ÉS NOSSO AMIGO
"José Tolentino Mendonça é um escritor e um intelectual num tempo em que é estranho falar dessas coisas. Que fique dito que tem o coração grande, que tem amor verdadeiro dentro dele."
A primeira pessoa a falar-me de José Tolentino Mendonça foi o meu grande amigo Hermínio Monteiro, que já morreu e também foi, entre muitas outras coisas de grande valor, meu editor.
Disse-me que gostava muito dele, apesar de ser padre ou católico ou lá o que era, que não o tornava um chato.
Conheci-o no meu restaurante favorito, o Aya nas Twin Towers, que era o lugar do cozinheiro Takashi Yoshitaki, que também já morreu. As únicas duas pessoas que ficaram vivas foram ele e eu.
A impressão que tenho dele é de uma enorme bondade, abertura, curiosidade, graça. Ele sabia que eu estava a tentar converter-me (sem sucesso) ao judaísmo. Mas as palavras dele foram de felicidade, da sorte de nos conhecermos, de sermos humanos ao mesmo tempo nas nossas duas vidas que ele via, justamente, com a bondade que é a dele, como sendo a nossa.
Ele é um escritor e um intelectual num tempo em que é estranho falar dessas coisas. Que fique dito que tem o coração grande, que tem amor verdadeiro dentro dele.
É o primeiro cardeal que conheço. A graça dele, a generosidade absoluta que tem, a fixação na minha personalidade, como teria por qualquer outra, mostrou-me a bondade de que é capaz.
Lembro-me de considerações amistosas que Pequito Rebelo escreveu sobre o cardeal Cerejeira. Ajudam-me a dar valor à humanidade, a Deus. O José Tolentino Mendonça é boa pessoa. Esforçou-se por ser assim. Contenta-se em ser assim. Faz bem em ser assim. E é assim que faz bem a todos. Alguma coisa está bem no mundo. O Papa sabe o que faz.
Que bom que isso é.
Miguel Esteves Cardoso no PÚBLICO