quarta-feira, 31 de outubro de 2018

Dia Mundial da Poupança


Hoje, quarta-feira, 31 de outubro, é o Dia Mundial da Poupança. Tanto quanto se lê para recordar o sentido da poupança, este Dia Mundial nasceu com o intuito de alertar os consumidores para a necessidade de disciplinar os gastos, de maneira a amealhar algum dinheiro para o indispensável.
Eu fui educado neste espírito e tenho dificuldades em compreender os gastadores, os que não pensam no futuro. Conheço pessoas que só pensam no presente, gastando ao sabor dos apetites, não sabendo discernir o importante e urgente do acessório. Gastam por gastar sem admitir que amanhã poderão não ter simplesmente para comer.
O espírito de poupança, assente no princípio de se gastar menos do que se ganha, aplica-se não apenas às pessoas, mas também às empresas e aos governos. Não seguir este princípio está à vista, por exemplo, nos Governos de Portugal. Tanto gastaram para além das suas possibilidades que acabaram por  cair quase na bancarrota.
Eu poupo e nunca me arrependi de o fazer. Mas também procuro transmitir aos que me são próximos que será fundamental amealhar algum dinheiro, porque nunca saberemos o dia de amanhã. 
Boas poupanças. Depois não digam que não avisei. 

Fernando Martins 

domingo, 28 de outubro de 2018

Pessoas que nos marcam...

Professora Helena Pessoa

MaDonA

A figura do professor primário sempre constituiu uma referência, sobretudo nos meios rurais. A par com o regedor e o padre era um marco e uma autoridade, pois levava a literacia ao povo, quando o ensino primário ainda nem era obrigatório. Nos meios pequenos como eram as Gafanhas, havia apenas um professor para todos os alunos que iam à escola. Ouvia da boca dos meus progenitores os nomes de Prof Cesário e Mª Augusta, que ensinaram as primeiras letras a gerações de alunos, que ainda os guardam na memória. Hoje, são topónimos em ruas próximas do lugar que habito. 
O ensino primário era uma das fases mais importantes na vida de uma pessoa. Afinal, é nela em que alguns traços de personalidade são construídos, e o ambiente escolar desempenha um papel socializador em que a criança começa a ampliar sua rede de relações, sendo que é através do professor que ela consegue construir conhecimentos expressivos. 
Por isso, o papel do professor é fundamental pois ele é o mediador entre a criança e o conhecimento. como elas veem e sentem o mundo, criando oportunidades para elas  manifestarem seus pensamentos, linguagem, criatividade, reações, imaginação, ideias e relações sociais. 

Para vinho novo, odres novos

Frei Bento Domingues
"As tarefas empreendidas pelo Papa Francisco têm, sem dúvida, a sua origem na crise actual e nas suas heranças. Mas ao mesmo tempo fazem parte da ordem do dia inacabado do Vaticano II e de problemas que atravessam a história da Igreja"

1. Como diz o físico Carlo Rovelli, a natureza do tempo talvez seja o maior mistério. Estranhos fios o ligam aos grandes mistérios não resolvidos: a natureza da mente, a origem do Universo, o destino dos buracos negros, o funcionamento da vida. A dança a três gigantes do pensamento – Aristóteles, Newton e Einstein – levou-nos a uma mais profunda compreensão do tempo e do espaço: existe uma estrutura da realidade que é o campo gravitacional; esta não é separada do resto da física, não é o palco em que o mundo flui: é uma componente dinâmica da grande dança do mundo, semelhante a todas as outras; interagindo com as outras, determina o ritmo das coisas a que chamamos fitas métricas, relógios e o ritmo de todos os fenómenos físicos. Pouco depois, o próprio Einstein verificou que esta não era a última palavra sobre a natureza do espaço e do tempo [1].
Há mais de dois mil anos, depois de João Baptista ter sido preso, Jesus foi para a Galileia proclamar: “completou-se o tempo e o Reino de Deus está próximo: arrependei-vos – mudai de vida – e acreditai no Evangelho”, se quereis que o mundo encontre a perfeita alegria [2].
Quando S. Marcos escreve isto, já o Espírito de Cristo tinha assumido outro ritmo do tempo: o dos jovens com visões novas e dos velhos renascidos, cheios de sonhos de um mundo outro [3]. Cedo, porém, se deram conta de que o tempo e o espaço das Igrejas não eram um palco em que elas se pudessem desenvolver, puras e santas, sem estranhas interacções religiosas, sociais, económicas ou políticas, desde o Pentecostes até hoje. A necessidade de reformas faz parte da sua história.

Um poema de Eugénio de Andrade



SE DESTE OUTONO

Se deste Outono uma folha,
apenas uma, se desprendesse
da sua cabeleira ruiva,
sonolenta,
e sobre ela a mão
com o azul do ar escrevesse
um nome, somente um nome,
seria o mais aéreo
de quantos tem a terra,
a terra quente e tão avara
de alegria.

Eugénio de Andrade

In O Sal da Língua

sábado, 27 de outubro de 2018

O Homem e o Sonho

(Foto do meu arquivo)
O homem é do tamanho do seu sonho"

Fernando Pessoa

Está tudo certo? Está. E o homem e a mulher terão consciência disso? Penso que sim. Então, vamos todos apostar em construir os nossos sonhos. A partir de hoje, com otimismo.
Bom fim de semana.

ÍLHAVO: Patrimónios esquecidos


Dois dias para a morte e para o sentido

Anselmo Borges



"A morte é o mistério pura e simplesmente. Ninguém sabe o que é morrer. Ainda nenhum de nós, felizmente, morreu, e os mortos, esses, não falam. Não temos experiência do que é morrer nem do estar morto nem do Além. A morte escapa a todas as categorias."


