Pedro Martins e Joel Neto |
Caro Joel Neto:
Terminei a leitura do “Meridiano 28” no passado dia 15/11/2018.
Comecei a lê-lo assim que pude e fi-lo com gosto, mais, até com entusiasmo, porque a obra empolga, o enredo prossegue num crescendo e à medida que nos aproximamos do fim começamos a perguntar-nos, com expectativa, que volta o autor vai dar, parecendo que irão faltar páginas para desvendar a história de Hansi, pesquisada por Filemon. Mas não, a inesperada reviravolta lá está (ou melhor, as reviravoltas…) e todos os contornos e mistérios das personagens mais reservadas ou mais sombrias se revelam, numa congruência que o Joel Neto domina perfeitamente e, aliás, já o demonstrara em “Arquipélago”.
É sempre a pergunta que faço a mim próprio, quando deparo com enredos tão criativos, sem deixarem de ser verosímeis: como diabo nasce a história na cabeça do autor? Como é que ela se desenvolve com tanta mestria para oferecer ao leitor uma experiência tão lúdica e prazerosa, quanto rica em conhecimento histórico? É de facto essa mestria que o Joel Neto adquiriu e conserva e espero que se repita por muitos e bons anos.
Acho, até por conversas que tive com quem já leu o livro, que contrariamente ao que se passa em “Arquipélago”, o “elemento geográfico” não assume um papel tão preponderante neste “Meridiano 28”, apesar de o título nos remeter para uma coordenada espacial.
Em “Arquipélago”, sem ser o elemento preponderante na trama, há um cunho marcadamente apologético da ilha Terceira, ainda que de forma equilibrada e inteiramente justa – a ilha está sempre lá, debaixo dos pés do homem que não sente os tremores de terra… (estarei a ver mal?); neste “Meridiano 28”, a geografia, sendo importante, cede o palco à História do século XX, a um dos momentos mais marcante da centúria, à descoberta dos meandros psicológicos da personagem principal (mais o Hansi do que o Filemom…) e às relações humanas, conviviais e gregárias, mantidas entre supostos povos inimigos em tempo de guerra, num ponto do globo, o Faial e a Horta, que nesse sentido se afigura como o centro do mundo, o centro de um mundo que ansiava por paz e concórdia (o Hansi, de resto, ainda que por razões de certo modo egoístas, anseia por esse final da guerra…). E é também essa ânsia do leitor (pelo menos, do leitor conservador nos costumes…), que quer ver resolvidos os dilemas morais que o livro coloca e que o livro resolve.
Olhe, caro Joel Neto, resumidamente, porque há sempre tanto para dizer, foi assim que eu li o livro.
Espero pelo próximo, lançando-lhe o desafio, se me permite, de que o leitor, na próxima obra, quando ela puder ver a luz do dia, possa vir a encontrar outros mapeamentos geográficos e, mais importante, até, outras incisões na alma humana!
Forte abraço
Pedro Martins
PS. Assim respondo ao desafio que lançou aos seus leitores aquando do lançamento da obra na FNAC do NorteShopping, de que lhe fizessem chegar as impressões deixadas pelo livro.