sexta-feira, 7 de março de 2008

ACORDO ORTOGRÁFICO


O ministro da Presidência, Pedro da Silva Pereira, afirmou ontem que Portugal será "fiel" aos compromissos do Acordo Ortográfico de 1991 e sublinhou que o prazo de seis anos de transição "é razoável" para a adaptação às modificações previstas no acordo. Disse ainda que "O Governo decidiu adoptar medidas de transição por um prazo de seis anos - prazo que julgamos suficiente e razoável para que essa transição possa ocorrer”.
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Quem já passou por algumas reformas ortográficas, como eu, não pode ver nenhum drama nisto. Daqui a seis anos, já o mundo da Língua Portuguesa estará em sintonia com as alterações previstas, até porque os computadores, devidamente programados para isso, darão a todos uma ajuda preciosa.
Já agora, não vale a pena alinhar com os pessimistas que ficam horrorizados com a ideia de que a Língua Portuguesa está a ceder a influências estranhas às nossas matrizes linguísticas. Não pensem nisso! Língua que não se adapte ao que vem de fora ou que rejeite a inovação está condenada à morte.

FM

quinta-feira, 6 de março de 2008

Na Linha Da Utopia


Uma mesa comum: «E os alunos?»

1. O que temos verificado no panorama da educação suscita muitas reflexões por este país fora, umas silenciadas outras expressas. Educação, área estruturante e delicada, trabalhada esforçadamente nas últimas décadas por gerações de líderes, professores e famílias, estudantes e entidades. Muitas propostas ou indicativos estimulantes que hoje se consideram pertinentes já são pensados há muitos anos por quem foi abrindo caminhos de uma educação inclusiva e participada pela sociedade a quem, afinal, se destinam os educadores. Da outra face da moeda, muitos défices e limites do “sistema” têm merecido os reparos denunciadores de um consenso na razoabilidade que tarda em chegar. Sem alarmismos, mas sem superficialidades, estas últimas semanas têm sido más demais para ser verdade. Quase um beco sem saída; radicalizaram-se as posições em sector tão fundamental (e alimentador) de uma desejada vida social tolerante, compreensível e comprometida com o essencial da tarefa educativa: os estudantes.
2. Numa simples opinião, talvez ao ponto onde chegámos seja necessária mesmo uma “terceira via”: uma “mesa” onde se recentre o essencial e onde não se sentem as inflexibilidades dos dois lados, mas sim os dois ângulos da questão. Venha e cultive-se uma mentalidade socioeducativa (o “trunfo” dos países desenvolvidos) onde não adianta nada (1º) nem demitir ministros da Educação, (2º) mas onde estes nas políticas que representam saibam construir uma via comum. As inflexibilidades e intolerâncias não conduzem por nenhum caminho, a não ser o pior. A fronteira é ténue, ou já foi mesmo ultrapassada. Quanto mais as versões político-partidárias avançam com as bandeiras dos gritos e das demissões ministeriais (seja de que lado for), mais difícil se tornará a comunidade escolar, a sala de aula, o recreio, o envolvimento dos pais, das autarquias. Para descer basta um instante, para subir a qualidade são necessários anos. Também aqui a noção de reformas que temos carece de uma sustentabilidade que inclua, à priori, a globalidade das expressões.
3. Reformas (como as revoluções) à força, não só no “momento seguinte”, mas, como vemos, “durante”, resulta no panorama caótico impensável. As noitadas dos professores nas ruas do país têm sido estonteantes, no que se diz e no cansaço que gera para ao fim de horas ‘dar aulas’; a “revisão” (natural em processos democráticos) do processo de avaliação de professores tarda demasiadamente, como se fosse algo supradogmático. Queremos buscar razões para a “confiança”, mas, pelo “tesouro” da educação que (não) vemos, só abundam cogumelos desagregadores. Talvez tenhamos de começar do princípio e criar um slogan no ser profundo de cada cidadão: precisamos de nos sentar a uma mesa comum e reflectir sobre «E os alunos?». Não sabendo para onde vamos, sabemos que será pelo que temos visto. Claro, é preciso grandeza de Humanidade para reconhecer que aqui ou ali todos falhámos e queremos melhorar, sem que isso tenha de significar o “atirar pedras” demissionárias. Para quando esta grandeza humana? Conseguiremos mudar esta matriz infeliz da nossa história? Até quando?!

Alexandre Cruz

A política da educação e a educação da política


A propósito das manifestações dos professores, dos vários graus de ensino, ocorre-me sugerir que as comunidades educativas reflictam sobre os assuntos que incomodam tantos docentes, no sentido de construírem opiniões credíveis. Luís Filipe Torgal dá uma achegas, questionando-nos: "Ainda que mal pergunte: existe algum país democrático onde um Governo tenha desejado e conseguido instituir uma reforma em qualquer das suas áreas vitais sem a participação maior ou menor dos seus protagonistas?"


PÃO E REMÉDIOS


Os bens do dia-a-dia a que as pessoas são mais sensíveis, quando eles faltam ou o seu preço aumenta e se torna incomportável, são estes bens de primeira necessidade que dão pelo nome de pão e de remédios. De novo se anuncia que o pão vai ser mais caro. Dos remédios nem é preciso dizer, nem anunciar, por estar à vista a dificuldade de os pagar, quando não se pode passar sem eles e os ordenados e reformas permanecem magros. Em relação ao pão, todos sabemos como ele é mesmo alimento necessário, verdadeiramente indispensável sempre, mas sobretudo quando na família há crianças.
Na sabedoria do povo, ouvimos como o pão é sinal de amor e de vida. “Tira-se o pão da boca para o dar aos filhos”, como se tiravam os anéis dos dedos, ao surgir uma doença ou um contratempo que tinha de se enfrentar, sem olhar a gostos e a sacrifícios.
A pobreza aumenta, e agora também a das crianças. Diz-se e verifica-se, cada dia, que assim é mesmo. Que nas crianças não é só de pão, mas para muitas também o é de atenção, de carinho, de amor sensível, de respeito.
Uma pobreza, quando à vista de todos, sempre vai contando com alguma ajuda. Mais ajuda de pobres, que sabem como é não ter o necessário, do que ricos. Fascinados por ter mais, envolvem-se em desculpas para manter o coração e a bolsa fechados. Outra pobreza, não menos dolorosa, encoberta e envergonhada, nem sempre por culpa própria ou da família, em que não é fácil enfrentar a vida de rosto destapado, quando ela foi madrasta e atirou para a valeta quem sempre andou na estrada.
O povo também diz que “quem precisa, precisa todos os dias”, mas quem ajuda nem sempre o pode fazer todos os dias.
Ao lado da pobreza que aumenta, vemos com preocupação definhar a solidariedade de muitos para com quem precisa, tornando-se um desafio inaceitável a sua faustosa ostentação. Quando na sociedade falta a muitos o necessário e a outros sobra aquilo de que dispõem, a ponto de o desbaratar, o espírito de compaixão e de partilha fica tolhido pela insensibilidade que o egoísmo gera e alimenta. Então o mundo caminha para a degradação.
Quem sustenta as relações humanas sadias é o amor mútuo feito partilha, não a ostentação que a uns ensoberbece e a outros humilha.
Pão e remédios, que remédios também são pão!
Sobram computadores, distribuídos em profusão, com televisão atrás, às crianças das escolas. Sobram “viagens de estudo”, já a partir do ensino pré-primário, quando a capacidade de apreciar é ainda pouca. Sobram passeios, jantares e almoços festivos aos idosos, quando se deixam, de lado e sem resposta, necessidades básicas, que todas estas cabem quando se fala de pão e de remédios.
Não que tudo isto seja inútil ou sem sentido, mas porque se torna importante e urgente, num país sem grandes recursos, que não se descuide o essencial, para privilegiar o secundário, muito menos quando o essencial é incómodo e o secundário leva a elogios a quem o proporciona.
A vida do dia-a-dia de muita gente, pessoas e famílias, está-se tornando um problema grave, mormente quando surgem situações de desemprego, de falta de saúde, de urgências inadiáveis, de insegurança constante, quando pela frente surge um futuro fechado a sonhos auspiciosos. Quem não tem dificuldades, ou nunca as teve, nem se apercebe desta dolorosa realidade.
A solidariedade é campo aberto onde todos podem e devem caminhar. O governo, que administra dinheiros que não lhe pertencem, tem de ser sério e realista perante as necessidades concretas das pessoas.

António Marcelino

quarta-feira, 5 de março de 2008

ADAMASTOR?

A cabeleira do gigante

O gigante (será o Adamastor?) saiu do mar e pé ante pé veio repousar no areal. Mas não mostrou a face medonha a quem quer desvendar os seus segredos. Nunca a deixou ver, apesar do retrato que Camões dele pintou em versos intemporais. Eu bem vi a sua cabeleira hirsuta, ali na praia do Areão, no passado sábado, quando por lá andei. Quis vê-lo mais de perto, para descobrir nos seus olhos a raiva que tem a quem ousa entrar nos seus domínios e para ouvir a sua voz cavernosa, que tanto medo causou aos nossos navegantes de antanho. Mas o malandro não deixou e apressou-se a entrar nas profundezas do Oceano.

FM

UMA ACTUALIDADE DESACTUALIZADA

Faz falta ensinar à gente nova, porque agora já não se ensinam, e recordar aos menos novos, que ainda as aprenderam, as catorze obras de misericórdia, sete corporais e sete espirituais.
É uma aprendizagem com consequências na vida de quem sabe e na daqueles que podem beneficiar do seu saber.
O cortejo dos necessitados de misericórdia é grande e aumenta sempre mais, mesmo que se julgue o contrário. Não faltam famintos e sedentos a alimentar, nus a vestir, peregrinos a acolher, cativos a redimir e doentes a visitar e a cuidar. Não faltam ignorantes a ensinar, desviados a corrigir, perturbados a aconselhar, tristes a consolar, gente por quem se tem de ser paciente e muitos, vivos e mortos, a pedir-nos uma memória activa e um coração agradecido.
As obras de misericórdia não perderam a cotação. Elas serão a matéria de exame final sobre o valor que demos à vida e a maneira como a vivemos ao longo do tempo. A Quaresma pode levar-nos a dar-lhes atenção e sentido. Não é tempo perdido.

