sexta-feira, 20 de setembro de 2019

D. Afonso Henriques em S. Pedro do Sul







Dom Afonso Henriques é muito venerado em São Pedro do Sul, particularmente nas Termas mais frequentadas de Portugal, com 35% dos aquistas lusos a preferi-las no cômputo do termalismo português.
Não escasseiam informações turísticas na zona pedestre com notas histórias, que são outras tantas referências da vida das águas quentes (cerca de 70.º) com cheiro a enxofre,  desde há mais de dois mil anos a curar ou a aliviar quem sofre.
Não será de estranhar que uma pastelaria lhe preste uma singular homenagem com a presença do nosso primeiro rei a ocupar um lugar de destaque. Logo à entrada, uma estátua do rei, sentado mas com olhar arguto, olha de soslaio quem entra, com cara de poucos amigos, ao jeito de quem pretende fiscalizar quem vem à cata de doces de todo o país, para acompanhar um saboroso café, tomar um refresco ou acalmar os nervos ou o estômago com um chá quentinho.
Lá dentro, o rei Afonso, o primeiro de seu nome, com sua filha Teresa e seu filho Sancho, que lhe haveria de suceder, podem ser apreciados por todos os clientes, lendo o documento  que Dona Teresa exibe. 
O serviço é pronto e eficaz, acolhedor e asseado, e dá gosto estar por ali a ver quem chega, na perspetiva de encontrar gente conhecida, o que não aconteceu durante toda a semana. 

Georgino Rocha - Elogio à esperteza criativa

DOMINGO XXV


Hoje, no Evangelho, Jesus apresenta aos discípulos uma história surpreendente, escandalosa, desconcertante, provocadora. Um homem rico é gravemente lesado pelo administrador a quem confiou a gestão dos bens. Descoberta e denunciada a fraude, é despedido, mas ele inventa uma saída engenhosa que lhe dá garantias de ter quem o contrate no futuro e revela capacidades que merecem o elogio do proprietário.
Os ouvintes hão-de ter pensado: Como é possível felicitar quem rouba, é corrupto, usa as piores “artes” para assegurar o futuro? Seguindo a bela narração de Lucas, vamos aprofundar o alcance da parábola do administrador infiel, assim conhecida. Lc 16, 1-13
Jesus, na maioria das suas parábolas, mais do que ensinar pretendia provocar, abalar as convicções de crentes acomodados, passivos, quase em letargia. Ouvem e percebem a novidade da mensagem anunciada, mas não se dispõem a pô-la em prática, a fazê-la vida. A de hoje é típica, tem este propósito declarado. 
O elogio à esperteza é feito por um proprietário rico, a um seu administrador desonesto. E surge na narração de uma parábola de Jesus sobre o uso dos bens materiais. Visa despertar o entusiasmo dos discípulos para procederem de igual maneira. E aponta, claramente, para a urgência de, perante situações de risco e de crise, saber encontrar soluções criativas e sensatas.
Os adversários de Jesus riem-se dos seus ensinamentos sobre o dinheiro, considerado por eles como uma bênção de Deus, um sinal da sua providência, uma garantia de predestinação. Quase absolutizavam a sua posse e ostentação. Sem olharem muito à licitude dos meios para o alcançar. E assim, a gente humilde mais empobrecia, enquanto uma minoria, alavancada numa interpretação deficiente da Escritura Sagrada, enriquecia cada vez mais.
Jesus recorre a várias formas didáticas para contestar esta interpretação e restituir aos discípulos e, por eles, a todos nós, a autêntica função dos bens materiais, designadamente do dinheiro. Serve-se de diálogos directos, de ditos sentenciosos, de parábolas-retrato que reproduzem situações de vida conhecidas.

quinta-feira, 19 de setembro de 2019

Notas do meu diário – Uma passagem por Santa Cruz da Trapa

AO  POVO - Os filhos e amigos de Santa Cruz da Trapa - 1926
A Lita junto à Cruz no Largo do Calvário



Homenagem da Freguesia de Santa Cruz da Trapa ao saudoso santacruzense Agostinho Valgode

Centro Cultural - Biblioteca César Rodrigues 

Homenagem à Casa do Povo
Poema no Largo do Calvário

Poema no Largo do Calvário

Hoje foi dia de passar por Santa Cruz da Trapa, terra que conheci há uns 40 anos, aquando da nossa ligação, em tempo de férias, a Serrazes. Quase a não reconhecemos, mas disso já estamos habituados. O Turismo alertou-nos para uma curiosidade a ter em conta: O povo quer que a sua vila seja conhecida como terra de poetas, havendo já dois livros publicados a partir de recolhas ou seleção; e como prova desse interesse, no largo há poemas para sublinhar essa pretensão. 
Há décadas, quando por ali cirandámos, demos um saltinho a São Cristóvão de Lafões. O mosteiro  em ruínas, com existência lavrada por volta de 1123, teria sido mandado edificar por D. João Peculiar, que veio a ser Bispo do Porto e Arcebispo de Braga, onde está sepultado. Este D. João Peculiar foi uma personalidade marcante e conselheiro de D. Afonso Henriques. Foi a Roma para convencer o Papa a reconhecer D. Afonso como rei. Tal reconhecimento estaria, como esteve, na base da fundação do Reino de Portugal. 
Quis colher informações, mas o Centro Cultural Casa do Povo e a Biblioteca César Rodrigues estavam encerrados, antes do meio dia de hoje. Um transeunte deu-nos  como provável razão o período  de férias. Paciência... ficará para a próxima visita, se tal vier a acontecer.

Fernando Martins

quarta-feira, 18 de setembro de 2019

Notas do meu diário - O Vouga vai ficar limpo e asseado

o rio em plena caminhada 

Rio assoreado, presentemente

Os homens teimam e vão conseguir limpar o Vouga

1. O rio Vouga nasce na serra da Lapa, em Quintela, Sernancelhe, Viseu. Um fio de água que nasceu a sonhar com o oceano atlântico, mar que me habituei a ver desde tenra idade. Isto aprendia-se na escola primária e ficava para a vida. Hoje não tem grande interesse, que o mundo das juventudes atuais tem mais que fazer. Com um clique, os telemóveis dizem tudo em segundos.

