terça-feira, 11 de dezembro de 2018

Bibliotecas "cheias de infância": sobre promoção do livro, da leitura e da literatura

Um texto de Sara Reis da Silva 
no PÚBLICO

Sara Reis da Silva

«Sou “de literatura”. Dou por mim a afirmá-lo e a sentir essa frase a ecoar em mim nos mais diversos momentos da minha vida. Sou “de literatura” e sou de/dos livros, desde sempre, no meu espaço pessoal e íntimo e, há já mais de duas décadas, nas minhas vivências profissionais/académicas. Talvez porque, tentando e persistindo no encontro com as questões que o texto coloca a quem o lê, procurei dar-lhes sempre resposta (como preconiza Jacques Bonnet, em Bibliotecas cheias de fantasmas, acredito que “o importante não é ler depressa, mas ler cada livro à velocidade que ele merece”), sempre ciente de que “é literatura tudo aquilo que reflecte um universo pessoal, que transporta uma imagem do mundo, que converte em arte o quotidiano, o efémero, o banal”, como escreve Nuno Júdice, em ABC da Crítica (2010).

E, assim, tenho para mim que todas as estratégias de aproximação ao livro e à leitura, desde idades precoces, tendo implícitas as ideias de que a leitura não pode ter apenas um objectivo utilitário e também de que esta exerce um papel crucial ao nível do desenvolvimento intelectual, do aprofundamento de conhecimentos, da estruturação da imaginação, da formação da sensibilidade, do conhecimento de si mesmo e dos outros, do estímulo à reflexão e à criatividade, e, genericamente, do cresci-mento/amadurecimento individual e social, todas as estratégias, dizia, poderão “fazer viver a leitura”. Como lembra José António Gomes, num artigo disponível no portal do projecto Gulbenkian/Casa da Leitura, recuperando algumas palavras de Lucette Savier (1988), acredito que “fazer viver a leitura” é “ligar o livro à vida da criança, sem o limitar à aprendizagem e ao espaço escolar. É longe de censuras e argumentos intelectuais, desvelar o interesse e o prazer da leitura, partilhá-los e discuti-los com ela. E é, finalmente, correr o risco de que, em qualquer lugar, a qualquer momento, o livro e o jogo da leitura possam estar presentes; sujeitos ao capricho da criança, para um breve encontro ou para uma longa conversa.»

NOTA: Todos os pais, educadores e bibliotecários deviam ler este texto  aqui

segunda-feira, 10 de dezembro de 2018

Ferreira da Silva passa o testemunho após 35 anos à frente do Etnográfico

Alfredo no descerramento da placa indicativa do museu
Alfredo com Daniel Bastos e esposa
Mesa da presidência
Aspeto do convívio
Museu Alfredo Ferreira da Silva
Outro aspeto do Museu 
Presépio na sede do GEGN
Depois de mais de 35 anos na liderança do Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré (GEGN), Alfredo Ferreira da Silva, fundador da instituição, deixa as responsabilidades inerentes ao cargo, passando o testemunho a José Manuel da Cunha Pereira e restantes membros da nova direção. Por isso mesmo, e por tudo quanto tem dado à nossa terra, no âmbito do folclore e da etnografia da nossa região, e não só, foi-lhe prestada uma justa homenagem na tradicional festa de aniversário do GEGN, num ambiente natalício, no passado sábado, 8 de dezembro, na sua sede, na Casa da Música. 
Para além de uma salva de prata, como recordação que tornará presente no seu dia a dia, o muito que fez pela instituição, oficializada em 1 de setembro de 1983, o GEGN inaugurou na sede, em sala própria, o Museu Alfredo Ferreira da Silva, que ostenta o espólio representativo da participação do Etnográfico em 310 festivais nacionais e 18 no estrangeiro, nomeadamente em Espanha, França, Israel, Canadá, Polónia, Alemanha, Brasil e Sicília, entre outros países. 
No jantar convívio, participado por uma centena de pessoas, membros do grupo e seus familiares, autoridades civis (Câmara e Junta de Freguesia), convidados e amigos da associação, o homenageado lembrou que o Etnográfico nasceu no seio da Catequese Paroquial, referindo que, a partir daí, “começou a caminhar pelas ruas da Gafanha da Nazaré”, alargando os seus horizontes por todo o país e pelo estrangeiro. 
Alfredo Ferreira da Silva evocou os novos desafios que ao longo do tempo o grupo enfrentou, no sentido de trazer até aos tempos de hoje tradições que corriam o risco de cair no saco do esquecimento, em especial o Cantar das Janeiras, o Cantar das Almas e o Cantar ao Menino, mas ainda as festas em honra de Nossa Senhora dos Navegantes, com a sua já famosa procissão pela ria, que atrai gentes de todos os cantos do país. E agradeceu ao nosso prior, Padre César, o apoio que nunca regateou ao GEGN nos momentos da realização de alguns eventos. 
Marcos Ré, em representação da CMI, sublinhou, que a terra muito deve a “este homem por tudo o que fez”, frisando que “ainda nos vai ensinar”, porque a sua presença “nos anima a todos”, sendo certo que “será sempre um elemento fundamental do GEGN”, com o seu “espírito de quem trabalha por gosto”. O exemplo deste homem “é o que de melhor podemos receber e dar aos outros”, acrescentado que “o futuro desta terra também está nas nossas tradições”. “Só teremos futuro se tivermos passado e presente por alicerces”, disse. 
Daniel Bastou, da Federação do Folclore Português, salientou a amizade que nutre pelo GEGN, “há muitos anos”, enquanto valorizou a importância de encontros como este. Disse que na FFP há bastantes grupos, “mas há muitos que são mais… e outros assim-assim… “, acrescentando que o GEGN “apostou naquilo que é mais genuíno; o que o diferencia de outros”. 
Garantiu que “ir para o palco todos os grupos o fazem”, mas o mais valioso é o que se promove de diferente, como faz o Etnográfico, nomeadamente, o Cantar das Almas e ao Menino, bem como a procissão pela Ria, na festa em Honra da Senhora dos Navegantes. “Isto é que deve ser enaltecido para memória futura”, disse. 