António Marcelino

Na Linha Da Utopia


As duas gerações

1. Nas comemorações dos 18 anos de edições, o jornal Público elabora um interessante exercício de ver como estávamos há 18 anos, no confronto contemporâneo dos que nasciam com os que na altura atingiam essa idade. Dos que nasciam no ano do Público (1990) aos que chegavam a considerada maioridade de 18 anos já parece haver uma distância tal como se se tratasse de muitas décadas de diferença. Ajuda-nos este confronto a tomar consciência que desse tempo para hoje as velocidades com que comunicamos aproximaram o particular do universal e o mundo da casa e vida de cada um. Nascendo, em 1989, com a queda do Muro de Berlim uma nova configuração planetária (com o fim do último totalitarismo, soviético), no mundo da época respirava-se de alívio pós-guerra fria na expectativa realizadora e esperançosa de uma verdadeira pacificação global.
2. Nesta nova conjuntura de liberdades abertas (não há liberdades fechadas!), talvez os anos 90 tenham sido a época histórica de uma autêntica “epopeia tecnológica”, com o boom eufórico da universalização das múltiplas formas de comunicar e sentir o mundo presente. Este mega exercitar da globalização, de tendências marcadamente hegemónicas e de domínio do económico em detrimento das diversidades, das ideias, políticas e culturas, sofre um forte revés nos atentados do 11 de Setembro de 2001. Talvez tudo tenha andado depressa demais em termos de tecnologias e de aproximação estratégico-científica e comunicacional, porque talvez tudo tenha andado devagar demais no que se refere ao verdadeiro (re)conhecimento da essência da Humanidade nas suas diversidades e nos seus “porquês”. O incompreensível “grito” do 11 de Setembro traz consigo um arrepiar de caminhos que, nas inseguranças e nos medos, pode reconduzir a história a alguns fechamentos geradores de desigualdade e exclusão.
3. A geração portuguesa que nasceu há 18 anos vive hoje com as mãos cheias de tecnologia mas, não tendo assistido ao seu emergir (algo que quem na altura tinha essa idade foi presenciando), corre o perigo crescente da absolutização das “coisas” deitando a perder o essencial da humanidade pessoal e social que são as relações humanas. Os resultados estão aí: Como refere o estudo do Público: «Acreditam: neles…» e «Não acreditam: no país, no casamento, nos outros». Num país diferente para melhor em muitas realidades mas na mesma em relação a muitas desconfianças espelhadas em mega casos de justiça e a sua continuada incerteza, a geração que está aí confirma os receios de uma (pseudo-)cidadania da indiferença sócio-política que, de quando em quando, costumamos criticar... Talvez tenhamos muito a aprender com as gerações anteriores; mas para isso é preciso o “diálogo de gerações” e mesmo o diálogo intercultural. Nestes diálogos, é certo que usando todas as virtualidades que nos aproximam, mas… preservemos e enalteçamos a presença humana.

Alexandre Cruz

SUBSÍDIOS PODEM GERAR DEPENDÊNCIAS


Os jornais disseram que a CONFAP (Confederação Nacional das Associações de Pais) recebe, anualmente, milhares de euros para poder desempenhar o seu papel de defensora dos interesses dos pais e dos alunos das nossas escolas. Sempre me repugnou a ideia de instituições como esta receberem subsídios do Estado. Porquê? Pela simples razão de que podem perder a independência face aos poderes instituídos.
Aceito, porém, que possam receber comparticipações para projectos de formação que contribuam para o desenvolvimento dos membros das instituições. Eu acho, no fundo, que as associações, sejam elas quais forem, devem ser o reflexo dos seus membros, os quais têm a obrigação de sustentar aquilo que lhes dá prazer. Sei de uma Câmara, a de Ílhavo, concretamente, que ajuda as instituições mediante contrapartidas ou parcerias, ou projectos de natureza social, cultural ou outra. Dar por dar não está na sua agenda. E nem deve estar, a meu ver.
Se o Estado se habituar a dar subsídios regulares, é certo e sabido que gera dependências, criando nas pessoas o hábito de se acomodarem à facilidade da vida. O Estado pode e deve estimular o associativismo, a solidariedade, o envolvimento das pessoas em acções de âmbito diverso, mas nunca sustentar instituições. Subsídios eventuais, repito, vá que não vá. Mas não mais do que isso.

FM

O PÚBLICO faz 18 anos


O PÚBLICO faz hoje 18 anos. Em termos humanos atingiu a maioridade. Sob o ponto de vista jornalístico já nasceu adulto e responsável. É, desde o primeiro número, o meu jornal diário. Só não o leio por motivos de força maior: doença ou outros incómodos. E quando isso acontece, fico com a sensação de um certo vazio. Depois, até chego à conclusão de que, na verdade, aconteceu algo de importante a que não tive acesso.
O PÚBLICO é considerado um diário de referência. No dia-a-dia traz o essencial do País e do mundo. Mas com frequência não me mostra o que aconteceu na minha rua, nem aborda alguns temas de que gostaria. Contudo, o fundamental, o retrato do quotidiano e a perspectiva do futuro próximo, vem lá.
Fico sempre satisfeito com o que publica? Não. Por vezes revolta-me a importância que dá a banalidades, a mexericos, a denúncias não suficientemente esclarecidas, a sensacionalismos… Mas talvez isso seja hoje uma forma de condescender com a (inevitável) procura de novos leitores e mais publicidade, base da sustentabilidade económico-financeira de um qualquer órgão de comunicação social. De qualquer modo, continuo a cultivar o princípio de que nem sempre os fins podem justificar os meios.
Parabéns ao PÚBLICO e a quantos o fazem no dia-a-dia, em luta constante pela qualidade.

FM

terça-feira, 4 de março de 2008

Na Linha Da Utopia


Vencer o Pessimismo

1.
Não se pense que é só em Portugal que o pessimismo vai alastrando, nem se julgue que o factor de crise económica é o ‘cerne’ da questão e a sua raiz. Talvez as ondas das emoções sociais sejam como as bolsas de valores, depois de fases de optimismos em que tudo parece correr às mil maravilhas (dos anos 60-70) vem a crise do reequilíbrio e reajustamento à realidade (em fins e início de milénio). Sublinhe-se, um certo sentir («difuso» ou infuso) de pessimismo só pode ser superado com o compromisso de cada dia, não havendo fórmulas mágicas que solucionem todas as questões em simultâneo na sociedade, hoje, em rede. Normalmente, neste lado do mundo em que nos fomos habituando a uma certa qualidade de vida, só queremos que a “rede” funcione para as coisas positivas, esquecendo que não há bela sem senão e que, talvez, os múltiplos processos de globalização em curso são a origem das novas sensações a reconhecer e integrar.
2. Como em tudo, o primeiro passo é “compreender”. Por isso, não admira que lendo as transformações em andamento, em que por exemplo o emprego para toda a vida é realidade já mesmo do passado, diante das novas inseguranças, a resposta humana não pode ser a resistência da luta contra os moinhos de vento das transformações; a tensão da resposta terá de se projectar no encarar, formar, lutar, procurar, espevitar a esperança na redescoberta dos mecanismos de vida dinâmica, onde a pessoa é, efectivamente, parte das soluções que ela sabe (eticamente) criar e reinventar. Ficar parado, desmotivado, resignado, a ver o mundo passar e perder tempo queixando-se na contínua ‘lamúria’, será afogar-se num pessimismo doentio que nos diz que se vivêssemos em outros séculos ou noutros sofridos continentes da actualidade já há muito teríamos padecido. Talvez na raiz do pessimismo também esteja uma mentalidade de impossíveis expectativas em relação à vida, confundindo muitas vezes (como há tempos dizia D. José Policarpo) felicidade com facilidade.
3. Muitas gerações que nos precederam tinham muito menos para viver. É natural que os tempos são outros, mas muitas vezes os hábitos da fartura (e fartura mal gerida, como o comprovam muitos supérfluos e mesmo o grave problema da hiper-obesidade de muitas crianças) acabam por deixar uma sementeira mais do “deixa andar” do que da palavra de ordem “vamos lá!” É claro que não se podem ocultar os cenários realistas (complicados) que vivemos, estes espelhados em variados relatórios que sempre surgem; mas toda a aposta na mentalidade terá de ser de investimento em ideias, esperança, cultura, formação, valores, ética, compromisso, cidadania, envolvimento (as palavras poderiam não acabar). No fundo, a diferença entre o pessimismo e o optimismo está no património de referências do coração humano... Quem dá valor às pequenas coisas só tem razões para agradecer o dom da vida e redescobrir energias do compromisso diário. Multipliquemos uma confiança realista (esta que não se confunde com muito do optimismo fácil proclamado pelos poderes), sem esquecer as dificuldades, mas não permanecendo nelas; faz mal, até à saúde (pessoal e social) e desmobiliza a reacção em ordem ao compromisso diário.

Alexandre Cruz

AVEIRO SEM TGV?


Diz-se que o TGV vai passar por Albergaria-a-Velha, preterindo Aveiro. Diz-se, também, que tal acontece por razões técnicas. E o povo de Aveiro, que sempre teve os comboios ao pé da porta, fica deste vez a ver navios, que também já se foram.
Estou a lembrar-me das histórias que me contaram, em menino: Se não fosse o José Estêvão, a Linha do Norte passaria por Águeda, perdendo a cidade dos canais em toda a linha.
Cá para mim, José Estêvão faz muita falta. Ou políticos como ele, que trazia a alma de Aveiro sempre à flor da pele e na ponta da língua, que escrever não era com ele, ao que parece.
Outros tempos, estes que agora vivemos. Nem o TGV seguramos. Será por toda a gente, ou quase, ter automóvel, cá por estas bandas?