2. Depois, na sua passagem, batizou com as suas águas virgens terras que ainda hoje se orgulham do seu padrinho: Sernada do Vouga, Sever do Vouga, Macinhata do Vouga, Pessegueiro do Vouga, Mourisca do Vouga, Valongo do Vouga, Arrancada do Vouga, Lamas do Vouga e nem sei que mais. Contudo, no seu caminhar, ora manso ora agitado, vai adotando outros filhos que lhe perpetuam a existência. São os afluentes: Águeda, Caima, Mel, Gresso ou Branco, Lordelo, Mau, Sul, Teixeira e Zela. Aqui, em Sever do Vouga, mora o Sul. Daí o nome desta ridente cidade. 

3. Com os anos e com os tempos de fogos as cinzas e outros detritos, mas também com diabruras de gentes descuidadas e da natureza por vezes madrasta... o rio ficou assoreado. Fechadas comportas, represas ou sistemas semelhantes que nem ousei indagar, o homem, com a sua teimosia e visão de futuro, que o turismo termal a isso obriga, vai torná-lo limpo e asseado. Todos merecemos e precisamos disso. 

F. M.

A saúde é coisa preciosa

ESCRITO NA PEDRA 


"É coisa preciosa, a saúde, e a única, em verdade, que merece que em sua procura empreguemos não apenas o tempo, o suor, a pena, os bens, mas até a própria vida; tanto mais que sem ela a vida acaba por tornar-se penosa e injusta" 
Michel Eyquem de Montaigne 
(1533-1592), ensaísta e escrito


No PÚBLICO de ontem 

terça-feira, 17 de setembro de 2019

Notas do meu diário - Estávamos mesmo a precisar de sair

Com toda a calma do mundo 
O calor aperta 
Sem pressas 
Estávamos mesmo a precisar de fugir de alguma monotonia da vida. Deixámos para trás os ares marinhos para podermos respirar as tranquilidades serranas. Os ares do oceano e da laguna, que nos acompanham desde o desabrochar para a existência terrena, voltarão quando descermos das serranias, em São Pedro do Sul, rumo ao mar, com o rio Vouga a tiracolo. 
Quando nos afastámos da ria, uma boa hora depois uns chuviscos refrescaram o ar, mas o sol, fulcro de vida e doce companheiro, que acompanhamos desce o seu nascer até se esconder no oceano,  à tardinha, voltará à ribalta onde quer que estejamos. E as férias verdadeiramente começaram. 
Não há projetos de almoço nem de jantar, não há horários a cumprir, não há gatos a correr nem cães a ladrar à roda da nossa residência de todos os dias, desde há 54 anos, não há jardim nem árvores para regar (outros o farão), não há galinhas a cacarejar, não há campainha nem telefone a tocar... Eu e Lita estamos por aqui. E disso darei nota ao sabor do vento que passa, mansinho até ver.

F. M.

Nota: Reeditado em 18-09-2019, pelas 18h14

segunda-feira, 16 de setembro de 2019

Bento Domingues - Ampliar as perguntas


"Quando se fala das dificuldades do diálogo da Igreja com a sociedade, parece admitir-se que está consumado o exílio da fé cristã no mundo da cultura ocidental e que já não existem pessoas e grupos com sede e fome do Evangelho de Jesus."

1. O mês de Setembro, a ritmos diversos, abre um novo Ano Pastoral. As dioceses, as paróquias e os diversos movimentos começam a executar programas previstos para alimentar, nos praticantes da vida eclesial, formas inovadoras de ir ao encontro das pessoas e dos grupos que parecem longe, indiferentes ou hostis às igrejas.
O programa da diocese de Lisboa, para 2019-2020, tem uma formulação muito generosa, mas que se pode prestar a alguns equívocos: “Sair com Cristo ao encontro de todas as periferias!” Dito assim, até parece que Cristo está ausente das periferias, esperando que alguém se lembre de o conduzir para fora de portas.
De facto, em regime de Cristandade, a pastoral mais corrente – não a única – resumia-se em apresentar, na Catequese, as verdades a crer, os mandamentos a observar e os sacramentos a receber. Na saída para fora dos espaços da Cristandade, supunha-se que era o missionário que levava Cristo para as terras onde Ele nunca tinha chegado. Ele teria de propor aos gentios o Credo cristão, os mandamentos da Lei de Deus e da Igreja, assim como administrar os Sete Sacramentos.
Com o advento da Modernidade, as sociedades ocidentais, com ritmos, formas e em graus diversos, emanciparam-se da tutela das Igrejas e das Religiões. Alguns falam da secularização, não só da sociedade, mas também da vida privada. Antes, nascer e tornar-se cristão eram acontecimentos quase simultâneos. O ambiente cultural exigia a transmissão dos rituais da fé. Com a liberdade religiosa, cada um terá de fazer a sua escolha. As referências cristãs passam a estar fora do ambiente cultural. Por vezes, sobretudo onde vigoravam programas estatais de ateísmo militante, tentou-se eliminar as próprias marcas que tinham deixado na cultura.

domingo, 15 de setembro de 2019

Anselmo Borges - Francisco em África para o mundo

Papa Francisco em Moçambique
“Em Moçambique fui semear sementes de esperança, paz e reconciliação numa terra que tanto sofreu no passado recente por causa de um longo conflito armado e que na passada Primavera foi vítima de dois ciclones que causaram danos muito graves.” 

Papa Francisco 

1. O Papa Francisco voltou a África. Numa viagem de contrastes: por um lado, Moçambique e Madagáscar, dois dos países mais pobres do mundo — Moçambique, com 70% dos 28 milhões de habitantes a viver abaixo do limiar da pobreza, é o décimo mais pobre; Madagáscar é o quinto mais pobre —, e, por outro, a República de Maurício, onde a economia cresce cerca de 5% ao ano, é uma ilha onde fazem férias turistas ricos. Francisco levava na bagagem objectivos essenciais: uma paz duradoura, o cuidado com o meio ambiente, o diálogo inter-religioso, um mundo globalizado justo. Numa visita multitudinária, em todo o lado foi recebido em festa e júbilo, com danças e tambores, como só os africanos sabem fazer. 
A viagem decorreu entre 4 e 10 deste mês de Setembro. Ele próprio, no passado dia 12, já em Roma, descreveu o seu périplo por África e o que o moveu: “O Evangelho é o mais poderoso fermento de fraternidade, de liberdade, de justiça e de paz para todos os povos.” 

