sexta-feira, 30 de agosto de 2019

100 anos de presença Militar em São Jacinto


A Câmara Municipal de Aveiro, na sua Newsletter de ontem, lembra, com sentido de oportunidade, que «a presença militar em São Jacinto remonta ao final da 1.ª Guerra Mundial, em 1917,  quando a Marinha Francesa decidiu ali instalar uma base de hidroaviões antissubmarinos com apoio do Estado Português». E acrescenta que aquela «Base Militar serviu os três ramos das Forças Armadas», nomeadamente, a Marinha, a Força Aérea e, desde 1994, o Exército.
Lembra a nota da autarquia: «Neste contexto e já depois de em abril deste ano, na comemoração do 101.º aniversário da presença militar em Aveiro, o Regimento de Infantaria N.º10 ter oferecido à Cidade o “Monumento ao Parquedista”, foi a vez do Município de Aveiro retribuir a oferenda com a  inauguração de um Monumento comemorativo dos 100 anos da presença Militar em São Jacinto.» E conclui a nota: «Um momento singular e emotivo, parte integrante do programa do Festival, que juntou no final da tarde de sexta-feira, dia 23, familiares, amigos e muitos cidadãos junto à Porta de Armas da Base Militar, para celebrar a Paz.»

Georgino Rocha - Sê humilde, procura a verdade



Jesus encontra-se em casa de um fariseu ilustre para tomar uma refeição em dia de sábado. A circunstância proporciona-lhe uma das melhores oportunidades para observar o comportamento dos convivas presentes que “espiam” as suas atitudes. Em causa está a escala da ocupação dos primeiros lugares à mesa prevista no “ritual” de banquetes. E, consequentemente, o apreço social e religioso atribuído ao ocupante. E havia quem se aproveitava, o que obrigava a uma certa despromoção. E o invés também se dava, intervindo o organizador da festa e fazendo subir para lugar de maior consideração quem o merecia.
Jesus, na leitura de Lucas 14, 1. 7-14, hoje proclamada, faz o relato da situação dando-lhe o estilo de parábola. Eleva a cena a banquete nupcial e atribui o lugar devido a cada convidado. A ordem alterada é reposta, fazendo brilhar a atitude interior da pessoa e o seu apreço social. A verdade manifesta-se sem interferências e põe a claro a (in)coerência disfarçada de uns e a humildade autêntica de outros. A aparência e suas múltiplas manifestações ocorre por todo o lado, mas sobretudo nos espaços mediáticos, no campo desportivo, na “arena” política, nas festas religiosas.
“As leituras de hoje, afirma Manicardi, contêm uma mensagem sobre a humildade: humildade como atitude humana agradável a Deus e que torna amável aquele que a vive (1ª leitura); humildade como atitude que reproduz o modo de escolher e de viver que foi o de Cristo Jesus (Evangelho) ”. Do nascer ao morrer, da vida em Nazaré ao anúncio missionário em aldeias e famílias, da ida à sinagoga ou ao Templo, das festas e convívios, Jesus dá o exemplo da mensagem que anuncia e nos deixa como boa nova para todos os povos.

quinta-feira, 29 de agosto de 2019

Anselmo Borges em entrevista ao DN - Deus também descansou

“Até Deus, após a criação, descansou 
e quis que houvesse um dia de descanso semanal"



A preguiça é, segundo a doutrina da Igreja Católica, um dos sete pecados capitais e até há um ditado que a classifica como a mãe de todos os vícios. Num tempo em que preguiçar é um luxo a que poucos podem dar-se, perguntámos ao padre Anselmo Borges porque é que a Igreja a olha como uma falta tão grave.

Texto de Catarina Pires | Fotografia Leonel de Castro/Global Imagens

A preguiça era um dos sete pecados capitais. Porquê?
Era e é. Os pecados capitais são sete: soberba, avareza, luxúria, ira, gula, inveja, preguiça. Sete é um número perfeito. Neste caso, número perfeito dos vícios que estão à cabeça de todo o mal, por isso se chamam capitais (de capitis, cabeça) e de que as pessoas devem libertar-se. Porquê? Os vícios são-no porque estragam a nossa vida ou a vida dos outros, prejudicam-nos, fazem-nos mal. Pergunto: a preguiça não é contra uma vida autêntica? Não dizemos de alguém preguiçoso, que não trabalha nem cuida da família, que é um parasita e que está a prejudicar outros? Até há um ditado que diz que “a preguiça é a mãe de todos os vícios”. 

Mas não é um exagero que o que hoje é quase uma necessidade ou até direito, como escreveu Lafargue, assuma tal gravidade?
No sentido que expliquei, não.


Tudo depende do que se entender por preguiça, 
que é um mal se for a recusa do trabalho 
e o tentar viver à custa dos outros ou encostado ao Estado.

É preciso cultivar o valor do trabalho?
Temos de “ganhar” a vida. A vida é um dom, mas, por causa da “neotenia” (viemos ao mundo por fazer e temos de fazer-nos, realizar-nos), temos de trabalhar. O trabalho é uma das características humanas que nos distinguem dos outros animais. Transformando o mundo pelo trabalho, transformamo-nos a nós e realizamo-nos. Por outro lado, o trabalho implica uma tarefa em comum: pelo trabalho, realizamo-nos coletivamente, uns com os outros. E há o trabalho enquanto esforço duro, mas também há a alegria de ter realizado um trabalho, uma obra (em inglês, trabalhar diz-se to work, que vem do grego érgon, obra). Admiramos quem realizou uma obra. 