FM

GOVERNO E PROFESSORES EM GUERRA


MEDIAÇÃO É URGENTE

Ontem, no Prós & Contras, o tema foi mais uma vez sobre o conflito entre Professores e Governo. Os convidados debitaram as suas doutas opiniões, enrolando-se algumas vezes, pelo desconhecimento perfeito que tinham das razões da “guerra”. Mas por fim lá veio uma proposta interessante, do neurocirurgião João Lobo Antunes, que mereceu aplausos de muitos. Isto, dizia ele, tal como está, já não vai pelo diálogo. Só uma mediação, protagonizada por gente independente e de reconhecido mérito, poderá sanar o conflito. Também me parece. Que pare a “guerra”, que sejam nomeados os representantes de ambas as partes, que se estudem as propostas governamentais e as contrapropostas dos professores, que tudo seja bem explicado à classe que tem por missão formar os homens e mulheres de amanhã e que não se esqueçam dos pais e muito menos das crianças. Entretanto, as aulas têm de continuar, os professores têm de ensinar, os alunos têm de aprender…
No final, a mediação dita a solução ideal. Bom trabalho a todos…

FM

A miragem da ressurreição


Mete-se pelos olhos dentro uma espécie de desencanto depressivo que se difunde e contagia. Copiam-se e colam-se textos e declarações de tempos idos mais próximos ou remotos que repetem até à exaustão esta fatalidade de ser português neste oeste da Europa. E sobem as comparações, raramente documentadas, com a excelência do "lá fora" para se impor a conclusão de que estamos encurralados na nossa mediocridade sem honra nem remissão. À porta do desespero. Ingovernáveis na violência, na insegurança, no desemprego, nas crises sucessivas de autoridade e autoridades que parecem conduzir-nos na justiça, saúde e educação a uma proximidade do abismo que brada por um qualquer messias, como já noutros tempos aconteceu.
Já era alegria, na romagem para Jerusalém, avistar a cidade santa. Tal como o horizonte da Terra Prometida animava o povo na sua caminhada árdua e aparentemente inglória.
O actual Papa ao propor-nos a Esperança como o grande horizonte para além dos horizontes, certeza para além das hipóteses, plenitude para lá das nossas estreitas métricas, dá-nos a chave para o entendimento da história e o ímpeto para prosseguirmos viagem. Sem esquecermos que a esperança também somos nós. Que a fazemos, alimentamos, muito para além de sentimentos ou pressentimentos ocasionais. Na certeza do nunca alcançável em pleno enquanto andarmos por cá.
Por isso se precisa mais de quem aponte caminhos e semeie a esperança do que de profetas azedos que se divertem na sua literatura de cordel semeando crispações e proclamando liberdades à sua medida.
Os cristãos são chamados a uma leitura serena e sábia da história, mas também à miragem da ressurreição em todas as mortes que vão acontecendo. Nada adianta ficar a chorar junto à pedra do túmulo. Importa rolá-la para entender que a ressurreição acontece em todo o processo redentor.

António Rego

LIVROS PARA MOÇAMBIQUE


Leitor atento e solidário fez-me chegar um apelo de uma professora sua amiga que se encontra a trabalhar em Moçambique, numa escola de formação de professores. Nesta altura, a sua amiga professora, a Vanessa, é também responsável pela biblioteca da escola, que está na fase de organização. Como é normal, a biblioteca tem pouquíssimos livros. O país é pobre e não há possibilidades de montar, de raiz, uma biblioteca minimamente equipada.
A Vanessa, contudo, não é pessoa para desanimar. E como é pessoa prática e entusiasta, resolveu recorrer aos amigos, solicitando livros. Foi o que fez, prometendo enviar fotos da biblioteca e dos livros que forem enviados. Diz ela que os livros podem ser em Português ou Inglês.
Já agora, permitam-me um conselho: Não estejam à espera de encher um contentor; enviem pelo correio os que puderem.

Aqui fica o endereço:

Jorgen Ohre
ADPP-Escola de Professores do Futuro
GAZA
C.P. 489 Maputo
Moçambique

segunda-feira, 3 de março de 2008

MOVIMENTO ESPERANÇA PORTUGAL


SEGUNDO apurou a SIC, vai surgir um novo partido político em Portugal. Rui Marques, antigo alto-comissário para a Imigração e Minorias éticas, é um dos dinamizadores.
O novo partido vai chamar-se Movimento Esperança Portugal. Para já, o núcleo fundador é composto por cerca de meia centena de personalidades independentes, entre as quais Rui Marques, que foi o dinamizador da viagem do “Lusitânia Expresso” a Timor-Leste durante a ocupação Indonésia.
O Movimento Esperança Portugal apresenta-se como abrangendo um espaço entre o PS e PSD.
Com o descontentamento que há, pelo que vejo, em relação aos partidos que se impuseram com a nossa democracia, pós-25 de Abril, posso admitir que esta nova força política venha a ter algum sucesso. Sobretudo se o povo português, em especial o desiludido, ainda tiver coragem para se virar para ideias novas, assentes na eventual coerência de vida dos dirigentes do Movimento Esperança Portugal.

PINTURA DE PICASSO E MIRÓ




A propósito da exposição de Jeremias Bandarra, artista aveirense que conheço há muito e muito admiro, dei comigo a pensar no prazer que a posse de arte, de qualidade, pode dar. Eu bem gostaria de cobrir, embora com parcimónia e equilíbrio, as paredes da minha casa. Mas como não posso, vou tendo o que é possível… muito pouco e muito baratinho.
Há tempos dois pequenos azulejos, com reproduções de Picasso e Miró, ocuparam um recanto da minha tebaida. Olho para eles como se olhasse para os autênticos, que não estão ao alcance da minha bolsa. Nem de muitos, mas mesmos muitos, coleccionadores de arte.
As reproduções, em miniatura, cujas fotos aqui publico, servem muito simplesmente para mostrar por que razão todos os dias as contemplo. Sem nunca me cansar delas. Imaginem se eram mesmo os quadros autênticos!

FM

PINTURA DE JEREMIAS BANDARRA


PROMOVIDA pela Câmara Municipal de Aveiro, a Exposição de Pintura “A arte como caminho”, de Jeremias Bandarra, composta por 22 obras, estará patente até 30 de Março, na Galeria dos Paços do Concelho, em Aveiro, podendo ser visitada de terça-feira a Domingo, das 14 às 19 horas. A Inauguração será no próximo sábado, 8 de Março, pelas 17 horas.
Jeremias Bandarra nasceu em Aveiro em 1936. Foi aluno da Escola Industrial e Comercial de Aveiro onde foi discípulo dos pintores Júlio Sobreiro e Porfírio de Abreu. Foi fundador do CETA – Círculo Experimental de Teatro de Aveiro e do movimento artístico Aveiro-Arte. Frequentou cursos de pintura e de cerâmica no Conservatório Regional de Aveiro.
É autor de diversas maquetas para painéis cerâmicos e diversos projectos para vitrais. Executa com regularidade trabalhos destinados às artes gráficas. Atribuíram-lhe prémios nas áreas da pintura, cerâmica e fotografia. Realizou 14 exposições individuais e participou em mais de uma centena de mostras colectivas.

Fonte: Portal da CMA

O SILÊNCIO NECESSÁRIO


CADA vez me convenço mais de que o silêncio é necessário na vida. Diz o nosso povo, com razão, que o silêncio é ouro.
O Papa lembra, com oportunidade, que é preciso um “jejum de imagens e palavras”. Nada melhor para os crentes levarem à prática um preceito quaresmal. Cultivar o espírito pelo silêncio, talvez até seja mais frutuoso do que os tradicionais jejum e abstinência, normalmente traduzidos no comer menos e no deixar a carne de lado, pelo menos às sextas-feiras.
Então, aqui fica a proposta, para ver se nos curamos de muitas maleitas: ver menos televisão e cinema, fugir do barulho ensurdecedor que nos atrofia a mente e, no silêncio, reformular a vida, traçando novos caminhos de horizontes mais largos.

FM

Na Linha Da Utopia


A bondade de coração

1. As encruzilhadas do passado séc. XX fizeram chegar até nós ecos de gente cuja bondade permitiu a redescoberta da esperança em caminhos tão tortuosos. Aqueles que, colocando as armas de lado, foram obreiros das “revoluções pela não-violência” deixaram atrás de rastos de luminosidade que, enquanto houver memória humana, hão-de perdurar no que de melhor a humanidade é capaz. É que diante das guerras e intolerâncias responder com as “armas” da paz é atitude que só pode provir de corações grandes, daqueles que sabem que podem perder uma ou outra “batalha” (das coisas) mas na certeza de que ganham definitivamente a “guerra” (dos valores de consciência com futuro). Podemos, entre tantos outros, lembrar os emblemáticos Luther King e Mahatma Gandhi nas suas lutas pela dignidade humana em que não responderam com as mesmas moedas de que foram vítimas.
2. A crispação de algum do inseguro tempo presente está a fazer vir ao de cima a antiga “lei de talião”, quando na menoridade existencial e social, se respondia “olho por olho, dente por dente”. Uma verificada intolerância (e mesmo o seu ridicularizar) para com as legítimas e dignas diferenças, ou um autismo superficial de poderes que cega a compreensão da complexa realidade, estão a proliferar como cogumelos. Tudo quase que numa resposta “taco a taco” como se, definitivamente, uma certa bondade humana estivesse já fora da validade. No plano da constatação, há dias no parlamento, alguém de opinião diária em grande órgão de comunicação manifestava a profunda tristeza com as actuais formas de “fazer política” (espelhadas no debate entre Sócrates e Portas); dos dois lados da intriga, uma “guerra” demonstrativa de como vamos andando… Todos falam do interesse nacional, mas a preferência prática continua na quezília...
3. Talvez fosse interessante e importante o conhecer, estudar, reconhecer e compreender mais e melhor a vida daqueles que nos precederam da vida e que foram abrindo caminhos de dignidade humana e de coesão social. Esses foram criadores de “pontes” com os tijolos que outros antes haviam usado para erguer os “muros” da divisão. Se não cuidarmos deste património essencial da humanidade, apre(e)ndendo da grandeza e da bondade generosa desses profetas, sem darmos por isso, podemos ir desumanizando a vida e as relações… Em muito das nossas sociedades, a montante, já quase custa a compreender que terão de existir valores e princípios inalienáveis; mas, simultaneamente, diante de todas as inseguranças, a jusante, reclama-se a criminalização de quase tudo o que for o passar da fronteira. À crispação e à desagregação terá de se responder com a bondade, o mesmo é dizer, com “sabedoria”. Esta, que é sempre o futuro, não segue os números ou as fórmulas pois “persegue” a pessoa toda e tudo o que existe, mesmo sem ver.