1.1. “Em Moçambique fui semear sementes de esperança, paz e reconciliação numa terra que tanto sofreu no passado recente por causa de um longo conflito armado e que na passada Primavera foi vítima de dois ciclones que causaram danos muito graves.” 
Em Moçambique, clamou perante as autoridades: “Não à violência que destrói, sim à paz e à reconciliação.” E, sobre o processo de paz, no qual tem tido papel fundamental a Comunidade de Santo Egídio, quis exprimir o seu “reconhecimento”, dele e de grande parte da comunidade internacional, pelo esforço em ordem à reconciliação, que, sublinhou, “é o melhor caminho para enfrentar as dificuldades que tendes como Nação”. “Vós tendes uma missão valorosa e histórica a cumprir: Que não cessem os esforços enquanto houver crianças e adolescentes sem educação, famílias sem tecto, operários sem trabalho, camponeses sem terra: bases de um futuro de esperança porque é futuro de dignidade. Estas são as armas da paz.” 

sexta-feira, 13 de setembro de 2019

Georgino Rocha - Alegrai-vos comigo e façamos festa!

DOMINGO XXIV 

Filho pródigo
A misericórdia de Deus é o centro do Evangelho da liturgia de hoje apresentado a partir de três parábolas acessíveis: a da ovelha e a da moeda perdidas e a do filho “pródigo” lançado na aventura da sua liberdade. Em cada uma, há um protagonista diligente que aponta para mais longe: o agir de Deus para com a humanidade, para com o seu povo. Parábolas narradas por Jesus ao ver a multidão que o acompanha. Lc 15, 1-32.
Lucas, médico de grande sensibilidade e ternura, anota as “intenções” dos que seguiam Jesus e o contraste que se ia acentuando. Os indesejados da sociedade escutam-no com interesse. Os defensores da ordem estabelecida fazem-se ouvir em comentários críticos. Publicanos e pecados aproximam-se. Fariseus e escribas distanciam-se. Jesus, como sábio narrador de contos e “histórias”, aproveita a circunstância para realçar, uma vez mais, a sua missão de dar a conhecer o autêntico rosto de Deus Pai. E que bem que o faz!
Recorre a exemplos da vida corrente: pastor que busca a ovelha perdida, dona de casa que procura moeda desaparecida e pai de dois filhos com comportamentos diferentes. Em cada um destes casos, destaca traços que configuram o modo de ser e agir de Deus: o apreço pela harmonia e proximidade que se alteram inesperadamente: a ovelha perdida do rebanho, a dracma desaparecida na casa da dona e o jovem aventureiro ansioso de liberdade e de novas experiências.
Este apreço constitui uma autêntica novidade que supera a simples tolerância e se situa no amor generoso. Novidade provocante numa sociedade que dificilmente aceita o diferente, respeita o diverso, admite o estranho.

quinta-feira, 12 de setembro de 2019

Faleceu José Manuel Sacramento

A roda dos amigos continua a encolher a passos largos. Paulatinamente, os elos físicos vão caindo como as folhas no outono. Ficam os elos das recordações e amizades imorredoiras. Ontem foi o José Manuel Sacramento que conheci há muito, sobretudo depois que segurou o leme de O Ilhavense. De seu pai, que também evoco hoje, herdou o gosto pelo jornalismo e a paixão pela sua terra que defendia com coragem, sem nunca renunciar aos princípios da verdade e da frontalidade. 
Particularmente, facilitou-me pesquisas nos arquivos do seu jornal, dando-me informações preciosas sobre temas dos meus interesses. 
O nosso último contacto aconteceu em finais de Novembro, dando-me conta da doença que o inquietava. Nunca pensei, nunca pensamos, que pode ser fatal. E foi. 
Ontem, partiu para Deus, que sempre e tudo perdoa. Até um dia, amigo Sacramento. 
Os meus pêsames a toda a família. 

Fernando Martins

quarta-feira, 11 de setembro de 2019

Cruzeiro dos Centenários na Gafanha da Encarnação

Para memória futura: 
Discurso do Pe. Rezende, 
primeiro prior da Gafanha da Encarnação, 
na inauguração do cruzeiro em 1940

Cruzeiro renovado (foto da Junta de Freguesia)



Lê-se no Correio do Vouga, jornal católico e órgão da Diocese de Aveiro:

Pe. Rezende
"Conforme prometemos no último número deste jornal, publicamos hoje [14 de Setembro de 1940] o discurso proferido pelo Rev. P.e João Vieira Rezende, na inauguração do Cruzeiro dos Centenários, na Gafanha da Encarnação:

"Eis-nos aqui, em frente dêste monumento histórico, que na algidez e dureza da sua pedra, ficará a atestar pelas eras em fora a nossa fé e a nossa piedade. Alem disso, será êle também um documento e um testemunho de que nós, o povo da Gafanha da Encarnação, não quisemos ficar insensíveis e indiferentes a êsse movimento de fé e de patriotismo, que há quási dois anos tem alastrado de norte a sul de Portugal.
Colaboraremos também nós, com essas entusiásticas e vibrantes manifestações dos dois amores lusitanos: o amor de Deus e o amor da Pátria. Êste humilde plinto, encimado pela cruz (símbolo de fé e de fraternidade) foi edificado por nós neste cantinho da frèguezia, em comemoração dos dois centenários, dessas festas evocativas da rota gloriosa que Portugal traçou no mundo, desde o seu providencial nascimento em Ourique até aos tempos auspiciosos que vão passando. Nós queremos também neste ano jubiloso de 1940, relembrar os feitos heróicos, praticados pelos portugueses, quer nas horas festivas da nossa Independência, quer nas horas redentoras da nossa Restauração, quer ainda nestas horas que passam, de verdadeira e reconstrutiva Revolução social.
Quando D. Afonso Henriques combatia pela nossa Independência nos campos de Ourique, viu no Céu o sinal que lhe prometia a vitória. Na Cruz que Cristo lhe mostrava lá no alto, estavam garantidos o milagre e a promessa que, em pouco tempo, se haviam de realizar. In hoc signo vinces - Com êste sinal vencerás! estava lá escrito. E o príncipe venceu. E aquela hora que Deus marcou com êste sinal, no Céu, firmou a nossa Independência, já oito vezes secular, e, o que Portugal foi durante êsses oito séculos dí-lo a nossa História cheia de heroismos, repleta de tradições gloriosas.
A Cruz do Céu de Ourique, tinha-se ligado num amplexo imorredoiro à espada victoriosa do Rei Conquistador, e aquele abraço da Cruz e da Espada naquele campo histórico, foi o pronúncio do eterno cantar, sempre glorioso e cavalheiresco, da alma nacional.

