Professora Helena Pessoa |
MaDonA |
A figura do professor primário sempre constituiu uma referência, sobretudo nos meios rurais. A par com o regedor e o padre era um marco e uma autoridade, pois levava a literacia ao povo, quando o ensino primário ainda nem era obrigatório. Nos meios pequenos como eram as Gafanhas, havia apenas um professor para todos os alunos que iam à escola. Ouvia da boca dos meus progenitores os nomes de Prof Cesário e Mª Augusta, que ensinaram as primeiras letras a gerações de alunos, que ainda os guardam na memória. Hoje, são topónimos em ruas próximas do lugar que habito.
O ensino primário era uma das fases mais importantes na vida de uma pessoa. Afinal, é nela em que alguns traços de personalidade são construídos, e o ambiente escolar desempenha um papel socializador em que a criança começa a ampliar sua rede de relações, sendo que é através do professor que ela consegue construir conhecimentos expressivos.
Por isso, o papel do professor é fundamental pois ele é o mediador entre a criança e o conhecimento. como elas veem e sentem o mundo, criando oportunidades para elas manifestarem seus pensamentos, linguagem, criatividade, reações, imaginação, ideias e relações sociais.
O professor do Ensino Básico é responsável pela educação escolar nos primeiros anos de escola da criança. As suas funções principais prendem-se com o desenvolvimento das capacidades dos seus alunos, estimulando a sua autonomia e criatividade.
Tratando-se de uma fase importante do crescimento e de aquisição de conhecimentos por parte das crianças, o professor deverá observar cuidadosamente os seus alunos, a fim de ficar a conhecer as suas capacidades, interesses e dificuldades. Também para mim foram pessoas que me marcaram e aos quais muito agradeço aquilo que sou.
Por estranhos mecanismos da memória, registei apenas os nomes das professoras da 3.ª e 4.ª classe. De ambas recordo episódios muito vivos dos tempos da meninice. À professora da 4.ª classe, devo o percurso profissional que fiz e o facto de ter prosseguido estudos, quando o ensino obrigatório se ficava pelos quatro anos de escolaridade. A D.ª Arminda Moreira, que partiu há pouco tempo, aconselhou os pais a darem a possibilidade a esta criatura de avançar na senda de Minerva. Desenvolver o potencial (!?) de que a sua perspicácia pedagógica se teria apercebido. Foi na apresentação do livro “Palabras co bento no leba” do eng. Domingos Cardoso, que ouvi aquele nome. Na altura dos agradecimentos a todos aqueles que colaboraram, de algum modo, na recolha, cedência, ou simplesmente na sugestão de palavras para inclusão no livro, que ouvi “Agradeço à Prof.ª Maria Helena Matias Pessoa...”. De imediato sintonizei a “pasta” do meu arquivo de memória, onde estava guardado este nome.
É espantoso e simultaneamente curioso, como apesar dos danos causados à nossa memória, pelo desgaste da idade, aquela ainda conserve intacto o nome da minha professora da 3.ª classe. Não ando com isso no pensamento, permanentemente, mas ele lá está gravado, como se faz uma incisão em ferro, ou pedra. De imediato, se reconstitui, no disco duro da memória, a figura da jovem professora primária e o que ela me ensinou de tão marcante.
Estava a prof.ª Helena a explicar a conjugação dos verbos, os tempos verbais: presente do indicativo, pretérito perfeito, pretérito imperfeito. Para tornar a tarefa mais fácil e ao alcance de crianças de 9 aninhos, a prof.ª indicou “Coloquem a palavra agora antes do verbo e digam - eu agora ando, tu andas, ele anda...No pretérito perfeito, coloquem já e digam - eu já andei, tu andaste, ele andou...”
MaDonA