DOMINGO XIX
Jesus está preocupado em preparar os discípulos para o desempenho da missão que lhes quer confiar: acolher e servir o Reino que Deus lhes entrega, estar vigilantes e ser responsáveis. E conclui este ensinamento afirmando pela “boca” de Lucas: “A quem muito foi dado, muito será pedido; a quem muito foi confiado, muito mais será exigido”. Lc 12, 32-48.
Ilustra e embeleza o seu ensinamento com a narração de uma parábola – a dos empregados que esperam o seu senhor ao voltar da festa de casamento. Pedro sente-se questionado e pergunta: “A parábola é só para nós ou para todos?” A resposta de Jesus surge noutra parábola – a do administrador fiel e prudente que sabe gerir o pessoal da sua casa.
A atitude dos empregados e do administrador exemplifica bem o comportamento que Jesus define para os seus discípulos de todos os tempos: acolher, com satisfação, o dom que nos é oferecido, viver em confiança filial, cultivar o espírito de vigilância, ser responsável. A iniciativa da oferta pertence a Deus e proporciona-Lhe o prazer de desvendar o Seu projecto de fazer connosco uma nova família, a Sua alegria em credenciar Jesus, Seu filho, que anuncia e realiza esta feliz notícia, o Seu propósito de nos envolver plenamente, fazendo, com a humanidade, uma “parceria” de serviço, uma aliança de amor.
O Papa Francisco, no dia 4 de Agosto 2019, dia do santo Cura de Ars, pároco francês, da diocese de Lyon, escreveu uma carta pessoal aos padres, sobretudo párocos, mostrando a sua proximidade e gratidão no meio de tantas tribulações, louvando o zelo missionário e lembrando a necessidade da comunhão entre todos para a Igreja avançar na missão. E diz: “Como irmão mais velho e pai, também eu quero estar perto, em primeiro lugar para vos agradecer em nome do santo Povo fiel de Deus tudo o que ele recebe de vós e, por minha vez, encorajar-vos a relembrar as palavras que o Senhor pronunciou com tanta ternura no dia da nossa Ordenação e que constituem a fonte da nossa alegria: «Já não vos chamo servos, (...) a vós chamei-vos amigos» (Jo 15, 15).[3]
… Deixemos que seja a gratidão a suscitar o louvor e nos encoraje mais uma vez na missão de ungir os nossos irmãos na esperança; nos encoraje a ser homens que testemunhem com a sua vida a compaixão e misericórdia que só Jesus nos pode dar”.
A doação de Deus, continua a nossa reflexão, preenche totalmente o coração humano e proporciona-lhe critérios de relação consigo mesmo, com as pessoas e com os bens. Liberta-o de todos os medos, apesar da sua fragilidade e inconstância, cimenta a confiança na promessa feita, abre-o a um estilo de vida sóbrio e disponível, habilita-o para saber apreciar os bens: ter para partilhar; desfazer-se deles para não se deixar apanhar e prender pelas garras da ganância egoísta; considerá-los, sempre, como valores que apontam para o Bem supremo.
A vigilância evangélica – de que trata a parábola – merece uma atenção especial. O imprevisto espera uma oportunidade e pode apanhar os discípulos desprevenidos e sonolentos. A lucidez e a responsabilidade constituem as atitudes típicas de quem está “em serviço” e quer ser fiel. Não desperdiçará nada de bom nem deixará passar qualquer ocasião propícia ou saberá mesmo provocá-la. E, então, surgirá o reconhecimento de quem lhes confiou a responsabilidade – como tão bem narra a referida parábola. Bela lição e óptimo ensinamento!
A autenticidade do discípulo fiel está em saber conformar-se com Jesus Cristo, com o seu Evangelho e seus valores, o seu estilo de vida e escala de prioridades. Em conformar-se e adquirir a forma das pessoas de bem, apreciadoras dos sonhos e cultoras da fantasia em que se desenha um futuro feliz para todos/as. Em conformar-se consigo mesmo e abrir horizontes de esperança à sua vida, com esforço abnegado e confiança em Deus. Que felicidade ser cristão autêntico e fiel! Experimenta mais uma vez.
Georgino Rocha