Alexandrina - A primeira batizada na Gafanha da Senhora da Nazaré

Alexandrina Cordeiro
Não se sabendo quando, de facto, se concretizou a aplicação do decreto do Bispo de Coimbra da ereção canónica da freguesia, apesar de o Padre João Vieira Resende dizer que tal aconteceu no dia 10 de Setembro de 1910, sabe-se, todavia, que o primeiro Prior da Gafanha da Nazaré, Padre João Ferreira Sardo, batizou, no dia seguinte, 11, Alexandrina, “na Capella da Calle da Villa, d’este logar da Gafanha e freguesia de Nossa Senhora de Nazareth, do mesmo logar servindo provisoriamente de Egreja parochial da freguesia de Nossa Senhora de Nazareth, concelho d’Ilhavo, Diocese de Coimbra”, na qualidade de pároco encomendado. 
Alexandrina, a primeira pessoa batizada na nova paróquia, com o assento n.º 2, nasceu em 26 de Agosto de 1910, sendo filha legítima de Domingos Ferreira e de Joana de Jesus, jornaleiros, naturais desta freguesia e nela residentes e recebidos na freguesia de Ílhavo. 
O assento n.º 1 apenas apresenta o nome de Maria, sem qualquer outra anotação no corpo da primeira página. Porém, na margem esquerda, debaixo do nome referido, tem a informação de que faleceu a 28-11-1910. 
Sobre Alexandrina Cordeiro, como sempre foi conhecida, podemos adiantar que durante toda a vida foi uma pessoa envolvida na comunidade católica, tendo integrado, inclusivamente, uma comissão que se deslocou aos EUA para angariação de fundos destinados à construção do Lar Nossa Senhora da Nazaré. 
Frequentou na infância a catequese dada pelo Padre Sardo, que lhe ministrou, depois, a primeira comunhão. E na inauguração da estátua do nosso primeiro prior, no Jardim 31 de Agosto, foi distinguida com a honra de descerrar o monumento, a convite do então Governador Civil de Aveiro, Gilberto Madail. Mulher dinâmica, faleceu em 12 de Outubro de 1995. 
E de onde vem este apelido Cordeiro, assumido pela família, já que os seus pais não assinavam tal apelido? Segundo sua filha Dália, o apelido nasceu de seu avô, Domingos Ferreira, que guardava um rebanho antes de casar, imitar na perfeição os balidos dos cordeiros. De tal forma, que o Cordeiro, enquanto apelido, se impôs, passando, naturalmente, para os filhos e netos. 

Fernando Martins 

Dia do Bombeiro Profissional - 11 de Setembro


Celebra-se hoje, 11 de Setembro, o Dia do Bombeiro Profissional, mas nele ouso incluir os Bombeiros Voluntários, porque os objetivos que perseguem é o mesmo: A defesa das pessoas e bens em fogos, acidentes, catástrofes, doença, mas ainda na proteção de tanta gente indefesa, perdida, esquecida, abandonada. Todos estão disponíveis, atentos e determinados para agir. 
Nestes tempos de calor e vento fortes, os Bombeiro são presença assídua nos meios de comunicação social, não tanto para falar, missão que cabe aos dirigentes, mas para agir, contra as garras das chamas devastadoras, que deixam rastos de dor indescritíveis de quem perdeu tudo ou muito do que construiu ao longo de vidas de canseiras. 
A nossa homenagem vai toda para os Bombeiro, que bem merecem o nosso apoio e ajuda possíveis, sem esquecer que eles dão, imensas vezes, o impossível.

F. M. 

Notas do Meu Diário – O fim de semana (2)

Jardim Oudinot e ambiente 


No sábado, passámos pelo Jardim Oudinot entre o meio-dia e a hora do almoço. Nas mesas com bancos, ou no chão, à sombra das árvores, famílias descontraídas ajeitavam-se para os petiscos preparados para o momento. Senti como o Verão proporciona convívios contagiantes, mas daqui a uns dias o Outono roubar-nos-á, decerto, a possibilidades de partilha num ambiente acolhedor como este, ora vivido, que o ventinho, inebriado pela maresia, vai temperando. 
Olhei as palmeiras, altíssimas, com as novas raízes no cocuruto, com sistema, ao que julgo, para as alimentar, a partir de ordens emanadas de baixo, naturalmente. Um torneio ou competição estava armado ao fundo, no outro extremo do jardim, para quem o desejasse ver e junto da réplica da guarita, agora transformada em bar, olhei à volta para contemplar o Farol e o canal de Mira, qual espelho que reflete o céu na sua pureza de um dia claro. 
No bar da Marina, pedimos água, simplesmente água. A empregada, com natural simpatia, serve-nos duas garrafinhas de água. Garrafinhas de vidros e copos também de vidro. Achei curioso e perguntei. “É em nome do ambiente que nos servem a água em garrafas de vidro?” . “Exatamente.” — disse-nos a jovem. E acrescentou: “Estamos a apostar nisso.” 
Gostei, sim senhor. 