Há muito que para mim é claro que, para perceber uma sociedade, mais importante do que saber como é que nela se vive é saber como é que nela se morre e nela se trata a morte e os mortos. Aí está: hoje a morte é tabu, mais: vivemos numa sociedade assente sobre o tabu da morte, tendo nele o seu fundamento. Da morte não se fala. Não é de bom-tom. E o que é que isso revela? Que vivemos numa sociedade desorientada, que não sabe o que há-de fazer com a morte e, por isso, também não sabe viver na fundura ético-metafísica que o pensamento da morte dá e exige. 
O que aí fica, talvez intempestivamente, para os dois dias 1 e 2 de Novembro, que tradicionalmente eram consagrados à meditação sobre a morte e o seu sentido, que é o sentido da vida, são breves reflexões sobre este tema incómodo, mas sem o qual se deriva para o inessencial. 
A morte é o mistério pura e simplesmente. Ninguém sabe o que é morrer. Ainda nenhum de nós, felizmente, morreu, e os mortos, esses, não falam. Não temos experiência do que é morrer nem do estar morto nem do Além. A morte escapa a todas as categorias. Como escreveu o filósofo Emmanuel Levinas, "a morte é o mais desconhecido de todos os desconhecidos. Ela é mesmo desconhecida de modo totalmente diferente de todo o desconhecido". Perante o rosto morto de uma pessoa, concretamente da pessoa amada ou de um amigo, sabemos que qualquer coisa de dramático e único aconteceu: o fim da existência no mundo, o stop definitivo e irreversível. Mas o que é que isto quer dizer verdadeiramente? "Nunca saberemos o que é que a morte significa para o próprio morto. Não sabemos sequer o que pode haver de legítimo na fórmula: para o próprio morto." Em última análise, não é possível fazer um juízo definitivo sobre a vida de alguém, porque nunca nos é dado saber o que foi a sua morte. No confronto com a morte, é com a irrepresentabilidade total que deparamos. Só os vivos falam da morte. Os mortos, esses, calam-se definitivamente. Sigmund Freud também escreveu: "O facto é que nos é absolutamente impossível representar a nossa própria morte, e todas as vezes que o tentamos apercebemo-nos de que assistimos a ela como espectadores. É por isso que a escola psicanalítica pôde declarar que, no fundo, ninguém crê na sua própria morte ou, o que é o mesmo, que, nos seu inconsciente, cada um está persuadido da sua própria imortalidade." No fundo, nenhum de nós acredita que há-de morrer: a morte é sempre a morte dos outros, só acontece aos outros, cada um de nós pensa que será excepção. Porque é impossível eu conceber a minha consciência, a consciência de mim, morta.

Atrasa uma hora na próxima madrugada



Na próxima madrugada, antes de adormeceres, atrasa o teu relógio uma hora. Isto acontece porque Portugal não aceitou manter a hora chamada de verão. Portanto, depois de atrasares o teu relógio, vais poder dormir, nessa noite, mais uma horita. Já não é mau. E os hábitos acomodam-se rapidamente às circunstâncias.

As folhas caem...



“As folhas caem e os preços também.” Esta frase, tão certa com o outono que nos cabe viver, está correta, à partida. É no outono que as folhas caem com o convite da natureza ao sono profundo das árvores, que se prolongará até à primavera, mas também é verdade que é nesta altura que os saldos nos permitem adquirir artigos a preços mais em conta. Pena é que este espírito não se prolongue por todo o ano. Mas as leis do comércio são assim. Em tempos de crise, para alguns, é bom aproveitar. No poupar é que está o ganho.

sexta-feira, 26 de outubro de 2018

Um pôr do sol na Figueira da Foz


Hoje, à noitinha, com o sol a cair no horizonte, no profundo e extenso oceano, fui brindado por este colorido que a ameaça das nuvens escuras não fez esmorecer o meu prazer de chegar à Figueira da Foz, tão fustigada e destroçada pelo temporal de há dias. Uma saudação solidária para os figueirenses. 
Bom fim de semana para todos. 

Jesus premeia o desejo do cego mendigo

Georgino Rocha

 Santo Agostinho, adianta por sua vez: “Que pode a alma desejar mais ardentemente que a verdade? De que outra coisa pode o homem sentir-se mais faminto? Para que deseja ele o paladar interior, senão para discernir a verdade, para comer e beber a sabedoria, a justiça, a verdade, a eternidade?"

Jesus vive um dia normal da sua missão. Acompanhado da multidão, atravessa Jericó, a cidade onde Zaqueu se empoleirou para o ver e onde já havia curado um cego. Cidade cheia de vida, próspera na agricultura e no comércio, onde sobressaem palmeiras e árvores aromáticas. Estava situada junto ao rio Jordão, a uns escassos 27 quilómetros de Jerusalém. Jesus, calado, dá sinais de fazer um exercício de memória da viagem percorrida e de antevisão do que lhe pode acontecer na cidade capital. Avança como que embalado pelo ritmo da multidão. À saída, depara-se com a surpresa do dia que fica para a história. Alguém, de modo pouco cortês, grita de longe: “Jesus, Filho de David, tem piedade de mim”. E Jesus, de agora em diante, assume o comando da acção, narrada por Marcos sem floreados (Mc 10, 46-52). Em cena ficam apenas duas pessoas: Jesus e Bartimeu. E o que se segue vai ser a nossa reflexão dominical.

O narrador fornece dados precisos do ocorrido: Jesus está na periferia da cidade, símbolo de tantos lugares onde vivem os menos endinheirados, os mais empobrecidos. (Não são os provocantes bairros de luxo, com cerco e segurança privada). Aqui, está sentado Bartimeu, cego e mendigo. Outro símbolo de grande alcance, onde se podem rever milhões e milhões de seres humanos, nossos contemporâneos. Símbolo dos portadores de cegueira a todos os níveis, também religiosa. De quem quer começar a ver com os olhos de Jesus Cristo. A nós, portanto.

quinta-feira, 25 de outubro de 2018

Canção de Outono de José Régio

(Rosa desfolhada da Rede Global)

CANÇÃO DE OUTONO

No jardim deserto,
Já Novembro perto,
Desfolhei as rosas últimas a dar,
Jóias maltratadas,
Rosas desfolhadas!
Só o seu perfume vai ficar no ar.