Que significado têm os pecados capitais?
São vícios que estão na base de uma existência má para nós e para os outros. Não é verdade que a soberba nos estraga a vida, levando à arrogância e ao desprezo dos outros? Não deve dizer-se o mesmo da avareza, pois acabamos por dar mais importância às coisas do que às pessoas? E da luxúria, que desumaniza a sexualidade? Da ira, que pode levar à violência e a matar? Da gula, que dá cabo até da saúde? Da inveja, que se entristece com o bem dos outros? E da preguiça, como disse.

Segundo a Bíblia, até Deus, após a criação, descansou 
e quis que houvesse um dia de descanso semanal, 
para que o ser humano soubesse que não é uma besta de carga. 
O problema agora é que as pessoas se esgotam a produzir e a consumir.

quarta-feira, 28 de agosto de 2019

Programa Revive aposta no Forte da Barra



«O Forte da Barra de Aveiro, também conhecido como Forte Pombalino, Forte Novo ou Castelo da Gafanha, fazia parte do conjunto de fortalezas joaninas edificadas entre 1642 e 1648, cuja disposição visava reforçar as fronteiras do reino.
Foi edificado no século XVII, no período pós-Restauração. Em meados do século XIX, a fortaleza perdeu importância defensiva e estratégica, sendo desativada das suas funções militares. Ainda serviu de local de orientação para entrada de barcos na Barra de Aveiro, perdendo essa função com a construção do Farol da Barra.
É uma obra do tipo abaluartado, restando, atualmente, uma pequena cortina de dois meios baluartes. Depois que deixou de ser necessária a defesa do Rio Vouga, foram edificadas construções sobre a cortina e o meio baluarte norte. No baluarte sul foi erguida uma torre de sinalização, mas, nesse lado, ainda é visível parte da escarpa, cordão e três canhoeiras cortadas no parapeito.
Em pleno Porto de Aveiro, tem uma localização privilegiada sobre a foz do rio Vouga.»

Nota: 

1. Texto e Foto do Programa Revive;
2. Pretende-se dar vida ao Forte da Barra, incluindo a Casa da Direção;
3. Espera-se que não faltem interessados no aproveitamento daqueles espaços, de forma a dignificar um edifício de interesse público. 

A todos os meus amigos, com muita estima

Com a Lita, o suporte de tudo o que faço

Confesso que nunca esperei tantos comentários ao texto despretensioso que escrevi em reação à crónica de Miguel Esteves Cardoso, publicada no PÚBLICO, intitulada “Não aguento mais”. Comentários de muitos amigos que mantenho por estas bandas e por outras, que coincidiram no incitamento a que continue ativo nas redes do ciberespaço, e não só. A amizade e a simpatia têm destas coisas. 
Pretendi, no referido texto, sublinhar, em especial, a capacidade e a inteligência do MEC que disserta sobre tudo e mais alguma coisa, fazendo, inúmeras vezes, do nada, crónicas muito oportunas. Depois, lá veio a questão, em jeito de fecho, sobre os quase 15 anos do meu blogue Pela Positiva e sobre a sua continuidade, quando é certo que muitos outros, mais velhos e mais novos, vão trancando as portas ou desaparecendo, pura e simplesmente, por vários  motivos ou sem eles. 
De qualquer forma, aqui ficam os meus agradecimentos sentidos pelas provas de estima de que tenho sido alvo. É claro que vou continuar, não até que a voz me doa, mas até que ela se cale, naturalmente.  
Muito grato a todos os amigos. 

Fernando Martins

NOTA: Esta mensagem pretende responder a todas as que me foram dirigidas nas redes sociais, por e-mail, pessoalmente  ou por outras vias. 

Roteiro de Férias - Albufeira



Há dez anos, passámos férias em Albufeira, em Abril, na altura da Páscoa. Não faltavam turistas, em especial ingleses, assíduos frequentadores de alguns bares, onde o seu linguajar nos ajudava a identificá-los. As praias registavam boa frequência, e o Museu que visitámos, com exposição arqueológica no exterior, de escavações por ali efetuadas, chamou a minha atenção, mesmo não sendo conhecedor do assunto. 
Sendo notório que o período de férias por excelência é mais no verão, em especial em Agosto, eu prefiro apostar, quando posso, em meses de menor movimento, para me sentir mais livre. Este ano, por exemplo, ainda nem tivemos espaço nas nossas vidas para sair um tempinho longe do quotidiano. 

terça-feira, 27 de agosto de 2019

Não aguento mais...