F. M. 

terça-feira, 10 de setembro de 2019

Festa em honra da Senhora dos Navegantes

14 e 15 de Setembro



Depois das festas em honra da nossa Padroeira, Nossa Senhora da Nazaré, a paróquia volta a animar-se, 15 dias depois, agora com as festas de Nossa Senhora dos Navegantes, venerada na igreja do Forte da Barra. Destaca-se nesta festa a já célebre procissão pela Ria de Aveiro que atrai muita gente de perto e de longe, não só para honrar a Senhora da devoção dos homens do mar e da laguna, bem como suas famílias, mas também para participar e apreciar as múltiplas embarcações engalanadas que se incorporam na procissão, com passagem obrigatória pela terra de São Jacinto e da Senhora das Areias, que aplaude e venera a Senhora dos Navegantes, também sua, como povo profundamente ligado ao mar e à ria.
Os festejos são uma organização do Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré, contando com os apoios de diversas entidades particulares, religiosas e oficiais, nomeadamente, do Porto de Aveiro e  Autarquias, mas ainda da paróquia de Nossa Senhora da Nazaré, sem os quais tudo seria muito difícil de levar a cabo com a dignidade habitual.
Destas festas, importa destacar a procissão lagunar com início marcado para as 14 horas, estando previsto o desembarque pelas 16h30 no Forte da Barra, seguindo-se a Eucaristia junto à igreja daquele lugar da Gafanha da Nazaré, fulcro de toda a devoção a Nossa Senhora e ao Senhor da Vida, que não deixará de ouvir as preces dos fiéis católicos, em especial homens do mar e seus familiares.
O Festival de Folclore que faz parte destas festas dedicadas à Senhora dos Navegantes conta este ano com a participação do Rancho Folclórico da Casa do Povo da Aguçadoura (Póvoa do Varzim), Rancho Folclórico do Centro Recreativo e Desportivo do Fial (Albergaria a Velha) e Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré, que tudo organiza, desde a restauração desta festa com procissão pela Ria.
A organização espera que os proprietários de barcos se associem para, com a sua participação, tornarem a festa mais vistosa e atraente para quem nos visita.

Fernando Martins

segunda-feira, 9 de setembro de 2019

Notas do meu Diário – O fim de semana (1)

Sábado – Um livro 


No sábado, comprei um livro de viagens. Gosto imenso de literatura de viagens porque nos permitem viajar sem sair de casa. Não é o mesmo, mas sempre aprendemos e alimentar sonhos de seguir os passos do viajante que partilha com o mundo a sua vivência. O livro, “Leva-me contigo”, é da autoria de Afonso Reis Cabral, o autor de “O Meu Irmão”, um trabalho premiado e de que gostei bastante. 
“Lava-me Contigo” relata-nos a peregrinação do autor a caminho do mar, partindo de Chaves e seguindo até Faro pela Estrada Nacional 2, 739 quilómetros,  durante 24 dias. Por companhia, contou com muitos amigos, conhecidos e desconhecidos, que o animaram, via Facebook, dia a dia, durante todo o trajeto.
Deixando que a estrada o guiasse, “cruzou montanhas, e planície, mergulhou em rios, caminhou debaixo de tempestades e sob o sol ardente”. E não adianto mais para suscitar a leitura do relato. A mítica estrada, a mais comprida de Portugal, foi vencida, a pé, pela primeira vez,  pelo Afonso Reis Cabral. Outros já o fizeram de carro, de bicicleta, de moto, mas a pé, qual maratona difícil de vencer, foi ele o primeiro. É ele o recordista. E não faltarão outros corajosos a segui-lo.

F. M. 

domingo, 8 de setembro de 2019

Anselmo Borges - Sobre a campanha eleitoral

 O  que se propõem fazer os partidos a favor da natalidade e da família? 
“Metade dos deputados no Parlamento não fazem 
nada de concreto ou sequer útil, anda lá só a ocupar o tempo.”

Macário Correia

1. É evidente que estou contente com o crescimento económico, com as notas positivas das agências de rating, com a diminuição do desemprego... Significa esse meu contentamento que participo da aparente euforia nacional sobre a situação do país? Não, infelizmente, não. E vou tentar explicar. 
Com a dívida pública que temos, com o endividamento privado para o consumo, dentro do fascínio causado pela percepção de que a situação económico-financeira está como nunca, com a recessão que se anuncia para a economia mundial (a Alemanha estagna, estão aí a “guerra” comercial entre os Estados Unidos e a China, o Brexit, a instabilidade na Itália...), e dado que vivemos internamente mais de uma situação conjuntural favorável do que de investimentos sólidos para um desenvolvimento estrutural sustentável, receio que o país venha a confrontar-se com percalços inesperados. 
Tenho a sensação de que a aparente euforia tenha na sua fonte um manto de mentira e ilusão que se foi abatendo sobre o país. Porventura acabou a austeridade? Veja-se o preço dos combustíveis, a carga de impostos e taxas e mais taxas, não sem sublinhar os impostos indirectos, que são os mais injustos porque cegos. E as famosas cativações? A saúde está bem? Quem é que o pode dizer e garantir com verdade? A educação está bem? Sinceramente, com louváveis excepções até de excelência, não creio: falo com professores, autênticos e dedicados profissionais, e dizem-me que não; pessoalmente, temo que, com alguns novos métodos já superados noutros países, o permanente experimentalismo e o imenso facilitismo reinante, entre outras coisas, estejamos a contribuir para o apagamento do pensamento crítico e o que o escritor Pérez-Reverte denunciou recentemente: “nunca o ser humano foi tão estúpido como agora”; em relação aos professores, veja-se a instabilidade em que vivem: há antigos alunos meus da Faculdade que andam há anos de escola em escola, percorrendo o país de norte a sul, dificilmente podendo constituir família ou ter filhos, e instala-se a desmotivação; no ensino superior, reconheço manchas de excelência também, mas não sei se está, no seu todo, a contribuir para que o nível de conhecimento real e crítico se mantenha, e é necessário apoiar harmonicamente tanto as ciências ditas exactas e as tecnologias como as ciências humanas, pois, sem ética e humanismo, para onde pode levar-nos o progresso tecnológico? E ainda: em vez de se acabar com as propinas para todos, atribua-se bolsas aos mais frágeis economicamente, mas capazes.

Bento Domingues - De Agosto para Setembro, Deus mudou?