Alexandre Cruz

domingo, 2 de março de 2008

Praia do Areão






NATUREZA AINDA PRESERVADA
Na praia do Areão, vi que a natureza ainda está preservada. Uma ou outra marca da passagem de quem não gosta da limpeza não lhe retira a classificação de zona quase virgem. Ontem, como já disse, por lá andei. Olhei as dunas pouco pisadas, o areal convidativa a uma visita mais próxima ao mar, recantos que sugeriam um banho de sol e as povoações tão perto, apesar de tudo. Um casal alemão (a matrícula do automóvel e o aspecto físico não enganavam) deliciava-se com o nosso sol a prometer-lhe já um bronzeado invejável. Gostei de ver esta praia sem os arranjos urbanísticos modernos, mas com a beleza de uma pureza de alguma forma primitiva.

Na Linha Da Utopia


Estudar as claques de futebol


1. O que são as grandes claques de futebol? Como vivem e de que vivem? Que rituais e palavras geram essa unidade quase inquebrantável? Que energias da claque transitam para a vida pública? Como procuram ou conseguem lidar os clubes como essa força poderosa, na emoção capaz do melhor e do pior? O que acrescentam ao futebol? Serão mesmo necessárias? E quando tudo corre mal, quem se responsabiliza? Têm tendência a crescer à medida que as desigualdades sociais aumentam? Haverá alguma relação entre a exclusão social e as grandes claques de futebol? Como vêm a equipa adversária e as claques do outro clube? Que linguagens, chavões, gritos predominam? Haverá ritos de iniciação e hábitos de continuação para a pertença? Como se comportam na vitória? E que dizem e como agem-actuam na derrota? Enquadram-se no tipo de relação “amor-ódio”? Será obrigatório beber cerveja?!...
2. As perguntas poderiam nunca mais acabar. Volta e meia o assunto das claques salta para a praça pública. Normalmente pelos motivos menos felizes. Passado uns dias e arrefecendo as circunstâncias, como em tudo, volta-se ao dia-a-dia e as claques vão fazendo o seu percurso ritual, habitual. Quando se aproximam os grandes jogos, nacionais ou internacionais, falam-se de centenas e centenas de polícias, quase que diríamos a escoltar para “dominar as feras”, não vão elas soltar-se e “partir tudo”. Estranho mundo esse das claques, onde muita gente se deve perguntar, afinal, como subsistem na sua vida (?). Por vezes as marcas da passagem ficam registadas mesmo nas estações de serviço das auto-estradas, e dá a sensação de que estamos diante de algo já consagrado, como se a sociedade fosse cabalmente ou impotente diante de suas acções ou então já fazem parte da vida social...(?)
3. Há dias, ainda muito tempo antes do clássico Sporting – Benfica os jornais registaram entre adeptos rivais violências e mesmo esfaqueamentos; este domingo, a Pública (02.03.2008) dedica uma boa parte das suas páginas ao líder da maior claque do FC Porto «Fernando Madrinha: estranha popularidade». Destacava mesmo: o líder «para alguns, é um susto. Para outros, é o maior, um ícone. Esta é a sua história, a história de alguém que soube potenciar o “mau” e aprendeu a revertê-lo a seu favor.» (Pública, id). Confessam alguns que ele é quase um pastor (liderando os mais de dois mil super dragões em Alvalade), que «investiu no desvio, mas em vez de cair na marginalidade ganhou um lugar na sociedade». Os próprios clubes, instituições do futebol e autoridades não sabem como proceder. Tudo preocupante demais para se ficar sereno diante da ténue fronteira das liberdades… E ainda se poderá perguntar o quanto de impacto têm as claques como “deseducação social”(?). Já não é fácil (e pelo rumo que vai por essa Europa fora), mas como actuar enquanto há algum tempo? Aliás, ainda iremos a tempo de alguma coisa?

Alexandre Cruz

TECENDO A VIDA UMAS COISITAS - 67


AGENTES DE EDUCAÇÃO:
OS PROFESSORES PRIMÁRIOS OFICIAIS

Caríssima/o:

Demos mais um passo e continuemos a ler o P. João Vieira Resende:

«Quando em 1880 chegou o primeiro professor primário, encontrou toda esta região povoada de analfabetos, e a maré-cheia deles prolongou-se até 1909. Com a criação de escolas em cada um dos lugares começou-se a equilibrar a instrução em toda a Gafanha. Estava, pois, normalizado o movimento escolar nesta região. [208]
O primeiro professor oficial da Gafanha foi o Rev.do P.e João da Silva Gomes, natural da Légua (Ílhavo), que faleceu Pároco aposentado do Troviscal.
O Rev.do João Ferreira Sardo, ordenado em 1898, e o Rev.do António da Silva Caçoilo, ordenado em 1906, foram os primeiros da Gafanha que tiveram cursos superiores. Ambos, por deficiência escolar na Gafanha, foram habilitados para a instrução primária pelo benemérito Padre Domingos Ferreira Jorge, em Ílhavo.» [nota208]

Seria interessante deixarmos expressas algumas perguntas a que não sabemos responder: estes nossos conterrâneos ter-se-ão ausentado para Ílhavo ou diariamente se deslocavam aí para receberem as lições devidas para a sua habilitação?

E o senhor Padre Resende, na sua Monografia, entre as páginas 211 e 215, “arquiva os nomes de todas as pessoas que, tendo tirado cursos literários, ocupam hoje, ou ocuparam enquanto viveram, um lugar de destaque na sociedade”. De entre estas pessoas, vou puxar as que se diplomaram como professores primários:

«Manuel Domingues Vital, da Gafanha da Boa Hora, diplomado pela antiga Escola Distrital de Aveiro, em 1903. Foi professor na Gafanha da Boa Hora, concelho de Vagos, donde foi transferido para a escola da Gafanha da Nazaré e daqui para a escola do Asilo Distrital de Aveiro onde actualmente é professor director.
Francisco Fernandes Caleiro, diplomado em 1905, pela antiga Escola do Ensino Normal de Aveiro. É professor na escola masculina da Glória, concelho de Aveiro.
D. Carolina Augusta de Almeida Martins, diplomou-se pela Escola Distrital de Aveiro, em 1908. Professora efectiva na escola feminina da Cale da Vila.
Manuel dos Santos da Silva Verga Júnior, diplomado em 1911 pela Escola do Ensino Normal de Aveiro. Foi professor em Ílhavo. Está aposentado.
Manuel Nunes Carlos, diplomado em 1916 pela antiga Escola do Ensino Normal de Aveiro. Também tirou o curso de pilotagem na Escola do Departamento Marítimo do Norte. É professor na escola masculina da Cale da Vila.
Manuel Joaquim Ribau tem o curso teológico do Seminário de Coimbra. Diplomou-se em 1917 pela Escola do Ensino Normal de Aveiro. É professor em Cacia.
Manuel Filipe Fernandes diplomou-se em 1919 pela antiga Escola do Ensino Normal de Aveiro. É professor na Gafanha da Nazaré.
José Marques Ferreira de Oliveira diplomou-se em 1919 pela antiga Escola do Ensino Normal de Aveiro. Ausentou-se não chegando a exercer o magistério.
D. Maria da Luz Carlos diplomou-se pela antiga Escola Primária Superior de Aveiro em 1920. é professora na Gafanha da Nazaré.
D. Maria Bárbara de Oliveira foi diplomada pela escola Normal Primária do Porto em 1925.
D. Carmélia da Conceição de Oliveira concluiu o curso na Escola do Magistério Primário do Porto em 1932, sendo diplomada em 1933 mediante exame de estado. É professora em Vermelhas (Vouzela).
José Augusto Ramos, diplomado para o ensino primário em 1939 e colocado em Pussos, concelho de Alvaiázere.
Rosa Branca Mónica, curso complementar dos liceus e aluna da Escola do Magistério Primário de Coimbra.»

A lista necessariamente que está incompleta, ou melhor: tem um limite temporal. Contudo é suficiente para revelar que, nesta matéria, a Gafanha se mostrou produtiva e forneceu bons professores a terras vizinhas e a outras mais afastadas!
E para terminar não posso deixar de referir que a saudade pesa quando me lembro que o Professor Manuel Nunes Carlos me examinou no final da 3.ª classe, em Junho de 1950, ali na Escola do Ti Bola, onde ele se deslocou na sua bicicleta; e também não esqueço o Professor Manuel Joaquim Ribau que leccionava na Escola da Ti Zefa quando eu, pela mão do Professor Salviano, durante a preparação para o exame de admissão ao Liceu, no ano seguinte, ali me sentava e estranhava a pouca claridade!
Como seria enriquecedor que fossem aparecendo as tuas “memórias” complementares... Espera por elas o

Manuel

sábado, 1 de março de 2008

Barco perdido?