“Não aguento mais” é o título da crónica de Miguel Esteves Cardoso no PÚBLICO de hoje. Pensei logo que o conhecido escritor com várias vertentes de intervenção no domínio das letras estaria cansado de escrever. 
— Queres ver que o MEC vai mesmo de férias, saturado que deve estar de tanto  escrever, todos os dias, para ser lido por quem o admira, e não só? 
Saltei logo para o jornal para me informar, mas fiquei tranquilo. A razão, afinal, não era essa. O MEC não se cansa de escrever e de descobrir, sempre e sempre, motivos para as suas crónicas diárias e semanais.  Quem dera a muitos jornalistas e escritores possuírem a sua capacidade de pensar, falar e escrever sobre qualquer tema, seja ele qual for, num tom gostoso e atualíssimo. Se não for assim, o MEC torna-o oportuno. O artista é assim. 
Cá pelas minhas bandas acontece-me ficar, por vezes, aturdido e sem norte para dar vida ao meu blogue Pela Positiva, que está no ciberespaço desde dezembro de 2004, perfazendo 15 anos daqui a uns tempos, com altos e baixos, estes por motivos de doença. 
Não sendo fácil, interrogo-me se vale a pena ou se tem valido a pena. Pelos testemunhos, vou admitindo que ainda se justifica continuar, até porque, com algumas limitações físicas, pouco poderei fazer em prol da comunidade. Por isso, por aqui me vou mantendo, porque ainda vou aguentando, sem sacrifícios de grande vulto. 
Continuação de boas férias para quem as puder gozar. 

Fernando Martins

Um mar de gente que são pessoas



"Estive no Mediterrâneo. Não foi a primeira vez, mas talvez tenha sido a primeira vez que me incomodou mergulhar, olhar no horizonte e perceber que ali tão perto existiam homens, mulheres e crianças que também o faziam por razões diferentes, à espera de uma boia que os salve ou de um porto que os acolha."

João Alves no 7Margens

Roteiros de férias - Padeira de Aljubarrota






A história da Padeira de Aljubarrota fascinou-me na minha infância, época em quer éramos educados para a aceitação dos heróis, reais ou imaginados. A Padeira de Aljubarrota, que liquidou uns tantos castelhanos que, fugindo da batalha de Aljubarrota, onde foram derrotados pelas tropas do futuro rei D. João I e do seu grande aliado, Nuno Álvares Pereira, ficou na minha memória para sempre. Quando passei por lá, há bons anos, registei a façanha de Brites de Almeida, mulher barbuda, muito feia e com seis dedos em cada mão, que, com determinação, exibe, no monumento que lhe foi erguido, uma senhora pá...

segunda-feira, 26 de agosto de 2019

Reserva de São Jacinto pode avançar para a co-gestão

Reserva de São Jacinto  (rede global)

Em reportagem publicada no PÚBLICO, Maria José Santana afirma que o município de Aveiro se prepara "para formalizar a sua participação na gestão da área protegida situada no seu território, ao abrigo do diploma recentemente aprovado pelo governo". E adianta que o presidente da CMA, Ribau Esteves, garantiu que o processo "já está em muito bom caminho". “Nas reuniões de câmara e de assembleia municipal de Setembro vamos dizer ‘sim’ a iniciarmos a gestão desta reserva no quadro do novo diploma, publicado no passado dia 21 de Agosto”, especificou Ribau Esteves. 

Ler mais no PÚBLICO

Roteiros de Férias - Montemor-o-Velho

Foi há 12 anos que passei por lá





Foi há 12 anos que passei por Montemor-o-Velho, onde me encontrei com um bocadinho da nossa história. Gostei e lá fui à procura do que disse no meu blogue. Recordar é viver... Veja aqui.

domingo, 25 de agosto de 2019

Anselmo Borges - Religião e espiritualidade


"O fundamento da religião é o medo. 
O fundamento do cristianismo é o amor."

1. Não haja dúvidas. A religião, concretamente na Europa, também entre nós, está em queda. O número de agnósticos e de ateus aumenta, para não falar na chamada "prática religiosa", que desce a olhos vistos. O padre José Antonio Pagola escreveu recentemente um texto com o título "Depois de séculos de 'imperialismo cristão', os discípulos de Jesus têm de aprender a viver em minoria". 
Significa isto o triunfo do materialismo crasso ou o que está em causa é mesmo a religião institucional, mas não a espiritualidade? O que é facto é que tenho encontrado cada vez mais grupos interessados na espiritualidade e no aprofundamento da vida interior. Multiplicam-se esses grupos e também a bibliografia sobre o tema. Por exemplo, com sucesso escreveu recentemente o teólogo Francesc Torralba uma obra: La Interioridad Habitada, onde se pode ler: "A educação da interioridade não é, em caso algum, um luxo nem uma questão menor, pois tem como objectivo final o cuidar de si mesmo, e, para isso, desenvolver todas as potencialidades latentes no ser humano, como a memória, a imaginação, a vontade, a inteligência e a emotividade, mas também o fundo último do seu ser: a espiritualidade, admitindo que esta pode adquirir formas, expressões e modos muito diversos em virtude dos contextos educativos e dos momentos históricos. No modelo da interioridade habitada reconhecem-se dois magistérios: o exercício do mestre humano que fala e actua a partir de fora e o do mestre interior que habita lá no íntimo." 

sábado, 24 de agosto de 2019

Família constrói microcasa nos pastos açorianos

Rui Pedro Paiva (Texto) e Maria João Sousa (Fotos e vídeos)

PÚBLICO, com a devida vénia. (por decisão do jornal e dos autores, poderei retirar a foto)