1. Quando interrompi estas crónicas, as preocupações dos meios de comunicação, acerca do fenómeno religioso, estavam centradas em algumas sondagens, nomeadamente numa realizada na Alemanha, revelando que 52% dos inquiridos acreditava em Deus, mas só 22% se declarava religioso e comprometido com alguma instituição religiosa. Saiu daí o slogan: “espiritualidade sim, religião não”! Uma minoria mais jovem designava-se a si própria como “crente sem religião”.
Não vou regressar hoje a essa problemática. Com a modernidade, a religião deixou, em alguns países, de estruturar o Estado e a sociedade, mas só por miopia se poderia julgar que iria desaparecer. Foi-se reconfigurando, de modos diferentes, segundo as geografias culturais. As medições estatísticas são importantes para detectar alguns sinais de mudança. O futuro é, no entanto, o tempo das surpresas. Por razões que não irei explicitar, suponho que haverá muitas mudanças e eclipses, mas não me parece que o fim da religião, mesmo no Ocidente secularizado, esteja para breve.
Parece-me que o diálogo inter-religioso, no qual os participantes sejam capazes de rever as respectivas posições, no que poderão ter de agressivo, será um caminho com futuro. S. Pedro deixou uma boa regra para os cristãos: estai sempre prontos a dar a razão da vossa esperança a todo aquele que vo-la pede; fazei-o, porém, com mansidão e respeito [1].
S. Pedro tocou no essencial: convicção, razão e bons modos são o caminho do cristão e, se o diálogo correr mal, mais vale sofrer do que fazer sofrer.

sábado, 7 de setembro de 2019

Joana Rosa de Jesus nasceu neste dia

1788 – 7 de Setembro – Nasce Joana Rosa de Jesus




Em 7 de Setembro de 1788 nasceu Joana Rosa de Jesus, também conhecida por Joana Maluca ou Joana Gramata. Viria a falecer em 1878, com 90 anos de idade, portanto.
O apelido Maluca veio de seu marido, José Domingos da Graça, a quem chamavam “o Maluco”, no dizer do primeiro pároco da Gafanha da Encarnação, padre João Vieira Rezende, autor da Monografia da Gafanha.
Quando faleceu, Joana Maluca deixou nove filhos e 66 netos, que chegou a conhecer, tendo todos eles deixado prole.
Diz o Padre Rezende: “É claro que, uma geração tão numerosa e florescente, entroncada numa idade tão provecta, e a quem ela assistia como senhora, e rainha, deu-lhe o direito de crismar a sua povoação, a Gafanha-da-Gramata, com a alcunha que ela tinha recebido do marido. Era de justiça o privilégio, que os lugares circunvizinhos lhe concederam. Aparecer no local mal povoado uma macróbia, chefiando um povo de 66 netos, dava direito a consagração que ficasse marcando nas gerações futuras – mesmo como aproveitável lição contra as nefandas práticas do maltusianismo, agora em moda.“Ainda hoje [1944] existem na Gafanha da avó Maluca, na Gafanha-da-Maluca, muitos Domingos da Graça, seus descendentes, mais conhecidos por Malucos. Desta vez foi a Joana maluca quem deu o nome a esta Gafanha."

Nota: Publico a igreja antiga da Gafanha da Encarnação, por falta de uma foto da mais famosa antepassada daquela freguesia e paróquia. 

sexta-feira, 6 de setembro de 2019

Georgino Rocha - Livres para seguir Jesus

Domingo XXIII



"Só em liberdade, se pode ser cristão. 
Só na verdade, se alicerça, com segurança, a autêntica liberdade."

Jesus prossegue o seu caminho, após a paragem em casa do fariseu ilustre onde toma uma refeição juntamente com outros convivas que procuravam ocupar os melhores lugares. Jesus comenta esta atitude exortando a cultivar sentimentos de humildade e a ser atencioso para com os outros.
De novo se agrupa muita gente que não desiste de ir com Ele, de ver quem o procura, de sentir a verdade do que lhes diz e observar a delicadeza que tem para com todos. Era “uma grande multidão”, anota Lucas, o evangelista investigador. Lc 14, 25-33. Parecia germinar no coração dos acompanhantes alguma sintonia com Jesus e manifestar-se o desejo de continuar a ouvir a sua pregação. Ou haveria, entre eles, outros interesses vários e contrastantes?
“Jesus percebe que nessa «massa de gente» há atitudes muito diversas, afirma José Manuel Fernandes, comentador deste episódio na revista Homilética: os curiosos, os que o espiavam, os interessados, os sensacionalistas, os que andam por andar. E num gesto significativo, Jesus volta-se para deixar claras as condições do seguimento”. E quais são elas? São as que garantem a liberdade criativa e generosa; são as que têm a ver com a família, com os interesses pessoais e com os bens particulares (riqueza).
“Se alguém vem ter comigo, e não me preferir… não pode ser meu discípulo”. (Esta tradução é a da liturgia, pois o que Jesus diz no original é odiar e renunciar, uma vez que não havia no arameu expressão oposta a amar). Por isso, o texto litúrgico recorre ao verbo preferir que significa antepor, “priorizar”, dar o primeiro lugar que abre horizontes novos ao candidato a discípulo.

quinta-feira, 5 de setembro de 2019

Festa dos Bacalhoeiros - 28 de Setembro

Bacalhoeiros (Foto da CMI)

No próximo dia 28 de setembro, vai realizar-se a Festa dos Bacalhoeiros. O encontro terá lugar no Museu Marítimo de Ílhavo e no Navio-museu Santo André. Esta é uma oportunidade para evocar memórias da Faina Maior e para conviver num ambiente acolhedor. O almoço será servido no Jardim Oudinot. As inscrições importam em 7,50 €, limitadas a 200 participantes, e terão de ser feitas até 25 de setembro (234 329 990 ou visitas.mmi@cm-ilhavo. pt).
Sempre admirei os bacalhoeiros, os homens que "alimentaram" no nosso espírito, com o seu esforço e coragem, a Saga da Pesca do Bacalhau, em condições sub-humanas, muitos deles desde a juventude, sobretudo na pesca à linha. 
Em obras diversas, tem-se falado muito, tantas vezes de forma bastante expressiva, sobre os nossos bacalhoeiros, mas tenho para mim que a nossa gente nova está longe de compreender, com realismo, o que foi a vida destes homens nos bancos da Terra Nova e da Gronelândia, enfrentando ondas alterosas e a ausência do aconchego dos seus lares e familiares. 
Daqui os saúdo com muita amizade e admiração, nelas incluindo a memória dos que já não estão entre nós. 

