no PÚBLICO
Sara Reis da Silva |
«Sou “de literatura”. Dou por mim a afirmá-lo e a sentir essa frase a ecoar em mim nos mais diversos momentos da minha vida. Sou “de literatura” e sou de/dos livros, desde sempre, no meu espaço pessoal e íntimo e, há já mais de duas décadas, nas minhas vivências profissionais/académicas. Talvez porque, tentando e persistindo no encontro com as questões que o texto coloca a quem o lê, procurei dar-lhes sempre resposta (como preconiza Jacques Bonnet, em Bibliotecas cheias de fantasmas, acredito que “o importante não é ler depressa, mas ler cada livro à velocidade que ele merece”), sempre ciente de que “é literatura tudo aquilo que reflecte um universo pessoal, que transporta uma imagem do mundo, que converte em arte o quotidiano, o efémero, o banal”, como escreve Nuno Júdice, em ABC da Crítica (2010).
E, assim, tenho para mim que todas as estratégias de aproximação ao livro e à leitura, desde idades precoces, tendo implícitas as ideias de que a leitura não pode ter apenas um objectivo utilitário e também de que esta exerce um papel crucial ao nível do desenvolvimento intelectual, do aprofundamento de conhecimentos, da estruturação da imaginação, da formação da sensibilidade, do conhecimento de si mesmo e dos outros, do estímulo à reflexão e à criatividade, e, genericamente, do cresci-mento/amadurecimento individual e social, todas as estratégias, dizia, poderão “fazer viver a leitura”. Como lembra José António Gomes, num artigo disponível no portal do projecto Gulbenkian/Casa da Leitura, recuperando algumas palavras de Lucette Savier (1988), acredito que “fazer viver a leitura” é “ligar o livro à vida da criança, sem o limitar à aprendizagem e ao espaço escolar. É longe de censuras e argumentos intelectuais, desvelar o interesse e o prazer da leitura, partilhá-los e discuti-los com ela. E é, finalmente, correr o risco de que, em qualquer lugar, a qualquer momento, o livro e o jogo da leitura possam estar presentes; sujeitos ao capricho da criança, para um breve encontro ou para uma longa conversa.»
NOTA: Todos os pais, educadores e bibliotecários deviam ler este texto aqui