Fernando Martins 

Notas: O GEGN teve a gentileza de me oferecer uma jarra com dedicatória, pela atenção com que sempre o apoiei, gesto que agradeço. F. M. 

domingo, 9 de dezembro de 2018

Desistir da paz?

Bento Domingues

1. A exuberância poética do profeta Isaías distribuída pelas celebrações diárias do Advento exibe uma tal confiança no futuro que mais parece um delírio do desejo que gosta de se iludir, do que uma esperança razoável. Logo no 3.º dia, e nunca se cansará, garante que os povos vão dispensar os exércitos e as suas manobras. Os instrumentos de guerra vão ser reciclados e confiados aos ministérios da agricultura: converterão as espadas em relhas de arado e as lanças em foices [1]. O Deus dos exércitos vai para o desemprego.
Tempos virão em que nem sequer será preciso pensar na reciclagem do exército. A justiça estará ao serviço dos infelizes do povo. Aos violentos e aos ímpios a própria palavra de Deus os modificará. A justiça e a lealdade serão a lei.
Até toda a natureza que se modificará. O lobo viverá com o cordeiro e a pantera dormirá com o cabrito; o bezerro e o leãozinho andarão juntos e um menino os poderá conduzir. A vitela e a ursa pastarão juntamente, as suas crias dormirão lado a lado; o leão comerá feno como o boi. A criança de leite brincará junto ao ninho da cobra e o menino meterá a mão na toca da víbora.
Não mais praticarão o mal nem a destruição em todo o meu santo monte: o conhecimento do Senhor encherá o país, como as águas o leito do mar. Nesse dia, a raiz de Jessé surgira como a bandeira dos povos; as nações virão procurá-la e a sua morada será gloriosa [2].
O profeta quer que Deus seja o Senhor do universo e prepare para todos os povos um banquete de manjares suculentos, um banquete de vinhos deliciosos: comida de boa gordura, vinhos puríssimos. Destruirá a morte para sempre. Enxugará as lágrimas de todas as faces. Alegremo-nos e rejubilemos porque nos salvou [3].

Um poema de Geraldo Alves para este tempo



Entre o preto e o branco

Quando
No teu abraço sinto o cansaço
Eu estou aqui.
Quando
Sobra viagem e falta coragem
Eu estou aqui.

E aqui
Afasto medos, guardo segredos
Longe de mim
Aqui
Cavalgo o vento e abraço o tempo
Até ao fim.

Aqui
Pela inocência perdida
Pela  fúria contida
Pela revolução…
A esperança na mão
À espera da paz
Que o tempo não traz
Nem aqui, nem agora.

Mas estou.

Aqui,
Entre o preto e o branco,
Entre o riso e o pranto,
E num show solidário
Viro o palco ao contrário
Num tema que diz:
— Tens que ser feliz
(Aqui e Agora!)

