério e a tua alminha vai direitinha ao céu, respondeu a mãe. E eu? Interrogou a criança!
Quando tenho de participar num funeral, lembro-me sempre de uma observação de Jesus perante a euforia dos discípulos ao regressarem entusiasmados de uma missão que tinha sido um êxito e que o Mestre confirmou. Acrescentou, no entanto, algo inesperado: alegrai-vos antes porque os vossos nomes, a vossa vida, está inscrita nos céus, no coração de Deus [1].
Conta o texto de S. Lucas que Jesus, naquele momento, estremeceu de alegria sob a acção do Espírito Santo. Havia um motivo para aquela comoção: durante séculos e séculos, os que se julgavam sábios e entendidos nas Escrituras tinham ocultado o essencial ao povo simples, “aos pequeninos”: bem-aventurados os olhos que vêem o que vós estais a ver. Pois eu digo-vos que muitos profetas e reis quiseram ver o que vedes e não viram, ouvir o que ouvis e não ouviram. Ocultaram-nos que somos misteriosamente amados de Deus, mesmo quando nos sentimos abandonados, como o próprio Jesus se sentiu na cruz. É este o cume da revelação cristã.

As nossas paisagens - Ria na Torreira



A Ria está cheia de paisagens circundantes que se refletem na tranquila laguna que sustenta tanta gente, direta ou indiretamente. O viajante queda-se com olhos atentos e alma aberta à serenidade que as águas salinas sabem oferecer-lhe. 

sábado, 28 de dezembro de 2019

O Futuro Absoluto

Crónica de Anselmo Borges 
no Diário de Notícias de hoje, 
dia da celebração dos 155 anos do jornal 
Anselmo Borges 

1. Face ao futuro, é essencial pensar. A palavra escola vem do grego scholê, que significa ócio, com o sentido de tempo livre para homens livres pensarem e governarem a polis. 
Hoje, falta esse ócio, tudo se torna negócio (do latim nec-otium). A própria política tornou-se sobretudo negócio. Assim, sob o império da técnica e do negócio, não se pensa, calcula-se. A técnica não pensa, calcula (Heidegger), o mesmo valendo para os negócios. 

2. O futuro vem grávido de esperanças, mas também com perigos: a guerra nuclear, as NBIC (nanotecnologias, biotecnologias, inteligência artificial, ciências cognitivas, neurociências), desembocando no transhumanismo e no pós-humanismo, a injustiça estrutural mundial, o meio ambiente, as drogas, a paz, os direitos humanos, o trabalho... Vivemos num mundo global, estes problemas são globais e a questão é que a política é nacional, quando muito, regional. 
Olhando para o futuro, não se impõe pensar numa Governança Global? Não digo governo mundial, mas governança global, já que os problemas enunciados só com decisões ético-jurídico-políticas globais podem encontrar solução. 

3. Problema maior hoje: uma espécie de cansaço vital. Porque não há sentido último. Daí, nem é no desespero que se vive, mas na inesperança. 
Só com Deus, “Futuro Absoluto” (K. Rahner), se pode erguer um futuro autenticamente humano, com Sentido final, pois Ele é o Futuro de todos os passados, do presente e de todos os futuros. 

Anselmo Borges no DN

sexta-feira, 27 de dezembro de 2019

Águeda com os seus guarda-chuvas



 



(Clicar nas imagens para ampliar)


É sempre um prazer visitar a cidade de Águeda, mas se pudesse e tivesse tempo para passar pelas suas aldeias o prazer seria, porventura, redobrado. Conheci algumas, que calcorreei há anos em férias e trabalho, que deixaram na minha memória paisagens puras e gentes acolhedoras que jamais esquecerei.  
Ontem, depois de uma intervenção médica no hospital, fiquei livre e com o meu filho Pedro saboreámos a agitação humana no centro da cidade, sob o cenário já tão badalado dos guarda-chuvas, todos brancos, julgo que para não obscurecer o ambiente. Aqui ficam alguns registos do que sentimos e experimentámos. Vale a pena passar por lá. 

As nossas paisagens: Marina do Oudinot



As nossas paisagens fazem parte integrante dos quotidianos gafanhões. A Marina do Oudinot, com Guarita à vista, abre esta secção que pretendo frequente. Aceitam-se propostas. 
Nesta foto, os barcos ancorados e o espelho de água são um desafio à nossa contemplação. Não passe a correr. Pare uns instantes e aprecie. 

Levanta-te, toma o Menino e sua Mãe

Reflexão de Georgino Rocha 
para o Domingo da Sagrada Família

Georgino Rocha

Duas vezes, ouve José a voz do enviado de Deus que lhe diz: “Levanta-te, toma o Menino e sua Mãe”. Uma, para fugir para o Egipto. Outra, para regressar às terras de Israel. A primeira, porque o Menino corria perigo de vida. A segunda porque Herodes, o perseguidor, havia morrido. E José acolhe prontamente a ordem recebida e, com obediência confiante, dá-lhe seguimento. Mt 2, 13-15. 19-23.
Não hesita nem se queixa, apesar do nascimento ter sido há tão pouco tempo, da fragilidade do Menino, da debilidade de Maria. Não teme a noite, nem a incerteza e o cansaço da viagem. Dócil e ousado, faz-se ao caminho. Que belo exemplo nos deixa: prontidão em ouvir, generosidade em arriscar, disponibilidade para agir, fidelidade em obedecer, discernimento para acertar na opção a tomar, cuidado solícito em salvaguardar a sua família. José, movido pelo amor, realiza a missão recebida.
A fuga e o regresso, facto com algum fundo histórico, mas sobretudo simbólico e teológico, são aproveitados por Mateus para fazer uma excelente catequese sobre Jesus e a sua família. José, o esposo de Maria; Maria, a Mãe do Menino; Jesus, o filho de Deus, todos unidos pelo mais fiel amor, pela mais profunda comunhão, pelo maior desejo de fazer o que o enviado de Deus havia anunciado como promessa e, agora, se realiza neles e por eles. Hoje, celebramos a Festa da Sagrada Família de Nazaré, referência insubstituível para “todo o que faz a vontade de Meu Pai que está no céu”, dirá Jesus mais tarde - Mt 12, 50, acrescentando: “Esse é Meu irmão, Minha irmã, minha Mãe”. Referia-se aos discípulos, a nós, à Igreja que somos a Sua nova família.

terça-feira, 24 de dezembro de 2019

O Presépio abre-nos a porta a um mundo mais fraterno


“Nascendo no Presépio, o próprio Deus dá início à única verdadeira revolução que dá esperança e dignidade aos deserdados, aos marginalizados: a revolução do amor, a revolução da ternura. Do Presépio, com meiga força, Jesus proclama o apelo à partilha com os últimos, como estrada para um mundo mais humano e fraterno, onde ninguém seja excluído e marginalizado”


Com votos de Santo Natal para todos os meus amigos que frequentemente visitam o meu blogue. 