O PÚBLICO tem por hábito convidar os seus leitores a pensar, com reportagens no mínimo interessantes. Desta feita, veio há dias com uma história de vida desafiante, mas que exige muita coragem e determinação. Deixar os seus hábitos para trás e avançar, longe do bulício da cidade, para o seio da natureza, com armas e bagagens, propondo-se viver uma aventura só possível, em princípio, em sonhos, foi o que fizeram o Ricardo e a Mafalda, com um filho, numa freguesia rural de Ponta Delgada, nos Açores. 
Não vou aqui transcrever a sua ousadia, mas convido os meus amigos e leitores a seguirem o link para poderem confirmar a história capaz de nos fazer acreditar que tudo é fácil na vida, se para tanto houver coragem e confiança nas capacidades que todos armazenamos para sairmos, se quisermos,  das comodidades em que nascemos, crescemos e vivemos. Não custa nada sonhar e avançar se e quando for  possível. 
Para aquela família corajosa e determinada, aqui ficam os meus parabéns, com votos dos maiores sucessos na sua pedagógica aventura.

F.M.

O meu relógio de pulso está mesmo no pulso


Miguel Esteves Cardoso disserta hoje sobre o seu relógio que estaria esquecido numa gaveta e conta que demorou algum tempo a confirmar se trabalhava ou não. Depois, acertou o dia e hora e aplicou-o no pulso, porque, se é um relógio de pulso, tem de estar no pulso. E as suas sempre oportunas e belas cogitações levaram-no a deixá-lo ficar no sítio certo, porque, afinal, ver as horas no telemóvel dá mais trabalho. Com um gesto maquinal, instantaneamente ficamos em dia com as horas certas. 
Ora, comigo aconteceu coisa semelhante, quando amigos, olhando o meu relógio no pulso, me garantiram que tal já se não usa, porque o telemóvel resolve a nossa questão permanente das horas e dia em que estamos. E assim, guardei o relógio numa gaveta, passando a consultar o telemóvel quando havia necessidade de me situar no tempo. Pois sim… Passei a vida a tirar o telemóvel do bolso, a ligá-lo, etc., etc,. Não resultou. Era uma trabalheira. E voltei ao relógio no pulso, mantendo o hábito de uns quase 70 anos. Constantemente, sem dar por isso, com um simples gesto,  fico a par do tempo que me situa nos tempos. 

Fernando Martins

Grafites para apreciar na festa da Senhora da Nazaré







sexta-feira, 23 de agosto de 2019

Georgino Rocha - Entrar pela porta estreita da salvação

DOMINGO XXI

Entrai pela porta estreita
“Senhor, são poucos os que se salvam?” - pergunta alguém a Jesus que, a caminho de Jerusalém, anunciava a todos a largueza do reino de Deus em aldeias e cidades. Pergunta que brota do mais íntimo do coração humano e que sempre, de forma velada ou clara, vem à consciência e se faz ouvir em público. Pergunta que antecipa o futuro dando um novo sentido ao presente. Pergunta que parece ficar sem resposta, mas não.
Jesus, em vez do número que a pergunta pede, prefere indicar o caminho para alcançar a salvação. “Esforçai-vos por entrar pela porta estreita”, diz como ressonância, segundo a versão de Lucas 13, 22-30. E lembra que muitos tentaram entrar e não o conseguiram. (trata-se de um banquete, símbolo da salvação, que se celebra numa casa de família). O fracasso da tentativa é devido à porta estar fechada por decisão do dono.
“Se é certo que a porta da salvação requer um esforço, ela carece também de algo mais. De facto, tem um senhorio que a pode abrir e fechar. Para entrar, é preciso conhecer o senhorio, ter intimidade com ele, uma boa relação com ele. A salvação é uma questão de relação. Relação que começa, aqui e agora, com o Senhor Jesus e que espera tornar-se comunhão com Ele para sempre. O esforço pedido ao crente também é, então, a salutar inquietação de quem não toma a salvação por garantida pela presença eclesial ou pela assiduidade aos sacramentos (comer e beber na presença do Senhor pode também aludir à eucaristia”),  Manicardi.

quinta-feira, 22 de agosto de 2019

Reserva de São Jacinto tem 40 anos e poucos motivos para festejar

Reserva Natural de São Jacinto 
A jornalista Maria José Santana escreveu para o PÚBLICO uma reportagem sobre a Reserva de São Jacinto, no concelho de Aveiro, na qual firmou que aquele espaço "já viveu melhores dias". E denunciou a "ameaça das espécies invasoras" na Reserva, referindo ainda que "o número de visitantes tem vindo a cair a pique". 
Estando a autarquia aveirense a apostar na sua única praia de mar, anexa à Reserva Natural de São Jacinto ou dela fazendo parte, julgo ser oportuno sugerir aos meus leitores a leitura da reportagem da referida jornalista e também diretora do jornal O Ilhavense.
Na mesma reportagem, o autarca aveirense, Ribau Esteves, deixa o alerta sobre a Reserva de São Jacinto: “Está nos mínimos, tem cada vez menos funcionários e o número de visitantes diminuiu imenso” (...) “passámos de 14.000 para 3.000 visitantes por ano.”