Geraldo Alves

In “Poetas de um tempo presente”
Edição da Confraria Camoniana de Ílhavo

sábado, 8 de dezembro de 2018

Direitos e deveres humanos


Anselmo Borges
A Declaração Universal dos Direitos Humanos foi adoptada pela Assembleia Geral das Nações Unidas a 10 de Dezembro de 1948, em Paris: "A Assembleia Geral proclama a presente Declaração Universal dos Direitos Humanos como o ideal comum a ser atingido por todos os povos e todas as nações, com o objectivo de que cada indivíduo e cada órgão da sociedade, tendo sempre em mente esta declaração, se esforce, através do ensino e da educação, por promover o respeito por esses direitos e liberdades, e, pela adopção de medidas progressivas de carácter nacional e internacional, por assegurar o seu reconhecimento e a sua observância universal e efectiva." Nos artigos 1 e 2, lê-se: "Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos" e podem invocar os direitos e liberdades desta declaração, "sem distinção alguma de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião politica ou outra, origem nacional ou social, fortuna, nascimento ou qualquer outra situação". Numa vinheta de 1998, no jornal El País, referindo-se ao preâmbulo, aparece o próprio Deus a exclamar: "Que preâmbulo! Não tinha lido nada de tão bom desde o Sermão da Montanha." 

2. Lembrando os 70 anos da Declaração dos Direitos Humanos, retomo uma síntese de outra declaração, infelizmente menos conhecida e invocada: a célebre Declaração Universal dos Deveres Humanos, de que há tradução em português. Para superar a crise e para que a esperança não seja mera ilusão, wishful thinking, precisamos todos de ser fiéis às nossas responsabilidades e cumprir os nossos deveres. 
Já na discussão do Parlamento revolucionário de Paris sobre os direitos humanos, em 1789, se tinha visto que "direitos e deveres têm de estar vinculados", pois "a tendência para fixar-se nos direitos e esquecer os deveres" tem "consequências devastadoras".

sexta-feira, 7 de dezembro de 2018

João, a Voz da Palavra do Senhor. Aprecia!

Georgino Rocha

João surge na vida pública como um profeta itinerante nas margens do rio Jordão, após uma experiência significativa no deserto. Aqui recebe a palavra de Deus que lhe é dirigida. Aqui faz o contraste da vida sóbria e austera com a da Jerusalém, onde o pai Zacarias oficiava no Templo, e a da aldeia onde nascera, a poucos quilómetros da cidade. Aqui encontra o silêncio indispensável ao coração para amadurecer os apelos que ia sentindo e as convicções que ia gerando. Aqui toma a decisão de dar voz à experiência feita e parte em missão.

Lucas faz o relato do sucedido, situando o episódio num contexto político e religioso de grande envergadura. Indica assim o alcance histórico da novidade que desponta. Refere nomes e datas, menciona o imperador de Roma, o governador da Judeia, e outras figuras gradas nas regiões próximas, bem como na área religiosa. (Lc 3-1-6). As credenciais do registo ficam apresentadas, a solicitar a abertura à verdade que se anuncia. E o protagonista sente-se mandatado para realizar a missão recebida. “Foi dirigida a palavra de Deus a João, filho de Zacarias, no deserto. E ele percorria toda a região do Jordão” refere o evangelista narrador.

“As pessoas mais pobres e marginalizadas nas nossas sociedades trazem-nos verdadeiras mensagens de esperança”, afirma o arcebispo de Manila, nas Filipinas. “É nos lugares pequenos e imundos que nascem os nossos reis, não em palácios”. Esta forte imagem foi apresentada pelo cardeal Luis Antonio Tagle, presidente da Cáritas Internacional em mensagem recente sobre a preparação do Natal cristão. A verdade da afirmação contrasta fortemente com o que vemos e, se calhar, alimentamos.

EM SINTONIA COM O QUERER DE DEUS. COMO MARIA

Festa da Imaculada




Maria, a mãe de Jesus de Nazaré, beneficia de um especial cuidado da parte de Deus, desde o início da sua vida. A Igreja designa este facto admirável com a expressão “a Imaculada Conceição” e dedica-lhe uma solene celebração litúrgica, que hoje realizamos. A fé da Igreja lança raízes em textos bíblicos que se repercutem na piedade popular, na reflexão teológica e nos ensinamentos do Magistério. A fé da Igreja olha a novidade do que acontece em Maria, a partir de Jesus, seu Filho, morto e ressuscitado. Como diz o povo cristão: Tal Filho, tal Mãe!
Lucas terá ouvido da boca de Maria o episódio da anunciação e, como hábil escritor, reveste-o de singular beleza. O leitor é convidado a entrar em cena, a visualizar os personagens, a vibrar com a progressão do diálogo e a aguardar o desfecho com ansiedade. (Lc 1, 26-38). Maria revela, de forma exemplar, o ser humano e seu modo de proceder para tomar decisões responsáveis. Escuta a saudação, manifesta surpresa e susto, sente-se livre e dá voz às perguntas que a assaltam, acompanha as explicações que traduzem o querer de Deus, interioriza o convite/vocação, fica disponível para a missão que lhe é confiada. E que missão?! O evangelho de Lucas faz-nos ver os passos que se seguem e ler os relatos do seu registo.

