Georgino Rocha |
Não basta cumprir os mandamentos com lisura e honestidade. Não chega a
atitude obediente e rigorista. Não adianta alimentar piedosos desejos e
nunca os realizar. Não. É preciso deixar o coração livre de todas as
amarras, designadamente a posse de bens, as rotinas da vida, o sentir-se
acomodado no já conseguido e apreciado. É necessário alcançar o tesouro
da liberdade.
Jesus está na rua prestes a sair para a missão. Ia pôr-se a caminho quando é surpreendido por um homem que vem a correr ao seu encontro. Não apenas vem a correr, como chegando junto dele se ajoelha e faz uma pergunta crucial, típica de todo o ser humano, em alguma fase da vida: “Que hei-de fazer para alcançar a vida eterna?” O coração fala mais alto do que a vergonha pública e o possível comentário displicente, desdenhoso. A pressa da corrida denota a intensidade do desejo. A atitude assumida manifesta o reconhecimento de Jesus como Alguém que pode abrir a porta do espírito humano a novas dimensões para além dos saberes positivos/experimentais. A súplica indica claramente o sentido do encontro provocado pela pressa do ritmo do coração aliado ao impulso da consciência de querer agir recta e livremente.
Jesus acolhe o homem com delicadeza, respeita a atitude, escuta o pedido, antevê o alcance da pergunta, assume a sua ânsia, sintoniza com o seu reconhecimento e inicia o diálogo da liberdade que se constrói na verdade. Havia sido tratado por bom. Pois é a partir da bondade que se faz a conversa. Marcos reveste de um são realismo a narrativa (Mc 10, 17-30). Dá-nos um quadro referencial para revermos as nossas atitudes e, guiados pela mão do Mestre, deixar que aflorem as perguntas decisivas da nossa vida, a articulação do que andamos a fazer com o futuro que nos espera, com a vida eterna que se faz presente na prática dos valores do Reino. A semente do presente dá frutos no tempo e faz germinar a eternidade. “Na morte se recebe, o que na vida se semeia”, repetia o saudoso P. José Gualdino, pároco da Murtosa.
“Ninguém é bom, senão Deus. Tu sabes os mandamentos”, adianta Jesus que os explicita na relação com os outros e no respeito pelos bens. E a lista vai registando a dignidade da vida, a fidelidade no matrimónio, o direito de propriedade, o amor à verdade, a honestidade de atitudes, a honra devido ao pai e à mãe. Certamente que a sombra de contra-luz destes valores surge no não matar, não cometer adultério, não roubar, não levantar falso testemunho, não cometer fraudes, honrar os pais. Quem não reconhece a atualidade deste código de comportamento ético na família, na Igreja e na sociedade?
“Mestre, tudo isso tenho cumprido desde a juventude”. Jesus sintoniza com a sinceridade deste homem, com a leitura que faz da sua vida, com a honradez e a lisura das práticas quotidianas. Que grande testemunho de vida e que transparência de atitudes! Como seria bom podermos assinar esta declaração! Ninguém nos pode dispensar desta visita à nossa memória e rectificar o que está desviado.
Jesus mostra grande sensibilidade à verdade desta confissão. E vibra, lançando um olhar de simpatia. Faz sua a ânsia manifestada e propõe a fasquia que considera adequada. Aquele respeitável mínimo podia ser trampolim para alcançar a liberdade que parecia brilhar na súplica inicial. “Falta-te uma coisa”. Que provocação esta! Não basta cumprir os mandamentos com lisura e honestidade. Não chega a atitude obediente e rigorista. Não adianta alimentar piedosos desejos e nunca os realizar. Não. É preciso deixar o coração livre de todas as amarras, designadamente a posse de bens, as rotinas da vida, o sentir-se acomodado no já conseguido e apreciado. É necessário alcançar o tesouro da liberdade. Corta as amarras, dizia uma voz amiga a um montanhista suspenso no penhasco e seguro apenas pelas cordas. “Senhor, valei-me!” repete em súplica final, pois as forças iam-se esgotando e a tormenta crescendo de intensidade. Corta as amarras! Ressoa de novo a voz amiga. E ele não cortou, preferiu a segurança do limite em que encontrava à confiança de quem o convidava a uma nova e ousada atitude. E diz a notícia que na manhã seguinte o seu cadáver foi encontrado por uma equipa de exploradores da montanha na neve intensa que caíra durante a noite. A rocha firme estava apenas a um metro de distância. Trágico acidente. Grande apelo à confiança ousada e sensata.
