segunda-feira, 31 de dezembro de 2018

Um 2019 à medida de cada um



Por estranho que pareça, já nos cansámos de remeter, até à exaustão, os postais de boas festas próprios do salto para o novo ano. No quadro das minhas vivências, já atirei para o saco das memórias os tais postais ilustrados, uns com arte e outros sem graça nenhuma, para além da boa vontade de quem, ano a ano, ainda se dá ao luxo de os enviar aos amigos e familiares. Este ano, os correios não deixaram nenhum na caixa da correspondência, à porta de entrada da nossa casa. Mas se acabaram os postais, sobram os e-mails que, um dia, também hão de desaparecer de cena, de tanto se banalizarem. 
Novas formas de comunicar, novas tecnologias, novos hábitos e novos relacionamentos surgirão nas nossas vidas, com a juventude que nos rodeia a imprimir novas dinâmicas de proximidade, que o longe se torna perto. Hoje, já vi em direto as avenidas do Dubai com o laser a substituir os foguetes, que na Gafanha e arredores ainda se ouvem alguns mesmo muito fraquinhos. Deles, resta a alegria de quem tem vontade de celebrar o ano novo, partilhando emoções traduzidas em foguetório. E à falta de foguetes, haverá sirenes dos navios, tachos velhos fora de uso e outras graças mais ou menos estrondosas. Há de tudo para todos os gostos. 
Eu e a Lita estamos ao calor da fogueira que crepita na salamandra da minha tebaida. Olhos atentos ao fogo que nos iluminará os caminhos dos nossos futuros e dos futuros dos que amamos muito, em especial, filhos, noras, genro e netos. Ora eu ora a Lita, numa conjugação solidária e cúmplice, vamos atirando achas para que o lume nos aqueça o corpo, que a alma se alimenta dos olhares saudosos da nossa juventude em comum, já lá vão mais de 53 anos. O amor não tem idade e muito menos velhice. Amanhã, já no novo ano, a vida continua. E só Deus saberá até quando. 
Votos de saúde, paz, alegria, otimismo e muito amor para todos. 

Lita e Fernando

Poema de Ricardo Reis para este tempo


No breve número de doze meses

No breve número de doze meses
O ano passa, e breves são os anos,
Poucos a vida dura.
Que são doze ou sessenta na floresta
Dos números, e quanto pouco falta
Para o fim do futuro!
Dois terços já, tão rápido, do curso
Que me é imposto correr descendo, passo.
Apresso, e breve acabo.
Dado em declive deixo, e invito apresso
O moribundo passo.

Farol da Barra de Aveiro o mais visitado

Farol da Barra de Aveiro
«Os 28 faróis abertos ao público em Portugal receberam este ano 101.613 visitantes, mais 27.721 do que os registados em 2017, sendo o de Aveiro o mais procurado, indicou hoje a Autoridade Marítima Nacional.
"O aumento de visitantes em 2018, em relação ao ano anterior, constitui um recorde visto que, desde que os faróis abriram ao público, em 2011, o aumento médio anual de visitantes era de 7.600", sublinha a Autoridade Marítima, na sua página de Internet.
No topo das preferências está o Farol de Aveiro, que registou este ano 15.561 visitantes.
Conhecido localmente como "Farol da Barra", o Farol de Aveiro ergue-se a 66 metros acima do nível do mar, sendo o maior de Portugal e o segundo mais alto da Península Ibérica.
Foi construído no século XIX, entre os anos de 1885 e 1893, e à data da sua construção era o sexto maior do mundo em alvenaria de pedra. Foi eletrificado em 1936.
O segundo e terceiro faróis portugueses mais visitados deste ano situam-se na Madeira e nos Açores. São, segundo a Autoridade Marítima, os faróis da Ponta do Pargo e o do Arnel, que registaram 15.301 e 10.951 visitantes, respetivamente.
De acordo com os números divulgados pela Autoridade Marítima Nacional, os 15 faróis abertos ao público em Portugal Continental registaram 53.580 visitantes, este ano, enquanto os dois faróis da Madeira somaram 23.410 entradas e, os 11 dos Açores, 24.623.
Entre os faróis do continente, estão os de Leça, Cabo Mondego, Cabo Carvoeiro, Berlenga, Cabo da Roca, Cabo Espichel, Sines, Cabo de São Vicente e Vila Real de Santo António.
Nos Açores, contam-se igualmente, entre outros, os faróis de Ferraria, Ponta da Garça, Gonçalo Velho, Contendas, Ponta da Barca, Ponta da Ilha, Ponta do Albarnaz, Lajes das Flores e Ponta do Topo, e, na Madeira, o de São Jorge.»