segunda-feira, 23 de dezembro de 2019

VIMO-LO CHEIO DE GRAÇA E DE VERDADE

Reflexão de Georgino Rocha 
para a Missa do Dia de Natal

“Vimo-Lo cheio de graça e de verdade”, é como João apresenta o Verbo de Deus que se faz carne humana e habita entre nós. “Vimo-lo” é certeza reconhecida e anúncio jubiloso. O Verbo de Deus faz-se carne humilde e débil. A sua glória brilha na fragilidade de uma criança, Jesus. A terra do nascimento é Belém de Judá, aldeia humilde, embora de nobres tradições, e não Jerusalém ou outra cidade importante. A Palavra eterna ressoa nas vozes do tempo e assume as formas de comunicação humana. A tenda de Deus ergue-se na história e regista as “marcas” contingentes da humanidade, configurando-se não como templo de pedras, mas como consciência desperta para a dignidade da sua vocação a deixar-se encher de graça e de verdade. Grande maravilha! Felizes os que a sabem apreciar. Jo 1, 1-18.
João Evangelista apresenta-O, assim, não por fantasia engenhosa, pessoal e da comunidade a que se dirige, mas por terem visto a glória do Senhor e experienciado o seu amor, por terem ouvido a sua palavra e transmitido a sua mensagem, por terem tocado as suas “chagas” e partilhado a sua paixão. Apresenta-O assim, com um propósito claro explicitado na sua 1ª. carta: “ Para que estejais em comunhão connosco. A nossa comunhão é com o Pai e com Seu Filho Jesus Cristo … para que a vossa alegria seja completa” (Jo 1, 3 e 4). Estes escritos são redigidos muito mais tarde e visam dar uma visão teológica do acontecimento natalício, contemplando Deus no seu ser de relação trinitária.

domingo, 22 de dezembro de 2019

A Europa perdeu a batalha das nações


«A Europa perdeu a batalha das nações, sem criar um substituto que não seja a vacuidade do cosmopolitismo global. Perdeu as batalhas da tecnologia, da ciência e da cultura. É hoje raro, algures no mundo, reconhecer traços sólidos da cultura europeia, a não ser o património histórico dentro de portas. Até no continente europeu, marcas, símbolos e valores ascendentes são americanos, islâmicos, africanos e asiáticos. A Europa perdeu a batalha da defesa: se tiver de se defender, depende de outros, de americanos em particular. Desde que eles estejam dispostos, o que é cada vez menos verdade. Talvez a Europa seja ainda um farol na justiça, nos direitos humanos e na protecção social. Nem sempre. Mas talvez. Só que, para isso, é necessário ter riqueza, instituições, democracia, consensos, defesa e segurança. O que vai faltando… Os europeus sabem gastar e distribuir. Mas sabem cada vez menos criar, poupar, consolidar e desenvolver. Sem estes, aqueles não são possíveis.»

António Barreto

Ler toda a crónica no PÚBLICO 


O Papa não pode fazer tudo sozinho

Crónica de Bento Domingues 
no PÚBLICO de hoje


«O que Bergoglio não faz, nem deve procurar fazer, é substituir-se às comunidades cristãs. É a elas que pertence garantir, por actos, palavras e iniciativas, a expressão fiel da presença actuante do Espírito de Cristo na complexidade do mundo contemporâneo.»

1. O Papa fez, no passado dia 17, 83 anos. Não precisa nada dos meus parabéns. Sou eu, como membro da Igreja Católica, que preciso de lhe exprimir, publicamente, o agradecimento por ele estar a realizar, na linha de João XXIII e do Vaticano II, uma viragem, espantosa a muitos títulos, no pontificado romano. Tão admirável que eu nunca supus chegar a ver antes de morrer.
Há quem diga que os seus desejos de reformas nunca se concretizam, em modificações reais, quanto à orientação e às práticas efectivas no governo da Igreja Católica. Não partilho nada essa opinião. Não é só pelas muitas medidas, como agora esta da abolição do abominável “segredo pontifício” a que o PÚBLICO deu o devido destaque [1]. A sua intervenção destina-se a criar condições que tornem irreversível o próprio processo de reformas e não se extinga com o seu pontificado.
O que Bergoglio não faz, nem deve procurar fazer, é substituir-se às comunidades cristãs. É a elas que pertence garantir, por actos, palavras e iniciativas, a expressão fiel da presença actuante do Espírito de Cristo na complexidade do mundo contemporâneo.
Não se pode deixar tudo para o Papa como se ele não tivesse, desde o começo, recusado continuar um regime de monarquia absoluta! Mas, quem está disposto a participar na mobilização multifacetada de voluntárias e voluntários preocupados com a revitalização das comunidades cristãs, sobretudo quando parecem ressequidas ou estéreis? Sem convocatórias locais, é difícil criar movimentos que suscitem uma nova cultura de serviço que substitua as muitas artes de dominação económica, política e religiosa, cujas redes são cada vez mais abrangentes.
Se existem cegos que não reconhecem as inovações de Bergoglio, também não faltam os indignados poderosos por ele já ter ido longe demais. A verdade é que abriu uma grande clareira, destapou o horizonte e abriu um caminho à liberdade criadora, tantas vezes impedida, mesmo num passado recente.

O Inverno começa agora


O Outono despediu-se hoje sem honra nem glória. O vento e a chuva, com frio à mistura, fizeram estragos e deixaram marcas para serem esquecidas. Houve dias bons, outonais como deve ser, mas este final foi dramático. Que o Inverno tenha um comportamento decente, em jeito de não incomodar ninguém. Chuva quando tiver de ser, vento que não faça estragos e frio adequado à roupa de cada um. Tal qual. 
Bom Inverno ao calor da fogueira com conversas e mais conversas. Será que nos desabituámos disso? 

Fernando Martins

Jean-Paul Sartre e o Natal

Crónica de Anselmo Borges 
no Diário de Notícias


1. Ninguém pensa a partir do nada, melhor, a partir de zero. Quando damos por nós, já cá andávamos e estamos sempre marcados pela nossa história desde o ventre materno, pelas experiências fundas dos nossos primeiros encontros e desencontros na vida, na família, numa determinada língua, com os vizinhos, com os amigos...
Há os pressupostos no sentido negativo: ir para um encontro, para um debate, já com preconceitos malévolos. Mas ninguém está na vida sem pressupostos no sentido indicado, positivo: a nossa história toda que nos marca positiva e negativamente. Ninguém se encontra na vida puro, sem pressupostos, sem preconceitos. Ninguém parte de um ponto inaugural puro e neutro.
Também o filósofo Jean-Paul Sartre foi marcado pelas suas experiências, desde tenra idade. Segundo Charles Moeller, ter ficado órfão de pai muito cedo e viver com o padrasto como um estranho foi uma experiência marcante. A sua posição face à fé é bem conhecida e essa sua experiência de órfão não lhe foi indiferente.
Para ele, o mundo é sem sentido, o ser está a mais, é "viscoso" - leia-se A Náusea. Na sua obra estritamente filosófica O Ser e o Nada quer explicar como é que o desejo do ser humano é ser Deus, mas o próprio conceito de Deus é contraditório. Por isso, é absurdo ter nascido, é absurdo viver, é absurdo morrer. Reclamando uma liberdade absoluta, nega a alteridade, o mundo, Deus.

sábado, 21 de dezembro de 2019

Exageros natalícios




14 de Dezembro

«Entro suspeitoso nesta terrível quadra do Natal. Dantes, o Natal era uma festa que se celebrava entre portas, com a família. Hoje, é um espectáculo. Iluminações em que as autarquias gastam o que têm e o que não têm, carrosséis, coretos, pavilhões e até pistas de gelo. Será isto o que nós esperávamos da democracia?» 

