A Rosa passou, olhou, e, com simpatia, dirigiu-me uma saudação amiga. Identificou-se como explicanda de há décadas. Estava eu sentado na zona de passagem de uma grande superfície a ver correr o tempo e as pessoas para as compras ou delas regressando. Sempre apressadas, como é timbre de quem tem horas contadas para tudo.
Como não gosto de apreciar preços e de andar à cata dos saldos ou coisa parecida, por ali me quedei meio absorto. A Rosa acordou-me da modorra em que estava. E a conversa pegou… com evocações de bons tempos. Foi uma grande alegria.
Estar com alunos e explicandos de há décadas é voltar ao passado, tornando-o presente. E a Rosa levou-me de mansinho, que na minha idade as comoções podem tornar-se perigosas, numa caminhada de recordações que nunca mais teriam fim, se não surgisse o seu marido que tive o prazer de ficar a conhecer.
Para mim, evocar é reviver, é dar lugar e espaço ao passado no presente. É sentir-me novo e atuante, é ver nos olhos de quem me fala reflexos de brincadeira, de correrias, de jogos onde cabiam todos e que implicavam habilidades, tendências, força e destreza, partilha e emoções. Mas ainda, e sobretudo, de trabalho, de gosto pelo saber, da vontade de vencer. E a Rosa levou-me com agrado meu, e dela certamente, a épocas em que fui e fomos muito felizes.
Obrigado, Rosa, por me teres acordado de uma certa letargia, enquanto esperava a minha Lita. E fica ciente de que, de minha parte, haverá sempre lugar para a partilha de sentimentos.
Um abraço para todas as Rosas…
Fernando Martins