Ler reportagem aqui

quarta-feira, 21 de agosto de 2019

FÉRIAS – Somos uns privilegiados


Torre de Menagem em Chaves 

Neste mês de férias, nem sempre temos tempo para pensar nos que as não têm nem podem ter. E não se pense que estou a exagerar. A mim, há anos, também me aconteceu… mas a minha saudosa mãe, com a sua rica experiência de vida, explicou-me que poderia ultrapassar essa dificuldade e seguir de férias, se conseguisse programar as despesas antes e durante a estada num parque de campismo de Trás-os-Montes. E assim foi… felizmente. 
Ao ler o PÚBLICO de hoje, deparei-me com uma situação de uma família que nunca sentiu o sabor das férias. Diz o entrevistado, pai de cinco filhos, que ganha o salário mínimo como motorista: “Nunca tirei férias. Deve ser uma sensação do outro mundo.” E a jornalista sublinha: [o ordenado] “não chega para pagar as contas e, por isso, os dias livres e as férias são usados para fazer biscates. Nunca conseguiu levar os filhos de férias.” 
Olho à minha volta e fico com a sensação de que somos, realmente, uns privilegiados. Até parece que toda a gente goza as merecidas férias sem problemas de maior. Mas será mesmo assim ou não falta por aí quem tenha de fazer como o entrevistado, obrigando-se a fazer biscates para sustentar a família? 

F.M.

Ler reportagem  aqui 

terça-feira, 20 de agosto de 2019

Jardim 31 de Agosto - Grafite com arte e bom gosto


Há dias registei este e outros grafites no Jardim 31 de Agosto, onde se prepara a festa em honra de Nossa Senhora da Nazaré, a ocorrer no próximo fim de semana. Há grafites e grafites. Uns com arte e outros nem por isso. Gostei do colorido, dos motivos que nos são queridos, dos traços firmes do artista, da simbologia do nosso mar e ria. Assim vale a pena grafitar muros e paredes desprezados  na nossa terra. Tornem belo o feio que às vezes nos envolve. Parabéns aos artistas de rua, quantos deles de projeção internacional. 

F.M. 

segunda-feira, 19 de agosto de 2019

Bicicleta no cais do Porto de Pesca


Bicicleta no cais... Esquecida? Perdida? À espera do dono? Ou dona? Numa terra que é a capital da bicicleta, utilizada por novos e velhos, transporte de quem trabalha e de quem estuda, de quem passeia e veraneia, de quem peregrina e se recreia, ela está sempre disponível, em casa de rico ou pobre. E nem falta quem a construa e reconstrua, quem a renove e decore.

domingo, 18 de agosto de 2019

Anselmo Borges - Francisco: a Europa, a Amazónia, as migrações

Papa no "La Stampa"

1. O Papa Francisco deu no passado dia 9 uma longa entrevista ao diário italiano "La Stampa" sobre os temas anunciados no título. Dada a sua importância, fica aí uma síntese, acrescentando algumas reflexões pessoais, referentes concretamente à possibilidade da ordenação de homens casados, um dos temas na agenda dos trabalhos do próximo Sínodo para a Amazónia, a realizar em Roma no próximo mês de Outubro, e ao problema imenso e dramático das migrações.
Francisco constata que o sonho dos pais fundadores da Europa unida "se debilitou com os anos", sendo "necessário salvá-lo". Quando se fala dos pais fundadores, trata-se nomeadamente dos políticos franceses Robert Schuman e Jean Monnet, do alemão Konrad Adenauer e do italiano Alcide De Gasperi. Eles perceberam que era urgente superar as feridas deixadas pela Segunda Guerra Mundial e "o seu sonho teve consistência porque foi uma consequência desta unidade". É esta unidade que está fragilizada e que é preciso valorizar e realçar. Sem renunciar, evidentemente, à própria identidade, mas sem cair nos extremos do soberanismo nem no populismo. A Europa não pode nem deve fragmentar-se. "É uma unidade não só geográfica, mas também histórica e cultural." Apesar das dificuldades, Francisco mostra-se confiante em que, com um novo Parlamento e novos órgãos de governo, "se inicie um processo de impulso nesse sentido, que avance sem interrupções".

sábado, 17 de agosto de 2019

Como andamos distraídos!




Tenho passado vezes sem conta por este arbusto que mora num vaso do meu jardim, postado na parte frontal da minha casa. Serenamente, como ser vivo sem capacidade de pensar e de falar, ali está com reações de quem existe por vontade de alguém e com sinais de vida proporcionados pelo sol e pelo alimento que envolve a sua raiz, regada a tempo e horas. Um dia destes parei e fixei-o. Fotografei-o e mandei-o voar, para deleite da minha imaginação. Até onde chegará a sede de viver deste simples arbusto? E não há tantos outros ignorados? Como andamos distraídos! 