Vasco Pulido Valente, no PÚBLICO 

Facebook 

«Fernando: Tu, cujas palavras são lidas e aceites por toda a gente, porque não escreves um artigo sobre a importância da árvore de Natal nesta quadra? É que eu vi umas iluminações que custaram 1.000.000 de euros e tanta gente ficou de boca aberta gritando: Ai que lindo! Ou sou eu que sou do contra? O teu Menino de Jesus queria mesmo isto? Na Aldeia do meu sogro fizeram um Presépio Gigante no Largo do Cruzeiro… não está mais correcto?» 

Zé, um amigo 

Nota: Duas notas que dizem muito e até são coincidentes, apesar das tendências políticas de cada um. O primeiro dirige-se à democracia e o segundo ao meu Menino Jesus. Ao Zé, respondi que os exageros nesta quadra nada têm a ver com a humildade que o Menino quis deixar-nos como herança. Eu sei, como toda a gente sabe, que há exemplos claros de singeleza nas festas natalícias, mas não ignoro que há excessos em cada canto. 

Bom Natal para todos.

F. M. 

Natal de 2019 - Que o céu se abra...

Mensagem de D. António Couto, bispo de Lamego



Que o céu se abra,
E que o orvalho desça
Sobre esta terra dura e seca,
Com as mãos em prece,
Pois vê-se que carece
De paz
E de ternura.

Que o Teu orvalho desça,
Mas desce Tu também,
Menino de Belém,
Por essa escada
Rendilhada
De água pura.
E não Te esqueças
De que está na altura
De vires nascer em Belém
E aqui também.

Por isso Te espero
Com a alma acesa,
O pão na mesa,
Os pés ao borralho.

Vem depressa, Menino,
E não te percas na confusão
Do trânsito
Da circunvalação
Ou da televisão.
Mete logo pelo atalho
Do presépio de musgo e de cascalho,
Que com oração e trabalho,
Abri no coração.

Vem, Senhor Jesus,
E enche de luz o nosso tempo,
Segundo a segundo,
Momento a momento.

NOTA: Poema e foto da ECCLESIA

A noiva de José é a Mãe de Jesus

Reflexão de Georgino Rocha 
para o Domingo IV do Advento


Maria e José são noivos. Têm um projecto de vida definido e estável, de amor mútuo fiel e definitivo. Sabiam o que pretendiam e observavam as normas que configuravam o seu estatuto na sociedade judaica. A sua opção pelo casamento era reconhecida oficialmente. Viviam o sonho feliz de constituir uma família. Apenas aguardavam o tempo de receber, segundo os ritos religiosos, as bênçãos de Deus, de celebrar, com os familiares e amigos, a festa do amor recíproco, de iniciar a vida em comum e a convivência na mesma casa. Que actualidade mantém este modo de viver o noivado, de fazer os esponsais, de se inserir na sociedade, de ser membro da comunidade religiosa e cristã! Que exemplo para os noivos de todos os tempos!
É neste projecto de vida que ocorre o “inesperado”. O enviado de Deus convida Maria para ser a Mãe de Seu filho. Esta fica perturbada e faz perguntas. Recebe respostas esclarecedoras que a levam a assentir. E entrega-se incondicionalmente a esta sublime missão. José, seu noivo, fica perplexo. Não sabe o que fazer. Sofre em silêncio o desconforto em que se encontra. Congemina saídas airosas e legais. Quer salvaguardar o mais possível a honra da sua noiva. A sua atitude é compensada num sonho em que o enviado de Deus lhe dá explicações de tudo. Mt 1, 18-24.

sexta-feira, 20 de dezembro de 2019

Senos da Fonseca - NATAL


Postal Ilustrado - Jardim Oudinot espera mais animação

Jardim Oudinot - Um desafio ao nosso espírito convivial
Com os tempos e as circunstâncias mudam-se os hábitos. Há décadas, antes da televisão e dos cafés, na Gafanha da Nazaré e decerto noutras paragens, as pessoas viviam mais para a família e nalguns casos para tarefas eclesiais, mas também sociais, desportivas e profissionais. Sem telemóveis e aparentados, sem Net nem cinemas, sem iluminação pública nem divertimentos sofisticados, poucos convívios havia com a intensidade dos tempos atuais. A noite chegava ao sol-posto e a casa se regressava para cear (hoje jantar). De forma que, os mais necessitados de conversa por razões várias tinham espaços de encontro, um pouco por toda a nossa terra, à sombra de tavernas, cuja hora de fecho Salazar decretou para as 20 horas. Mas tudo isso já lá vai há muito tempo.

*****

Quando se fala de antigas centralidades, elas existiram, mas os cafés e similares, que se multiplicaram por todos os cantos, substituíram-nas com muitas vantagens. Os ainda conhecidos lugares da Gafanha da Nazaré — Cale da Vila, Chave, Cambeia, Bebedouro, Marinha Velha, Praia da Barra e Forte — tiveram, realmente, identidades próprias, que entretanto se diluíram, porque novas gentes e o batismo das ruas, alamedas, praças, jardins e largos os dispensaram com naturalidade e muitas vantagens.
Nasceu, entretanto, uma nova centralidade, o Jardim Oudinot, que visitamos frequentemente, havendo festas programadas por entidades da nossa freguesia, mas também concelhias e até regionais, delas se destacando o Festival do Bacalhau.
Pensamos que ainda não criámos o hábito de passar por lá regularmente para caminhar, arejar saborear a maresia e conviver, embora haja bar, pescadores que nos dão lições de persistência, espaços para crianças e jovens, o Navio-museu Santo André, o farol à vista, barcos que passam, ciclistas que batem recordes na arte de emagrecer e silêncio para quem o deseja ou procura.
Sabemos que o inverno não inspira confiança nem sabe fazer convites a quem gosta de passear, mas também sabemos que urge aproveitar os espaços públicos que possuímos, olhando para eles como dádiva que não pode ser menosprezada.
Também sabemos que muitas entidades da nossa região organizam encontros e festas para os seus consócios e amigos, mas importa realçar que será uma pena sentir que o Jardim Oudinot ainda está, a nosso ver, subaproveitado. Vai melhorar, disso temos a certeza.  O tempo o dirá.