Gabriel, o anjo da anunciação, saúda Maria, desvelando a verdade da situação espiritual em que se encontrava. Ela, a noiva de José, é a agraciada de Deus em plenitude, a que o Senhor tem na sua companhia. Ela, a pobre filha de Ana e Joaquim, cresceu e foi educada na casa de seus pais e na sinagoga local, sonha com o matrimónio e vive o noivado, atrai o olhar benigno do nosso Deus que a vem convidar para uma nova aventura, uma ousadia singular. Ela, que dialoga à procura da verdade, decide-se a obedecer livremente. E a liberdade de Maria, luz que ilumina o exercício da nossa liberdade, manifesta-se, agora na opção esclarecida, depois na comunhão colaborante e na consumação final que revela a coerência de quem obedece em liberdade. E ela, qual rosto emblemático da pessoa livre, é dada por Jesus, seu Filho, antes de morrer, a toda a humanidade como Mãe.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2018

Alunos da UA promovem sorrisos de Natal

Alunos da UA mobilizam-se 
para pôr um sorriso de Natal 
na cara de quem mais precisa


«Alargado este ano a instituições de apoio aos mais carenciados situadas nos distritos de Aveiro, Coimbra e Leiria, na Universidade de Aveiro (UA), o projeto ShareToy já começou a mobilizar a comunidade da Universidade de Aveiro (UA) para a recuperação de brinquedos. Após a sessão de 28 de novembro, as seguintes estão previstas para todas as quartas até 19 de dezembro, entre as 15h00 e as 18h00, e já começaram a mobilizar alunos da UA de diferentes áreas do saber.

“Os que não sabem reparar, aprendem com os que já têm alguma experiência. Todos são bem-vindos”, desafia Dilan Nunes. Bem poderia ser este o lema das sessões do ShareToy na perspetiva do coordenador do Núcleo de Robótica Diversificada (NERD) da Associação de Electrónica, Telecomunicações e Telemática da UA (AETTUA), grupo de promove o projeto em articulação com o Institute of Electrical and Electronics Engineers (IEEE) - Student Branch da UA.»

segunda-feira, 3 de dezembro de 2018

Um poema de Paula Pinto para este tempo



TEMPO

Tenho medo de não ter
Tempo para vos ver
Homens feitos neste mundo
Composto de retalhos
Entre o amanhecer
E o anoitecer!

A minha mente está cansada
De compor palavras
Perdidas no tempo
Que ficam esquecidas por aí!

Tenho medo de não ter tempo
De ver o vosso sorriso
Envelhecido pelo tempo!

Tenho medo de não ter tempo
Para correr contra o tempo
Agarrar o vosso sorriso
E ficar a ver o vosso rosto
A envelhecer!

Tempo para  tempo
De agarrar o tempo!

Paula Pinto

In “Poetas de um Tempo Presente”
Edição da Confraria Camoniana de Ílhavo

Dia Internacional das Pessoas com Deficiência


Hoje, 3 de dezembro, comemora-se o Dia Internacional das Pessoas com Deficiência, por iniciativa das Nações Unidas, desde 1998. Como todas as datas celebrativas, esta também pretende chamar a atenção «para uma maior compreensão dos assuntos relativos à deficiência e à mobilização para a defesa da dignidade, dos direitos e do bem-estar destas pessoas».
O Dia Internacional das Pessoas com Deficiência pretende, este ano, «garantir a inclusão e a igualdade» de todos, chamando a atenção para objetivos relacionados com uma vida digna, sem preconceitos. Sabendo que cada ser humano tem, de alguma forma, certas deficiências, urge prestar mais atenção aos que necessitam de ajudas específicas, sem ofender a sua liberdade e autoestima.

domingo, 2 de dezembro de 2018

O Pai Natal pede!


O Natal é a festa do “DAR”. Dar Amor, Dar Solidariedade, Dar Alegria, DAR… O Natal é de todos, mas de maneira mais especial das crianças. O saudoso Pai Natal sai à rua, com os seus duendes para presentear a pequenada que se portou bem durante o ano. 
Sabe-se que a fábrica do Pai Natal cumpre os rigorosos critérios de certificação na elaboração dos seus brinquedos, para que nenhuma criança possa ter um acidente, ou ficar doente. No entanto, existem alguns duendes mais descuidados que se esqueceram de ler o manual de segurança. Por este motivo é sempre importante, que os adultos façam a vistoria. 
Em 2018, os pais e encarregados de educação são nomeados “inspetores” da segurança dos brinquedos. A DECO atesta que a existência do símbolo CE colocado nos brinquedos não é garantia da sua segurança, referindo que é sempre importante cautela e escrutínio. É também necessária uma particular atenção a brinquedos enviados através da net. 
A seguinte informação é indispensável a um brinquedo seguro:

Liturgia cristã e ecologia?