Jesus acolhe o homem com delicadeza, respeita a atitude, escuta o pedido, antevê o alcance da pergunta, assume a sua ânsia, sintoniza com o seu reconhecimento e inicia o diálogo da liberdade que se constrói na verdade. Havia sido tratado por bom. Pois é a partir da bondade que se faz a conversa. Marcos reveste de um são realismo a narrativa (Mc 10, 17-30). Dá-nos um quadro referencial para revermos as nossas atitudes e, guiados pela mão do Mestre, deixar que aflorem as perguntas decisivas da nossa vida, a articulação do que andamos a fazer com o futuro que nos espera, com a vida eterna que se faz presente na prática dos valores do Reino. A semente do presente dá frutos no tempo e faz germinar a eternidade. “Na morte se recebe, o que na vida se semeia”, repetia o saudoso P. José Gualdino, pároco da Murtosa.
“Ninguém é bom, senão Deus. Tu sabes os mandamentos”, adianta Jesus que os explicita na relação com os outros e no respeito pelos bens. E a lista vai registando a dignidade da vida, a fidelidade no matrimónio, o direito de propriedade, o amor à verdade, a honestidade de atitudes, a honra devido ao pai e à mãe. Certamente que a sombra de contra-luz destes valores surge no não matar, não cometer adultério, não roubar, não levantar falso testemunho, não cometer fraudes, honrar os pais. Quem não reconhece a atualidade deste código de comportamento ético na família, na Igreja e na sociedade?
“Mestre, tudo isso tenho cumprido desde a juventude”. Jesus sintoniza com a sinceridade deste homem, com a leitura que faz da sua vida, com a honradez e a lisura das práticas quotidianas. Que grande testemunho de vida e que transparência de atitudes! Como seria bom podermos assinar esta declaração! Ninguém nos pode dispensar desta visita à nossa memória e rectificar o que está desviado.
Jesus mostra grande sensibilidade à verdade desta confissão. E vibra, lançando um olhar de simpatia. Faz sua a ânsia manifestada e propõe a fasquia que considera adequada. Aquele respeitável mínimo podia ser trampolim para alcançar a liberdade que parecia brilhar na súplica inicial. “Falta-te uma coisa”. Que provocação esta! Não basta cumprir os mandamentos com lisura e honestidade. Não chega a atitude obediente e rigorista. Não adianta alimentar piedosos desejos e nunca os realizar. Não. É preciso deixar o coração livre de todas as amarras, designadamente a posse de bens, as rotinas da vida, o sentir-se acomodado no já conseguido e apreciado. É necessário alcançar o tesouro da liberdade. Corta as amarras, dizia uma voz amiga a um montanhista suspenso no penhasco e seguro apenas pelas cordas. “Senhor, valei-me!” repete em súplica final, pois as forças iam-se esgotando e a tormenta crescendo de intensidade. Corta as amarras! Ressoa de novo a voz amiga. E ele não cortou, preferiu a segurança do limite em que encontrava à confiança de quem o convidava a uma nova e ousada atitude. E diz a notícia que na manhã seguinte o seu cadáver foi encontrado por uma equipa de exploradores da montanha na neve intensa que caíra durante a noite. A rocha firme estava apenas a um metro de distância. Trágico acidente. Grande apelo à confiança ousada e sensata.