Recolhi versos
– Breves universos –
Que atirara ao vento para os espalhar.
Queimei-os, rasguei-os.
Secaram-me os seios…
Só rimas e ritmos vão ficar no ar.

Saudades, lembranças
De vãs esperanças,
Fiz covais no peito para os enterrar.
Nada mais me importa.
Fechem essa porta!
Só um pó doirado vai ficar no ar.

José Régio


No “Música Ligeira”

A semana passa depressa!

Moliceiro na ria (foto do meu arquivo)
Quando tinha compromissos profissionais e outros, a semana, por vezes, custava a passar. Só não acontecia isso quando andava distraído ou empenhado ao máximo em tarefas de que gostava imenso. O que era, realmente, mais comum, diga-se de passagem. Depois, na situação de aposentado mas ocupado, sem horários para cumprir escrupulosamente, a minha atitude perante a vida tornou-se mais livre. Isto vem a propósito de ter notado, hoje, que nada publiquei no meu blogue desde domingo. Até parece que adormeci. Mas não, felizmente.

domingo, 21 de outubro de 2018

Balanço do Colóquio Rostos Dominicanos (1)

Bento Domingues
 
1. Não foram poucas as pessoas que quiseram saber por que razão não tinha publicado a crónica no passado Domingo. Vou explicar, mas começando mais atrás. Continuam a perguntar-me porque acrescento, à minha assinatura, OP. É uma longa história. Podia dizer simplesmente dominicano, pois pertenço a uma Ordem religiosa, fundada no século XIII, em França, por S. Domingos de Gusmão. Ele, porém, não queria fundar dominicanos, mas uma Ordem de Irmãos cuja missão, na Igreja, seria a pregação que a primeira Ordem dos Pregadores – a dos Bispos – tinha abandonado. Domingos não pretendia que o reproduzissem, mas que inventassem, em todos os tempos e lugares, os modos de partilhar a palavra do Evangelho da alegria. Os membros da Ordem não vivem para reproduzir a fisionomia do seu Fundador, mas para assumir o rosto das urgências da evangelização, em cada época. Não foi por acaso que o célebre pintor Matisse o apresentou sem a figuração do rosto. 
Esta missão exigiu, desde o começo, o casamento do estudo com o anúncio e a reinterpretação contínua do Evangelho. Dessa ligação nasceu a teologia em diálogo com a cultura, elaborada de forma exemplar por Santo Alberto Magno e S. Tomás de Aquino. Da mesma raiz brotou a mística do infinito desassossego do Mestre Eckhart e o ardor da reforma da Igreja, com Santa Catarina de Sena. Da pregação incarnada no tempo e lugar irrompeu uma das páginas mais belas da história da humanidade com o Sermão de António de Montesinos. O seu grito contra a exploração dos índios transformou-se numa aliança de investigações e intervenção contínua entre Bartolomeu de Las Casas, a Escola de Salamanca representada por Francisco de Vitória: por direito natural, os índios são os verdadeiros senhores das suas terras e das suas riquezas. A nenhum título, nem o Papa nem o Rei de Espanha os podem privar desse direito! [1] 

sábado, 20 de outubro de 2018

O prazer de recordar vivências do passado

Encontro com alunos
dos anos 60 do século passado
na escola da Marinha Velha











Ontem, 19 de outubro, tive o grato privilégio de regressar ao passado, convivendo com alunos meus da década de 60 do séc. passado. Foi um prazer inesquecível, daqueles que nos fazem pôr de lado o cansaço de uma vida longa de canseiras e muito rica de emoções. O grupo incluiu 16 alunos e foi dinamizado pelo Serafim Pinto, logo apoiado por outros colegas do seu tempo. À chegada ao jantar-convívio, identifiquei alguns de imediato e outros foram subindo à tona da minha memória, lentamente… mas vieram a tempo. 
Um apelido, um olhar, um rosto, uma expressão, um sorriso, uma conversa, uma achega do lado, todos afinal tornaram presente uma escola de meados do século XX, na Marinha Velha, Gafanha da Nazaré. E no meio deles, com o seu carinho indesmentível e amizade franca, revivi a minha e nossa sala de aulas, os métodos de ensino, os programas escolares, as brincadeiras com espaços de recreio marcadamente separados, para meninos e para meninas. Afinal, a rigidez já naquela época era considerada, por muitos,  e por mim, anacrónica e sem sentido. 
Caindo na real, homens reformados e não só. Alguns, com naturais incómodos de saúde, fizeram questão de estar presentes. Outros não puderam participar por isso e por outras razões. Mas os que se sentaram à mesa da partilha de vidas, de sentimentos e alegrias, comoveram-me. E uns tantos fizeram questão de repetir o convívio, nos próximos anos. 
Ouvi estórias de vida, de alegrias, de vitórias, de amizades, com muitos sinais de vivências profissionais, com lugar cativo nas suas memórias ainda muito frescas e com espaço para mais registos. 
Recordámos outros professores e professoras que lecionaram na escola da Marinha Velha, mas também falámos da sua ampliação e da sua progressiva modernização. Olhando para trás, sei que alunos meus já faleceram, muitos emigraram e destes ainda vou sentindo a sua amizade, sobretudo quando vêm de férias à Gafanha da Nazaré. 
A todos pedi, encarecidamente, que na rua, quando se cruzarem comigo, não deixem de me interpelar, de me saudar, de conversar, um pouquinho que seja. Eu já me distraio um pouco. 
O jantar constou das habituais entradas, variadas, sopa, bacalhau à “Zé do Pipo” e sobremesas. Decorreu no restaurante “A Cave”, Gafanha da Encarnação, e o serviço foi pronto, de mistura com muita simpatia. 
No final, brindaram-me com uma placa alusiva ao encontro e um aluno, o Albino Ribau, teve a gentileza de me oferecer um trabalho seu que todos apreciaram: uma secretária com cadeira do professor e uma carteira. 