Barco perdido ou a descansar?
Na praia do Areão, ainda virgem, a arte da xávega teima em ficar. Sobretudo enquanto o tempo deixar e enquando houver peixe na nossa costa. E também se houver homens para a pesca artesanal, que vem de tempos perdidos na memória. Dizia Raul Brandão, decerto o escritor que mais poeticamente, e com verdade, cantou os nossos mares, pescadores e gentes que mourejam na borda-d'água, que neste estranho país até os bois lavram o próprio Oceano. Pois foi ali, na praia onde alguns procuram sossego, que hoje achei este barco, como que perdido. Fugido do mar não andava, que bem sei como ele o enfrenta. Quem sabe se não estaria a descansar, para qualquer dia se fazer, de novo, ao mar, para alegria de toda a gente.

DEUS E AS RELIGIÕES NO SÉCULO XXI


No passado dia 22 de Fevereiro, realizou-se no Porto, na Cooperativa Árvore, um debate sobre o tema em epígrafe. Sala cheia, com um público atento e muita gente em pé.
Mas não é estranho reflectir sobre Deus no século XXI? Não é Deus sempre o mesmo?
Não há dúvida de que Deus é sempre o mesmo, mas ele transforma-se no encontro com os homens e as mulheres, como eles e elas se transformam nos encontros e desencontros com Deus.
Há mais de um século, Nietzsche proclamou a morte de Deus. De qualquer forma, dir-se-á que estamos a assistir ao regresso do religioso. Mas a pergunta é: que religiosidade é essa que está de regresso? Não é a religiosidade burguesa, aquela religiosidade que legitima o êxito e o sucesso? A religiosidade que dá consolação? (Mas será que o Deus verdadeiro consola? Pelo contrário, não é preciso gritar a Deus por Deus: "Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste?").
A religiosidade está de volta. Mas qual religiosidade? A do consumo? Mais um artigo de consumo? Mais um prazer, numa sociedade consumista e hedonista? Numa palavra, o religioso que está de regresso não é o da religião sem Deus? Uma religiosidade difusa, opiácea, confortável, frequentemente de adivinhos e de bruxos..., mas uma religião sem Deus?
Mas, se Deus morreu, não morreu também o Homem, como já Nietzsche antevia? De facto, o Homem não é Homem precisamente porque referido ao Infinito, a Deus, pelo menos como questão? Então não é hoje a religiosidade que está de volta a da banalidade rasante?
Porque Deus morreu, já não há esperança para lá da morte, e a nossa sociedade é a primeira na História que fez da morte tabu: uma sociedade poderosíssima nos meios, mas sem finalidade humana, teve de fazer da morte tabu, o último tabu... Espanta-me a resignação dos europeus, mesmo cristãos e católicos: resignados com o nada após a morte. Morremos e acabamos. Caminha-se do nada para o nada... É o niilismo, na errância sem fim.
E assim se esquece o Homem, reduzido agora ao último resto de natureza ainda não manipulado, mas que há-de sê-lo com a engenharia genética, para que se veja que não é senão um produto biotécnico.
Mas então onde está o Homem, onde está a memória dos mortos, onde está concretamente a memória das vítimas inocentes que clamam por justiça, como pergunta o teólogo J. Baptist Metz?
O que se passa com Deus? O que se passa com o Homem? Vivemos em tempos de deserto e de penúria, como preveniram Hölderlin e Heidegger. Este deixou em testamento: "Só um Deus nos pode salvar", e o ateu religioso E. Bloch queixava-se de um tempo com subprodução de transcendência...
Mas não será o modo de presença de Deus hoje precisamente o da ausência? Não está Deus presente enquanto ausente? Ai! a dor que isso causa...
Quando as religiões vão ao seu núcleo de profundidade de abismo sem fim, sabem que estão referidas a Deus enquanto o Mistério, o Sagrado.
As religiões todas têm como referente último o Mistério, que nenhuma domina. Por isso, não há lugar para o fundamentalismo. Pelo contrário, as religiões devem dialogar para melhor tentarem dizer, na gaguez quase muda, o Mistério que a todas convoca e a todas transcende.
Quando sabem o que isso quer dizer, as religiões são perspectivas sobre o Mistério - daí, o perspectivismo, que não é relativismo --, e estão referidas ao Mistério que salva. As religiões são o lugar da resposta para a pergunta: o quê ou quem dá salvação? O fio hermenêutico de todas é o da liberdade e, portanto, contra toda a opressão.
E aqui estão as duas vertentes da religião boa: a mística - paixão por Deus - e a ética: compaixão por todos. A mística, sem ética, é ilusória, como a ética, sem religião, no limite, corre o risco de ficar cega.
Não há, pois, lugar nem para o fundamentalismo nem para o choque de religiões. Aliás, o que, antes de mais, congrega a todos é a humanidade, que leva consigo a oração-pergunta por Deus. Nessa oração-pergunta é que se fundamenta a dignidade inalienável do ser Homem.

Anselmo Borges, no DN

sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Cronistas que vêem tudo negro...

Fico sempre espantado com os nossos cronistas que vêem tudo negro. Aprecio Vasco Pulido Valente pela sua cultura e domínio de escrita, mas não entendo tanto pessimismo sobre Portugal e os portugueses. Hoje, na sua crónica do PÚBLICO, voltou à carga, ressuscitando epítetos que nos foram atribuídos por gente importante do nosso País, desde Alexandre Herculano, Bulhão Pato e D. Carlos, com “Isto dá vontade de morrer”, “Piolheira”, “Choldra”, até aos políticos actuais que provocaram “um mal-estar difuso”. Passando, claro, pelos republicanos que ficaram desiludidos e pelos que sempre lutaram por alcançar a Europa sem nunca o terem conseguido, acabando na garantia de que “ninguém faz nada com sentido”. Afinal, segundo ele, "Portugal sempre gostou muito pouco de si próprio". Pelas suas contas, os portugueses não consegue sair da angústia nacional… Ora, a verdade é que há muita gente a pregar que vivemos num país inviável, mas cá estamos desde que D. Afonso Henriques deu o grito de independência, batendo-se com garra contra quem se lhe opunha. E passou essa mensagem às gerações seguintes para que o continuássemos. Porquê então tanto pessimismo?
FM

Espraiei nas dunas os meus olhos





Espraiei nas dunas os meus olhos
até à imaginação
em dia de primavera prometida
Fixei ao longe o céu escuro pela bruma
de sonhos esquecidos
E pensei nos tempos vividos
à sombra dos areais da minha infância
com farol à vista


FM

Professores protestam



Não sei se alguma vez, na nossa demo-cracia, os professores protestaram tanto como estão a fazê-lo agora. Que me recorde, não. De qualquer modo, esta classe profissional que está na base da formação das presentes e futuras gera-ções, dependendo dela os que hão-de continuar Portugal, não merecia que a obrigassem a andar nas ruas a protestar. Que o protesto público, quando justo, é tão digno como o que decorre dentro dos espaços de trabalho, diga-se, contudo, desde já. Porém, os professores, das mais variadas idades e graus de ensino, deviam poder contar com os nossos governantes para um diálogo face a face, donde pudesse sair uma reforma justa.
Ninguém contesta o direito de o Governo, democraticamente eleito, proceder às reformas há tanto esperadas e que constam das suas promessas eleitorais. Mas também é verdade que qualquer reforma pressupõe um trabalho conjunto entre quem governa e quem é parte interessada e fundamental para dar seguimento ao que vier a ser decidido.
Custa-me imenso ver o desalento dos professores, certamente por se sentirem marginalizados na discussão dos problemas que lhes dizem respeito. Quem nasceu para ensinar e para educar, jamais compreenderá quem insiste em lhe impor reformas sem diálogo, sem explicações plausíveis e muitas vezes sem lógica.
É sabido que o ministro da Saúde saiu do Governo por falta de capacidade para explicar as suas reformas no sector. Penso que a ministra da Educação está a seguir o mesmo caminho.
O melhor, a meu ver, será o primeiro-ministro decretar uma pausa para pensar. Depois, calmamente, que todos se sentem à mesa para conversar. Sem radicalismos. De uma parte e de outra. As nossas crianças e jovens, mais as suas famílias, exigem-no.

FM

Rão Kyao: Paz interior

Entrevista no DN



O que é que encontra no campo que a cidade não lhe oferece?


Principalmente, a paz interior. Há um reco-lhimento muito forte que é difícil de conseguir na cidade. Todos os dias viajo até ao campo para tocar um pouco. É um ambiente calmo, com muito ar puro. O lado contemplativo está sempre pre-sente.



PISCAR DE OLHOS



É esta a forma de comunicar de Jean-Dominique Bauby. Tudo o que pensava e sentia era transmitido por um piscar de olhos. Se queria dizer “sim” piscava uma vez; se pretendia dizer “não”, piscava duas vezes. E com que facilidade o fazia! E que serenidade transparecia do seu rosto! De uma enorme desgraça, emergia uma maravilha!
Há uma grande cumplicidade natural entre o coração e os olhos. A quadra popular expressa-o muito bem: “O coração mais os olhos, são dois amigos leais; quando o coração está triste, logo os olhos dão sinais”. Esta cumplicidade funciona com normalidade. O olhar é o espelho do coração e da multiplicidade de afectos e emoções, de preferências e critérios, de opções e atitudes que dão origem à qualidade de um estilo de vida humanizado.
Bauby era director da revista francesa “Elle” e aos 42 anos foi vítima de uma doença que o deixou intelectualmente lúcido, mas totalmente paralisado. Apenas um piscar de olhos lhe permitia expressar-se. Foi assim que escreveu o livro “O escafandro e a borboleta", adaptado ao cinema com rara felicidade. A borboleta é o símbolo das mensagens que envia do escafandro – a prisão em que se encontra. Em cada voo, vem um postal com um hino à vida, o valor das pequenas coisas, a força da esperança, o brilho da luz e tantas outras maravilhas que, quando perdidas ou debilitadas, adquirem mais valor.
Aquele piscar de olhos gravou-se na minha imaginação e deixou-me marcas profundas. Envolve a passagem da cegueira à visão, do isolamento à comunicação, do estar só à companhia, do orientar a vida por critérios subjectivos a ter referências objectivas, humanas e cristãs, do deixar escapar o momento fugaz a agarrar o tempo como única oportunidade de salvação.
O Evangelho – que narra a cura do cego de nascença – apresenta esta passagem em forma de itinerário espiritual. Quem se prepara para o baptismo vai adquirindo um novo olhar iluminado por Jesus Cristo – a luz do mundo. E, depois de baptizado, sente a necessidade de aprender a ver com o coração e não apenas com os olhos.
De facto, ver com o coração é ir além das aparências e descobrir a realidade, é apreciar o belo e o bom ainda que camuflados de laivos de fealdade e de maldade, é despertar o melhor de cada consciência mesmo que misturado em desvios erráticos notórios, é deixar o lodo e contemplar as estrelas, é sentir o “piscar dos olhos” de Quem aponta o caminho e respeita a liberdade, de Quem confia em nós, mas exige responsabilidade.

