Jardim Oudinot - Um desafio ao nosso espírito convivial |
Com os tempos e as circunstâncias mudam-se os hábitos. Há décadas, antes da televisão e dos cafés, na Gafanha da Nazaré e decerto noutras paragens, as pessoas viviam mais para a família e nalguns casos para tarefas eclesiais, mas também sociais, desportivas e profissionais. Sem telemóveis e aparentados, sem Net nem cinemas, sem iluminação pública nem divertimentos sofisticados, poucos convívios havia com a intensidade dos tempos atuais. A noite chegava ao sol-posto e a casa se regressava para cear (hoje jantar). De forma que, os mais necessitados de conversa por razões várias tinham espaços de encontro, um pouco por toda a nossa terra, à sombra de tavernas, cuja hora de fecho Salazar decretou para as 20 horas. Mas tudo isso já lá vai há muito tempo.
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Quando se fala de antigas centralidades, elas existiram, mas os cafés e similares, que se multiplicaram por todos os cantos, substituíram-nas com muitas vantagens. Os ainda conhecidos lugares da Gafanha da Nazaré — Cale da Vila, Chave, Cambeia, Bebedouro, Marinha Velha, Praia da Barra e Forte — tiveram, realmente, identidades próprias, que entretanto se diluíram, porque novas gentes e o batismo das ruas, alamedas, praças, jardins e largos os dispensaram com naturalidade e muitas vantagens.
Nasceu, entretanto, uma nova centralidade, o Jardim Oudinot, que visitamos frequentemente, havendo festas programadas por entidades da nossa freguesia, mas também concelhias e até regionais, delas se destacando o Festival do Bacalhau.
Pensamos que ainda não criámos o hábito de passar por lá regularmente para caminhar, arejar saborear a maresia e conviver, embora haja bar, pescadores que nos dão lições de persistência, espaços para crianças e jovens, o Navio-museu Santo André, o farol à vista, barcos que passam, ciclistas que batem recordes na arte de emagrecer e silêncio para quem o deseja ou procura.
Sabemos que o inverno não inspira confiança nem sabe fazer convites a quem gosta de passear, mas também sabemos que urge aproveitar os espaços públicos que possuímos, olhando para eles como dádiva que não pode ser menosprezada.
Também sabemos que muitas entidades da nossa região organizam encontros e festas para os seus consócios e amigos, mas importa realçar que será uma pena sentir que o Jardim Oudinot ainda está, a nosso ver, subaproveitado. Vai melhorar, disso temos a certeza. O tempo o dirá.
Fernando Martins
NOTA: Texto e foto publicados no TIMONEIRO de dezembro.
NOTA: Texto e foto publicados no TIMONEIRO de dezembro.