Espólio do Porto de Aveiro - Forte da Barra



A newsletter do Porto de Aveiro, que subscrevi e recebo regularmente, brinda-me com curiosidades que bastante aprecio. Desta feita, chegou-me esta foto que terá, pelo que se nota, outras semelhantes. Aqui a partilho, com a devida vénia, com os meus leitores e amigos.

sexta-feira, 16 de agosto de 2019

ANGE - Lá voltarei sem me cansar




Gosto da marina da ANGE (Associação Náutica da Gafanha da Encarnação), que encontro sempre cuidada, com a Costa Nova à vista, em jeito de desafio para uma visita. A barca da passagem, tantas vezes cantada, já passou à história que o novos tempos têm outros meios. Passagem de barca, só em momentos de reconstituição história, que acho muito bem que se façam. E se eu puder entrar nela, lá estarei.
Pudesse eu (e muitos de nós!) possuir uma lancha, por mais modesta que fosse, e também ali teria um lugar cativo, para em dias serenos navegar pela ria com passagem obrigatória pelas nossas praias e aldeias ribeirinhas, tantas vezes ignoradas pelos viajantes que preferem as águas calmas ao movimento tantas vezes caótico das nossas estradas, sobretudo em épocas de veraneio. Ontem, por exemplo, desejando visitar as praias, tive de recuar para fugir às filas de trânsito comuns nesta época. 
Voltando à marina da ANGE, recebi conselho de andar à vontade, com a recomendação de que até poderia levar um barco às costas se assim o desejasse. Uma maneira simpática de acolher quem chega àquele recanto paradisíaco, onde apetece estar horas a fio a olhar as águas mansas, transparentes e desafiantes. Lá voltarei sem me cansar.

F. M.

Polo Norte na Gafanha da Nazaré?



Polo Norte na Gafanha da Nazaré? Não! Apenas a decoração feliz de um edifício na zona portuária da Gafanha da Nazaré. Não há quem resista à beleza da imagem.

Georgino Rocha - Fogo aceso, pronto a incendiar

DOMINGO XX



A declaração de Jesus não pode ser mais provocadora: “Eu vim trazer o fogo à terra e que quero Eu senão que ele se acenda? … Pensais que Eu vim estabelecer a paz na terra? Não. Eu vos digo que vim trazer a divisão”. Lc 12, 49-53. Desde agora “a coisa” é outra: fogo que incendeie; divisão que gera paz.
Os discípulos, como nós ainda hoje, devem ter ficado chocados e perplexos. Ainda que Lucas – o autor da narrativa – tenha juntado, num só texto, várias sentenças, a mensagem surge tão radical que deixa intrigados a todos. E, naturalmente, nasce o espírito da busca do sentido mais profundo, o impulso da curiosidade mais abrangente do contexto, a força do desejo de verificar a coerência do proceder de Jesus.
“As palavras de Jesus sobre o fogo que veio trazer, afirma Manicardi, recordam à nossa cristandade cansada e às nossas velhas Igrejas que o cristianismo é vida e fogo, paixão e desejo, aventura e beleza”. E cita o pensamento de Atenágoras, patriarca de Constantinopla: “O cristianismo não é feito de proibições: é vida, fogo, criação, iluminação”. 
A caminhada para Jerusalém, cidade onde Jesus receberá o baptismo de que fala o nosso texto, continua. Aqui vai ocorrer o enfrentamento com os adversários – defensores da ordem estabelecida que, em muitos pontos fundamentais, contraria a proposta de Deus de que Jesus é portador e anunciador. Aqui vai manifestar-se, publicamente, quem está a favor ou é contra. Aqui ergue-se, humilhante, a cruz dolorosa que viria a ser transformada em Cruz gloriosa na manhã de Páscoa.

quinta-feira, 15 de agosto de 2019

Gastronomia: Feijoada de Línguas e Samos de Bacalhau



Ingredientes: 

500 g Feijão branco cozido 
250 g Línguas de bacalhau demolhadas 
250 g Samos de bacalhau demolhados 
150 g Cebola picada 
50 g Alho picado 
150 g Chouriço corrente 
150 g Cenoura aos cubos 
150 g Tomate maduro aos cubos 
1 Ramo de cheiros (salsa, louro, ..) 
1 dl Vinho branco 
0,5 dl Azeite virgem extra 
1 Ramo de hortelã 
Sal, pimenta preta e piripiri q.b. 

Preparação: 

Num tacho, comece por refogar a cebola com o alho e o ramo de cheiros. Junte o chouriço corrente cortado em meias-luas e refresque com vinho branco. 
Adicione o tomate picado e o feijão. 
Junte um pouco de caldo do feijão e deixe guisar durante alguns minutos. 
Acrescente as línguas cortadas em pedaços médios e continue a guisar durante alguns minutos. Retifique o tempero de sal e acrescente piripiri e pimenta preta. 
Corte os samos em tiras finas, passe pela farinha e frite-os em óleo quente de forma a ficarem bem dourados e estaladiços. 
Sirva acompanhado de arroz branco, com as tirinhas de samos fritos e umas folhas de hortelã. Bom apetite! 

Receita gentilmente cedida pelo Chef Gonçalo Santos, da EFTA – Escola de Formação em Turismo de Aveiro, entidade parceira do Festival do Bacalhau. 

