Miguel Esteves Cardoso disserta hoje sobre o seu relógio que estaria esquecido numa gaveta e conta que demorou algum tempo a confirmar se trabalhava ou não. Depois, acertou o dia e hora e aplicou-o no pulso, porque, se é um relógio de pulso, tem de estar no pulso. E as suas sempre oportunas e belas cogitações levaram-no a deixá-lo ficar no sítio certo, porque, afinal, ver as horas no telemóvel dá mais trabalho. Com um gesto maquinal, instantaneamente ficamos em dia com as horas certas.
Ora, comigo aconteceu coisa semelhante, quando amigos, olhando o meu relógio no pulso, me garantiram que tal já se não usa, porque o telemóvel resolve a nossa questão permanente das horas e dia em que estamos. E assim, guardei o relógio numa gaveta, passando a consultar o telemóvel quando havia necessidade de me situar no tempo. Pois sim… Passei a vida a tirar o telemóvel do bolso, a ligá-lo, etc., etc,. Não resultou. Era uma trabalheira. E voltei ao relógio no pulso, mantendo o hábito de uns quase 70 anos. Constantemente, sem dar por isso, com um simples gesto, fico a par do tempo que me situa nos tempos.
Fernando Martins