Alunos que participaram 

Abílio Moreira da Silva 
Albino Ribau 
João Cardoso 
Carlos Rito 
Domingos Carlos 
Emídio Gandarinho 
Fernando Calisto 
Francisco Jesus 
João Gonçalves 
José Manuel Novo 
José Ribau 
Júlio Caçoilo 
Messias Lopes 
Rui Vechina 
José Caleiro 
Serafim Pinto 

Agradeço o carinho com que me acolheram e ao Serafim, de modo especial, pelo trabalho que teve para descobrir e contactar os seus colegas.

Fernando Martins 

Francisco ​​​​​​​em Pequim?

Anselmo Borges

1. A perseguição aos cristãos foi particularmente feroz durante a Revolução Cultural no tempo de Mao. Mas a situação está a mudar de modo rápido e surpreendente. Desde 1976, com a morte de Mao, as igrejas começaram a reabrir e há quem pense que a China poderá tornar-se mais rapidamente do que se julgava não só a primeira potência económica mundial mas também o país com maior número de cristãos. "Segundo os meus cálculos, a China está destinada a tornar-se muito rapidamente o maior país cristão do mundo", disse Fenggang Yang, professor na Universidade de Purdue (Indiana, Estados Unidos) e autor do livro Religion in China. Survival and Revival under Communist Rule (Religião na China. Sobrevivência e Renascimento sob o Regime Comunista). Isso "vai acontecer em menos de uma geração. Não há muitas pessoas preparadas para esta mudança assombrosa". 
Cresce sobretudo a comunidade protestante. De facto, a China tinha apenas um milhão de protestantes. Em 2010, já tinha mais de 58 milhões. Segundo Yang, esse número aumentará para cerca de 160 milhões em 2025, o que faria que a China ficasse à frente dos Estados Unidos. Em 2030, a população cristã total da China, incluindo os católicos, superará os 247 milhões, acima do México, do Brasil e dos Estados Unidos. "Mao pensava que poderia acabar com a religião. E julgava ter conseguido", diz Yang. "É irónico pensar que o que fizeram foi fracassar completamente." 
A situação parece preocupar as autoridades chinesas, que, por outro lado, não quererão 70 milhões de cristãos como inimigos. 

2. Os católicos serão uns 12 milhões. Desde 1951 que a China não tem relações diplomáticas com o Vaticano. Mas o governo chinês felicitou Bergoglio a seguir à sua eleição como novo Papa e exprimiu o desejo de que, sob o pontificado de Francisco, o Vaticano "elimine os obstáculos", para uma aproximação. Francisco declarou por várias vezes não só o seu apreço pelo povo chinês como o seu desejo de visitar Pequim. Por exemplo, disse aos jornalistas: "Estamos próximos da China. Enviei uma carta ao presidente Xi Jinping quando foi eleito, três dias depois de mim. E ele respondeu-me. Há contactos. É um grande povo do qual gosto muito." E que está à espera de um sinal para uma visita.

sexta-feira, 19 de outubro de 2018

Educar o Desejo, Servir com Alegria

Georgino Rocha

A caminhada para Jerusalém está prestes a chegar à cidade. Tem sido uma “caixa de surpresas” que Jesus provoca ou aproveita para mostrar aos acompanhantes, sobretudo aos discípulos, a novidade do Reino de Deus, de que é portador e iniciador. No domingo, vimos o homem desejoso de viver de tal modo na terra que possa garantir a plenitude da vida eterna. E o apelo que Jesus lhe faz a cortar todas as amarras que o retinham no mero cumprimento de mandamentos e a apreciar o tesouro da liberdade. Quer dizer, Jesus quer curar-lhe o desejo, essa energia que nos impulsiona nos sonhos e nas realizações.

Hoje, Marcos (Mc 10, 35-45), em episódio familiar mostra-nos outra face deste desejo de ser alguém, de ocupar um posto notável na futura organização do reino anunciado, de ser conselheiro privilegiado ou mandatado especial, de ver recompensado o abandono de tantos bens apreciados. “Tiago e João, filhos de Zebedeu, aproximaram-se de Jesus e disseram-lhe: «Mestre, queremos que nos faças o que Te vamos pedir». E Jesus escuta a sua ousadia confiante: Faz-nos sentar à Tua direita e à Tua esquerda. A intensidade do desejo é manifesta. E a medida para ser satisfeito, igualmente. A mãe vem apoiar a pretensão. Os outros indignam-se pois também se julgam com direitos. Pedro já se havia feito porta-voz desta situação e da fatura que estava em aberto. (Mc 10, 28).