F. M. 

quarta-feira, 4 de setembro de 2019

Região de Aveiro a preto e branco


Gafanha da Nazaré - Carregar moliço - Década de 70 do séc. XX
Gafanha da Nazaré - Porto Bacalhoeiro - Década de 70 do séc. XX

Gafanha da Nazaré - Estaleiro - Década de 70 do séc. XX
Possuo uma satisfatória memória visual para encontrar livros, muito embora me engane muitas vezes. Mas ontem, quando desejei reler algo de diferente, dei de caras com um livro de fotos antigas da nossa região (AVEIRO — Imagens de um século – Do espólio de coisas de Aveiro deixado por João Sarabando), organizado por Jorge Sarabando. 
Tive o privilégio de conhecer João Sarabando, jornalista, etnógrafo e figura de referência marcante na cidade dos canais, e não só, merecendo-me muito respeito e admiração a sua intervenção cívica e cultural na cidade. Distinguiu-se também pela ação política de luta permanente contra a ditadura de Salazar. 
Já depois de Abril, foi candidato do PCP à Assembleia Constituinte e exerceu funções de vereador na autarquia aveirense. Estas e outras notas da sua vida podem ser lidas no livro acima referido. 
Em sua homenagem, modesta mas sincera, publicarei algumas fotos alusivas à nossa região. São fotografias a preto e branco, como não podia deixar de ser, que nos oferecem oportunidades de ver o passado com a nossa imaginação a enriquecê-las.  Outras surgirão a seguir... 

Fernando Martins 

terça-feira, 3 de setembro de 2019

Miguel Esteves Cardoso - José Tolentino Mendonça



ÉS NOSSO AMIGO

"José Tolentino Mendonça é um escritor e um intelectual num tempo em que é estranho falar dessas coisas. Que fique dito que tem o coração grande, que tem amor verdadeiro dentro dele."

A primeira pessoa a falar-me de José Tolentino Mendonça foi o meu grande amigo Hermínio Monteiro, que já morreu e também foi, entre muitas outras coisas de grande valor, meu editor. 
Disse-me que gostava muito dele, apesar de ser padre ou católico ou lá o que era, que não o tornava um chato. 
Conheci-o no meu restaurante favorito, o Aya nas Twin Towers, que era o lugar do cozinheiro Takashi Yoshitaki, que também já morreu. As únicas duas pessoas que ficaram vivas foram ele e eu. 
A impressão que tenho dele é de uma enorme bondade, abertura, curiosidade, graça. Ele sabia que eu estava a tentar converter-me (sem sucesso) ao judaísmo. Mas as palavras dele foram de felicidade, da sorte de nos conhecermos, de sermos humanos ao mesmo tempo nas nossas duas vidas que ele via, justamente, com a bondade que é a dele, como sendo a nossa. 
Ele é um escritor e um intelectual num tempo em que é estranho falar dessas coisas. Que fique dito que tem o coração grande, que tem amor verdadeiro dentro dele. 
É o primeiro cardeal que conheço. A graça dele, a generosidade absoluta que tem, a fixação na minha personalidade, como teria por qualquer outra, mostrou-me a bondade de que é capaz. 
Lembro-me de considerações amistosas que Pequito Rebelo escreveu sobre o cardeal Cerejeira. Ajudam-me a dar valor à humanidade, a Deus. O José Tolentino Mendonça é boa pessoa. Esforçou-se por ser assim. Contenta-se em ser assim. Faz bem em ser assim. E é assim que faz bem a todos. Alguma coisa está bem no mundo. O Papa sabe o que faz
Que bom que isso é. 

Miguel Esteves Cardoso no PÚBLICO 

domingo, 1 de setembro de 2019

António Barreto - Três Museus


A propósito dos museus que temos ou não temos, que devíamos ter ou proibir que se fizessem, sempre com uns a favor e outros tantos contra, António Barreto publica no PÚBLICO um texto que nos deve levar a refletir, com o título "Três museus" e subtítulo "O Estado democrático não pode tratar Salazar tal como ele tratou a democracia: proibindo-a! Nós não podemos tratar Salazar tal como ele nos tratou a nós!"


«Uns dizem com ar sério que não se deve fazer o Museu dos Descobrimentos, mas sim o da Escravatura ou do Colonialismo. A verdade é que, se existissem os dois, teríamos um país tolerante. Se existisse só um com os dois lados da questão, teríamos um país tolerante e inteligente. Se existir um em vez do outro, teremos um país intolerante e estúpido. Se não existir nenhum, como agora, então teremos o país habitual, envergonhado e ignorante.»

Ler mais no PÚBLICO

PAPA eleva Tolentino à honra de Cardeal

Cardeal José Tolentino Mendonça

"O arcebispo português D. José Tolentino Mendonça, bibliotecário e arquivista da Santa Sé, vai tornar-se a 5 de outubro o sexto cardeal português do século XXI e terceiro a ser designado no atual pontificado." Esta é, para mim e para muitos, a grande notícia do dia na Agência Ecclesia. Como sempre admiti, o padre, poeta, pensador, ensaísta, cronista, biblista, escritor e grande homem da cultura foi elevado à honra de cardeal, não como personagem decorativa, mas como servidor dos homens e mulheres de boa vontade abertos aos dons do espírito, da transcendência e da verdade expressa na Boa Nova de Jesus Cristo, tudo emoldurado por uma multifacetada cultura geral. 
Os meus parabéns ao homem com quem conversei algumas vezes e cuja obra literária procuro conhecer cada vez mais e melhor,  lendo-a e relendo-a frequentemente.

Fernando Martins

Anselmo Borges - Deus aos ricos: “Insensatos!”

Riqueza e Pobreza

1. É mau ser rico? Não, de maneira nenhuma. Ai de nós, se não houvesse ricos, com iniciativa e capacidade para investir, criar riqueza, dar emprego a tanta gente, fazer progredir um país e o mundo! A riqueza, diz a Bíblia, é uma bênção. A pobreza, essa é uma maldição. O que é que podemos fazer sem algum dinheiro? Mesmo para fazer o bem e ajudar outros precisamos também de dinheiro. A expressão “Igreja dos pobres” pode levar a equívocos, pois não se trata de realizar “o ideal” de todos serem pobres. Pelo contrário: “Igreja dos pobres e para os pobres”, para acabar com um mundo de pobres que não têm aquele mínimo que lhes permita realizar a sua dignidade humana e cristã. 
Pense-se na “parábola dos talentos”. Um dos contemplados foi condenado porque nada fez com o seu talento. Cada um de nós é ele, é ela, o que a família e a natureza nos deram gratuitamente e também o resultado do que conquistámos com o nosso trabalho e o nosso esforço... 

2. Então porque é que a Bíblia condena os ricos: “Ai de vós, os ricos!”, proclama Jesus no Evangelho. Porque há a riqueza que é preciso condenar. 