A Festa de Santa Maria, a Mãe do Filho de Deus

 A abrir o Ano Novo
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"Que Maria, a Virgem Mãe de Jesus, o Príncipe da Paz, seja a estrela que nos guia ao longo do Ano novo que começa cheio de sonhos promissores e nos encoraje a prosseguir sempre nos caminhos da paz assente na justiça. Boa caminhada em 2019!"
 
 
Maria, por meio da mão amiga da Igreja, surge, no início do Ano civil, com o seu rosto materno a dar-nos as boas-vindas e a acolher o tempo novo. Surge como a mãe de Jesus, o Filho de Deus, que no calvário será confiada a João, representante de toda a humanidade. Por isso Ela é, também, nossa mãe. E, como o Papa Francisco perante a imagem da Senhora do Rosário e da Paz, podemos afirmar convictamente: “Temos Mãe!”. Não somos órfãos. Nem Ela é uma santinha qualquer. O seu olhar acolhedor, a sua disponibilidade e proximidade, a sua bondade e prontidão, constituem caminho aberto para a nossa confiança filial e assimilação do seu estilo de vida. A segredar-nos sempre: “Fazei o que ele vos disser”.

Lucas apresenta-a, hoje, no relato da visita dos pastores à gruta de Belém onde José os acolhe (Lc 2, 16-21). Vêm para confirmar o anúncio dos Anjos e proclamar a sua mensagem de paz na terra, reflexo da glória divina. Vêm para adorar o Menino e felicitar Maria, Sua Mãe. Vêm para saudar José e admirar o seu serviço discreto e eficaz. “E todos os que ouviam os pastores ficavam maravilhados”.
O texto adianta que Maria não apenas ficava admirada, mas “conservava todos estes factos e meditava sobre eles no seu coração”. Dir-se-ia que vivia o presente como o pólo de convergência de tantas outras maravilhas, momento singular das bênçãos de Deus, pré-anúncio de um futuro cheio de surpresas a exigir-lhe atenção redobrada a tudo o que vier a acontecer. E será tanto e, por vezes, tão desconcertante!

domingo, 30 de dezembro de 2018

Passagem por Aveiro em ambiente festivo


Resolvemos fazer hoje uma visita a Aveiro. A ideia resumia-se a caminhar um pouco, tomar café, apreciar o ambiente e regressar a casa a tempo da sesta. Dia bonito com sol a brilhar, sem vento nem chuva. Uma tarde primaveril, a meu ver. Muita gente. Tanta, que nem possibilidades tivemos de arranjar lugar, com calma, para tomar café. As imagens que publico dão para ver que foi agradável deambular pela urbe.


As castanhas, quentes e boas, nem as provei. Por mais que fizesse sinais à Lita para que entrasse no negócio, ela nada percebeu e ficámos a imaginar o sabor das castanhas a sair do assador. Fica para a próxima, que o tempo delas ainda não acabou.


Os moliceiros ou aparentados andavam numa fona, como se dizia antigamente. Reparei que alguns já se apresentam mais asseados por dentro e por fora com os tradicionais painéis da proa e da ré a mostrarem a brejeirice da praxe. Quando puder voltarei ao tema dos painéis, para memória futura.


 Não há festa sem foguetes, dizia-me há anos um amigo marcado pelas tradições minhotas. E é verdade. Contudo, os foguetes também fazem parte da alegria das nossas gentes. Atualmente, tanto quanto sei, alguns foguetes já não precisam das canas. Há outras formas de eles subirem e estralejarem. Perigosos no verão? É verdade. Mas no inverno até aquecem!

Pessoal não faltava e o Forum estava a abarrotar. Sem cadeiras e mesas para tomar café, sair para as ruas da cidade foi a melhor solução. Ainda passámos pela Bertrand, porque tinha uns trocos para receber, mas achei por bem não comprar qualquer livro. Ainda tenho muito que ler do meu aniversário e do Natal. Fica para a próxima.


Quando passamos pela Rua Direita, há um ponto de paragem relacionado com a amizade e com a arte da Maria João Cravo. A loja tem por título "Pássaro de Seda",  nome que faz todo o sentido porque os artigos que tem à venda, de sua lavra e doutros, são um convite aos sonhos de voar e de viajar à cata de trabalhos  de outras eras, recriados com saber e bom gosto.


A Av. Dr. Lourenço Peixinho, outrora a sala de visitas de Aveiro, estava a abarrotar. Carros para um lado e para o outro, com gente a encher os passeios, fizeram recordar outros tempos. Com a família, tantos domingos por ali passeámos sem canseiras. Agora, cada um vai para o seu lado, que todos têm as suas vidas. Mas eu e a Lita compreendemos isso. E sabe-nos  bem evocar esses momentos em que  cada um escolhia as últimas modas...

2019: Uma Igreja com antigos e novos desafios

Bento Domingues

 «Entre mulheres e homens, jovens e adultos, não há falta de vocações nas comunidades católicas para que toda a Igreja responda à sua missão.»