quinta-feira, 18 de outubro de 2018

"Ao Pé das Palavras" - Poesia de Helder Ramos


Helder Ramos

Conheci há muito tempo a poesia do Helder Ramos. Numa conversa informal, alguém me segredou que o Helder era poeta. Tinha ele 19 anos e os poemas “O Vouga de ontem e de hoje” e “Só!" denunciaram o seu estilo. Foram publicados no Boletim Cultural, n.º 2, 1986, editado pela Cooperativa Cultural da Gafanha da Nazaré, que teve duração efémera. 
Embora quase vizinhos, nem sempre foi fácil, por razões profissionais e outras, trocar impressões com o Helder Ramos sobre as suas tendências ou gostos artísticos. Só um dia destes tive a oportunidade de ler e reler os seus poemas que integram o seu primeiro livro, “Ao Pé das Palavras”, editado em junho de 2007 pela Papiro Editora. Onze anos depois, saboreei-o com prazer e recomendo-o aos meus e seus amigos. Um novo livro, porém, já está a ser ultimado, sendo minha intenção anunciá-lo, até porque todos devemos assumir a missão de apoiar e estimular os nossos poetas. A Gafanha também tem o direito de se rever nos seus poetas. Direi melhor: nos seus artistas. 
“Este livro — sublinha o autor — é a primeira amostra do trabalho de vários anos de labor poético, conquistado às horas das exigências profissionais e às asperezas do cumprimento de tarefas, que muito raramente propiciam a entrega devotada à faina das palavras de sentidos singulares.” Concordo com este pensar do meu amigo Helder Ramos, mas nem assim deixarei de admitir, contudo, que nessas situações se abrem, imensas vezes, as portas à harmonia das palavras com sentido e ritmo. 
No Prefácio, João Alberto Roque, também poeta, afirma que a escrita do Helder “é uma extensão da sua vida profissional — a exigente profissão docente — que desenvolve com uma dedicação e uma sensibilidade de excepção”. E recomenda aos seus leitores que não esperem "encontrar nesta obra ‘apenas’ o professor de Português", salientando que “A escrita é também um espaço de liberdade onde o poeta se reinventa, uma vida paralela, recatada, como tão bem o diz Miguel Torga na sua biografia: 

Sonho, mas não parece. 
Nem quero que pareça. 
É por dentro que eu gosto que aconteça 
A minha vida. 
Íntima, funda, como um sentimento 
De que se tem pudor.” 

João Alberto Roque adianta,  ainda,  que na família do autor “quase todos têm um reconhecido jeito para a música. A ele coube-lhe um talento especial para a poesia — a música das palavras”.


Um poema do Helder Ramos 

RELEMBRO A TUA PAZ

Relembro a tua paz 
Quando as flores adormecidas despontam 

Não penso nos frutos 
                       Cedo 
Mas avalio na beleza das pétalas 
Os teus lábios de música 
Que trazem soltos hinos primaveris 
Em grata ansiedade repetida 
De novos dias de claridades gentis 

Fernando Martins

quarta-feira, 17 de outubro de 2018

Do alto do farol, em dia de aniversário

Fase de construção


Selos de Portugal

Farol atual


Do alto do Farol 

Do alto do Farol 

Do alto do Farol 

Do alto do Farol 

Na segunda-feira, no edifício do Farol de Aveiro, foi celebrado o 125.º aniversário da sua entrada em funcionamento, que aconteceu,  precisamente, no dia 15 de outubro de 1893, depois da inauguração, com data de 31 de agosto do mesmo ano. Na cerimónia, em que tive o privilégio de participar, vivi, também, o momento de poder apreciar, lá no alto, a paisagem circundante, apesar das nuvens negras que resolveram impedir o gozo pleno de os nossos olhares poderem chegar mais longe, muito mais longe, não tanto, contudo, como a sua luz rotativa, que, realmente, avisa a navegação à distância de 23 milhas (42,5 Km). 
As imagens possíveis, sem as marcas de quem sabe explorar devidamente as capacidades de máquinas fotográficas mais recentes, dão uma pálida ideia da emoção que senti na varanda que circunda o foco luminoso do farol mais alto de Portugal, segundo na península ibérica, figurando na lista dos 26 maiores do mundo, como se lê num desdobrável elaborado para estas comemorações. 
A minha incapacidade física de percorrer os seus 271 degraus, degraus esses que algumas vezes me levaram até ao cimo do nosso farol a correr, mereceram a compreensão e a generosidade do Comandante da Capitania, Carlos Isabel, e do subchefe faroleiro, Nogueira da Silva, usufruindo eu da utilização do ascensor, montado em 1858, tendo a sua automatização a data de 1990, refere o desdobrável. Agradeço reconhecido a gentileza. 
No alto, os meus pulmões respiraram o ar fresco da noite que se avizinhava a passos largos, antecipada pelas nuvens ameaçadoras. E então, olhos na paisagem e no sistema rotativo, apreciei o asseio de tudo, a perfeição do funcionamento do maquinismo  e refleti sobre a importância dos sinais luminosos e sonoros que são preciosos contributos para quem navega, quer tenha por meta o Porto de Aveiro, quer demande outras paragens. Só não ouvi a ronca que na minha infância tanto assustava, sobretudo no sossego da noite.

Fernando Martins

Nota: Das minhas memórias do Farol e da Barra hei de escrever um dia destes.

terça-feira, 16 de outubro de 2018

ADIG celebra bodas de prata

Humberto Rocha no convívio
Os amigos das sextas
Bolo de aniversário
ADIG na Romaria à Senhora de Vagos
ADIG na Bresfor, onde foram esclarecidos

A ADIG (Associação para Defesa dos Interesses da Gafanha) celebra o seu 25.º aniversário com jantar-convívio aberto a associados e alguns convidados, que ocorreu no sábado, 13 de outubro, um dia depois da efeméride referida. A direção, presidida por Humberto Rocha, que vai no seu segundo mandato, tem lutado, incansavelmente, não só pelos interesses da nossa terra, mas também, e sobretudo, pelos direitos da Gafanha da Nazaré e suas gentes, oriundas um pouco de todo o país e até do estrangeiro. 
Para o presidente, que usou da palavra no momento certo, a celebração aniversária reveste-se de um significado muito expressivo e traduz uma atitude de “alegria”, não havendo lugar “para atacar ninguém”, porque importa mais “falar de coisas boas e dos sucessos alcançados pela ADIG”. 
Humberto Rocha salienta o convite feito a todas as instituições da Gafanha da Nazaré, incluindo, naturalmente, a Barra, para marcarem presença neste encontro, frisando que a união de todas é fundamental no esforço contínuo de defender os direitos e interesses da nossa região e suas gentes, no que diz respeito à qualidade de vida que importa preservar e melhorar no dia a dia. Nessa linha, o presidente enumera as tarefas do esforço da ADIG na luta por um ambiente saudável, o que implica a erradicação da poluição na área portuária, no ar que respiramos e nas águas da ria, num diálogo permanente com as indústrias confinantes com a laguna aveirense.

domingo, 14 de outubro de 2018

Notas do Meu Diário – O mundo e nós


1. Com a minha idade, já vi e senti tantas voltas e reviravoltas no mundo que nada me espanta. E de todas essas voltas e reviravoltas sempre aprendi e desaprendi tanta coisa, que não me canso de perceber que o povo, na sua felicidade e na sua revolta, terá motivos para mostrar que é ele quem manda. Tão depressa vive a democracia como de repente, por raiva, ameaça e leva à prática dar o seu voto a malandros e a eventuais ditaduras. O mundo até parece que está a virar de escota, porventura sem norte seguro. Temos de exercer um papel pedagógico no sentido de alertar para os inconvenientes de políticas racistas, xenófobas e antidemocráticas? Temos. 