Fernando Martins

NOTA: Texto e foto publicados no TIMONEIRO de dezembro.

quinta-feira, 19 de dezembro de 2019

Em 22 de dezembro, outro galo cantará!



Espero ansioso pelo dia 22 deste mês. Estou cansado da noite... os dias com luz solar vêm diminuindo e a 22 de dezembro teremos o dia mais pequeno do ano. Consequentemente, nessa mesma data, percebemos que estamos na maior noite. É, realmente, muita noite para quem gosta mais do dia, com o sol a iluminar caminhos e aconchegar corações. A noite, com a sua escuridão, torna-nos mais tristes, com horizontes mais curtos. No meu caso, com a escuridão ou falta da luz solar, fico mais sonolento e mais tristonho, porventura mais nostálgico. 
A partir do dia 22, o tal solstício de inverno, os dias começam a crescer e outro galo cantará. A luz inicia o seu ataque à  escuridão. O dia vence a noite. Olhamos ansiosos para o futuro com primavera e verão à vista.  

F. M. 

quarta-feira, 18 de dezembro de 2019

É bom saber – Preservação do ambiente

Praia da Barra com Farol (foto da CMI)

No mês de novembro, os alunos do Agrupamento de Escolas da Gafanha da Nazaré participaram numa série de atividades relacionadas com a preservação do ambiente. No âmbito da Ciência Viva, foi organizada uma visita de estudo à EPADRV, destinada a alunos do terceiro ciclo, em especial do 8.º ano, mas que contou também com alunos do 7.º e 9.º anos que pertenciam ao clube Ciência Viva. Este mesmo clube, juntamente com o Eco-Escolas, convidou o movimento Não Lixes, na figura de Fernando Jorge Paiva, a fazer uma apresentação na escola, destinada essencialmente a despertar consciências – Ação de Sensibilização sobre lixo marinho destinada a alunos e Encarregados de Educação. 
Na semana da Terra e do Mar Foram plantadas árvores autóctones, ação destinada aos delegados ambientais de cada turma e a alunos do Clube de Ciência Viva. Ainda inserida nas atividades da referida semana, alguns alunos e professores participaram na limpeza da praia da Barra. Finalmente, na última semana do mês, membros do Clube de Ciência Viva, em parceria com a Bioliving, plantaram e semearam, com moliço e composto, na estufa da Escola Secundária da Gafanha da Nazaré. 
No dia 22 de novembro, no Museu Marítimo de Ílhavo, recebemos as oito Bandeiras Verdes - uma por cada estabelecimento que faz parte do nosso Eco-Agrupamento, num Eco-Município. O Agrupamento de Escolas da Gafanha da Nazaré participou na apresentação pública da Estação Náutica do Município de Ílhavo (ENMI) tendo assinado, em conjunto com cerca de duas dezenas de empresas e instituições, o respetivo protocolo de certificação no âmbito da “Rede Estações Náuticas de Portugal” da Fórum Oceano – Associação da Economia do Mar. 

Agrupamento de Escolas da Gafanha da Nazaré 


Nota: Publicado no jornal “Timoneiro” de dezembro

Teresa Machado dá nome a Pavilhão da Escola Secundária

Maria Eugénia Pinheiro e Carlos Rocha com Teresa Machado

Li na Rádio Terra Nova que o Agrupamento de Escolas da Gafanha da Nazaré e a Junta de Freguesia se juntaram para o 'batismo' do Pavilhão da Escola Secundária da Gafanha da Nazaré, que a partir de hoje se chamará 'Teresa Machado', um nome de uma figura do desporto nacional nascida na Freguesia. Teresa Machado dá, assim, nome ao equipamento e o seu exemplo servirá para muita juventude, de todas as idades, seja contagiada pela sua determinação, coragem, abnegação e amor à causa do desporto. 
Felicito a Teresa Machado com muita estima, na certeza de que, mais tarde ou mais cedo, novos atletas hão de surgir na Gafanha da Nazaré, mas não só.

Foto da RTN

Serões, conversas, leituras, rádio e búzio

O rádio da minha juventude
Quando me sinto livre, de corpo e espírito, tenho o possibilidade de saltar para o mundo e de me refugir na leitura e na escrita. Imagino, a partir desta minha e nossa realidade, como seria a vida dos que nem sonhavam com os progressos tecnológicos que estão hoje ao nosso alcance e que nos oferecem uma existência cheia de interesses e oportunidades. 
Antigamente, para além da rádio e da leitura, para alguns, pouco mais ocupava os serões. Conversa sobre as canseiras, contar e recontar histórias, rezar, dormitar, marcar tarefas para o dia seguinte. Os mais novos faziam os trabalhos escolares e a juventude namorava. Um dia ouvi um búzio cujo som cadenciado chegava longe. Perguntei à minha mãe quem é que soprava o búzio e para quê. Resposta pronta: — É o tio… que está a avisar os filhos namoradeiros que são horas de cear. 

F. M.

terça-feira, 17 de dezembro de 2019

Natal é renascimento



Este arbusto é nosso companheiro em horas de descanso na sala. Uns leem  ou escrevem e outros, absortos, olham de soslaio a televisão. Ao lado dela, está o arbusto com a sua história. Alguém lhe deu a mão para renascer. 
Há mais de um ano ofereceram-me um ramo de flores muito bonito, que tinha como suporte um resto de tronco, porventura recuperado do lixo. As flores murcharam e acabaram por secar com o tempo. O tronco, novamente condenado ao lixo, ficou por ali. E a Lita resolveu limpá-lo e metê-lo numa  garrafa antiga  cheia de água. O tempo passou e um dia, sem se fazer anunciar, surge, a saudar-nos, um olhinho com sinal de vida. E continua a crescer saudavelmente. Era um renascimento. É Natal. 

F. M.

Nossas Senhora do Pranto - Presépio

Ílhavo -  Nossa Senhora do Pranto

Nasceu o Menino em Belém e diz São Lucas que Sua Mãe, Maria, o deitou numa manjedoura, por não haver lugar na hospedaria. O relato é simples, à semelhança da humildade com que desejou humanizar-se o Salvador. Os pastores, que por ali cuidavam dos seus rebanhos, acorreram a adorá-lo, levando à Sagrada Família presentes que brotaram dos seus corações. Alertados por uma estrela, que os guiou, os poderosos de então, Reis ou Magos, puseram-se a caminho, para também adorarem o Rei dos Reis, na sua exemplar simplicidade. Demoraram tempo, que os camelos eram lentos. Mas chegaram, como nós havemos de chegar até Ele. E então sentiremos que a riqueza do Natal está na ternura que soubermos partilhar. 