Bento Domingues

«... o Papa Francisco tentou estabelecer uma ponte entre a Ecologia e a Liturgia, para que o uso das descobertas científicas, das novas tecnologias, o exercício das actividades económicas, financeiras e políticas se inscrevam no destino universal de todos os bens.»

1. Comecemos pelo mais elementar, pois custa-me ver a milenar herança cristã esquecida ou ignorada. É muito provável que a intervenção pública de Jesus de Nazaré se tenha exercido, em contexto judaico, entre os anos 28 e 33 da nossa era. Foi, porém, em Antioquia que, pela primeira vez, os seus seguidores começaram a ser chamados cristãos, isto é, discípulos de Cristo, o Messias esperado. Devido à mesma significação, foi aportuguesada tanto a palavra da tradução grega da Bíblia como a de origem hebraica. A expressão Jesus Cristoexprime a condição humana e divina do Nazareno. Por cristianismo entende-se o movimento dos seguidores de Cristo, através dos séculos, embora com uma história muito plural e cheia de tensões, desde o começo [1].

sábado, 1 de dezembro de 2018

“É PRECISO MAIS PARA QUE FALTE AINDA MENOS”

Bancos Alimentares apelam à contribuição 
em  nova campanha de recolha de alimentos


A campanha conta com a participação de 42 mil voluntários e o contributo de todos nós vai permitir apoiar 400 mil pessoas, através de 2600 instituições de solidariedade social. Hoje e amanhã,  os Bancos Alimentares  Contra a Fome contam com a nossa comparticipação, junto supermercados e demais superfícies comerciais. A campanha prolonga-se até 9 de dezembro. 

Pode ler mais aqui 

NOTA: Todos sabemos que há fome em Portugal e que os serviços do Estado não conseguem garantir o apoio, urgente e necessário, aos mais pobres dos pobres. Também sabemos que o mais importante seria que todos os portugueses tivessem trabalho, com direito a um salário justo, mas tal não acontece. Nem sei se em alguma sociedade a chaga da pobreza  é inexistente. Daí as ações dos Bancos Alimentares e outras instituições para colmatar a dificuldade de responder objetivamente à pobreza no nosso país. Contudo, se todos pudéssemos  matar a fome aos pobres que nos rodeiam, seria um excelente princípio. 

Mandela: a liberdade e o perdão

Anselmo Borges

Em mais uma homenagem da Academia das Ciências a Nelson Mandela, no passado dia 20 de Novembro, também participei com uma comunicação, de que fica aí o essencial. 

1. Há uma experiência de fundo: o ser humano não é objecto, coisa. Olhamos para as coisas como um "isso", mas olhamos para os seres humanos como um "alguém". Alguém que é um "tu" como eu e, ao mesmo tempo, um tu que não sou eu: outro eu e um eu outro, formando um "nós". O outro, no seu rosto e olhar, impõe-se-me como um "alguém corporal", a visibilidade de uma interioridade inacessível que se mostra e impõe. 
A experiência radical de não se ser coisa dá-se na consciência da liberdade. Cada um, cada uma, faz a experiência originária de ser dado, dada, a si mesmo, a si mesma, experiência que se explicita na consciência de autoposse. Somos senhores e donos de nós. Muito cedo, a criança é capaz de dizer ao pai ou à mãe: não és minha dona, meu dono. Pertenço, antes de mais, a mim próprio, a mim própria. 
Claro que a liberdade não é demonstrável. Aliás, se o fosse, não seria liberdade, mas coisa. A liberdade apresenta-se nesta experiência de autoposse e, consequentemente, na experiência de responsabilidade: respondo por mim e pelo que faço. Dada a neotenia - vimos ao mundo por fazer -, temos pela frente a tarefa essencial, constitutiva: fazermo-nos a nós mesmos, uns com os outros, no mundo. Poder-se-ia acrescentar que a experiência da liberdade é uma experiência transcendental: a liberdade afirma-se, mesmo na sua negação. De facto, se tudo estivesse sob o determinismo, não seria possível pôr a questão da liberdade e do determinismo enquanto tal.

sexta-feira, 30 de novembro de 2018

“Aprender com o Povo a Alegria Sã do Evangelho”