2. A tempestade que esta noite nos assustou, entre as 23 horas e as quatro da manhã, motivada por fenómenos raros neste recanto à beira mar plantado, no dizer do poeta, deixou devastações dolorosas com prejuízos ainda incalculáveis. Dizem os entendidos, que ouvi durante a noite, que as profundas ofensas ao ambiente, provocadas pela ganância industrial e por comportamentos humanos desregrados, estão na origem desta revolta da natureza. E como restabelecer a harmonia neste mundo em correria desenfreada para o abismo?

3. Ontem à noite participei num encontro-convívio promovido pela ADIG (Associação para a Defesa dos Interesses da Gafanha), que muito me agradou, fundamentalmente pela participação de diversas associações da nossa terra. Na hora certa, o presidente daquela associação, Humberto Rocha, frisou a importância da união de todos na luta pela qualidade de vida das nossas terras e gentes. A união faz a força, disse. Mas desse encontro-convívio hei de escrever um dia destes.

Fernando Martins

As horas

"As horas batem indiferentemente para todos 
e soam diferentemente para cada um"

Condessa Diane (1829-1899), escritora

No PÚBLICO de hoje

Nota: Gosto de frases que nos levem a pensar. Normalmente, são-nos legadas por quem escreve bem, pensa melhor e põe sentido no que diz. Qualquer dia, vou tentar registar algumas frases, pensamentos ou ditos que mereçam destaque. Veremos se acerto...

Um poema de Miguel Torga para este domingo




OUTONO


Outono.
(A palavra é cansada…)
Tudo a cair de sono,
Como se a vida fosse assim, parada!

Nem o verde inquieto duma folha!
O próprio sol, sem força e sem altura,
Olha
Dum céu sem luz e levedura.

Fria,
A cor sem nome duma vinha morta
Vem carregada de melancolia
Bater-me à porta.

Miguel Torga

Leiria, 11 de outubro de 1940,
em “Poesia Completa”

sábado, 13 de outubro de 2018

Francisco​​​​​​​ em Pyongyang?

Anselmo Borges

"Na Coreia do Norte, em 1950, viviam ainda mais de 55 mil católicos, com 57 igrejas construídas, com missionários, escolas católicas e actividades pastorais florescentes. A perseguição tinha começado antes, mas acentuou-se com a guerra da Coreia e o brutal regime instalado: as igrejas foram arrasadas, os cristãos, católicos e protestantes, mortos ou enviados para campos de concentração, num processo de eliminação de qualquer presença religiosa."


A notícia chegou completamente inesperada e surpreendente: o presidente da Coreia do Sul, Moon Jae-in, será portador de um convite formal do presidente Kim Jong-un ao Papa Francisco para que visite o seu país, a Coreia do Norte. E está preparado para recebê-lo em Pyongyang "com entusiasmo". 
A Coreia do Norte ocupa hoje o primeiro lugar na lista dos países onde os cristãos são mais perseguidos. Nos princípios do século XX, a capital, Pyongyang, foi chamada "a Jerusalém do Oriente" ou "a Jerusalém da Ásia". Na Coreia do Norte, em 1950, viviam ainda mais de 55 mil católicos, com 57 igrejas construídas, com missionários, escolas católicas e actividades pastorais florescentes. A perseguição tinha começado antes, mas acentuou-se com a guerra da Coreia e o brutal regime instalado: as igrejas foram arrasadas, os cristãos, católicos e protestantes, mortos ou enviados para campos de concentração, num processo de eliminação de qualquer presença religiosa. As comunidades católicas tornaram-se verdadeiramente a "Igreja do silêncio". Hoje existe apenas uma igreja católica, construída em 1988, mas sem padre nem religiosos nem baptismos. Na capital, os católicos serão uns 800 e, dispersos por toda a Coreia do Norte, uns dois ou três mil; no entanto, é convicção de padres do Sul, que estiveram no Norte, que o número pode ser muito superior: haverá muitos homens e mulheres que continuam a viver a sua fé em Cristo de modo íntimo, sem possibilidade de exprimi-la publicamente. O regime é ateu, mas, a partir de 1989, com a queda do bloco comunista, reconheceu uma Associação Católica e uma Federação Cristã, que são duramente enquadradas e controladas pelo governo. Alguns contactos informais têm tido lugar em Roma entre representantes norte-coreanos e diplomatas do Vaticano, revela o jornal La Croix, que também escreve que em 2017 um diplomata norte-coreano declarou expressamente a um seu enviado especial à Coreia do Norte que "as organizações humanitárias católicas faziam um trabalho muito bom na Coreia do Norte; são sérias, eficazes e nós confiamos, pois são mais honestas e sinceras do que outras grandes organizações laicas que nos enviam espiões". 

sexta-feira, 12 de outubro de 2018

As lágrimas impedem-nos de ver as estrelas



"Se choras porque não consegues ver o Sol, as tuas lágrimas impedir-te-ão de ver as estrelas."