Fernando Martins

NOTAS:
1. Foto gentilmente cedida por Carlos Duarte
2. Foto de um Natal já vivido 

segunda-feira, 16 de dezembro de 2019

BOAS FESTAS — JESUS, O PERFUME DE DEUS

Partilho com gosto as Boas Festas 
que o Padre Georgino Rocha teve a gentileza de me enviar


O Natal cristão faz-nos ir em visita à gruta de Belém, onde nasce Jesus no seio da sua família. A notícia chega a gente humilde e a homens ricos e famosos. Movidos por um impulso interior vêm confirmar o que teria acontecido. Trazem dons que oferecem e têm um sentido especial: expressam quem é aquela criança e a sua vocação.
Destes dons, escolho o incenso qual perfume de Deus, para fazer a mensagem de Boas Festas que quero dirigir a todos os Amigos e familiares.
Jesus é o suave perfume de Deus, como nos diz São Paulo na segunda carta aos cristãos de Corinto 2:15. É o aroma divino que nos é comunicado ao sermos ungidos com o óleo do crisma no batismo e na confirmação. O que existe em Jesus transforma o nosso interior de tal forma que passamos a exalar o Seu bom perfume, passamos a “cheirar a Deus” por onde quer que andemos, a ser misericordiosos como nos recomendou.
Esta bela realidade pode ser apresentada de modos vários. Recorro a um conto breve, cheio de sentido. Um dia Deus chamou três pessoas e ofereceu a cada uma um frasquinho que continha o perfume da vida plena e feliz. A primeira, deslumbrada pela oferta, foi a correr arranjar um fio de ouro para o trazer ao peito. Assim se recordaria sempre de Deus. A segunda, vai apressada para casa, derrama o perfume num recipiente e começa a analisar a sua composição química. Descobriu a fórmula, memorizou-a e ensinou-a aos familiares e amigos. A terceira, abriu o pequeno frasco e derramou todo o perfume sobre a cabeça e foi pelos caminhos da vida a perfumar o mundo.
Estas pessoas podem ser espelho do que acontece com tantos cristãos. O chamamento faz-se no batismo e prossegue na vida diária imbuída de espírito evangélico, alimentado pela oração e participação na celebração litúrgica; pela prática das obras de misericórdia. A resposta de cada um, porém, assume várias atitudes. Uns guardam para si o frasquinho recebido, esquecendo a função do perfume: irradiar aromas que suavizam e tornam agradável o ambiente. Outros preocupam-se em conhecer os seus elementos materiais e ficam satisfeitos com os achados doutrinais. Outros ainda sentem o estímulo do cheiro e o impulso do desejo de renovar o ar poluído da sociedade e de despertar a consciência dos batizados que são ungidos pelo suave perfume de Cristo. E onde quer que estejam cheiram sempre a Deus, qual peixaria que deixou de o ser (passe a leveza da comparação).
Que as festas do Natal e do Ano Novo avivem em nós a beleza de sermos o suave perfume de Cristo; e irradiemos o seu aroma discreto, mas eficaz, pelo testemunho de uma vida digna, plena e feliz. Deus conta connosco para sermos mensageiros do Seu amor que brilha de modo especial em Jesus Menino que nos envia, como seus amigos, em missão de misericórdia, paz e alegria. Que a Sua bênção nos acompanhe sempre, sobretudo nestes dias de festa e ao longo do Ano novo que se avizinha.

Padre Georgino Rocha

NOTA: Foto da rede global

domingo, 15 de dezembro de 2019

Castelo de Pombal e o Marquês


Para fugir de alguma monotonia, andei a rever as minhas nuvens de registos fotográficos. O Castelo de Pombal levou-me a recordar uma visita que lhe fiz, há uns quatro anos, na tentativa de encontrar o Marquês.  Dei com ele no museu que lhe é dedicado, por sinal muito bem tratado, na minha opinião.
À saída, dirigi-me à funcionária para comprar uma lembrança... enquanto lhe lancei a pergunta: - Afinal, o Marquês sempre tinha pedras no coração?
A funcionária, de imediato, exibe o livro que estava a ler:  "O Marquês de Pombal - O homem e a sua época",  de Mário Domingues, o tal que dava aquela informação.

F. M.

Que há de novo para este Natal?

Crónica de Bento Domingues
no PÚBLICO


"Este Natal recolhe frutos de uma caminhada, de poucos anos, mas que parecem séculos."

No solstício de Inverno – o momento preciso em que a duração do dia ultrapassa a duração da noite – os antigos romanos celebravam o Sol invictus, quer dizer, a vitória do deus Sol sobre a noite e sobre a morte. A Igreja de Roma resolveu designar essa data como a do nascimento de Jesus, o verdadeiro sol da vida: foi Ele que enfrentou a morte e a venceu! Como vimos na crónica do Domingo passado, o Natal tornou-se a cristianização inculturada de uma festa gentia.
Em regime de Cristandade, passou a ser uma celebração de cristãos para cristãos. Hoje, evoca uma bela festa de família, mesmo quando esta instituição está a passar por crises de vária ordem. No entanto, o centro da prática e da mensagem de Jesus consiste em procurar fazer família com quem não é da família biológica. Só nessa dimensão o Natal se pode tornar cristão.
Jesus, o Nazareno, teve uma intervenção na história humana, a partir de Israel com poucas saídas ao estrangeiro, embora muito significativas da sua mensagem universalista. Como diz o filósofo André Comte-Sponville, os melhores especialistas discutem, desde há muito tempo e ainda hoje, acerca da historicidade de Jesus, mas ele não aceita que o tratem como uma personagem mitológica: “gosto de pensar que um homem, de há dois mil anos, tenha manifestado – não só por palavras, mas pelos seus actos – o essencial, que não é nem a força nem a riqueza, mas o amor, a justiça e o cuidado com os mais frágeis.” [1]

Johnn Baptist Metz: o clamor das vítimas

Crónica de Anselmo Borges no DN

«Afinal, a História não pode continuar a ser lida apenas a partir dos triunfadores e dos vencedores. Para ser autenticamente cristã, inclusiva, verdadeiramente universal, não pode ignorar nem esquecer o seu reverso: os vencidos, os perdedores, as vítimas.»

1. Já tinha acabado o congresso para o qual o convidara: "Deus no século XXI e o futuro do cristianismo". Antes de o levar ao aeroporto, tomámos o pequeno-almoço juntos, no Seminário da Boa Nova, num espaço que dá para uma bela paisagem a espraiar-se para o mar. E ele, no fim: "Hei-de voltar, para uma conversa ao pequeno-almoço fruindo este lugar belíssimo".
Foi em 2005, e já não cumprirá a promessa. O filósofo e teólogo alemão Johann Baptist Metz morreu no passado dia 2 de Dezembro, a caminho dos 92 anos.