Georgino Rocha

Ano Europeu do Diálogo Intercultural

Mais de 500 actividades
agendadas de Norte a Sul do país

Rosário Farmhouse,
Alta-comissária para a Imigração
e Diálogo Intercultural

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

NECESSIDADE PERMANENTE DE PURIFICAÇÃO

Diz a história do Vaticano II, por muitos já esquecida ou nunca aprendida, que foi grande a discussão dos padres conciliares quando se reflectiu sobre a condição, ao longo do tempo, da Igreja, Povo de Deus, que peregrina no mundo. Viu-se então que, na sua história, havia páginas de santidade, mas também páginas com desvios do rumo que o seu Fundador lhe imprimira.
Era preciso deixar explicito que se assumiam umas e outras na sua verdade total. Foi assim que surgiu uma proposta de redacção para ficar no texto conciliar e que falava da Igreja de Jesus Cristo “santa e pecadora”. A afirmação, tal qual, não agradou, pois se acreditamos que o Espírito Santo a conduz e a anima na sua vocação à santidade, que é a vocação de todos os seus membros, o pecado não faz parte da natureza da Igreja, mas é resultado da falta de verdade e coerência daqueles que, dizendo-se cristãos, lhe desfiguram o rosto, que é o de um Deus Pai, rico em misericórdia, e de um Filho, que a quer pura e santa e por ela se entregou à morte, vencendo esta com a sua ressurreição.
Encontrou-se então uma fórmula mais aceitável, verdadeira e estimulante: “Igreja santa, mas sempre necessitada de purificação”. Assim se respeita a verdade da santidade e se faz apelo a que se considere a condição do pecado como transitória, com a libertação sempre à vista para quem quiser livremente aceitar o caminho, que Cristo abriu para todos.
A santidade de muitos cristãos, mais numerosos que os que recebem o reconhecimento público das suas virtudes, é um património da Igreja, rico e inegável. Ela mostra a todos, deste modo, aos de dentro e os de fora, como não faltam, nem nunca faltaram, cristãos para os quais Deus é o único Senhor, a Luz das suas vidas e a Força do seu caminhar, crescendo cada dia à medida de Cristo, no meio de contrariedades, lutas e trabalhos.
A Palavra de Deus, revelada e transmitida pela Tradição, ajuda-nos a entender que o santo é o cristão normal e que a santidade está ao alcance de todos os filhos de Deus, constituindo para cada um o apelo a ir mais longe, iluminado interiormente por uma fé esclarecida e coerente.
Porém, a Igreja não esquece nem pode esquecer que o tempo da peregrinação no mundo, se é o tempo do mérito, é também o tempo “da grande tribulação”. O tempo põe à prova tanto a grandeza, como a debilidade de cada um de nós. Por isso, a Igreja nunca deixará de convidar os cristãos à conversão evangélica, a voltarem-se para Deus com as suas forças e fraquezas, vitórias e derrotas, e a alinharem a vida toda, segundo o amor que lhe dá sentido e com garantia de segurança e de êxito. Assim, vai dizendo que todos podemos ser vencedores nos combates da vida, dando sentido de vitória a cada pequeno ou grande combate que vamos travando.
Só o amor a Deus e aos outros, por razão de Quem primeiro nos amou, é caminho de salvação. Só o deixar de estar ligado à Fonte da vida e de amar aqueles de nós mais precisam é prenúncio de perda e sinal do pouco que Deus pode significar para nós.
Não é fácil reconhecer a nossa condição, tanto de romeiros a caminho da santidade, por gestos de verdade e coerência de vida, como de humildes pecadores, que, por acções e omissões, vão deixando secar no coração o amor que salva.
Cada ano, na Quaresma, e, ao longo dos meses, através das acções mais diversas, a Igreja, mãe e mestra, nos estimula e adverte, tanto para a possibilidade da santidade ao alcance de todos, como para o perigo do pecado pessoal, social e comunitário, ao qual não faltam ocasiões aliciantes e portas abertas e convidativas a entrar.
É, também, tempo para dizer a todos que a necessidade de purificação acompanha a Igreja no seu a dia de peregrina e constitui um apelo claro com as suas exigências e verdade.
No tempo da peregrinação, que é o do enraizamento, prova e purificação da fé, nem há santidade consumada, nem situações irremediáveis. Definitivo, só o amor de Deus para com todos.

António Marcelino

Na Linha Da Utopia

O apagão mundial de 29 Fev. 2008

1. Já de há algum tempo a esta parte tem circulado nos diversos canais de comunicação e na internet a mensagem do “apagão mundial”. Não sabemos quem é a origem específica desta ideia que, ao que parece, percorre o mundo, mas provirá de linhas de reflexão e actuação da ordem ecológica. O dia escolhido é o último de Fevereiro, a hora que nos cabe é das 19.55h às 20.00h. Nestes mesmos 5 minutos o mundo pensará na mesma mensagem, para o planeta “respirar”. Apesar, naturalmente, de muita indiferença do pragmatismo das sociedades que não vêm resultado prático destas coisas estando sempre à espera dos resultados imediatistas, o certo é que procura-se (e espera-se) uma resposta massiva, a fim de estudar e ver o que acontece em termos da «brutal» poupança energética.
2. Este apelo, usando a força da união mundial pela Internet, apresenta mesmo um comunicado em várias línguas. Não só na lusofonia ou no inglês do ocidente mas em línguas orientais, árabes e asiáticas. Trata-se, efectivamente, de uma corrente global, do que chamaríamos um despertar da sociedade planetária e suas opiniões públicas para as defesas e preservações fundamentais. Já não é novo este recurso comunicacional. Foi usado tanto para a solidariedade mundial em causas como o Tsunami da Ásia ou os apelos prementes à não execução de pessoas em determinados pontos do globo. Mas, verdade se diga, ao que parece, nunca como neste “apagão mundial” (como estudo e sensibilização de poupança energética) a mensagem chegou tão longe, no apelo ao desligar de todos os instrumentos possíveis a fim de nos encontrarmos “despidos” de todos os aparelhos alimentados de energia.
3. Também neste apelo a deixar “respirar” o mundo (em que poluímos, segundo estudiosos, mais em 30 anos que nos últimos 30 séculos), brota o convite a parar um pouco, a deixar respirar e sentir a vida, esta às vezes tão carregada das corridas ou das coisas instrumentais. A mensagem vai a ponto de dizer em todas as línguas: «Sim, estaremos 5 minutos às escuras, podemos acender uma vela e simplesmente ficar a olhar para ela, estaremos a respirar nós e o planeta». Procuraremos, também, “parar” nesse momento, mesmo à luz da vela... Fazer a pausa do exercício de cidadania planetária nesta mega e humanizante sensibilização. No dia seguinte estarão aí os números da participação e mesmo da poupança energética desses 5 minutos. Também desta forma vamos sentindo que pertencemos ao mundo que aguarda a preservação de todos. Claro, não se esperem resultados que esta experiência não pretende nem pode dar. Mas ela também oferece um sinal daquilo que é a identidade global na defesa de ca(u)sas de todos!

Alexandre Cruz

AVEIRO: Festa do Livro no Rossio



Organizada pela Câmara Municipal de Aveiro e pela distribuidora “Calendário das Letras”, a Festa do Livro, que ficará instalada numa grande tenda no Rossio, expõe milhares de livros, organizados por escalões e preços, com mais de 18 meses de publicação, a preços muito baixos.
Desde um até dez euros, podem ser encontrados os mais diversos tipos de livros de centenas de editoras: infantis, juvenis, romance, técnicos, entre outros.
As Festas do Livro são hoje, em paralelo com as Feiras do Livro tradicionais, grandes momentos onde se promovem os livros e a leitura.
Nas Festas incluem-se especificamente os fundos editoriais mais antigos, a preços especiais e nas Feiras promovem-se, fundamentalmente, as novidades.
A primeira Festa do Livro decorre até 16 de Março, das 11 às 21 horas, no Rossio, em Aveiro

Fonte: CMA

Cristãos perseguidos


Não me consta que nas sociedades ocidentais sejam perseguidos os muçulmanos ou os obriguem a aderir ao cristianismo. Em Portugal, como noutros países de cultura cristã, os islâmicos, como outros membros de qualquer religião, têm liberdade de culto, podendo construir os seus templos, quantas vezes com os apoios das autarquias e até do Estado. Tanto quanto me é dado saber, não são perseguidos nem sobre eles se exerce qualquer proselitismo. Mas em alguns países de maioria islâmica não é assim. Os cristãos são obrigados a esconder a sua fé, estando impossibilitados de a manifestarem fora das quatro paredes das suas casas.
No Iraque, dizem algumas notícias, os cristãos vivem num martírio incompreensível, “como nos primeiros séculos do cristianismo”, com ameaças de que devem converter-se ao Islão ou deixar o país.
Na Jordânia, país com algumas marcas da cultura ocidental, também se expulsam cristãos, com a acusação de fazerem proselitismo, enquanto desenvolvem actividades sociocaritativas. Ali, o culto cristão está fechado à chave, isto é, não podem ser exibidos sinais religiosos, para além dos islâmicos. Nem templos, nem manifestações públicas, nem cerimónias. As perseguições vão ao ponto de impedir o acesso a empregos e cargos públicos.
Imaginem que isto acontecia em Portugal ou noutros países de maioria cristã. Era o fim do mundo, com ameaças e nem sei que mais.