Rabindranath Tagore (1891-1941)

O tesouro da liberdade e o seguimento de Jesus

Georgino Rocha
 
 Não basta cumprir os mandamentos com lisura e honestidade. Não chega a atitude obediente e rigorista. Não adianta alimentar piedosos desejos e nunca os realizar. Não. É preciso deixar o coração livre de todas as amarras, designadamente a posse de bens, as rotinas da vida, o sentir-se acomodado no já conseguido e apreciado. É necessário alcançar o tesouro da liberdade.
 
 
Jesus está na rua prestes a sair para a missão. Ia pôr-se a caminho quando é surpreendido por um homem que vem a correr ao seu encontro. Não apenas vem a correr, como chegando junto dele se ajoelha e faz uma pergunta crucial, típica de todo o ser humano, em alguma fase da vida: “Que hei-de fazer para alcançar a vida eterna?” O coração fala mais alto do que a vergonha pública e o possível comentário displicente, desdenhoso. A pressa da corrida denota a intensidade do desejo. A atitude assumida manifesta o reconhecimento de Jesus como Alguém que pode abrir a porta do espírito humano a novas dimensões para além dos saberes positivos/experimentais. A súplica indica claramente o sentido do encontro provocado pela pressa do ritmo do coração aliado ao impulso da consciência de querer agir recta e livremente.

Jesus acolhe o homem com delicadeza, respeita a atitude, escuta o pedido, antevê o alcance da pergunta, assume a sua ânsia, sintoniza com o seu reconhecimento e inicia o diálogo da liberdade que se constrói na verdade. Havia sido tratado por bom. Pois é a partir da bondade que se faz a conversa. Marcos reveste de um são realismo a narrativa (Mc 10, 17-30). Dá-nos um quadro referencial para revermos as nossas atitudes e, guiados pela mão do Mestre, deixar que aflorem as perguntas decisivas da nossa vida, a articulação do que andamos a fazer com o futuro que nos espera, com a vida eterna que se faz presente na prática dos valores do Reino. A semente do presente dá frutos no tempo e faz germinar a eternidade. “Na morte se recebe, o que na vida se semeia”, repetia o saudoso P. José Gualdino, pároco da Murtosa.

quinta-feira, 11 de outubro de 2018

Postal do Porto - Chuvas de outono

Manuel Olívio

Amigo

As primeiras chuvas de Outono recordam-me as viagens de bicicleta a caminho do velho Liceu de Aveiro… Tantas saudades.
Passaram-se os anos… À vida sucedeu o estudo…
Agora a Escola Antiga está a ser contestada… Surge a Escola Nova…
Praza a Deus que a reforma nos traga um clima de sossego e de trabalho onde, cada um, possa e queira estudar ou, melhor, preparar-se para a vida.
Não tenhamos ilusões. Por mais voltas que a roda dê, um jovem sentirá sempre o salto para as realidades da vida. A escola tem obrigações de lhe deixar o espírito aberto para essa adaptação.
Que os nossos estudantes saibam aproveitar tantas facilidades concedidas e continuem, como os outros, à procura de um mundo melhor!

Um abraço

Manuel

Nota: Este Postal do Porto foi publicado pelo meu familiar e amigo, Manuel Olívio da Rocha, no Timoneiro, em outubro de 1973. E como esta noite choveu, vem mesmo a propósito a sua publicação. Um abraço para o Manuel.

D. António Marcelino faleceu há cinco anos


(Foto do meu arquivo)

Há cinco anos, D. António Baltasar Marcelino partiu para o seio do Pai que ele tão bem soube testemunhar, estimulando quantos o procuravam e ouviam a terem em conta a Boa Nova de Jesus Cristo. Tive o privilégio de o ouvir imensas vezes e de editar, no Correio do Vouga, as suas reflexões semanais, carregadas de entusiasmo por uma Igreja que levasse à prática o Vaticano II, o mesmo concílio que muitos queriam  fechar em gavetas de sete chaves. Curiosamente, faz hoje, também, 56 anos que o Papa João XXIII abriu o Concílio Vaticano II, na esperança de que o ar fresco acabasse de vez com os bolores que inundavam o pensar e o agir de uma Igreja que urgia renovar e revigorar. 
Na altura da partida do Bispo que me ordenou Diácono Permanente para o regaço maternal de Deus, resolvi suspender as edições do meu blogue, em sinal de saudoso respeito pelo então Bispo Emérito de Aveiro, que fez questão de permanecer nesta cidade que se revia no dinamismo de um prelado carismático. Recordo-o com muita saudade.
O que então escrevi pode ler-se aqui.

terça-feira, 9 de outubro de 2018

FILARMÓNICA GAFANHENSE celebra aniversário



No dia 13 de outubro de 1986, na Secretaria Notarial de Aveiro, foi registada uma nova escritura, desta vez para alterar os estatutos. Com esta alteração, ficou estabelecida a mudança da sede social da Música Velha para a Gafanha da Nazaré. A Associação Musical Filarmónica Ilhavense passou a designar-se, estatutariamente, Filarmónica Gafanhense (a Música Velha), como veio exarado no Diário da República, n.º 273, de 26 de novembro de 1986. 
Depois de mais de um século de existência, a Música Velha passou a celebrar esta data da sua refundação, festejando, também, a sua nova vida em prol da cultura musical. 
Assim, no próximo sábado, a Filarmónica Gafanhense vai celebrar o seu aniversário com o seguinte programa: 

SÁBADO DIA 13: 
21H30 - Concerto de Aniversário na Fábrica das Ideias na Gafanha da Nazaré (Antigo Centro Cultural); 

DOMINGO DIA 14: 

09h30 - Romagem ao Cemitério; 
10h30 - Missa de Aniversário; 
12h30 - Almoço no Restaurante Solar das Estátuas (Cacia) 

Nota: Já estão disponíveis os bilhetes para este grande concerto.

Os meus sinceros parabéns à nossa Filarmónica, com votos dos maiores êxitos

Ilha de Sama ou Ilha do Rebocho

Em dezembro de 2007, publiquei um texto que mereceu a atenção de amigos que muito prezo. Um deles, o Ângelo Ribau, já não está entre nós, embora continue connosco a sua memória. 