2. Foi um dos maiores teólogos do século XX, pai da chamada "Nova Teologia Política". Discípulo de Karl Rahnner, que escreveu que "o cristão do futuro será místico, isto é, alguém que "experienciou" algo ou não será cristão, porque a espiritualidade do futuro já não se apoiará num ambiente religioso generalizado, anterior à experiência e à decisão da pessoa." Metz aprofundou, para incidir na "mística de olhos abertos", que é mística, mas abrindo os olhos para ver a realidade concreta: os que sofrem, os famintos, os injustiçados, os excluídos, os explorados de todas as maneiras, as crianças e as mulheres violadas, as vítimas todas deste mundo... Com as vítimas inocentes sempre presentes, aqueles e aquelas que foram vítimas inocentes, sem resposta dentro da História para o seu clamor. Há uma dívida da História para com elas; quem poderá pagá-la a não ser Deus?

sábado, 14 de dezembro de 2019

Dia Internacional do Chá




O Dia Internacional do Chá celebra-se, hoje, 15 de dezembro, mas não foi criado para se degustar uma chávena da bebida que tanta gente aprecia em todo o mundo. Pretende-se, nesta data, no entanto, chamar a atenção dos governos e das populações para os problemas que a  produção do chá levanta, no que diz respeito aos direitos dos trabalhadores das plantações e dos pequenos produtores e consumidores. 
A data comemorativa foi oficialmente estabelecida, pela primeira vez, em 2005, na Índia, embora já se lutasse por ela há muito. 
Numa visita a São Miguel, Açores, tive a oportunidade de passar pelo centro de produção do Chá Gorreana, o único chá produzido na Europa, tanto quanto sei. 
A propósito daquele chá, diz Raul Brandão,  no seu livro “As ilhas desconhecidas”: «O melhor chá dos Açores, delicado e aromático, tomei-o na Gorriana [Agora Gorreana], na casa fidalga do senhor Jaime Hintze, toda ao rés-do-chão e caiada de amarelo, entre o bulício alegre da vida rústica, num lar que a bondade de sua esposa santifica.»

Pela Positiva completou 15 anos de vida


O meu blogue nasceu há 15 anos. Parece que foi ontem, mas estou no 15.º inverno na blogosfera. 
Tinha posto fim a uma vida de jornalismo com responsabilidades desgastantes em agosto de 2004, admitindo que era tempo de viver mais tranquilo, mas enganei-me. Em dezembro do mesmo ano, reconheci que tinha cometido um erro. E quando comecei, nos tempos livres, a lidar com a Internet, topei com a blogosfera, nomeadamente, o blogue de Pacheco Pereira — ABRUPTO. Tanto bastou para me entusiasmar. Desabafando com alguém, recebi como conselho que os blogues eram para gente nova. 
Um dia, José Carlos Sá, jornalista, questionou-me: Está mesmo interessado em criar um blogue? A minha resposta saiu pronta: — Estou. 
José Carlos Sá estava sentado com o PC à sua frente. E disse-me:— Vamos criar então um blogue para si. 
Registou o meu nome e o meu e-mail. Fui respondendo a algumas questões e a dada altura José Carlos faz-me a pergunta sacramental: — Nome para o blogue… 
Fiquei a olhar para ele e perante o meu silêncio ele repete a pergunta. E eu, instintivamente, disse: Pela Positiva… e acrescentei que andava cansado do mundo negativo de muita comunicação social. 
Quando ele concluiu o registo do Pela Positiva, sublinhou: — Agora já pode começar… 
Em casa, escrevi a minha primeira mensagem:

«Propósito 

O meu propósito, a partir de hoje e neste espaço, situa-se na linha dos que apostam, no dia a dia, num mundo muito melhor. Não simplesmente pelo protesto, que será sempre a via mais fácil e menos estimulante, mas fundamentalmente pela defesa do bem, do belo, dos afetos, em suma, dos valores que enformam a nossa civilização. 
Pela Positiva vai ser o meu lema de todos os dias, quer na análise dos mais diversos acontecimentos, quer pela divulgação do que vou lendo, quer pela defesa do que vou refletindo, quer, ainda, pela partilha de gestos, porventura ignorados ou marginalizados, que são matriz de uma sociedade mais justa e mais fraterna. De bom grado se aceitam sugestões, desde que venham pela positiva.» 

Obrigado, meu caro amigo, pelo primeiro passo que me ajudou a dar no mundo da blogosfera. E como vê, a ajuda foi tão importante que ainda continua a marcar os meus dias, 15 anos depois. Um abraço com votos de  saúde e otimismo.

Fernando Martins

Até onde irá o Papa Francisco?

Crónica de Natália Faria no PÚBLICO


Pôs a Igreja a discutir a homossexualidade, o aborto, o fim do celibato, a ordenação de mulheres, criticou o carreirismo eclesial, a “economia que mata”, forçou o clero a encarar os abusos sexuais. Ao fim de oito anos de pontificado, porém, o Papa Francisco não mexeu na doutrina da Igreja. Será agora?

Foi capa da Time e da Rolling Stone, alimentou quilómetros de notícias por, já na qualidade de Papa, se ter escapulido do Vaticano para comprar óculos e sapatos, por ter trocado a limusina por um carro utilitário, por ter renunciado ao luxuoso apartamento papal para residir com os funcionários da Santa Sé na Casa de Santa Marta. O argentino Jorge Mario Bergoglio é, quase oito anos depois de ter sido eleito Papa, um dos maiores ícones políticos da actualidade. E o mínimo que dele se pode dizer é que, mesmo que não consiga mudar o mundo, está seguramente a reinventar a Igreja Católica, implodindo o conservadorismo de milénios e chamando para a mesa discussões tidas como impossíveis, das excepções ao celibato à ordenação de mulheres, passando pelos divórcios e pela homossexualidade.
Quando, no dia 13 de Março de 2013, se anunciou ao mundo como a escolha dos 115 cardeais reunidos em conclave, ao fim de 26 horas e de cinco votações, nada do que se passaria a seguir se adivinhava. Mas os sinais do desprezo pelos velhos símbolos do poder eclesial estavam todos lá. Naquele início de noite frio e chuvoso, o jesuíta de 76 anos mostrou-se sorridente, afável, vindo do “fim do mundo”, despojado da costumeira parafernália papal, como recordam os jornalistas Joaquim Franco e António Marujo, no livro Papa Francisco – Uma Revolução Imparável. Em vez dos famosos sapatos vermelhos, uns velhos sapatos pretos. Desprezou o discurso em latim que lhe tinham preparado para a sua primeira missa e, em vez disso, proferiu uma homilia simples, directa, e em italiano. Logo depois do habemus papam, fizera questão de ir pessoalmente pagar a conta do albergue onde se hospedara nos dias anteriores. 

sexta-feira, 13 de dezembro de 2019

Dia do Violino

Uma saudação natalícia para todas as Rosas...