FM

Sejamos optimistas!



Camões brindou-nos com o Velho do Restelo, retrato do pessimista nacional. Já no seu tempo, no século XVI, ele se insurgia contra o pessimismo, o eterno descrente das nossas capacidades pátrias. E no entanto, Portugal aí está a lutar contra tudo e contra todos para existir, mesmo que na cauda da Europa. Que a nível do mundo, ainda estamos no grupo dos melhores.
Vem isto a propósito dos que passam a vida a lastimar a nossa triste sorte de estarmos vivos. Os nossos comentadores, colunistas e demais opinadores, que moram diariamente nos órgãos de comunicação social, mas que também saltitam na Internet, com mensagem carregadas de dramas e má-língua, não sabem falar de coisas positivas. Para eles, melhor dizendo, para uma grande maioria, Portugal e os portugueses não têm futuro. E são tantos os que atiram ao vento as nossas desditas, que nem sei como é que o nosso País ainda se mantém a olhar em frente. E depois, até parece que o pessimismo é contagiante, levando-nos, mesmo contra a nossa própria vontade, a embarcar na onda. Já aqui disse, uma vez, que se a esses comentadores, colunistas e opinadores faltasse esse pessimismo, perderiam o emprego.
Sejamos, pois, optimistas, apostando numa linguagem pela positiva!

FM

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Na Linha Da Utopia

Professores em luta


Os professores, a rua, a educação

1. Já se sabe que esta conjugação (os professores, a rua, a educação) não dá grandes frutos. Os essenciais destinatários, os alunos, cada vez mais cedo descobrem as fragilidades do sistema e usam-no mesmo para atiçarem os educadores que, na sua função absolutamente decisiva na formação deste país, deviam ser preservados, protegidos e apoiados na dignificação do “ser professor”. Claro que os professores não gostam de sair à rua, preferem a sala de aulas; mas quando não há mais recurso a “rua” é o lugar de tornar público aquilo que, no fundo, diz respeito a todos. Seja dito, quanto mais em Portugal os professores tiverem de sair à rua em manifestação, mais difícil se torna a sala de aula. Para além dos possíveis sectores de ideias, mesmo de linhas políticas (em que ninguém se coloca de fora da necessária “avaliação” como estímulo à qualidade), a verdade é que a “rua” acaba, em área tão sensível e estruturante como a educação, por representar o beco sem saída das mesas de reflexão, onde a distância das tutelas à realidade torna impossível a construção razoável do consenso.
2. No passado dia 26 de Fevereiro, à noite, ocorreu mais uma manifestação. Mais de um milhar de professores acorreu percorrendo locais simbólicos em Coimbra. Diversos slogans, ainda que “puxados” como apelo emocionante no meio de tochas, velas e autocolantes, dão o sentir do estado da arte: à frente ia o cartaz «Basta! Assim não se pode ser professor», nas camisolas o lema: «Professores de luto e em luta pela Educação». Este cordão humano junta-se a muitos cordões de insatisfação. Está em causa (talvez) a causa mais importante de todas: a educação. Não se pode ser surdo ao “desabafo” de tantos professores que, não tendo qualquer medo da avaliação (mas contra este modelo tutelar), sentem-se indignificados e quase desacreditados diante das turmas de alunos cada vez mais exigentes, tanto em termos de conhecimentos como de comportamentos. Muitos estudiosos, ao longo de muitos anos, têm dito e redito que não é possível “solucionar” as questões da educação sem os professores, os alunos, os pais, a comunidade.
3. Os alunos estão aí a ver os professores e a tutela na rua do debate público. As famílias, a par da preocupação com a educação dos filhos, vivem a superocupação do pão (que sobe novamente) de cada dia. No ano 22 da Lei de Bases do Sistema Educativo Português, torna-se difícil vislumbrar ainda os elos de ligação de tudo o que envolve o maior tesouro a descobrir: sempre a Educação. É certo, com todas as entidades; mas quanto mais conhecendo e envolvendo as bases mais e melhor lá iremos. O que nunca pode significar permanecer estruturalmente onde se está num mundo em constante mudança. Nesta fronteira de que falamos, até para maior segurança, estabilidade e futuro de todos, o país precisa da redignificação da (autoridade da) função docente. Isto interessa a toda a sociedade civil.

Alexandre Cruz

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Belmiro de Azevedo denuncia...


Belmiro de Azevedo, um dos empresários de mais sucesso em Portugal, denunciou hoje injustiças que a sociedade não consegue debelar. De forma muito simples, explicou como há entidades públicas e privadas privilegiadas, que não têm problemas em aumentar os seus lucros. O Estado, quando precisa de dinheiro, resolve o assunto subindo os impostos, de maneira directa ou indirecta.
Saindo do âmbito estatal, com os Bancos e outras grandes empresas, livres de concorrência, a questão também se ultrapassa facilmente: aumentam os juros e os preços do que vendem (por exemplo, serviços bancários, electricidade e gás, entre ontros produtos) e os clientes é que tudo suportam. E nem é preciso estarem a viver uma qualquer crise. Basta-lhes o desejo de registarem mais lucros no fim do ano, para se vangloriarem das boas gestões de que são capazes.
O capitalismo, como outros ismos, é terrível, mas temos de viver com ele, sempre na esperança de que um dia a balança se incline para a justiça social. Estabelece, por vezes, uns códigos de conduta, de acordo com os interesses de alguns poderosos, nem sempre humanos, e não olham a meios para atingirem os fins. É assim…infelizmente.

Tony Melendez dá uma lição de vida

Com força de vontade, tudo se consegue! Este vídeo, que partilho com todos, foi-me enviado por João Marçal, gentileza que agradeço.

Linguajar dos gafanhões de antigamente

Estou a ver os homens baixos e magros de camiseta e de ceroulas compridas, de flanela, estas com atilhos amarrados nas canelas, barba por fazer (só se fazia aos sábados, no barbeiro), boné ou chapéu na cabeça, mãos gretadas pelo trabalho duro, descalços, rosto envelhecido, queimado pelo vento e pelo sol impiedosos, força de vontade férrea, poupados, com gosto pelo trabalho e pela solidariedade tantas vezes manifestada, religiosos sem beatices, amigos dos seus amigos. 
As mulheres baixas e de pernas grossas, sem cintura e sem pescoço, olhos ingénuos, de chapéu de palha na cabeça por cima de um lenço que amarrava sobre o chapéu, roupas escuras, excepto ao domingo, em que se abusava da cor garrida, sobretudo as das secas do bacalhau, pernas com canudos (meias sem pés) enfiados para o sol não as queimar, que era fino tê-las brancas, descalças, mãos gastas pelo trabalhos, tranças na cabeça, porque permanentes eram para as da cidade, religiosas sem exageros, amantes do trabalho e poupadas, solidárias e amigas das suas amigas.
Mas a maneira de falar, um tanto ou quanto cantada, com alguma malícia pelo meio, entre risadas contagiantes, é que me encantava.
Levemos a nossa memória até lá atrás e ouçamos a Ti Maria e o Ti Atóino. Vinha ela desaustinada (sem tino) porque a canalha lhe estragara as batatas ali ao pé da escola da Tia Zefa. Estava arrenegada (zangada).
O ti Atóino vinha da borda, onde andara ao moliço para o aido. Antes da maré, porém, deitara-se a descansar, com o corpo moído, na proa da bateira que ia à rola (à deriva). Sem saber como, e com uma nassa, apanhou uns peixitos para a ceia (o jantar de hoje). Já não era mau. Naquele dia não comeriam caldo de feijão com toucinho, com um bocado de boroa. Sempre seria melhor.
— Então queras (queres) ver, Atóino, o que a canalha (os garotos) da escola fez? Andou por riba (cima) das batatas a achar (à procura de) a bola e ‘stragaram-me tudo. Tamém (também) andaram à carreira (a correr velozmente) atrás uns dos oitros (outros) a amandar (mandar, atirar) pedras e a acaçar ( caçar, ao agarra). Se andassem com relego (com moderação), ainda vá que não vá. Mas não. Andavam a toda a brida ( à desfilada, a toda a força), como que a atiçar (meter-se) comigo. E se calhar a professora estava abuzacada (refastelada) na sala. Isto está mal, não achas?
— Pois é verdade, Ti Maria. Não são coisas que se façam. Anda um home (homem) a gastar dinheiro em batatas e buano (guano), muitas vezes sem se astrever ( atrever, poder) e estes mariolas (marotos), num’stante (instante) deixam tudo ‘struído. Era só a gente atirar-lhe com um balde de auga (água), para eles aprenderem. São a mode (como que) tolinhos e alonsas (parvos). Mariolas! (marotos!). Vossemecê já falou com a professora? Se ainda não, vá lá e diga-lhe que ó despois (depois) não se arresponsabiliza (responsabiliza). São uns desalservados (cabeças no ar), uns desintoados (desentoados, disparatados).
— Tens razão, Atóino. Vou lá num‘stante (instante), antes que seja tarde. Amanhê (amanhã) tamém (também) falo com os pais. Sempre são homes (homens) e melheres (mulheres) pra (para) darem uns estrincões (apertões com os dedos em zonas sensíveis) aos miúdos, pra (para) eles aprenderem. Opois (depois) que não se queixem.

Fernando Martins
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NOTA: Entre parêntesis, as palavras ou expressões correctas. Excerto de palestra sobre coisas de antigamente.



Na Linha Da Utopia

São cereais, senhor!