O mais recente livro de Georgino Rocha



“Aprender com o Povo a Alegria Sã do Evangelho” é o mais recente livro de Georgino Rocha, presbítero da Igreja Aveirense e “pastoralista conceituado”, no dizer oportuno, no Prefácio, de D. José Alves, bispo emérito de Évora. Vem este trabalho na senda de muitos outros, publicados em livros, revistas, jornais e por outras formas, no espírito da formação do Povo de Deus, a quem prioritariamente se dirige, sem excluir, contudo, quem ousar ser esclarecido sobre o pensar da Igreja para os tempos de hoje.
Ler o Padre Georgino é, indubitavelmente, tirar um curso sobre a pertinente leitura dos sinais dos tempos, fórmula indispensável para traçar caminhos abertos à nova evangelização, indissociável do encontro com Cristo sofredor que está à nossa espera nas periferias das nossas indiferenças, tantas vezes denunciadas pelo Papa Francisco e por outros que o antecederam.
Voltando ao Prefácio, D. José Alves sublinha que o autor é “profundo conhecedor das virtualidades e dos limites da religiosidade popular cristã”, razão por que, aprender com o povo, se torna “o fio condutor” desta obra que merece ser lida e meditada por todos os que apostam na reflexão, fundamental antes da ação.

O AVISO DE JESUS: Tende cuidado e vigiai

Georgino Rocha

Jesus quer ajudar os discípulos a cultivarem uma atitude responsável na vida. Nem fugas para a frente ou para trás, nem insensibilidade e indiferença alienante no presente. Atitude responsável que se manifesta em advertir no que acontece e dar conta do seu sentido, do rumo dos dinamismos que contêm, da sua repercussão no bem de todos/as, na dignidade de cada um/a, na harmonia e no equilíbrio da biodiversidade. Atitude responsável porque o gérmen do futuro definitivo já está plantado na humanidade e vai crescendo em critérios de vida e atitudes de bondade de tantas pessoas que mostram que outro mundo é possível e necessário. Este gérmen a desenvolver-se no tempo atingirá a plenitude na eternidade, graças à intervenção transformadora de Deus na pessoa do seu Filho, o Senhor Jesus.

Lucas, o evangelista narrador que nos vai acompanhar ao longo do ano litúrgico que se inicia, coloca o episódio de hoje na parte final do discurso público de Jesus, antes de se retirar para o Jardim das Oliveiras, local onde tem lugar a sua prisão. (Lc 21, 25-28, 34-36). Discurso cheio de densidade humana, de avisos premonitórios de um futuro iminente e sua repercussão no presente. Discurso que faz uma leitura da história e do final feliz do mundo, apesar dos acontecimentos brutais que semeiam tribulações sem conta nem medida. E Jesus anuncia com certeza firme: “A vossa libertação está próxima”. E diz porquê: “Hão-de ver o Filho do homem vir numa nuvem com grande poder e glória”. O Filho do homem é Ele, Deus humanado, a Quem o Pai confia a abertura do livro da vida e a leitura das intenções das pessoas e o alcance dos acontecimentos.

segunda-feira, 26 de novembro de 2018

24 de novembro. E foi assim…



O último fim de semana foi assim: de um dia para o outro, vi-me envolvido por uma onda mansa e terna, porém forte de simpatia e muita amizade, da minha família e da paróquia que me viu nascer e me acompanhou durante 80 anos. 
Quando sonhava que essa data fosse assinalada pelos parabéns, cantados e desafinados, porventura, que a minha garganta já não é o que era, à volta da mesa familiar, entre sorrisos, gargalhadas e brindes, senti-me, a convite do meu prior, Padre César Fernandes, aconchegado à mesa do altar, numa eucaristia presidida pelo Vigário-geral de Diocese de Aveiro, Padre Manuel Joaquim Rocha, em nome do nosso bispo, que os meus 80 anos justificariam… 
Nunca tal tinha imaginado nem sequer desejado. Humildemente, contudo, obedeci, agradecendo com emoção as provas de ternura, de carinho e de fraterna alegria, com flores, livros, mimos, abraços, beijos e palmas de tantos amigos  e companheiros de caminhadas de fé, esperança e amor. 
Um bem-haja a todos os meus familiares, amigos e paroquianos. 

Fernando Martins

Aprender com o Povo a Alegria sã do Evangelho

Georgino Rocha apresenta 
o seu mais recente livro. 
Registe na sua agenda



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Natal para um mundo novo



A expectativa de quem sonha um mundo novo, assente n’Aquele que é Caminho, Verdade e Vida, pode gerar a alegria que nos enriquece. O saber que Jesus Cristo vem sempre a caminho e ao nosso encontro, para secar lágrimas, acalentar sonhos de paz e ensinar fraternidade, mais valorizará a esperança que nos envolve e nos entusiasma neste Advento. Tanto mais, quanto é certo que o mundo perdeu o Norte da justiça e teima em não encontrar caminhos de paz e de amor solidário, onde todos se comportem em conformidade, não havendo lugar para mentiras, hipocrisias e indiferenças em relação a quem nunca experimentou a ternura do natal da fraternidade.
A expectativa que nos anima, que é certeza da alegria que vem com hinos de glória ao Deus-Menino, dá-nos vitalidade e coragem para lutar, com as armas da bondade e da compaixão, pelo Reino de Deus que pode estar, se quisermos, ao alcance de toda a gente que labuta na terra que nasceu com ânsias de paraíso.
Bom Natal para todos, são os meus votos muito sinceros.