1. Diz-se que este Papa devia estar caladinho acerca de economia e política, para as quais não tem nem competência reconhecida nem mandato divino ou humano. A economia e a política do Estado do Vaticano não têm dimensão para merecerem qualquer relevância a nível mundial. As referências a escândalos financeiros da banca vaticana tiveram muito eco na opinião pública por que manchavam uma instituição que devia dedicar-se à promoção da virtude, da santidade, da justiça, mas nunca à corrupção.
A atribuição da responsabilidade da pedofilia clerical ao actual Pontífice Romano é a cruz que os seus inimigos lhe puseram aos ombros para não terem de se confrontar com as reformas que ele procurou e procura introduzir na Igreja, a todos os níveis.
Outros acusam-no de não enfrentar a questão mais fácil de resolver e a mais urgente: a abertura dos ministérios ordenados a homens casados e a mulheres.

sábado, 29 de dezembro de 2018

Desafios para Francisco

Anselmo Borges
Perante uma das mais graves crises de sempre da Igreja, o desafio maior para Francisco continuará a ser tentar converter a cristãos os católicos, começando pela cúpula: cardeais, bispos, padres, religiosos e religiosas. Essa conversão implicará uma organização eclesial na linha do Evangelho.
O próximo ano será marcado por acontecimentos decisivos para se saber qual o lugar que a história reservará a Francisco: um Papa da continuidade ou o Papa da ruptura que se impõe.

1. Em fevereiro, reunião em Roma com os presidentes das Conferências Episcopais de todo o mundo sobre a pedofilia. Ter-se-á a coragem de tomar medidas que acabem com essa podridão estrutural na Igreja? Vão ser abertos os arquivos para ficar a claro por uma vez tudo o que tem acontecido? E serão devidamente sancionados, colaborando também com a justiça civil, os abusadores e os encobridores? E para a formação dos novos padres: mais presença feminina e testes de maturidade, também com peritos credenciados de saúde mental?

2. Em março, será aprovada a nova Constituição Apostólica sobre a Cúria Romana, governo central da Igreja. Continuará o centralismo ou haverá uma Constituição democrática, de comunhão, com representação de todos, incluindo as mulheres, e das Igrejas locais do mundo, superando o dualismo clero-leigos a substituir pela relação viva: comunidade-ministérios (serviços)?

3. O Sínodo sobre a Amazónia em outubro: ocasião para aumentar a consciência ecológica global e avançar com novos ministérios, incluindo a ordenação de homens casados?

4. Em janeiro, na Jornada Mundial da Juventude no Panamá: o anúncio da próxima Jornada em Portugal em 2022, com o regresso do Papa ao país, constituirá um novo impulso para reanimar a Igreja em Portugal, que parece continuar paralisada?

Anselmo Borges no DN

Padre e professor de Filosofia. Escreve de acordo com a antiga ortografia.

sexta-feira, 28 de dezembro de 2018

Um barquinho para descobrir a ria


Gosto muito do mar, mas prefiro vê-lo de terra. Na ria, porém, sinto-me mais tranquilo, porque muito mais seguro. Vem isto a propósito de um bonito barquinho que entrou  serenamente, há tempos, a caminho da laguna aveirense. E então imaginei-me nele em viagens pela ria tranquila, tentando descobrir recantos e canais nunca vistos mas sonhados por mim.

Jesus adolescente em família


"Por ser tão humana, 
a família de Jesus espelha, 
de modo singular, a sua fonte divina"

Georgino Rocha
Jesus, ao nascer, beneficia de um ambiente familiar confortável. Em Nazaré, cresce em humanidade com o amor da Mãe e o cuidado solícito de José. Aprende o valor das pequenas coisas, dos gestos de ternura, da atenção mútua, da confiança recíproca, do reconhecimento, da oração em comum. Aprende a alimentar-se, a cuidar da higiene, a trabalhar, a ter amigos e vizinhos; enfim a ser humano. O exemplo dos pais é a sua escola natural, de educação e relacionamento, de afirmação de capacidades e aceitação de limitações, de modos de falar e reagir, de ser sociável. Como os pais. Aprende a respeitar as tradições religiosas, a ir rezar à sinagoga, a peregrinar ao Templo de Jerusalém por ocasião das festas.