As tecnologias fazem por vezes quase o impossível. Na Gafanha da Nazaré, junto ao Porto de Pesca Longínqua, vê-se ao longe a célebre Ilha de Sama, também conhecida por Ilha do Rebocho. O que mal se vê ou vê mal a olho nu pode ser ampliado por qualquer razoável máquina fotográfica. O que fica, nesta fotografia, é uma imagem do abandono a que foi votada a ilha. A casa em ruínas dá a sensação de que é filha de guerra ou de puro esquecimento. Numa zona turística talvez a ilha pudesse ser devidamente aproveitada. Outrora foi propriedade agrícola, não sei se muito ou pouco produtiva. Mas tinha alguma vida. Hoje, está em agonia plena.
Presumo que continua na mesma. Não tive oportunidade de confirmar, mas vale a pena ler aqui as considerações então feitas no meu blogue, na altura noutra plataforma.

Biblioteca de Ílhavo vai atuar fora de portas


Com o objetivo de promover a leitura e o livro junto da comunidade sénior, a Câmara Municipal de Ílhavo, vai, esta quarta e quinta-feira (dia 10 e 11 de outubro), transportar a Biblioteca Municipal (BMI) para “fora de portas”. 
A BMI vai visitar vários lares de Terceira Idade realizando, em cada um deles, uma Sessão de Contos e deixando um baú repleto de livros para que os cidadãos seniores não se sintam privados de um importante veículo cultural, de saber e conhecimento. 
Não desejando ficar por aqui, a BMI avança também amanhã, 10 de outubro, quinzenalmente, com um serviço de apoio na utilização da Web, em especial na área do Facebook, direcionado para a população mais adulta. Neste caso, é necessária inscrição prévia junto da biblioteca.

Fonte: CMI

segunda-feira, 8 de outubro de 2018

Da oração, segundo Khalil Gibran




«Depois, uma sacerdotisa disse-lhe: Fala-nos da oração. 
E ele respondeu: 
Vós orais na aflição e na necessidade; gostaria que pudésseis orar igualmente na plenitude da vossa alegria e nos vossos dias de abundância. 
Pois, que é a oração se não a expansão de vós mesmos no ar vivo? 
E se, para vosso alívio, lançais no espaço as vossas trevas, é para vossa alegria que abris o vosso coração à aurora. 
E se só sabeis gemer quando a vossa alma vos incita à oração, ela deveria estimular-vos, embora gemendo, até finalmente chegardes ao riso. 
Quando orais, erguei-vos para encontrar nos ares aqueles que oram nesse mesmo instante, e só na oração os podereis encontrar.»
(...)

In “O Profeta”

domingo, 7 de outubro de 2018

Hierarquias ciumentas?

Bento Domingues

"A irritação com o Papa Francisco é o pânico de que ele, apesar de todas as iniciativas para o travar, não desista do seu programa global."

1. Segui vários cursos sobre as diversas expressões do profetismo bíblico, orientados pelo dominicano Francolino Gonçalves, um dos maiores especialistas mundiais em literatura profética do antigo Oriente [1]. Confesso que esses cursos e a frequente leitura dos seus textos serviram mais para admirar o seu saber e verificar a minha ignorância, do que para me sentir minimamente competente, no meio desse vastíssimo e diferenciado fenómeno de muitos estilos. Na nossa linguagem corrente, profeta é aquele ou aquela que prevê, ou se atreve, a predizer o futuro. Um adivinho. Na Bíblia, é um ser humano que tem o dom divino de ser lúcido acerca do presente, vendo as esperanças e as ameaças que encerra. Sabe discernir as opções que libertam o horizonte das que conduzem ao desastre colectivo. Importa não confundir os verdadeiros com os falsos profetas, isto é, os defensores das populações com os bajuladores dos poderosos.
No mundo sacral, a religião, com os luxuosos cerimoniais em que vive a classe sacerdotal, serve para dar cobertura à exploração dos trabalhadores e à humilhação dos pobres. Essa religião é vomitada por Deus. Sem a prática da justiça e o cuidado dos pobres, a religião é uma abominação.

sábado, 6 de outubro de 2018

Pensantes e não pensantes

Anselmo Borges

Imersos numa crise sem precedentes da Igreja Católica, que está longe de terminar, retomo, na substância e com a devida vénia, um texto que escrevi para o livro Portugal Católico. A Beleza na Diversidade.

1. Quando cheguei à universidade, admirava-me com o espanto de estudantes e até de professores por causa do meu pensar interrogativo no que se refere à religião. No entanto, I. Kant tinha razão ao escrever que a religião, apesar da sua majestade, não pode ficar imune à crítica. Só uma Igreja autocrítica e que acolhe a crítica da sua realidade tantas vezes tenebrosa pode criticar as infâmias do mundo.
Julgo que continua em Portugal a ideia de que o católico na Igreja está infectado por uma fé dogmática, imóvel e incapaz de pensamento aberto e crítico. A pergunta é: Quem assim pensa estará enganado? Infelizmente, parece-me que não. De facto, quando se pensa nas feridas deixadas pela Inquisição, que tolheu a abertura do pensar, e num clero frequentemente inculto, que se deixou ultrapassar pelo mundo moderno - ouça-se as homilias de grande parte dos padres, impreparadas, inúteis ou mesmo prejudiciais -, fica-se com a convicção de que a Igreja se imobilizou num mundo do dogma repetitivo de uma doutrina que já não é aliciante para a vida e que, pelo contrário, transformou o Evangelho, notícia boa e felicitante, em Disangelho, notícia infeliz e de desgraça, para utilizar a palavra de Nietzsche. Drama maior: a modernidade acabou por ter de impor à Igreja oficial o que é património e herança do Evangelho: os direitos humanos, a liberdade, a igualdade, a separação da Igreja e do Estado.

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