Fonte: Agenda "Viver em..." da CMI

terça-feira, 13 de agosto de 2019

O Festival do Bacalhau foi um êxito

Boa disposição à mesa com bons petiscos de bacalhau (Foto da CMI)

Feito o balanço provisório, há sinais concretos de que o Festival do Bacalhau,  que decorreu no Jardim Oudinot, no passado fim de semana, foi um êxito, havendo a promessa de que no próximo ano ainda será melhor. Sendo assim, congratulo-me pelos resultados alcançados e pelo entusiasmo manifestado pela Câmara de Ílhavo no sentido de apostar com redobrada força para que o Jardim Oudinot, uma bela sala de visitas da nossa terra, continue a ser motivo de orgulho para toda a região. 
O "fiel amigo" foi rei durante o Festival, congregando famílias e pessoas oriundas de várias zonas do país, mas não podemos esquecer tudo o que serviu de atração naquele privilegiado espaço banhado pelo laguna, destacando-se, a meu ver, os concertos musicais, os concursos, os pavilhões, o Navio-museu Santo André, a corrida mais louca, as velhas pasteleiras com ciclistas vestidos a rigor, à moda antiga, e tantas outras festas que animaram os visitantes, encaminhando toda a gente para os petiscos recriados à volta do rei-bacalhau. 
Quem, como eu, não pôde participar no Festival, por razões diversas, não terá hipótese de falar, em rigor, do que realmente aconteceu. Contudo, porque ouvi e li encomiásticos pareceres sobre o festival deste ano, não posso deixar de salientar que esta festa foi e continuará a ser motivo de visita à nossa região no ferial mês de Agosto. 
Os meus parabéns à autarquia municipal pela festa que promoveu e organizou, mas ainda a todas as instituições concelhias, e não só, que deram o seu melhor ao Festival do Bacalhau de 2019. Para 2020 haverá mais. 

Fernando Martins

Georgino Rocha - Festa da Assunção de Maria, Mãe de Jesus


“Feliz Aquela que Te trouxe no seu ventre 
e Te amamentou ao seu peito”

A liturgia da vigília da festa da Assunção de Nossa Senhora proclama o Evangelho do encontro de Jesus com a mulher do povo que ouvia entusiasmada a sua pregação. “Feliz Aquela que Te trouxe no seu ventre e Te amamentou ao seu peito”, exclama no meio da multidão. Era a ressonância vibrante do coração feminino àquilo que escutava e a fazia exultar. Era a voz dos humildes a erguer-se em público e a anunciar a felicidade que pressentia na Mãe de Jesus. Era a afirmação do valor da geração, da maternidade e da amamentação para o equilíbrio da relação “mãe e filho”, embora intervenham outros factores. Era um “hino” velado ao ambiente familiar onde se inicia a educação humana. 
A festa é a exultação festiva que o povo cristão vive, após a intervenção de Pio XII que, em 1950, declara solenemente o dogma da Assunção e oficializa o que era professado há muitos séculos. O Papa, bom conhecedor da tradição da Igreja, antes de tomar esta decisão, tem em conta o sentir do povo cristão, designadamente bispos, teólogos e outros fiéis. Não porque tivesse dúvidas, mas por reconhecer que o Espírito Santo distribui os seus dons pelos fiéis e para proclamar com a sua máxima autoridade, a autenticidade da fé que, há séculos, se vinha professando na Igreja.

segunda-feira, 12 de agosto de 2019

Os emigrantes devem andar por cá

Neste ferial mês de Agosto, os nossos emigrantes, radicados, em especial, na Europa, devem andar por cá, entre as famílias e os amigos que optaram por ficar em Portugal. Os emigrantes transportam na bagagem das suas memórias estes ares, as suas histórias de vida, as suas amizades e as suas enormes saudades.
Quando saio à rua para dar umas voltinhas, encontro um ou outro que me olha, me saúda e me dirige algumas palavras. Os seus rostos e expressões permanecem em mim, mas nem todos consigo identificar pelo nome.
Certos apelidos ficam, pois há traços identitários que não enganam. Peço desculpa, mas não consigo memorizar tudo. E de alguns, porém, sei histórias que me ajudam a mantê-los presentes no meu espírito.
Há tempos, num restaurante, um casal olhava-me com simpatia. Havia traços que interpretei como gafanhões, se tal se pode dizer. E não resisti: Dirige-me ao casal e disse: — Eu conheço-os, mas não consigo dizer de onde. E a resposta saiu pronta: — Da missa; sou irmão de… E viemos de férias.
Permitam-me que sugira aos nossos amigos que estão por aqui neste mês de Agosto, que me falem, apresentando-se, naturalmente, com o nome ou apelido de família. É que a nossa história de vida é feita de encontros, que não de desencontros.
Boas férias para todos.


Fernando Martins

As bicicletas da minha meninice


As bicicletas dos tempos da minha meninice voltaram à estrada para animar o Festival do Bacalhau. Boa recordação que me transporta à época dos meados do século passado. Vestidos a rigor, os ciclistas percorreram o trajeto  estabelecido, entre o Cais Bacalhoeiro e o Jardim Oudinot, exibindo os trajes dos nossos avós. E não é a Gafanha da Nazaré a capital das bicicletas? Pois que a ideia seja levada à prática noutras datas festivas, são os meus votos.

Nota: Foto da CMI

Ravel em tempo de férias

A vida é sempre um recomeço...


«Durante uns dias, estarei de férias para reflexão. Contudo, continuarei presente para respeitar compromissos assumidos. E depois, a vida seguirá a um novo ritmo, com a esperança renovada, ao jeito de nova primavera. Assim espero.» Há uma semana escrevi isto, com vontade de férias. Estou de volta, com a certeza de que “a vida seguirá a um novo ritmo”, mas “com a esperança renovada”. A vida é sempre um recomeço. É isso. A um novo ritmo, porque ficarei apenas por aqui, sem preocupações de alimentar os meus outros blogues, referenciados no cabeçalho deste meu espaço. Todos ficaram com a vida que lhes dei, porém, abertos a quem aparecer ou deles necessitar. 