A Rosa passou, olhou, e, com simpatia, dirigiu-me uma saudação amiga. Identificou-se como explicanda de há décadas. Estava eu sentado na zona de passagem de uma grande superfície a ver correr o tempo e as pessoas para as compras ou delas regressando. Sempre apressadas, como é timbre de quem tem horas contadas para tudo.
Como não gosto de apreciar preços e de andar à cata dos saldos ou coisa parecida, por ali me quedei meio absorto. A Rosa acordou-me da modorra em que estava. E a conversa pegou… com evocações de bons tempos. Foi uma grande alegria.
Estar com alunos e explicandos de há décadas é voltar ao passado, tornando-o presente. E a Rosa levou-me de mansinho, que na minha idade as comoções podem tornar-se perigosas, numa caminhada de recordações que nunca mais teriam fim, se não surgisse o seu marido que tive o prazer de ficar a conhecer.
Para mim, evocar é reviver, é dar lugar e espaço ao passado no presente. É sentir-me novo e atuante, é ver nos olhos de quem me fala reflexos de brincadeira, de correrias, de jogos onde cabiam todos e que implicavam habilidades, tendências, força e destreza, partilha e emoções. Mas ainda, e sobretudo,  de trabalho, de gosto pelo saber, da vontade de vencer.  E a Rosa levou-me com agrado meu, e dela certamente, a épocas em que fui e fomos muito felizes. 
Obrigado, Rosa, por me teres acordado de uma certa letargia, enquanto esperava a minha Lita. E fica ciente de que, de minha parte, haverá sempre lugar para a partilha de sentimentos.
Um abraço para todas as Rosas…

Fernando Martins 

Ide contar a João

Reflexão de Georgino Rocha 
para o III Domingo do Advento

«Deus está aí. Discreto, mas solícito. Silencioso, mas interveniente. “Ferido”, mas sanador. Peregrino e companheiro no tempo, mas “dono” da casa de família onde acolhe, em alegre festim, todos os que souberam caminhar com Ele e aceitar o ritmo do seu amor.»

Assim começa a resposta que Jesus dá aos enviados de João. “Ide contar o que vedes e ouvis”. Mt 11, 2-11. João estava na cadeia, onde chegam notícias contrastantes com o que havia anunciado na sua missão profética. E tem dúvidas, como é normal. Quer esclarecer e procurar a verdade. Não deixa que a cadeia lhe aprisione o espírito nem limite a liberdade. Para ele, como para qualquer pessoa, viver na dúvida é uma espécie de prisão que limita a razão e amarra o coração. Não deixa adormecer a pergunta inquietante nem se inibe face ao preconceito que mina a confiança. Fiel a si mesmo, honesto e decidido, quer saber e encarrega os seus discípulos de buscarem a resposta desejada. Que belo exemplo nos dá e apelo nos faz para sermos peregrinos da verdade!
João anuncia o reino prestes a chegar e urge a conversão com palavras duras, metáforas de amedrontar as “raças de víboras”, invectivas fortes aos palradores que “dizem e não fazem”, ameaças terríveis de castigos iminentes, apelos gritantes ao arrependimento e à correspondente mudança de atitudes. O “juízo de Deus” vai iniciar-se. O contraste é claro, como veremos a seguir.
O estilo de Jesus surge como resposta velada à pergunta preocupada de João. Acolhe os cegos e abre-lhes os olhos. Aproxima-se dos coxos e restitui-lhes a liberdade de movimentos. Escuta a súplica dos leprosos e estes ficam limpos da doença que marginaliza e rói a dignidade humana. Toca os ouvidos dos surdos e estes abrem-se à realidade nova da escuta que relaciona e insere no vasto horizonte comunicacional. Visita as famílias com defuntos, reza por eles e ordena-lhes que regressem à vida terrena, ao convívio dos seus. Que desafio nos lança o estilo de Jesus!

quinta-feira, 12 de dezembro de 2019

Presidente Marcelo faz anos



Tenho andado um pouco distraído por razões que não vislumbro, mas dei conta há momentos que o Presidente Marcelo fez anos, tendo nascido em 12 de dezembro de 1948. E porque aprecio a forma como tem exercido as funções de mais alto Magistrado da Nação, com sentido de proximidade elevado ao mais alto grau, não podia deixar de o felicitar nesta data, com votos de saúde e coragem para continuar a cumprir a sua missão. 
Confesso que me tem surpreendido o desempenho  do nosso Presidente  Marcelo, porque não encontro nada parecido no mundo que conheço ou ao qual tenho acesso. Um Presidente que está presente em todas as situações junto dos mais carentes de afeto e dos que merecem aplausos, vencidos pela vida, uns, e vencedores em tantos momentos, outros, precisa mesmo das nossas palavras de simpatia, estímulo e apreço. 
Parabéns, Presidente Marcelo.

Fernando Martins

NATAL feliz para todos



NATAL

Lá na gruta de Belém
onde nasceu o Redentor
houve falta de agasalho
que sobrou em Paz e Amor
Apoio humano e divino
prendas singulares do mundo
foram presença marcante
nesse Presépio fecundo
cuja pobreza na grandeza
e desamparo era bondade
e que simplesmente deu
rumo à Humanidade.
Que nesta época de Natal
de já rara fraternidade
que ao menos, depois da festa,
Possa celebrar-se a Amizade.

M. Cerveira Pinto


NOTA: Este poema, de um colega e amigo que muito estimo, publiquei-o há dez anos no meu blogue. Republico-o  com votos de Santo Natal para a sua família e para os meus muitos amigos. A ilustração representa a sensibilidade da Lita. 

É importante dar "cátedra" aos não crentes

 D. António Marcelino - A cátedra dos não crentes e o átrio dos gentios

D. António Marcelino

«Era importante dar “cátedra” aos não crentes, ou seja, proporcionar-lhes espaço e tempo próprio para se exprimirem livremente e ouvirem quem bebesse do Evangelho, mais do que de regras e proibições canónicas. “Cátedra dos Não Crentes”, assim se chamou esta audaciosa iniciativa, à qual o Cardeal Martini, ele próprio, não se furtou a dar a cara no diálogo longo com Umberto Eco. Ficou a coragem em livro, também publicado em português, com o título expressivo “Em que crê quem não crê”. Pela Cátedra de Milão, uma iniciativa regular e cíclica, passaram filósofos e pensadores, ateus e agnósticos, indiferentes satisfeitos e gente ansiosa de verdade.»

Ler mais aqui 


Nota: Não estranhem por apresentar hoje, neste meu blogue aberto ao mundo, um texto com foto de D. António Marcelino, que foi Bispo de Aveiro e que me marcou profundamente. É que tenho por hábito reler textos dele e doutros que nas minhas buscas sobressaem, levando-me a relê-los com prazer, muitos dos quais mantêm uma atualidade indiscutível.

F. M. 

quarta-feira, 11 de dezembro de 2019

Dia Internacional da Montanha

Serra do Caramulo

Hoje, 11 de dezembro, celebra-se o Dia Internacional da Montanha, uma oportunidade para refletirmos sobre a importância da preservação das montanhas no mundo. Faço-o com gosto porque fico sempre fascinado com montes e serras desde que, menino da ria e do oceano, contemplei ao longe as silhuetas das montanhas, em dia claro, avistadas das planícies marinhas que nos envolvem. 