Fernando Martins

domingo, 25 de novembro de 2018

Não há soluções prontas a servir

Frei Bento Domingues

«É verdade que ninguém dispõe de soluções prontas a servir a dignidade humana de todos. Mas ninguém devia dispensar a pergunta: eu não posso mesmo fazer nada? 
O Papa Francisco faz o que pode, mas não nos pode substituir.»

1. Vamo-nos enganando e já não é pouco! Foi o comentário de um amigo à minha homilia de apresentação da Mensagem do Papa para o II Dia Mundial dos Pobres, no passado Domingo. Procurou fazer-me uma breve catequese de bom senso, pois ninguém tem uma receita eficaz para curar a história da nossa desumanidade. Mergulhados no mistério do tempo, cada um de nós vive, apenas, o pequeno intervalo entre o nascimento e a morte. Tanto vale acreditar que o mundo vai mudar para melhor como repetir que irá sempre de mal a pior. Os anúncios do avanço das ciências e das técnicas deixaram, há muito, de o entusiasmar. A quem vão eles servir? Oferecem, aos donos dos grandes negócios, novos instrumentos e condições para desenvolverem a concentração da riqueza e do poder económico, bélico e político. O mundo de todos em mãos de poucos. 
Insistiu comigo: aquilo que o Papa diz e tenta fazer não resolve nada. O próprio Cristo, num momento de grande lucidez, arrumou com todas essas veleidades: pobres sempre os tereis entre vós! Estava escrito na Bíblia o que ele bem conhecia: não “haja pobres entre vós” e, no entanto, Jerusalém, a cidade santa, tinha-se tornado um grande centro de mendicidade. 
Sei que as atitudes, os gestos e as palavras de Bergoglio não resolvem nada, mas também sei que ajudam muitas pessoas a resolverem-se a abandonar o cepticismo estéril e a interrogar-se: que posso eu fazer? Impede-nos de tapar os olhos e os ouvidos e de dizermos que não sabemos bem o que se passa. Recusando ou aceitando somos cúmplices, aliados ou indiferentes. O Papa não consente que forjemos um Deus que nos substitua e, por isso, há crianças, adolescentes, jovens e adultos que para serem felizes optam por hierarquizar as suas necessidades e desenvolver os seus talentos para vencerem a solidão e as situações difíceis de outras pessoas. Descobriram que havia estilos de vida mais divertidos e entusiasmantes do que o culto da estupidez consumista. Um estilo sóbrio de vida pode e deve ser mais divertido do que a peregrinação obrigatória a todos os restaurantes do Guia Michelin. 

Um soneto de David Mourão-Ferreira para este domingo


E POR VEZES... 

E por vezes as noites duram meses
E por vezes os meses oceanos
E por vezes os braços que apertamos
nunca mais são os mesmos E por vezes

encontramos de nós em poucos meses
o que a noite nos fez em muitos anos
E por vezes fingimos que lembramos
E por vezes lembramos que por vezes

ao tomarmos o gosto aos oceanos
só o sarro das noites não dos meses
lá no fundo dos copos encontramos

E por vezes sorrimos ou choramos
E por vezes por vezes ah por vezes
num segundo se evolam tantos anos

sábado, 24 de novembro de 2018

Sobre Saramago e Deus

Anselmo Borges

O Centro de Literatura Portuguesa da Universidade de Coimbra e a Câmara Municipal de Coimbra organizaram nos passados dias 8, 9 e 10 de Outubro, no Convento de São Francisco de Coimbra, um Congresso Internacional: "José Saramago: 20 anos com o Prémio Nobel". Carlos Reis e Ana Peixinho pediram-me uma intervenção sobre Saramago e Deus. O que aí fica é uma breve síntese da minha fala nesse Congresso. 

1. Numa entrevista dada a João Céu e Silva, uma das últimas, se não a última, Saramago referiu-se-me com admiração por ter lido e gostado do seu livro Caim. "Até fiquei surpreendido quando ouvi um teólogo - uma coisa é um teólogo e outra um padre -, Anselmo Borges, dizer que tinha gostado do livro." Mas na net também se diz, e é verdade, que fui crítico por causa de alguma unilateralidade com que Saramago leu a Bíblia. Assim, a minha intervenção quer ser essencialmente um esclarecimento sobre essa minha dupla visão. 