Fernando Martins 

domingo, 11 de agosto de 2019

Anselmo Borges - Elogio do inútil


1. Vivemos num tempo com algumas características deletérias. Por exemplo, não penso que seja muito favorável assistirmos em restaurantes a famílias inteiras a dedar num smartphone: o pai, a mãe, os filhos..., que quase se esquecem de comer e sem palavra uns com os outros. É bom estar informado, mas neste dedar constante perde-se o contacto autêntico da e com a família, esse estar presente aos outros mais próximos. E, com o tsunami das informações, incluindo as fake news, fica-se sujeito ao engano, à confusão, e corre-se o risco de se estar a criar personalidades fragmentadas, alienadas, interiormente desestruturadas. E, ao contrário do que se pensa, dentro da conexão universal através das redes sociais, sofrendo uma imensa solidão.
A nossa sociedade é também avassalada pelo ruído e pela pressa. Toda a gente corre, sempre com a vertigem da pressa - para onde?, poder-se-ia perguntar. Para longe de si. Quando é que alguém está autenticamente consigo, sem narcisismo, evidentemente? E o ruído atordoador? Quem é que ainda consegue ouvir o silêncio e aquilo que só no silêncio se pode ouvir? A voz da consciência, a orientação para o sentido da vida, Deus? Quem se lembra do dito famoso de Calderón de la Barca, que escreveu que "o idioma de Deus é o silêncio"?

sexta-feira, 9 de agosto de 2019

De férias para reflexão



Durante uns dias, estarei de férias para reflexão. Contudo, continuarei presente para respeitar compromissos assumidos. E depois, a vida seguirá a um novo ritmo,  com a esperança renovada, ao jeito de nova primavera. Assim espero.

Fernando Martins

Georgino Rocha - A alegria de vigiar para servir

DOMINGO XIX



Jesus está preocupado em preparar os discípulos para o desempenho da missão que lhes quer confiar: acolher e servir o Reino que Deus lhes entrega, estar vigilantes e ser responsáveis. E conclui este ensinamento afirmando pela “boca” de Lucas: “A quem muito foi dado, muito será pedido; a quem muito foi confiado, muito mais será exigido”. Lc 12, 32-48.
Ilustra e embeleza o seu ensinamento com a narração de uma parábola – a dos empregados que esperam o seu senhor ao voltar da festa de casamento. Pedro sente-se questionado e pergunta: “A parábola é só para nós ou para todos?” A resposta de Jesus surge noutra parábola – a do administrador fiel e prudente que sabe gerir o pessoal da sua casa.
A atitude dos empregados e do administrador exemplifica bem o comportamento que Jesus define para os seus discípulos de todos os tempos: acolher, com satisfação, o dom que nos é oferecido, viver em confiança filial, cultivar o espírito de vigilância, ser responsável. A iniciativa da oferta pertence a Deus e proporciona-Lhe o prazer de desvendar o Seu projecto de fazer connosco uma nova família, a Sua alegria em credenciar Jesus, Seu filho, que anuncia e realiza esta feliz notícia, o Seu propósito de nos envolver plenamente, fazendo, com a humanidade, uma “parceria” de serviço, uma aliança de amor.

domingo, 4 de agosto de 2019

Anselmo Borges - O Homem: trabalhador e festivo



 «Dar-se conta do milagre do Ser e de se ser. 
Há maravilha que nos abale mais na raiz de nós do que esta?»


1. Andam enganados aqueles e aquelas que, no decurso do tempo, fizeram uma leitura literal do Génesis, o primeiro livro da Bíblia. Porque, concretamente nos primeiros três capítulos, não se trata de uma narrativa histórica, mas de um mito, uma estória. O filósofo Hegel, um dos cumes do pensamento, embora não fosse exegeta, viu mais, mais fundo e de modo mais penetrante do que muitos exegetas, quando leu essas primeiras páginas sobre a criação, Adão e Eva e o chamado “pecado original”. 
No princípio, Deus fez a Terra e os céus. E criou Adão e Eva, que viviam no Éden, o paraíso terreal. Não podiam comer da árvore que estava no meio do jardim, a árvore da ciência do bem e do mal. Comeram e foram expulsos do paraíso. O que aqui está, diz Hegel, é a passagem da animalidade à humanidade e à grandeza de ser ser humano, mas também ao seu carácter dramático e mesmo trágico. Souberam que estavam nus. Comeram da árvore da ciência do bem e do mal e ficaram a saber que são seres humanos, portanto, conscientes de si mesmos, conscientes de que são conscientes, com consciência reflexiva, que os outros animais não têm. Essa é a nudez humana, na solidão metafísica: cada um está só, é si mesmo de modo único e intransferível. 
Deus também tinha dito que, se comessem, morreriam. Comeram e souberam que o ser humano é mortal, o que o animal não sabe. Quando dizemos — cada um e cada uma — “eu”, cada uma e cada um di-lo de modo exclusivo e único e sabe que há-de morrer e angustia-se face à morte: “Ai, que me roubam o meu eu”, gritava Unamuno. Esta é a constituição do ser humano. E não é possível voltar atrás, porque a entrada do jardim do Éden, símbolo da inconsciência animal, é guardada por querubins com a espada flamejante.

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