Quando ando pelas serras, todo o meu ser fica dominado pelo prazer da solidão desejada, do silêncio procurado, da paz sonhada. Perco-me a contemplar paisagens tantas vezes inacessíveis, horizontes sem fim, quietudes tranquilizantes. Depois, regresso ao dia a dia dos meus quotidianos, num corre-corre próprio do estar e viver com a família e amigos. À montanha voltarei sempre que puder e se puder.

Revista Igreja Aveirense – Um espelho da diocese de Aveiro



É na partilha de experiências, projetos, sonhos 
e realidades que aprendemos a fazer mais e melhor


A revista Igreja Aveirense (IA), referente ao primeiro semestre de 2019, acaba de ser editada e já tive o cuidado de a compulsar para apreciar, com atenção e curiosidade naturais, porque gosto de estar a par do que faz e pensa a Igreja em terras aveirenses. 
A IA vive o XV ano da sua existência, com edições semestrais, fazendo refletir no seu conteúdo o viver e o sentir da comunidade diocesana, traduzidos nos multifacetados trabalhos pastorais, sociais, culturais e espirituais dos católicos e das paróquias, que se estendem do litoral marítimo e lagunar até às serras, com as suas aldeias remotas mas de vivências cristãs a vários níveis. 
A revista é um espelho, tão completo quanto possível, das suas 101 paróquias, com destaques para o que diz, prega, ensina e propõe o nosso bispo, D. António Moiteiro, mas ainda o que se programa e faz nos arciprestados, nas associações, serviços, obras laicais, movimentos, instituições, departamentos e organizações de diversíssima ordem que constituem a nossa Igreja local, multifacetada por natureza, respirando ares citadinos e populosos a par de aldeias quase desertas, mas com alma enriquecida por purezas ancestrais. 
Destacamos, nesta edição, publicações de interesse eclesial e humano e a homenagem a D. António Marcelino, mas também é digno de nota, a fechar, uma pessoa notável, que bem conhecemos, Maria Armanda Pêgo Guedes, cuja vida cristã foi exemplo para muitos. 
IA é uma revista que precisa de ser lida e consultada para se conhecer quem somos e como somos enquanto cristãos num mundo em permanente mudança. É na partilha de experiências, projetos, sonhos e realidades que aprendemos a fazer mais e melhor, se possível. 

Fernando Martins

Porto de Aveiro em fase de investimentos e crescimento

Fátima Lopes Alves, presidente do Conselho da Administração da APA (Administração do Porto de Aveiro), garante que o próximo ano promete ser de «investimentos e crescimento» na área portuária. Na linha do que se espera, «O Porto de Aveiro tem luz verde para a retirada de areias da zona portuária e para a dragagem do espaço onde vai nascer o novo cais privativo da 'A Silva Matos' na 'bacia de manobras'», li no site do Porto de Aveiro. 
Fátima Lopes Alpes anuncia que a retirada das areias tem data marcada para se iniciar em 1 de maio e que o novo cais privativo ficará sob gestão da empresa “A Silva Matos”, fazendo parte do acordo para a instalação daquela empresa na área do porto. O investimento, da ordem de 6,8 milhões de euros, abre portas ao início da operação de atividades logísticas, li no  referido site.
Como é óbvio, todo o processo garantirá as normas ambientais das populações circundantes, em especial da Gafanha da Nazaré, mas não só.

Os que falam mas nada fazem



“Os que muito falam pouco fazem de bom” 

William Shakespeare (1564-1616), 
dramaturgo, poeta e actor 

(Editado no PÚBLICO)

Nota: Que grande verdade! Foi assim no tempo de Shakespeare e continua hoje. E agora, com o apoio da comunicação social e das redes do ciberespaço, os palradores, críticos maldizentes, políticos que só veem na sua direção e outros tantos nada fazem de positivo. É evidente que a crítica bem intencionada é salutar e necessária… Mas de muitos seria de espera que deixassem, por vezes, as palavras e passassem aos atos.

segunda-feira, 9 de dezembro de 2019

Jorge Cardoso - Um artista da nossa terra


Os artistas são sempre motivo de admiração porque são criadores. Do nada nasce uma peça com vida própria. A arte pura não se copia e brota espontaneamente das mãos e da sensibilidade dos artistas. Não é artista quem quer, mas quem nasce com dons que nos transcendem. O  artista põe  mãos à obra e isola-se do mundo que o cerca para se alimentar da imaginação e partir daí à procura de algo nunca visto. Os habilidosos limitam-se a copiar e a enganar, por vezes, quem olha para os seus trabalhos. 
Jorge Cardoso é um criador. As suas peças, miniaturas pacientemente elaboradas, nascem das suas mãos como cogumelos, nunca iguais. Não sei se com rapidez se vagarosamente. São milhares, nem sabe quantas, mas todas têm pormenores que indiciam paciência, meticulosidade, rigor, paixão. 
Encontrei-o no sábado à entrada do Continente, em Aveiro. Uns minutos de conversa, apenas uns minutos, porque os curiosos e eventuais compradores exigiam a sua atenção. O Jorge vende as suas peças porque vive delas. E para isso percorre feiras e exposições. Em diversos certames tem sido premiado. Ainda bem que é reconhecido o seu labor e valor. 
Os meus parabéns ao Jorge Cardoso. 

Fernando Martins

“Ler é a maior dádiva dos deuses aos seres humanos”

Li a frase em título  na revista E do Expresso, semanário que entra em minha casa desde o número um… já lá vão uns 46 anos.  Quem a proferiu  foi Paulo José Miranda na rubrica “10 perguntas a…”, da responsabilidade da jornalista Inês Maria Meneses. 
Parto dela para uma curta reflexão porque gostei da resposta daquele escritor e poeta à jornalista, quando ela lhe perguntou sobre os livros de que nunca nos cansaremos?: “Há livros que não cansam. Ler é a maior dádiva dos deuses aos humanos.” 

Gosto imenso de ler desde a infância. Mais ainda, e sobretudo, desde quando, acamado por doença, nada mais podia fazer. Ouvir música na rádio e ler durante todo o tempo em que não precisava de dormir faziam parte do meu quotidiano. Foram dois anos nessa vida em que também conversava com os amigos que me visitavam. 
Sou um leitor assíduo de gostos variados: prosa, poesia, história, crónicas, reportagens, entre outros géneros, bailando no meu espírito livros, revistas, jornais, de tudo um pouco. Horas a fio, saltando de uns para outros, depois de os manusear… 
Realmente, a leitura é, de há muito, a minha ocupação favorita, procurada e perseguida, roubando-me tempo para outros prazeres que passam a secundários. De permeio, gosto de rabiscar (teclar) umas coisas para manter ativo o cérebro sem incomodar ninguém. Cedo, como todo o vivente, aos desafios das circunstâncias, acicatado pelas novas tecnologias. E que Deus (não os deuses) me dê saúde e forças para poder ver e ler os sinais dos tempos, mola-real da vida. 

Fernando Martins

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