2. Saramago foi à Academia Sueca dizer, no dia 7 de Dezembro de 1998, logo na primeira frase: "O homem mais sábio que conheci em toda a minha vida não sabia ler nem escrever." 
Quando me expresso sobre o diálogo inter-religioso, digo sempre, com escândalo de alguns, que desse diálogo também fazem parte os ateus, os ateus que sabem o que isso quer dizer - os crentes também só o são verdadeiramente se souberem o que isso quer dizer. Fazem parte, porque são eles que, estando de fora, mais facilmente vêem as superstições, as inumanidades e até as barbaridades que tantas vezes infectam as religiões. Assim, à maneira de Saramago, também digo: foi com dois ateus que aprendi do melhor da Teologia: Ernst Bloch e o nosso homenageado, José Saramago. Mais com Bloch, porque, dada a situação da Teologia na universidade alemã - em todas as universidades, há duas faculdades de Teologia, uma católica e outra protestante -, ele tinha profundos conhecimentos bíblicos. Neste enquadramento, refiro três pontos. 

sexta-feira, 23 de novembro de 2018

"Meridiano 28" — Um livro de Joel Neto

Pedro Martins e Joel Neto



Caro Joel Neto:

Terminei a leitura do “Meridiano 28” no passado dia 15/11/2018.
Comecei a lê-lo assim que pude e fi-lo com gosto, mais, até com entusiasmo, porque a obra empolga, o enredo prossegue num crescendo e à medida que nos aproximamos do fim começamos a perguntar-nos, com expectativa, que volta o autor vai dar, parecendo que irão faltar páginas para desvendar a história de Hansi, pesquisada por Filemon. Mas não, a inesperada reviravolta lá está (ou melhor, as reviravoltas…) e todos os contornos e mistérios das personagens mais reservadas ou mais sombrias se revelam, numa congruência que o Joel Neto domina perfeitamente e, aliás, já o demonstrara em “Arquipélago”.
É sempre a pergunta que faço a mim próprio, quando deparo com enredos tão criativos, sem deixarem de ser verosímeis: como diabo nasce a história na cabeça do autor? Como é que ela se desenvolve com tanta mestria para oferecer ao leitor uma experiência tão lúdica e prazerosa, quanto rica em conhecimento histórico? É de facto essa mestria que o Joel Neto adquiriu e conserva e espero que se repita por muitos e bons anos.
Acho, até por conversas que tive com quem já leu o livro, que contrariamente ao que se passa em “Arquipélago”, o “elemento geográfico” não assume um papel tão preponderante neste “Meridiano 28”, apesar de o título nos remeter para uma coordenada espacial.

Festa de Cristo Rei: Seguir Jesus, o Senhor da Verdade

Georgino Rocha


"A Igreja quer estar liberta para servir a verdade. Em todas as situações. É missão que diz respeito a cada um/a. Conforme o espaço onde habita e o ambiente onde trabalha. A começar pela proximidade na família e alargando-se a outras lonjuras, pois o mundo é a nossa casa e a natureza nossa mãe."


Jesus, preso e amarrado, é levado a Pilatos por uma delegação das autoridades judaicas. Era de manhã e estava próxima a páscoa. O episódio abre a narração que São João faz do desfecho do processo de condenação à morte. Jesus é entregue como malfeitor e vai passar a ser um criminoso político. A sequência da acusação torna-se esclarecedora de tantas situações em que a verdade é sacrificada porque o interesse, a conveniência e o preconceito falam mais alto. Vamos deter-nos nos diálogos de Pilatos com Jesus e procurar penetrar nos sentimentos de cada um. Vamos ver pontos concretos que, à maneira de projectores, iluminam a consciência de quem quer agir livremente e tem regras para cumprir. Vamos acolher a novidade que Jesus nos transmite com a sua atitude, seu silêncio e sua palavra. (Jo 18, 33b-37).

quinta-feira, 22 de novembro de 2018

“O meu país é o que o mar não quer” de Paulo Palma

MMI -  Patente até 24 de março de 2019


«A exposição “O meu país é o que o mar não quer” exibe cerca de 2000 postais ilustrados da costa Portuguesa editados ao longo do Século XX. Envolvido num panorama de imagens difundidas ao longo do século XX, o visitante encontra um dispositivo ótico que revela uma totalidade espacial e temporal, construída para a possibilidade de múltiplas leituras. Embora os postais ilustrados sejam o espelho de uma determinada circunstância, o seu conjunto permite perceber o processo de transformação da paisagem pelos agentes
naturais de erosão como a água e o vento, a importância da pesca na afirmação identitária nacional e a pressão da ocupação urbanística que acelerou o processo de erosão.»

Li aqui 

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