1. Nas últimas semanas fomos alertados para a notícia da subida dos preços do trigo nos mer-cados internacionais. Destes dias, conse-quentemente, para a constatação alarmante de que será difícil garantir os programas de co-operação alimentar da ONU para com os povos em vias de desenvolvimento. Segundo Ab-dolreza Abbassian, de nacionalidade iraniana e que antes de chegar há 18 anos à FAO (Or-ganização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação) trabalhou na OCDE e no FMI, as razões desta quebra e do pânico dos mercados são múltiplas e tocam tanto as explicações de crescente concentração económica como os factores psicológicos globais.
2. No dizer desta especialista que esteve recentemente em Lisboa (no congresso do milho), há uma rede de «imprevisibilidade dos inúmeros factores que contribuem para a formação dos preços», o que torna todas as projecções arriscadas, demonstrativo de que «nunca o mercado foi tão volátil e isso vai continuar». Verifica-se a queda das reservas existentes, apesar do aumento de produção, observando-se neste ano 2008 o nível mais baixo de trigo em stock dos últimos 30 anos. Preocupante, no que representa este cereal como primeira fonte alimentícia mundial; simultaneamente desafio à reinvenção dos mecanismos alimentares que garanta o “justo pão”, processo que está em curso.
3. Se é certo que ao leque de razões poderemos acrescentar as questões da hiper-procura das novas potências chinesa e indiana, a par da emergência dos biocombustíveis, todavia, estas razões para a especialista iraniana aparecem como “mitos” que se vão criando, sendo também uma das razões a ter em conta a problemática das questões ambientais. Diante dos cenários de instabilidade global, que agora também chegou aos mercados de cereais, sobre a agricultura portuguesa, enaltece Abdolreza Abbassian as vantagens de ter uma agricultura diversificada, sendo a especialização um risco nestes contextos de incerteza. É verdade a segunda afirmação… Mas não deixa de ser interessante, com várias pistas de reflexão, que quem vem de fora diga que temos agricultura (?) diversificada…
4. Talvez tenhamos, sim, é inúmeras potencialidades nas nossas terras deste lindo país de sol. Mas, na realidade, uma boa parte delas estão à espera do nosso regresso, quando passarmos da tecnocracia, sem medos, para as terras dos chamados, de forma cara, “produtos biológicos”. Até lá, precisamos da redefinição estratégica para um global “milagre dos cereais”!

Alexandre Cruz

Reformas em tempo de conversão

Pouco crédito deve ser dado a reformas que não implicam mudança de quem as promove, que atingem apenas terceiros. E também àquelas que precisem de muitas lentes mediáticas para as ampliar. Mesmo que assim não pareça, a respectiva sustentabilidade vê-se no tempo, na capacidade que tiverem ou não para oferecer melhores dias, a todos os cidadãos. No interior da Igreja Católica, são de algumas décadas as tentativas de mudanças que proporcionem aos leigos compromisso e iniciativa nos dinamismos sociais onde quer estar presente. O que acontece quando as reformas dão lugar a processos de conversão, porque só estes permitem transformações globais, capazes de suportar modos diferentes de ser e estar em grupo, em comunidade. Para isso é necessário tempo, o suficiente, que oferece durabilidade e implica envolvimentos recíprocos (como é analisado no dossier AE desta semana). Se em causa estiver a organização de sociedades, acrescidas são as razões! A cada passo, nas estruturas nacionais e nas empresariais, as consecutivas reformas aparecem como estandarte de bem-saber-fazer: sejam elas de âmbito burocrático ou estrutural, servem sempre para horas ou dias de propaganda de quem as promove. Sobretudo se são anunciadas e “implementadas”, segundo os tempos mediáticos e não naqueles que deveriam reger a política, o governo das sociedades. Às notícias que as divulgam seguem-se, às vezes, outras menos agradáveis: uma em cada cinco crianças portuguesas encontra-se em risco de pobreza; sms coloca professores em manifestação; protestos contra fecho das urgências; um difuso mal-estar na sociedade portuguesa... Sinais contraditórios na mesma sociedade que podem lançar a suspeita sobre boas intenções reformadoras. Sobretudo quando em causa estão sectores fulcrais da organização de sociedades democráticas. Se há reformas que precisam só de tempo, outras implicam mudanças de procedimentos, de relacionamentos, da cultura do ser estar em sociedade. E isso não se dita através de uma reforma. Só acontece com um processo de conversão. Paulo Rocha

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

A RIA DE AVEIRO PRECISA DO NOSSO APOIO




A ADACE (Associação de Defesa do Ambiente Cacia – Esgueira), em carta assinada por Rosa Maria Pratas Melo, presidente da direcção, enviou-me algumas denúncias sobre o estado de degradação em que se encontra a nossa Ria, candidata às 7 Maravilhas Naturais do Mundo, avançando, contudo, com a ideia de que ela “precisa de ser apoiada e respeitada”.
Diz que há muitas questões de poluição por resolver e que, sob o ponto de vista ambiental, “os sucessivos governos e todos nós temos, certamente, muitos problemas de consciência”.
Depois de outras e pertinentes denúncias, diz que num passeio pela Ria viu “restos de obras, plásticos, entulho de vária ordem, monstros urbanos”, mais “cais escuros degradados e sucata”.
Claro que se fala há muito de tudo isto e que é urgente uma grande campanha de limpeza da nossa laguna, no sentido de a tornar mais apetecida e visitada. A Ria de Aveiro tem imensas potencialidades para figurar entre as Maravilhas Naturais do Mundo, sendo certo que todos temos de colaborar com quem teve a coragem de a candidatar. A Ria, apesar de tudo, merece.

FM
:
NOTA: Fotos enviadas, gentilmente, pela ADACE

As televisões que temos

Há muita coisa boa nas nossas televisões e nos demais ór-gãos de comunicação social. O importante será saber fazer escolhas, deitando para o caixote do lixo o que não presta. Por isso, há que promover a formação, no sentido de todos aprendermos a distinguir o que é de qualidade do que não vale nada. Concordando com o que diz João César das Neves, aqui deixo um naco da sua prosa de hoje no Diário de Notícias.

NOTA: Há dias achei graça a um comentário num blogue. Dizia a dona dele que, face às notícias sem nexo que via, lhe apetecia atirar um tijolo à televisão. A mim também, mas como o aparelho é caro, ainda não tive coragem de o fazer. Mas que a fecho muita vezes, lá isso fecho!

Na Linha Da Utopia

Ao pós-crítica


1. A ideia central, e muito sublinhada, era «um mal-estar difuso», que «alastra e mina a confiança essencial à coesão nacional», podendo-se chegar a «uma crise social de contornos difíceis de prever». Esta foi a linha de pensamento do alerta lançado na semana passada pela Associação para o Desenvolvimento Económico e Social (SEDES). No documento são focados sectores frágeis como a degradação da confiança política, os sinais de crise nos valores, na comunicação social e na justiça, a criminalidade e a insegurança. Este documento deu azo aos comentários mais variados. Na generalidade, carregaram muito mais no pessimismo que continuamente nos derrota que esboçam uma leitura em ordem ao compromisso social de todos na busca das soluções comuns.
2. Naturalmente, todos, pessoas e / ou entidades têm o direito / dever de expressar publicamente como cidadania o seu contentamento ou descontentamento diante da realidade social. O país tem recebido alertas de diversas ordens de pensamento e de diferentes formas de ver e viver a vida em sociedade e as suas crises (neste aspecto lembre-se há anos o fundamentado documento: Nota Pastoral da Conferência Episcopal Portuguesa - “Crise de sociedade, crise de civilização”, 2001). São muitos os pareceres, mas normalmente os que mais sofrem a “crise” vivem-na no silêncio e na luta diária, vendo à noite nas notícias outros que não a vivem, sempre estética e comodamente instalados, a falar dela continuamente. Talvez nestes discursos todos exista um contraditório e um alarmismo mediático que acaba por tocar o “deixa andar”, como se não tivesse sempre dependido e dependesse de todos as soluções (do rigor aos valores humanos e sociais) para os problemas a resolver. Afinal, não são os cidadãos que votam, elegem, levantam, mantêm ou derrubam…?
3. Volta e meia vêm estes alertas. Mas seja dito que eles têm crescido, na proporção do crescimento das desigualdades da sociedade portuguesa. Todavia, não chega só constatar o que vai mal, o carregar nos medos de existir… Na realidade, uma mentalidade pró-activa e dinâmica talvez ofereça a capacidade de criar mais soluções. Depois da crítica de quem muitas vezes vive bem acima da média será preciso passar ao “pós-crítica” e mesmo a uma ordem de justiça redistributiva que se diz não existir. É claro que neste “pós-crítica” estarão os dinamismos situados a cada circunstância. Talvez o eixo esteja na concepção que temos de “política”. No geral, pouco ligamos a não ser na hora de não concordar ou desconfiar. Ainda não descobrimos que todo o cidadão todos os dias é político. Ainda deixamos tudo andar, até… De certeza que com uma cultura activa e mais participativa de todos os cidadãos hoje estaríamos, pelo menos, um pouco mais acima…


Alexandre Cruz

domingo, 24 de fevereiro de 2008

Almoço/Debate com o Dr. José Roquette

No Seminário de Aveiro, 26 de Fevereiro, às 12.30 horas

ÉTICA E RESPONSABILIDADE
SOCIAL NAS EMPRESAS

Por iniciativa da ACEGE - Associação Cristã de Empresários e Gestores, vai ter lugar no Seminário de Santa Joana Princesa, em Aveiro, no próximo dia 26 de Fevereiro, terça-feira, pelas 12.30 horas, um almoço/debate com o Dr. José Roquette, que falará sobre ÉTICA E RESPONSABILIDADE SOCIAL NAS EMPRESAS.
Este encontro será, igualmente, a oportunidade para retomar a actividade regular da ACEGE em Aveiro através de um conjunto de palestras mensais sobre os temas relacionados com a vida, por vezes difícil, daqueles que procuram viver a empresa com responsabilidade e valores.

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