São Lucas (Lc 2, 41-52), a partir de referências bíblicas, de possíveis informações de Maria, e da sua fértil imaginação literária, faz uma narração detalhada, memorável, do que aconteceu com a primeira ida de Jesus à festa da Páscoa. Narração detalhada, cheia de ensinamentos e interpelações. Vamos seguir alguns dos seus passos que nos ajudam a ver com são realismo a beleza da família, fonte de inspiração para valores que as famílias de hoje estão chamados a cultivar e de desafios a assumir. Podemos assim reviver a experiência de tantos pais/mães na sua relação com os filhos, sobretudo adolescentes.

quinta-feira, 27 de dezembro de 2018

Obra da Providência celebrou 65 anos de vida

D. António no uso da palavra, com Eduardo Arvins
Parabéns à instituição aniversariante

Uma sociedade mais justa com as nossas contribuições

A Obra da Providência (OP) celebrou, em 20 de dezembro, com Eucaristia e jantar-convívio, o 65.º aniversário, não como instituição oficializada, mas enquanto servidora de mulheres mal-amada. Os estatutos vieram depois, que as fundadoras, Maria da Luz Rocha e Rosa Bela Vieira, apenas sentiam ser sua obrigação, como cristãs e membros da conferência de São Vicente de Paulo, que teve como patrona Nossa Senhora da Nazaré, agir em prol de quem mais precisava.
A Eucaristia de ação de graças e de sufrágio pela intenção das fundadoras contou com a presença dos atuais corpos sociais e funcionárias da Obra, mas ainda de amigos, familiares e antigos dirigentes. 
À homilia, o nosso prior, Pe. César, sublinhou a ação de Maria da Luz e Rosa Bela, apontando-as como exemplo a seguir por cada um de nós, recordando a devoção que elas sempre manifestaram por Nossa Senhora da Nazaré. “Tiveram uma vida de serviço fraterno aos irmãos, dedicando-se inicialmente ao apoio de mulheres e raparigas marginalizadas ou em perigo moral, prolongando-se esse trabalho até aos nossos dias”, mas novas valências foram criadas, depois do 25 de Abril, “direcionadas para as crianças”, frisou o nosso pároco. Ainda evocou nesta celebração eucarística os dirigentes, funcionárias e utentes já falecidos.

terça-feira, 25 de dezembro de 2018

Solidão natalícia



Neste mundo vandalizado pelo consumismo, deixamo-nos levar pela onda e atiramos para trás das costas a solidão de tantos. A imagem que publico já não fere ninguém, nem mesmo os que pregam a atenção aos que revivem isolados as memórias que são o único consolo de que se consideram donos absolutos. E no próximo Natal será diferente? Não acredito, mas gostaria de ter a coragem de criar um esquema que tornasse o Natal mais fraterno.

segunda-feira, 24 de dezembro de 2018

A Palavra de Deus faz-se Homem. É Jesus, o Filho de Maria

A verdade do Natal 


Georgino Rocha
 João, o discípulo amado, abre o seu Evangelho com uma narração, bela e profunda, que faz lembrar o relato da criação no livro de Génesis. Narração que mergulha no seio de Deus e contempla a vida de relação das três Pessoas divinas. Narração que designa a Segunda Pessoa por Verbo de Deus, Palavra de comunicação e vida, de sabedoria e graça, de amor familiar e proximidade humana. Palavra de acesso ao coração de Deus e de entrada na consciência de cada pessoa, santuário da sua habitação. Palavra de garantia da humanidade divina e da divinização humana; Palavra que nos faz filhos e irmãos. Desta fonte inesgotável brota a nossa comum relação fraterna e o respeito devido às demais criaturas.
Jesus, a Palavra de Deus é o filho de Maria. Nasce no tempo, tem uma família estável, convive com os vizinhos, reza com os pais, vai com eles à sinagoga, aprende um ofício de trabalho, e, chegada a altura, deixa a casa paterna para iniciar um novo estilo de vida: a de missionário itinerante.
João narra, de forma bela, o seu agir histórico, dando-lhe a força de sinais da novidade a revelar-se, da glória a brilhar na entrega por amor que desvenda a dignidade humana onde se espelha o rosto divino.
“Jesus, a Palavra de Deus é a luz que ilumina a consciência de todo o homem. Mas para onde nos conduzirá essa luz? A Bíblia toda afirma que Deus é amor e fidelidade. Levado pelo seu infinito amor e sendo fiel às suas promessas, Deus quis introduzir os homens onde eles nunca teriam pensado: partilhar a vida e a felicidade de Deus”, afirma em comentário a Bíblia Pastoral.
Deus quer, e deixa a resposta à pessoa humana livre de coações, aberta à verdade integral. Que alegria, podermos dar uma resposta positiva ao amor que nos ama e nos propõe a felicidade! Que risco, corremos ao dizer não e permanecer nessa atitude, ficando insensíveis à sua oferta e indiferentes ao bem dos outros, nossos irmãos em humanidade!

A solidão e o Natal


“Talvez precisemos de abraçar a solidão de que facilmente fugimos, pois nela, e de uma maneira carregada de prodígio, acontece o Natal”

José Tolentino Mendonça 
na crónica "Que coisa são as nuvens"
da revista E do EXPRESSO