2. 1. Em primeiro lugar, é maldita a riqueza roubada, a que provém do roubo, da exploração. E, meu Deus!, o que se rouba, também neste país! Aos milhões e milhões! Uma desgraça! Por exemplo, há Bancos que se afundam e o Estado, isto é, nós, os contribuintes (alguém viu o Estado?), pagamos milhares de milhões e não acontece nada, nem sequer um julgamento. Foi a antiga Procuradora-Geral da República, Joana Marques Vidal que afirmou recentemente que o Estado está “capturado” por redes de corrupção e compadrio: “Há efectivamente algumas redes que capturaram o Estado e que utilizam o aparelho do Estado para a prática de actos ilícitos...

sábado, 31 de agosto de 2019

Farol da Barra foi inaugurado em 31 de Agosto de 1893

Farol em construção
O Farol da Barra de Aveiro, situado em pleno concelho de Ílhavo, na Gafanha da Nazaré, é um ex-líbris da região aveirense. Imponente, não há por aí quem o não conheça, como um dos mais altos de Portugal e até da Europa. Já centenário, faz parte do imaginário de quem visita a Praia da Barra. Quem chega, não pode deixar de ficar extasiado e com desejos, legítimos, de subir ao varandim do topo, para daí poder desfrutar de paisagens únicas, com mar sem fim, laguna, povoações à volta e ao longe, a dominar os horizontes, os contornos sombrios das serras de perto e mais distantes. 
À noite, o seu foco luminoso, rodopiante e cadenciado, atrai todos os olhares, mesmo os mais distraídos, tal a sua força. Mas são os navegantes, os que podem correr perigos ou desejam chegar à Barra de Aveiro em segurança, os que mais o apreciam, sem dúvida. Ora, esse foco, que começou por ser alimentado a petróleo, passou a beneficiar da energia elétrica em 1936, completando, este ano, 73 anos de existência. 
Bonita idade para tal melhoramento merecer ser assinalado, embora de forma simples, com esta nota. Se tem lógica e algum merecimento a recordação dessa efeméride, não deixa de ser oportuno e justo lembrar que este ano também se podem celebrar os 153 anos da portaria do ministro das Obras Públicas, engenheiro António Maria de Fontes Pereira de Melo, assinado em 28 de Janeiro de 1856 e dirigida ao diretor das obras públicas do Distrito de Aveiro, engenheiro Silvério Pereira da Silva, que dá orientações para se avançar, rumo à futura construção do nosso Farol. Reza assim, na parte que nos diz respeito, como se lê na revista “Arquivo do Distrito de Aveiro”, em artigo assinado por Francisco Ferreira Neves: “Há por bem sua majestade el-rei [D. Pedro V] ordenar que o director das obras públicas do distrito de Aveiro, de combinação com o capitão daquele porto, e com o director-maquinista dos faróis do reino, trate de escolher o local nas proximidades da barra que for mais próprio para a construção de um farol, – devendo o mesmo director, apenas se ache determinado o dito ponto, proceder, de acordo com o referido maquinista, à confecção do projecto e orçamento da respectiva torre com a altura conveniente para que a luz seja vista a dezoito ou vinte milhas de distância.

Comandante Carlos Isabel vai deixar a Capitania do Porto de Aveiro

Comandante Carlos Isabel e Bispo D. António Moiteiro 

Carlos Isabel, comandante da Capitania do Porto de Aveiro, vai deixar o cargo que ocupou durante três anos entre nós. Tivemos o privilégio de conversar com Carlos Isabel algumas vezes e dele guardamos a lembrança de que se trata de uma pessoa muito responsável e determinada, mas também com enorme capacidade de diálogo e compreensão, aliadas aos princípio da justiça, no cumprimento das leis em vigor nas áreas que superintende. 
Durante a visita pastoral do Bispo de Aveiro, D. António Moiteiro, à nossa paróquia, o comandante Carlos Isabel, que o recebeu nas instalações da Capitania, adiantou-nos que considerou a visita do prelado aveirense «muito gratificante, porque somos uma entidade pública», e logo acrescentou que D. António «nos motiva para o nosso trabalho do dia a dia» 
O Capitão do Porto chamou a atenção para o valor do conhecimento, pelo que «é nossa obrigação conhecer e dar a conhecer aos utentes e ao público em geral aquilo que nós fazemos, nomeadamente, «a forma como recebemos o senhor Bispo de Aveiro». 
Carlos Isabel disse que «a Capitania ajuda todos os utentes, marítimos e não marítimos», e que «a Polícia Marítima presta apoio em situações boas e menos boas». 
Aproveitamos este momento da sua partida para o Comando-geral da Polícia Marítima, formulando votos das maiores venturas, pessoais e profissionais, no desempenho de novas funções. 

Fernando Martins

NOTA: Reeditado hoje, 5 de Setembro. 

Este triste mês de Agosto: O sol é um medricas

Esperei o sol para fotografar, mas ele não veio 

Este mês de Agosto é o mais frio dos 80 que já vivi. Será um lugar-comum fazer uma afirmação destas, mas é o que sinto, o que me vai na alma. E tenho razões para o afirmar. Basta dizer que estou a escrever esta nota do meu diário com uma manta de inverno sobre os joelhos, tapando os pés, que se queixaram da falta dela. 
Fui à janela da minha tebaida, no tranquilo sótão da minha residência, para espreitar o frio e vi um tempo sombrio, com o sol perdido nem sei por onde. Queria fotografar o frio, mas não consegui rasto dele que, talvez por cobardia, andará escondido de vergonha. De sol, nada. É um medricas...  Os meus amigos já estão por aí a dizer, com um sorriso malicioso: “É da idade, meu caro, é da idade!” 
Talvez tenham razão. Já vivi 80 Agostos e deles recordo calor em abundância, necessidade de roupas leves e arejadas, sandálias para me emprestarem mais conforto no caminhar, urgência de bebidas frescas, uns geladinhos de vez em quando, a garridice no vestir e no folgar, a aragem da maresia, o à-vontade no estar e no andar… Mas não… Este mês de Agosto tem de ficar longe dos meus registos como tempo de férias agradáveis. Para o ano será melhor. E disso decerto darei conta. 
E como será Setembro? Espero que muito melhor. Resta-me essa esperança. 

Fernando Martins 

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